domingo, 4 de fevereiro de 2024

Billy Childs, Nicole Zuraitis e Meshell Ndegeocello conquistam o Grammy


A Academia do Grammy anunciou no dia 4 de fevereiro os vencedores da 66ª edição dos prêmios Grammy. Ao todo, são 94 categorias dos mais diversos gêneros musicais, entre eles, rock, pop, blues, clássico, folk, R&B, rap, country, new age, gospel e jazz.

A categoria de jazz é dividida em seis sub-categorias: improviso, álbum, álbum vocal, orquestra, latino e alternativo. Neste ano, o jazz ganhou uma nova sub-categoria chamada de Alternative Jazz Album, que teve como vencedor a baixista e cantora Meshell Ndegeocello, com o disco The Omnichord Real Book. São cinco indicados em cada categoria.

O prêmio de melhor disco de jazz ficou com o veterano pianista Billy Childs (foto), com o álbum The Winds Of Change, lançado pela gravadora Mack Avenue. O quarteto liderado por Childs traz Ambrose Akinmusire (trompete), Scott Colley (baix) e Brian Blade (bateria). Em 2018, o pianista também ficou com o Grammy de melhor disco de jazz instrumental pela álbum Rebirth.

Na categoria melhor disco de jazz latino, o saxofonista Miguel Zenón e o pianistas Luis Perdomo ficaram com o prêmio pelo álbum El Arte Del Bolero Vol. 2. A dupla superou três discos de brasileiros que estavam indicados nesta categoria: Eliane Elias, Ivan Lins e Luciana Souza & Trio Corrente. Foi a primeira vez que três músicos do Brasil disputaram a mesma categoria no Grammy.

No ano passado, o melhor disco de jazz latino ficou com o pianista Arturo O'Farrill & The Afro Latin Jazz Orchestra. O último brasileiro a ganhar o Grammy foi a pianista Eliane Elias, com o disco Mirror Mirror, em 2022, na categoria melhor disco de jazz latino. Essa foi a sexta indicação de Eliane.
Nicole conquista seu 1° Grammy; Christian McBride co-produziu o álbum


Entre os cantores, o melhor disco de jazz vocal ficou Nicole Zuraitis, que superou nomes de peso como, Esperanza Spalding, Cécile McLorin Salvant e Patti Austin. Na edição do ano passado, o melhor disco de jazz vocal ficou com a cantora Samara Joy. O álbum de Nicole - How Love Begins - foi co-produzido pelo baixista Christian McBride, que conheceu a cantora em 2015, durante o Sarah Vaughan International Vocal, um concurso musical que acontece anualmente nos Estados Unidos.

Em entrevista ao site London Jazz, McBride afirmou ver a carreira de Nicole pronta para decolar. "Não há motivo para que ela não tenha uma carreira similar a Diana Krall e Norah Jones. Ela tem as mesmas habilidades (cantora, compositora e pianista). Adoro a maneira como ela canta, compõem e toca, ela é incrível", ressasltou McBride.


Na categoria melhor execução de jazz, o prêmio ficou com a cantora Samara Joy, pela música "Tight", uma regravação do tema escrito e interpretado pela cantora Betty Carter.

O quarteto (foto) formado por Zakir Hussain (tabla), Béla Fleck (banjo), Edgar Meyer (baixo) e Rakesh Chaurasia (flauta) levou o prêmio de melhor disco instrumental contemporâneo. O álbum superou trabalhos do veterano pianista Bob James, do guitarrista Julian Lage, do saxofonista Ben Wendel e do trio House Of Waters.

Outra categoria que também tem jazzistas concorrendo é de melhor arranjo instrumental ou vocal, que ficou com a música "The Wee Small Hours Of The Morning", do quarteto vocal säje, composto pela cantoras Sara Gazarek, Amanda Taylor, Johnaye Kendrick e Erin Bentlage. O arranjo contou com a participação do pianista e cantor Jacob Collier. Veja abaixo a lista dos vencedores:

EXECUÇÃO DE JAZZ

Tight
Samara Joy

DISCO DE JAZZ VOCAL

How Love Begins
Nicole Zuraitis

DISCO DE JAZZ

The Winds Of Change
Billy Childs

DISCO DE ORQUESTRA

Basie Swings The Blues
The Count Basie Orchestra Directed By Scotty Barnhart

DISCO DE JAZZ LATINO

El Arte Del Bolero Vol. 2
Miguel Zenón & Luis Perdomo

DISCO DE JAZZ ALTERNATIVO

The Omnichord Real Book
Meshell Ndegeocello

DISCO INSTRUMENTAL CONTEMPORÂNEO

As We Speak
Béla Fleck, Zakir Hussain, Edgar Meyer, Featuring Rakesh Chaurasia

MELHOR ARRANJO INSTRUMENTAL E VOCAL

In The Wee Small Hours Of The Morning
Erin Bentlage, Jacob Collier, Sara Gazarek, Johnaye Kendrick & Amanda Taylor, arrangers (säje com Jacob Collier)













sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

DownBeat aponta os melhores álbuns de 2023


A revista DownBeat publica anualmente, em janeiro, um apanhado sobre os CDs mais bem cotados de todas as edições do ano anterior. É uma ótima oportunidade para encontrar grandes discos que, por vários motivos, passaram desapercebidos.

Em 2023, no topo da lista, com a cotação de cinco estrelas, 15 discos conquistaram plenamente os críticos da revista, entre centenas de discos resenhados nas 12 edições do ano passado.

São eles: James Brandon Lewis Quartet (MSM Molecular Systematic Music Live), George Colligan (King’s Dream), Brian Blade & The Fellowship Band (Live From The Archives), Lisa Marie Simmons (Notespeak 12), Mette Henriette (Drifting), Sebastian Rochford & Kit Downes (A Short Diary), Anders Jormin (Pasado en Claro), Stephan Micus (Thunder), TonyKofi & Alina Bzhezhinska (Altera Vita/For Pharoah Sanders), Edmar Castañeda World Ensemble (Viento Sur), Aja Monet (WheWn the Poems Do hat They Do), Vilhelm Bromander (This Forever Unfolding Moment), Steve Lehman (Ex Machina), Plumb (Plumb) e Vinny Golia (Even To This Day … Music For Orchestra And Soloists, Movement Two: Syncretism: For The Draw).

Entre os mais bem cotados, destaque para o disco da saxofonista norueguesa Mette Henriette, no qual é acompanhada apenas por cello e piano, criando uma sonoridade minimalista, ideal para um momento de meditação, tudo captado pelos microfones da gravadora alemã ECM. Outro álbum impactante é o da poetisa Lisa Marie Simmons ao lado do pianista e compositor italiano Marco Cremaschini, com participações do saxofonista alto Manuel Caliumi e do trompetista Fulvio Sigurtà. O pianista George Colligan também merece uma menção especial, com um belíssimo disco solo que vai acalentar o coração dos fãs de Vince Guaraldi e Chick Corea.

A revista também deu cinco estrelas para o disco The Jimi Hendrix Experience, Los Angeles Forum, April 26 1969, do guitarrista Jimi Hendrix, The Montreux Years, do pianista Michel Petrucciani, e Evenings At The Village Gate: John Coltrane With Eric dolphy, dos saxofonistas Coltrane e Dolphy. Os três estão na categoria histórico, ou seja, é recém-lançamento e inédito, mas não é uma gravação "nova".

A edição traz outras dezenas de títulos divididos em duas outras cotações: quatro estrelas e meia e quatro estrelas. Entre eles, estão o disco Quartetinho, da saxofonista Anat Cohen, In What Direction Are You Headed?, do baterista Joe Farnsworth, Brand New Life, da harpista Brandee Younger, e Folia: The Music Of Egberto Gismonti, da saxofonista catarinense Gaia Wilmer, lançado nos Estados Unidos pela gravadora Sunnyside.

O projeto liderado por Gaia teve seu nascimento em 2018, quando ela comandou uma orquestra para comemorar os 70 anos de Egberto, apresentando belíssimos arranjos para composições de Gismonti em várias capitais brasileiras. Na época, além do próprio Gismonti, os shows trouxeram convidados como o pianista André Mehmari, o violoncelista Jaques Morelenbaum, o violinista Ricardo Herz, o saxofonista Mauro Senise, o gaitista Gabriel Grossi e o violonista Yamandú Costa. No repertório, temas como "Lôro", "Infancia", "Maracatu" e "Folia". Em 2022, ela lançou o disco Gaia Wilmer e Jaques Morelenbaum - Trem das Cores, com músicas do cantor e compositor Caetano Veloso, para comemorar os 80 anos do baiano. O CD saiu pela gravadora Biscoito Fino.
Gaia Wilmer foi aclamada pelo disco com composições de Egberto Gismonti

Desta vez, a revista também selecionou outras duas dezenas de discos que também passaram pelas páginas da revista ou pelo site da publicação, mas não foram resenhados na seção Review. Entre eles, estão quatro indicados para o Grammy deste ano (Fred Hersch & Esperanza Spalding, Lakecia Benjamin, Kenny Barron e Luciana Souza). A cantora brasileira Luciana Souza foi indicada pelo disco Cometa, no qual é acompanhada pelo Trio Corrente. Luciana foi capa da Downbeat em novembro do ano passado, em uma edição que também trouxe uma matéria especial com o cantor Ivan Lins.

A revista britânica Jazzwise também publicou uma relação com os seus preferidos de 2023. Veja abaixo os escolhidos:

Joshua Redman - Where Are We
Cécile McLorin Salvant - Mélusine
Lakecia Benjamin - Phoenix
Jaimie Branch - Fly or Die Fly or Die Fly or Die ((world war))
Shakti - This Moment
Tyshawn Sorey - Continuing
Espen Eriksen with Andy Shepherd - As Good As It Gets
Brad Mehldau - Your Mother Should Know: Brad Mehldau Plays The Beatles
Hedvig Mollestad - Weejuns Weejuns
Bobo Stenson - Trio Sphere
Johnathan Blake - Passage
Mette Henriette - Drifting
BlankFor.ms/Jason Moran/Marcus Gilmore - Refract
Ambrose Akinmusire - Beauty Is Enough
Rob Luft - Dahab Days
Billy Valentine and the Universal Truth -Billy Valentine and The Universal Truth

















quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Lee Morgan - The Sidewinder

Johnny Griffin - A Blowin' Session
Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados. Com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia e muito mais - você encontrará neste blog algumas dicas de CDs publicadas no extinto Guia de Jazz.

Ao final de cada resenha você encontrará vídeos do YouTube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui


Lee Morgan - The Sidewinder (1963)


O trompetista Lee Morgan iniciou sua carreira profissional com 15 anos, tocando com Dizzy Gillespie e, depois, foi recrutado pelo baterista Art Blakey, na década de 1950, para fazer parte dos The Jazz Messengers, ao lado do saxofonista Wayner Shorter, do pianista Bobby Timmons e do baixista Jymie Merritt.

Em carreira solo, ele foi imortalizado com o grande disco de sua carreira: The Sidewinder, lançado pela gravadora Blue Note em dezembro de 1963, ou seja, há 60 anos. Aqui, Morgan recrutou um quarteto de respeito para acompanhá-lo: Billy Higgins (bateria), Barry Harris (Piano), Bob Cranshaw (baixo) e um novato no sax tenor, o lendário Joe Henderson. Com um time desses, o trompetista deixou fluir um hard bop de primeira.

Na faixa-título, a integração do sax de Henderson e o trompete de Morgan já valeria cada centavo do disco, mas a música ainda traz todo o suingue e habilidade de Higgins na bateria. Em “Totem Pole”, mais uma vez, Henderson rouba a cena em uma melodia que mistura o jazz e alguns elementos da música latina. Já “Hocus Pocus” traz a junção de piano e trompete que lembra a levada de “Cantaloupe Island”, com Herbie Hanconck e Freddie Hubbard.

Lee Morgan pode ser “responsabilizado” como um dos primeiros músicos de jazz a tocar o que hoje conhecemos como acid jazz. As notas de seu trompete e o ritmo do piano têm uma característica de vanguarda. Hoje em dia, apesar de não tocarem trompete, um dos seguidores do estilo de Morgan é o trio Medeski, Martin & Wood, que produz seus discos com um toque de nostalgia e modernidade ao mesmo tempo.

Apesar de ter morrido prematuramente aos 33 anos (assassinado a tiros pela namorada), em 1972, Morgan marcou seu nome entre os grandes do jazz. Ele é considerado até hoje o sucessor do também trompetista Clifford Brown, de quem foi aluno, e também teve uma morte prematura, aos 25 anos de idade, em um acidente de carro, em 1956.

Para quem quer conhecer um pouco mais a vida do músico, vale a pena assistir ao documentário I Called Him Morgan, de 2016, do cineasta sueco Kasper Collins. O filme destaca a relação do trompetista com sua mulher, Helen Morgan, que assassinou o músico no clube Slugs’ Saloon, de East Village, na cidade de Nova York. A produção tem como mote uma entrevista (apenas o áudio) de Helen gravada um mês antes de sua morte, na qual fala com uma sinceridade comovente sobre a vida ao lado do trompetista e o trágico assassinato.

Outro disco imperdível do trompetista é Live at the Lighthouse, gravado ao vivo no lendário The Lighthouse, em Hermosa Beach, na Califórnia (EUA), entre os dias 10 e 12 de julho de 1970. Ao seu lado, estão o saxofonista Bennie Maupin, o pianista Harold Mabern, o baixista Jymie Merritt e o baterista Mickey Roker, interpretando quatro temas com duração média de 16 minutos cada faixa.

Em 2021, a gravadora Blue Note lançou uma caixa com 8 CDs contento todas as apresentações na íntegra, somando 33 temas, das três noites protagonizadas por Morgan no Lighthouse. Um registro histórico e imperdível para “entender” todo o talento do trompetista.