terça-feira, 12 de outubro de 2021

Diversidade e longevidade marcam história do Montreux Jazz Festival


Ao lado dos festivais de Newport e Nova Orleans, nenhum outro evento musical é tão pulsante quanto o Montreux Jazz Festival, que acontece anualmente na cidade suíça, às margens do Lago Léman, em Montreux.

O responsável por essa história que começou em 1967 é o produtor Claude Nobs, que esteve à frente do festival até sua morte, em janeiro de 2013, aos 76 anos de idade.

Seu amor pela música e seu espírito libertador e sem preconceito fizeram o festival se tornar uma colcha de retalhos que recebe com o mesmo entusiasmo artistas tão diferentes como Miles Davis, Simply Red, Paralamas do Sucesso e John Lee Hooker.

Foi também graças ao festival que a música "Smoke on the Water", do grupo Deep Purple, foi composta. A letra "narra" o incêndio da antiga sala do festival, o Casino, em 1971, durante um concerto de Frank Zappa. Uma tragédia não aconteceu graças ao empenho de Nobs para retirar as pessoas do local.

A paixão de Nobs pelo Brasil foi essencial para que os artistas brasileiros tivessem espaço no palco principal em Montreux. O flerte do produtor com o Brasil aconteceu no final da década de 1970, quando ele foi convidado a organizar duas edições do Festival de Jazz de São Paulo, em 1977 e 1978. Essa aproximação só deixou Nobs ainda mais fascinado pela música brasileira.

Claude Nobs esteve à frente do festival por cinco décadas


O primeiro a pisar no palco do Montreux foi o cantor Gilberto Gil, em 1978. Desde então, grandes nomes da MPB passaram por lá, entre eles, Elis Regina, João Gilberto, Maria Bethânia, Milton Nascimento, Jorge Ben e Beth Carvalho. O rock brasileiro também fez história ao tocar no festival em 1987, com os Paralamas do Sucesso. E no ano seguinte foi a vez dos Titãs e Lulu Santos.

Montreux também foi palco de um dos últimos concertos de Miles Davis, em 1991, menos de três meses antes de sua morte, aos 65 anos. O histórico show foi comandado pelo produtor Quincy Jones e uma grande orquestra interpretando canções da frutifera parceria entre Miles e o arranjador Gil Evans, na década de 1960. Outros shows que marcaram a rica história do festival são as apresentações de Aretha Franklin, Nina Simone, David Bowie, Stevie Ray Vaughan, Elis Regina, Gil & Caetano, Prince e o tributo a Quincy Jones.

ACERVO

As gravações de meio século de festival estão preservadas e imortalizadas no "Montreux Sounds Digital Project", lançado com a Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL). Ao todo, 5 mil horas de gravações de vídeo e áudio feitas a partir de 4 mil shows são mantidas no arquivo em 10 mil fitas originais, de diferentes formatos.

Desde 2016, parte desse acervo pode ser conferido em um jukebox audiovisual de última geração instalado no Montreux Jazz Café do novo prédio ArtLab de 250 metros de comprimento do campus da EPFL.
Romero Brito foi responsável pelo cartaz do festival em 1999


A cabine de visualização foi especialmente concebida e construída durante dois anos por uma equipe de 15 pesquisadores da EPFL e da escola de design ECAL, também de Lausanne. Possui uma tela acolchoada curvada feita de painéis em forma de diamante para dar uma impressão de profundidade. Espelhos de cada lado reforçam a experiência visual imersiva.

Além disso, um som 3D composto de 32 alto-falantes podem reproduzir a acústica das diferentes salas de concerto em Montreux, como o enorme Auditório Stravinski, que reúne 4 mil espectadores, ou o antigo Casino.

Você também pode acessar o site oficial do festival para saber todos os artistas que tocaram por lá, e seus respectivos anos, e visitar uma galeria com os pôster de todas as edições. A cada ano, um novo artista plástico é convidado a soltar a imaginação e dar uma identidade ao festival. Entre os artistas estão Romero Britto, Buron Morris, Andy Warhol, Robert Combas, Keith Haring, Hamish Grimes e Francis Baudevin.

MONTREUX NO RIO

O festival ganhou sua versão brasileira em 2019, com uma edição carioca. Entre os músicos que participarão estavam Amaro Freitas, Diogo Figueiredo, Quarteto Jobim e Maria Rita, Al Di Meola Opus 2019 e Steve Vai. A segunda edição aconteceu de forma virtual. Com a pandemia, os shows foram exibidos pelas canal oficial do festival no YouTube, diretamente do RIo de Janeiro, Los Angeles e Nova York.

Subiram "ao palco" nomes como Milton Nascimento, Toquinho, João Donato, Yamandu Costa, Sergio Dias, Hamilton de Holanda, Amaro Freitas, Pepeu Gomes, Roberto Menescal, Macy Gray e Anat Cohen. Veja abaixo alguns shows na íntegra de diferentes edições do festival, e uma entrevista com o produtor Marco Mazzola contanto histórias sobre o festival.