quinta-feira, 11 de julho de 2019

5 décadas de ECM

E lá se vão cinco décadas desde que o músico e produtor alemão Manfred Eicher (foto) criou a gravadora ECM (Edition of Contemporary Music), em Munique, na Alemanha, em 1969. Para quem está mais familiarizado com a gravadora, sabe que a principal preocupação de Eicher é com a qualidade de som e a experiência que esse som cristalino e impecável deve causar no ouvinte.

Aliado a essa obsessão, o selo alemão também se notabilizou por gravar músicos de diferentes partes do mundo, sem nunca se preocupar em "vender discos".

Eicher é, acima de tudo, um apaixonado pela música e usa sua criação para poder expandir as mentes das pessoas e mostrar que há musicalidade em todos os cantos deste planeta. Com isso em mente, a ECM se tornou a casa de músicos de diferentes nacionalidades, entre eles, Jan Garbarek (Noruega), Tomasz Stanko (Polônia), Palle Danielsson (Suécia), Enrico Rava (Itália), Egberto Gismonti (Brasil), Dino Saluzzi (Argentina), Lakshminarayana Shankar (Índia), Miroslav Vitous (Iugoslávia), Stephan Micus (Alemanha), Arvo Pärt (Estônia), Anouar Brahem (Tunísia) e Manu Katché (França).

A ECM também é o lar de grandes nomes do jazz como os pianistas Keith Jarrett, Chick Corea, Vijay Iyer e Paul Bley, os guitarristas Pat Metheny, John Abercrombie, Ralph Towner, Terje Rypdal, Steve Tibbetts e Bill Frisell, os bateristas Paul Motian e Jack DeJohnette, o vibrafonista Gary Burton e o baixista Dave Holland.

Foi na ECM que o guitarrista Pat Metheny e o pianista Keith Jarrett chamaram a atenção do público. Metheny lançou seu primeiro disco (Bright Size Life) na ECM, aos 21 anos de idade, e continuou gravando pelo selo alemão por uma década, com destaque para os discos 80/81 (1981), Offramp (1982) e First Circle (1984). Para Jarrett, a gravadora é sua casa desde 1971, quando lançou o disco Facing You.

Mas nada superaria o disco duplo The Köln Concert, de 1975. O álbum é considerado um marco na carreira do pianista e um divisor de águas na trajetória da ECM. Até hoje, as improvisações de Jarrett neste álbum é motivo de espanto e admiração de novos ouvintes ao terem contato com este registro histórico que traz o pianista em um transe absoluto, solando e suando a cada compasso. Além disso, Jarrett tem uma dezena de discos, incluindo DVDs, lançados no formato de trio ao lado do baterista Jack DeJohnette e do baixista Gary Peacock.

Com o passar dos anos, o antenado produtor Manfred Eicher manteve seus ouvidos abertos para descobrir e gravar novos talentos da música instrumental. Entre os "novatos", estão músicos como os pianistas Vijay Iyer, Craig Taborn, Tord Gustavsen e Marcin Wasilewski, o baixista Mats Eilertse, os trompetistas Mathias Eick e Avishai Cohen, o saxofonista Nicolas Masson e o guitarrista Jakob Bro. Conheça todos os artistas da gravadora clicando aqui


Gismonti grava com Charlie Haden e Jan Garbarek o disco Mágico, de 1979


O Brasil tem um representante de peso dentro da ECM: o pianista e violonista Egberto Gismonti. É claro que o talento do brasileiro na passaria desapercebido pelo produtor alemão, que o contratou em 1976, quando lançou o disco Dança das Cabeças, ao lado do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos. A longa parceria com a ECM, que dura até hoje, rendeu outros importantes discos como Mágico (1979), ao lado do baixista Charlie Haden e do saxofonista Jan Garbarek, e Dança dos Escravos (1989), disco solo de violão.

De olho nas novas gerações, em 2017, a gravadora colocou todo o seu catálogo nas principais plataformas digital, entre elas, Apple Music, Amazon, Spotify, Deezer, Tidal e Qobuz. Na ocasião, a ECM disse que os lançamentos nos formatos CD e LP vão continuar, mas que a prioridade da gravadora é que a música seja ouvida. Diante do aumento da pirataria e de sites que não pagavam direitos autorais pela execução de suas músicas, a gravadora teve que sucumbir aos novos tempos.


Guitarrista John Abercrombie gravou vários discos pela ECM


O trabalho do visionário Manfred Eicher, hoje com 76 anos, não acabou e sua inquietação sempre estará ditando os rumos da ECM. A essência de seu pensamento continua intacta. Em uma entrevista na década de 1990, ele sintetizou bem o que move seu trabalho e sua missão.

"Para mim, não se trata do que eu gosto ou não gosto. As minhas decisões baseiam-se sobretudo naquilo que considero merecer ou não merecer ser gravado. Os meus critérios não são critérios de gosto, e não importa se gosto ou não de um disco que vou editar, mas apenas avaliar se ele deve ser gravado. Mas o gosto do público não afeta a minha decisão. Apenas a música".

Em 2011, foi lançado o DVD Sounds and Silence, que mostra os bastidores das gravações de vários músicos, entre eles, Arvo Pärt, Eleni Karaindrou, Dino Saluzzi, Anja Lechner e Anouar Brahem, e confidências sobre a relação profissional com Manfred Eicher. Além da seleção de vídeos abaixo, clicando aqui, você encontra uma playlist publicada pelo canal oficial da ECM no Youtube com dezenas de vídeos.




















quinta-feira, 4 de julho de 2019

Jimmy Smith - Organ Grinder Swing

Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim. Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia (dicas de CDs, DVDs, livros, entrevistas e muito mais) - você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.

Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui


Jimmy Smith - Organ Grinder Swing (1965)

Uma pesquisa realizada em uma loja de discos inglesa perguntou aos seus consumidores: qual imagem vem à cabeça quando você escute a palavra jazz? As respostas foram as mais variadas possíveis, mas as cinco primeiras foram essas: Miles Davis, saxofone, Louis Armstrong, trompete e Ella Fiztgerald.

O resultado não foi uma surpresa, mas deixou evidente que o saxofone e trompete são instrumentos fortemente associados ao jazz. Os principais responsáveis por isso, é claro, são músicos como Miles Davis, Dizzy Gillespie, Wynton Marsalis, John Coltrane, Charlie Parker e Louis Armstrong.

Quem tem mais intimidade com o jazz sabe que outros instrumentos, como gaita, guitarra, vibrafone, flauta, trombone e, obviamente, a bateria e o piano também são meios de expressar toda a sua beleza. Nos últimos anos, o órgão Hammond é outro instrumento que tem conquistado cada vez mais espaço no jazz. Entre seus principais expoentes estão John Medeski, Joey DeFrancesco, Larry Goldings e Sam Yahel.

Mas esses novatos sabem que a porta para o Hammond B-3 no jazz foi aberta há quase 50 anos, quando organistas como Dr. Lonnie Smith, Jimmy McGriff, Jack McDuff e Jimmy Smith tiraram o “velho” órgão das igrejas batistas e o trouxeram para o jazz.

Entre esses veteranos organistas, nenhum deles é mais cultuado e associado ao instrumento do que Jimmy Smith. Nascido em 1928, James Oscar Smith foi o responsável pela popularização do instrumento e gravou álbuns antológicos nas duas principais gravadoras de jazz do planeta: Blue Note e Verve.

Com cerca de 50 discos no currículo, é difícil indicar apenas um, mas vamos falar sobre um título que muitas vezes é esquecido: Organ Grinder Swing, de 1965, lançado pela Verve. Depois de quase uma década na Blue Note, onde gravou discos como Back At The Chiken Shack, Straight Life e Prayer Meetin, Smith começou a gravar pelo selo de Norman Granz.


Jimmy Smith grava ao lado do guitarrista Kenny Burrell


Organ Grinder Swing traz o organista em uma formação enxuta, acompanhado pelo baterista Grady Tate e o guitarrista Kenny Burrell. Em trio, Smith parece ainda melhor e deixa isso bem claro logo na faixa-título. No clássico “Greensleeves”, com um solo de quase 7 minutos, Smith deixa pouco espaço para as frases de Burrell. Mas o guitarrista “impõe” seu instrumento em “Oh No, Babe” e mostra ao lado de Smith com quantas notas se faz um blues de doer o coração.

A formação de trio tem seu ponto alto no fabuloso tema “Satin Doll”, composto por Duke Ellington. É neste momento que guitarra, bateria e órgão se completam e você até esquece que não está ouvindo instrumentos de sopro ou o piano. O único problema do disco é sua duração, apenas 35 minutos. Mas é claro que isso não será um empecilho para você ir correndo comprar o seu exemplar, não é??!!!.






segunda-feira, 1 de julho de 2019

2019: Críticos da DownBeat escolhem os melhores do ano

A mais esperada premiação do mundo do jazz tem finalmente seus vencedores divulgados. Como acontece todos os anos, a octogenária revista norte-americana Downbeat, em sua edição de agosto, publica a lista com os premiados no Annual DownBeat International Critics Poll, ou seja, a votação feita pelos críticos. A votação feita pelos leitores é publicada sempre na edição de dezembro.

Em 2019, em sua 67° edição, o prêmio mais cobiçado, o de artista do ano, ficou com a cantora Cécile McLorin Salvant (na capa da edição de agosto ao lado), que também ficou com o prêmio de melhor cantora de jazz.

Em 2018, Cécile também venceu em duas categorias: melhor cantora e melhor álbum (Dreams And Daggers). A cantora também faturou este ano o Grammy de melhor disco de jazz pelo álbum The Window.

Outro destaque é a gravadora alemã, ECM, que em 2019 completou 50 anos de vida. O idealizador do selo, Manfred Eicher, levou o prêmio de produtor do ano, pelo segundo ano consecutivo, e a ECM como gravadora do ano.

O disco do ano ficou para Wayne Shorter, com o álbum Emanon. Neste ano, o disco também faturou o Grammy na mesma categoria.

Na categoria melhor disco histórico, o disco perdido de John Coltrane chamado Both Directions At Once: The Lost Album foi o grande vencedor.

Anualmente, também são premiados nomes que fizeram a história do jazz. Os vencedores deste ano são o baixista Scott LaFaro, que tocou no trio do pianista Bill Evans na década de 1960, a cantora Nina Simone e o cantor Joe Williams, que marcou época como vocalista da orquestra de Count Basie.

A premiação também destaca as revelações no universo do jazz, que é chamado de Risng Star. Assim como nos prêmios principais, há vencedores em diversas categorias.

Entre os destaques deste ano está o pianista Sullivan Fortner, que venceu como artista e como pianista. Fortener é mais conhecido por sua parceria com a cantora Cécile McLorin Salvant no disco The Window.

No fim da matéria estão vídeos com temas dos discos vencedores de John Coltrane, Wayne Shorter e Van Morrison com Joey DeFrancesco, além de uma canção do último disco de cantora Cécile McLorin Salvant.

VEJA ABAIXO OS VENCEDORES

Hall of Fame

Scott LaFaro
Nina Simone
Joe Williams

Artista
Cécile McLorin Salvant

Álbum
Wayne Shorter, Emanon (Blue Note)

Álbum histórico
John Coltrane, Both Directions At Once: The Lost Album (Impulse!)

Grupo
Fred Hersch Trio

Orquestra
Maria Schneider Orchestra

Trompete
Ambrose Akinmusire

Trombone
Steve Turre

Sax soprano
Jane Ira Bloom

Sax alto
Miguel Zenón

Sax tenor
Joe Lovano

Sax baritono
Gary Smulyan

Clarinete
Anat Cohen

Flauta
Nicole Mitchell

Piano
Kenny Barron

Teclado
Robert Glasper

Orgão
Joey DeFrancesco

Guitarra
Mary Halvorson

Baixo
Christian McBride

Baixo Elétrico
Steve Swallow

Violino
Regina Carter

Bateria
Brian Blade

Percussão
Hamid Drake

Vibrafone
Stefon Harris

Outros instrumentos
Tomeka Reid (cello)

Cantora
Cécile McLorin Salvant

Cantor
Kurt Elling

Compositor
Maria Schneider

Arranjador
Maria Schneider

Gravadora
ECM

Produtor
Manfred Eicher

Blues
Buddy Guy

Álbum de blues
Buddy Guy, The Blues Is Alive And Well (RCA)

Artista que não toca jazz
Rhiannon Giddens

Álbum além do jazz
Van Morrison & Joey DeFrancesco, You’re Driving Me Crazy (Legacy)