terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Casino Lights 99

CASINO LIGHTS
Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados. Com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia e muito mais - você encontrará neste blog algumas dicas de CDs publicadas no extinto Guia de Jazz.

Ao final de cada resenha você encontrará vídeos do YouTube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui


Casino Lights 99 (2000)


Apesar dos puristas de jazz odiá--lo, o smooth jazz ou o jazz contemporâneo conquistou o seu espaço nos anos 90. Artistas deste gênero invadiram gravadoras como Warner e Sony e são maioria em selos como a GRP. Entre os representantes mais respeitados do smooth jazz estão nomes como Dave Grusin, George Benson, David Benoit, Fourplay e Spyro Gyro.

Em 1999, no famoso Festival de Montreux, na Suíça, a Warner reuniu seus artistas de jazz contemporâneo para uma apresentação especial. O resultado foi o CD duplo Casino Lights 99, que teve como atração o guitarrista Larry Carlton, os pianistas Bob James e George Duke, o trompetista Rick Braun, os saxofonistas Kirk Whalum, Boney James, Kenny Garrett e Mark Turner, a cantora Gabriela Anders, o cantor Kevin Mahogany e o grupo Fourplay.

O disco tem encontros inspirados como em “Soweto” e “Cold Duck Time”, com Whalum e Carlton, e “Old Folks”, com Turner e James. Nas apresentações individuais, o destaque fica para a suingada “Wayne’s Thang”, com o quarteto de Kenny Garrett, e “Mind Games”, com o trio de Bob James. O supergrupo Fourplay, composto por Bob James, Larry Carlton, Nathan East e Harvey Mason, traz uma reedição de música “Four”, de Miles Davis.

O show ainda tem três faixas reunindo todos os músicos. Entre as músicas estão “Westchester Lady”, composta por Bob James, e a clássica “Watermelon Man”, do mestre Herbie Hancock. A cantora argentina Gabriela Anders e o arranjador George Duke se inspiraram no Brasil para interpretar a canção “Brazilian Love Affair”.

O smooth jazz tem como grande mérito aproximar os ouvintes menos atentos para o jazz. Gostem ou não este serviço tem sido bem feito por dezenas de artistas competentes e de renome mundial. Sendo assim, como dirigia o velho lobo Zagallo: “Vocês vão ter que me engolir”, neste caso o smooth jazz. Desculpe, purista, mas este é um caminho sem volta.

Abaixo você vê na íntegra o show, que foi lançado em DVD e ainda é possível encontrar usado perdido em alguma loja virtual. O repertório do DVD é o mesmo do CD duplo. Boa diversão.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Jazz, uma jornada sem fim

Não é de hoje que recebo e-mails de internautas perguntando como nasceu o meu interesse pelo jazz, a ponto de lançar um livro de 700 páginas sobre o assunto. É claro que isso não aconteceu da noite para o dia, mas nada foi pensado ou programado para acontecer.

No início da década de 1990, fui trabalhar em uma loja de CDs na capital paulista chamada Mr. Music, que ficava no bairro dos Jardins. Foi ali que a primeira "semente" foi plantada. No decorrer de toda a década de 1990, convivi com os discos em diferentes lojas, além da Mr. Music. Também passei pela Planet Music, Trax Musical Mind, Hi-Fi e Musical Box.
Guia de Jazz SobreSites virou o livro Jazz ao seu alcance

Por todas essas lojas, tive a oportunidade e a sorte de encontrar um rico acervo de discos importados, entre eles, o jazz. Mas com 20 e poucos anos de idade, o jazz não era algo que realmente me atraia. Mesmo assim, fui me familiarizando com os principais nomes e fazendo uma seleção natural a cada audição, sem qualquer ajuda "didática".

Os anos foram passando e o meu interesse por jazz não cresceu muito. Mas a vida dá voltas, não é mesmo? Com a chegada do novo milênio, as lojas de CDs já não tinham a mesma relevância entre os consumidores de música. A pirataria e a febre do mp3 deixaram claro que os dias de glória das vendas de discos ficariam para trás. E assim aconteceu. Uma a uma, as lojas foram quebrando e o meu ganha pão, também.
Na década de 1990, a loja Planet Music foi uma das mais importantes de SP

Então, fui obrigado a procurar outro tipo de trabalho. Para minha sorte, ou não, sou formado em jornalismo, mas até aquela época não tinha trabalhado na área. E assim continuou. Por um longo período, fiquei sem emprego e ocioso. E foi nesta entressafra que "caiu na minha mão", uma pequena nota do caderno de informática do jornal Folha de S. Paulo. Ela falava sobre um portal chamado SobreSites, que basicamente trazia guias dos mais diversos assuntos, apontando sites para os internautas visitarem.

Todos os guias eram geridos por editores volutários e qualquer pessoa poderia participar, desde que o assunto escolhido fosse aprovado pelos criadores do site. E assim aconteceu. Não sei exatamente o motivo, mas eu me animei e resolvi desenvolver um guia sobre jazz, apontando sites de músicos, rádios, revistas, gravadoras, lojas de discos, entre outras.
Loja Mr. Music e seus vendedores: Júnior, Emerson e Paulo

Pronto, dai em diante, nunca mais parei. A foto que abre esse post é a capa deste guia de jazz que mantive entre 2001 e 2015. Ele foi descontinuado pelos administradores do site. Mas, até aí, o "estrago" já estava feito. O grande conteúdo do guia virou o livro Jazz ao Seu Alcance, lançado em dezembro de 2009 pela editora Multifoco.

Com o fim do guia de jazz, criei o blog que você está visitando, sempre com o objetivo de aproximar o jazz cada vez mais das pessoas. E é isso que continuo fazendo. Divido um pouco do que sei e apresento este universo tão amplo e ainda desconhecido para muitos, ainda mais no Brasil. Apesar de todos os desafios que acontecem há duas décadas, a dedicação e a alegria de poder dividir e aprender continuam as mesmas. Que continue assim.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Trio de Bill Charlap volta ainda mais preciso e afinado


A tradição do trio em sua composição mais clássica (piano, baixo e bateria) é uma das principais portas de entrada para ouvir o jazz. Como não ficar seduzido pelo piano de Bill Evans, Oscar Peterson, Gene Harris, Chick Corea, Mulgrew Miller, Esbjörn Svensson, Keith Jarret e Brad Mehldau?

Infelizmente, com as mortes de Corea e Svensson e a aposentadoria forçada de Jarrett, a magia desta formação perdeu um pouco do seu brilho e da sua influência. Hoje em dia, Mehldau é um dos poucos "sobreviventes" à frente de um trio com uma história de mais de duas décadas para contar.

Vale mencionar também o pianista cubano Gonzalo Rubalcaba. Apesar de não manter um trio sempre com os mesmos músicos, ele tem costume de gravar com essa formação. Em 2021, ele lançou o disco Skyline, indicado ao Grammy na categoria melhor disco de jazz, ao lado dos veteranos Ron Carter (baixo) e Jack DeJohnette (bateria).

Mas Meldau não está sozinho. Outro representante desta escola de jazz, também com um trio em atividade há muitos anos, é o pianista Bill Charlap, que em 2016 conquistou o Grammy em parceria com o cantor Tony Bennett. Agora, depois de uma década longe da gravadora Blue Note, ele retorna com o belíssimo álbum Streets of Dreams, novamente acompanhado pelo baterista Kenny Washington e baixista Peter Washington.

No repertório, Charlap não fez escolhas óbvias e, com isso, deixou o disco mais ousado e livre para a química existente entre os três músicos. De saída, "The Duke", composição de Dave Brubeck em homenagem a Duke Ellington. Em seguida, a sempre inspirada parceria de Billy Strayhorn e Ellington, aparece aqui na bela "Day Dream", com Kenny abusando da vassourinha. Com a mesma pegada aparece "Your Host", com o piano cadenciado de Charlap em pura sintonia com baixo e bateria.
Kenny Washington, Bill Charlap e Peter Washington tocam juntos há duas décadas


O trio pega fogo em "You're All the World to Me", tema que ficou famoso na voz de Fred Astaire, e em "Out of Nowhere", da década de 1930 e gravada, entre outros, pelo cantor Bing Crosby. Outro tema que merece destaque é a composição de Michel Legrand "What Are You Doing the Rest of Your Life", uma balada para machucar o coração, assim como "I'll Know", de Frank Loesser.

Com o novo álbum, Charlap volta a ser protagonista e mostrar que é possível fazer jazz de gente grande sem precisar suar na frente do piano ou escalar naipes de metal para soar "mais jazz". Seu piano preciso e a sinergia com Kenny e Peter são frutos da linguagem universal que apenas a música, em especial o jazz, podem prover.










quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Jon Batiste e Tony Bennett lideram corrida pelo Grammy


Os indicados para a edição número 64 dos prêmios Grammy foram divulgados no dia 23 de novembro.

Ao todo, são 88 categorias dos mais diversos gêneros musicais. Na última década, a importância da premiação tem sido questionada por quase todos os envolvidos, entre eles, os artistas, a crítica e o público.

Apesar da mudança na indústria fonográfica e a gritante diferença na maneira do público consumir música, as premiações continuam sendo uma vitrine importante para os artistas, em especial o Grammy, notoriamente a mais importante do gênero, mas com muito menos impacto nas carreiras de seus vencedores e indicados.

Como sempre acontece, o Grammy privilegia os artistas da música pop nas indicações principais e na festa de premiação, que nesta edição acontecerá em 3 de abril. Neste ano, as estrelas pop em destaque são Justin Bieber, Billie Eilish, Lil Nas X, Olivia Rodrigo e H.E.R. Mas há dois forasteiro entre os mais indicados: Jon Batiste e Tony Bennett, acompanhado de Lady Gaga.

Pianista, compositor, cantor e arranjador, Batiste foi indicado em 11 categorias, quase todas pelo disco We Are (foto), lançado pela gravadora Verve. As principais categorias são Gravação, Música e Disco do Ano. Ele também concorre pela trilha do filme Soul, animação da Pixar, que tem o personagem principal inspirado no cantor. Batiste ganhou o Globo de Ouro e o Oscar com essa trilha.

Quem também chegou com força ao Grammy é o disco Love for Sale, dos cantores Tony Bennett e Lady Gaga. Essa é a segunda parceria da dupla, que lançou em 2014 a primeira colaboração juntos.

Desta vez, o repertório traz apenas composições do genial Cole Porter, um dos compositores mais regravados entre os jazzistas. O disco recebeu seis indicações, incluindo Gravação, pela música "I Get A Kick Out Of You", e Disco do Ano.

BRAZUCAS NA DISPUTA


O Brasil está concorrendo em quatro categorias, uma com a pianista Eliane Elias, e três com Sergio e Clarice Assad e o Third Coast Percussion. Eliane concorre como melhor disco de jazz latino pelo álbum Mirror Mirror, no qual faz duetos com os pianistas Chick Corea e Chucho Valdés. Corea morreu em fevereiro de 2021, na véspera do Grammy 2021.

O violonista brasileiro Sergio Assad e a filha Clarice (voz e piano) concorrem pelo disco Archetypes, uma parceria com o Third Coast Percussion, grupo de percussão do estado americano de Illinois. As categorias são: Composição Clássica Contemporânea, Engenharia de Álbum Clássico e Performance de Música de Câmara. Sérgio também é conhecido por seu trabalho no Duo Assad, ao lado do irmão Odair, com quem divide os violões e uma carreira internacional de sucesso há três décadas.

CATEGORIAS DE JAZZ


Por falar em Chick Corea, ele concorre em outras três categorias. O disco Plays, com composições clássicas e de jazz, é um dos indicados em Clássico Compêndio. As outras duas são pelo álbum Akoustic Band LIVE, ao lado de John Patitucci e Dave Weckl. Na mesma categoria de disco de jazz, estão na briga o guitarrista Pat Metheny (Side-Eye NYC), o baixista Ron Carter (Skyline), o cantor Jon Batiste (Jazz Selections: Music From And Inspired By Soul) e o trompetista Terence Blanchard (Absence).
Chick Corea, John Patitucci e Dave Weckl concorrem com álbum duplo ao vivo


Blanchard também disputa na categoria Gravação de Jazz, com o tema "Absence". Ele concorre contra o trompetista Christian Scott aTunde Adjuah (Sackodougou), o pianista Kenny Barron (Kick Those Feet), o cantor Jon Batiste (Bigger Than Us) e o pianista Chick Corea (Humpty Dumpty (Set 2)).

Na categoria Disco Cantado, concorrem o atual vencedor, Kurt Elling (SuperBlue), em parceria com o guitarrista Charlie Hunter, a dupla The Baylor Project (Generations), e as cantoras Nnenna Freelon (Time Traveler), Gretchen Parlato (Flor) e Esperanza Spalding (Songwrights Apothecary Lab). O disco de Gretchen tem duas canções interpretadas em português, além das participações dos músicos brasileiros Airo Moreira (percussão), Marcel Camargo (guitarra) e Léo Costa (bateria)

A cantora Jazzmeia Horn volta a disputar um Grammy, mas desta vez na categoria Disco de Orquestra, com o aclamado Dear Love, seu terceiro álbum e sua terceira indicação. Ela terá no páreo os discos de The Count Basie Orchestra (Live At Birdland!), Christian McBride Big Band (For Jimmy, Wes And Oliver), Sun Ra Arkestra (Swirling) e Yellowjackets + WDR Big Band (Jackets XL).

JAZZ, MAS SEM SER JAZZ


Os músicos de jazz também conquistam indicações em outras categorias que não são propriamente de jazz. Neste ano, por exemplo, a cantora Norah Jones concorre com o seu disco Til We Meet Again na categoria Disco Tradicional Pop Cantado. O disco de Bennett e Lady Gaga também está disputando nessa categoria.

Na categoria Álbum Contemporâneo Instrumental, todos os cinco indicados são músicos de jazz. São eles: Randy Brecker & Eric Marienthal (Double Dealin'), Rachel Eckroth (The Garden), Taylor Eigsti (Tree Falls), Steve Gadd Band (At Blue Note Tokyo) e Mark Lettieri (Deep: The Baritone Sessions, Vol. 2).

Quem acabou perdido neste monte de categorias foi o pianista Lyle Mays, que morreu em fevereiro de 2020, aos 66 anos de idade. O disco póstumo Eberhard, com apenas uma música de 13 minutos de duração (escute nos vídeos abaixo), foi indicado como composição instrumental. A faixa é uma despedida à altura da grandeza de Mays, que tocou por décadas ao lado do guitarrista Pat Metheny.

VEJA ABAIXO TODOS OS INDICADOS NAS CATEGORIAS DO JAZZ

GRAVAÇÃO DE JAZZ

Sackodougou
Christian Scott aTunde Adjuah
Disco: The Hands Of Time (Weedie Braimah)

Kick Those Feet
Kenny Barron
Disco: Songs From My Father (Gerry Gibbs Thrasher Dream Trios)

Bigger Than Us
Jon Batiste
Disco: Soul (Original Motion Picture Soundtrack) (Various Artists)

Absence
Terence Blanchard
Disco: Absence (Terence Blanchard Featuring The E Collective And The Turtle Island Quartet)

Humpty Dumpty (Set 2)
Chick Corea
Disco: Akoustic Band Live (Chick Corea, John Patitucci & Dave Weckl)

DISCO CANTADO

Generations
The Baylor Project

SuperBlue
Kurt Elling & Charlie Hunter

Time Traveler
Nnenna Freelon

Flor
Gretchen Parlato

Songwrights Apothecary Lab
Esperanza Spalding

DISCO DE JAZZ

Jazz Selections: Music From And Inspired By Soul
Jon Batiste

Absence
Terence Blanchard Featuring The E Collective And The Turtle Island Quartet

Skyline
Ron Carter, Jack DeJohnette & Gonzalo Rubalcaba

Akoustic Band LIVE
Chick Corea, John Patitucci & Dave Weckl

Side-Eye NYC (V1.IV)
Pat Metheny

ÁLBUM DE ORQUESTRA

Live At Birdland!
The Count Basie Orchestra Directed By Scotty Barnhart

Dear Love
Jazzmeia Horn And Her Noble Force

For Jimmy, Wes And Oliver
Christian McBride Big Band

Swirling
Sun Ra Arkestra

Jackets XL
Yellowjackets + WDR Big Band

ÁLBUM DE JAZZ LATINO

Mirror Mirror
Eliane Elias With Chick Corea and Chucho Valdés

The South Bronx Story
Carlos Henriquez

Virtual Birdland
Arturo O'Farrill & The Afro Latin Jazz Orchestra

Transparency
Dafnis Prieto Sextet

El Arte Del Bolero
Miguel Zenón & Luis Perdomo

























terça-feira, 12 de outubro de 2021

Diversidade e longevidade marcam história do Montreux Jazz Festival


Ao lado dos festivais de Newport e Nova Orleans, nenhum outro evento musical é tão pulsante quanto o Montreux Jazz Festival, que acontece anualmente na cidade suíça, às margens do Lago Léman, em Montreux.

O responsável por essa história que começou em 1967 é o produtor Claude Nobs, que esteve à frente do festival até sua morte, em janeiro de 2013, aos 76 anos de idade.

Seu amor pela música e seu espírito libertador e sem preconceito fizeram o festival se tornar uma colcha de retalhos que recebe com o mesmo entusiasmo artistas tão diferentes como Miles Davis, Simply Red, Paralamas do Sucesso e John Lee Hooker.

Foi também graças ao festival que a música "Smoke on the Water", do grupo Deep Purple, foi composta. A letra "narra" o incêndio da antiga sala do festival, o Casino, em 1971, durante um concerto de Frank Zappa. Uma tragédia não aconteceu graças ao empenho de Nobs para retirar as pessoas do local.

A paixão de Nobs pelo Brasil foi essencial para que os artistas brasileiros tivessem espaço no palco principal em Montreux. O flerte do produtor com o Brasil aconteceu no final da década de 1970, quando ele foi convidado a organizar duas edições do Festival de Jazz de São Paulo, em 1977 e 1978. Essa aproximação só deixou Nobs ainda mais fascinado pela música brasileira.

Claude Nobs esteve à frente do festival por cinco décadas


O primeiro a pisar no palco do Montreux foi o cantor Gilberto Gil, em 1978. Desde então, grandes nomes da MPB passaram por lá, entre eles, Elis Regina, João Gilberto, Maria Bethânia, Milton Nascimento, Jorge Ben e Beth Carvalho. O rock brasileiro também fez história ao tocar no festival em 1987, com os Paralamas do Sucesso. E no ano seguinte foi a vez dos Titãs e Lulu Santos.

Montreux também foi palco de um dos últimos concertos de Miles Davis, em 1991, menos de três meses antes de sua morte, aos 65 anos. O histórico show foi comandado pelo produtor Quincy Jones e uma grande orquestra interpretando canções da frutifera parceria entre Miles e o arranjador Gil Evans, na década de 1960. Outros shows que marcaram a rica história do festival são as apresentações de Aretha Franklin, Nina Simone, David Bowie, Stevie Ray Vaughan, Elis Regina, Gil & Caetano, Prince e o tributo a Quincy Jones.

ACERVO

As gravações de meio século de festival estão preservadas e imortalizadas no "Montreux Sounds Digital Project", lançado com a Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL). Ao todo, 5 mil horas de gravações de vídeo e áudio feitas a partir de 4 mil shows são mantidas no arquivo em 10 mil fitas originais, de diferentes formatos.

Desde 2016, parte desse acervo pode ser conferido em um jukebox audiovisual de última geração instalado no Montreux Jazz Café do novo prédio ArtLab de 250 metros de comprimento do campus da EPFL.
Romero Brito foi responsável pelo cartaz do festival em 1999


A cabine de visualização foi especialmente concebida e construída durante dois anos por uma equipe de 15 pesquisadores da EPFL e da escola de design ECAL, também de Lausanne. Possui uma tela acolchoada curvada feita de painéis em forma de diamante para dar uma impressão de profundidade. Espelhos de cada lado reforçam a experiência visual imersiva.

Além disso, um som 3D composto de 32 alto-falantes podem reproduzir a acústica das diferentes salas de concerto em Montreux, como o enorme Auditório Stravinski, que reúne 4 mil espectadores, ou o antigo Casino.

Você também pode acessar o site oficial do festival para saber todos os artistas que tocaram por lá, e seus respectivos anos, e visitar uma galeria com os pôster de todas as edições. A cada ano, um novo artista plástico é convidado a soltar a imaginação e dar uma identidade ao festival. Entre os artistas estão Romero Britto, Buron Morris, Andy Warhol, Robert Combas, Keith Haring, Hamish Grimes e Francis Baudevin.

MONTREUX NO RIO

O festival ganhou sua versão brasileira em 2019, com uma edição carioca. Entre os músicos que participarão estavam Amaro Freitas, Diogo Figueiredo, Quarteto Jobim e Maria Rita, Al Di Meola Opus 2019 e Steve Vai. A segunda edição aconteceu de forma virtual. Com a pandemia, os shows foram exibidos pelas canal oficial do festival no YouTube, diretamente do RIo de Janeiro, Los Angeles e Nova York.

Subiram "ao palco" nomes como Milton Nascimento, Toquinho, João Donato, Yamandu Costa, Sergio Dias, Hamilton de Holanda, Amaro Freitas, Pepeu Gomes, Roberto Menescal, Macy Gray e Anat Cohen. Veja abaixo alguns shows na íntegra de diferentes edições do festival, e uma entrevista com o produtor Marco Mazzola contanto histórias sobre o festival.


































quinta-feira, 7 de outubro de 2021

70 discos mais populares das últimas sete décadas


O site Discogs fez um pente fino em seus arquivos e compilou 70 discos mais populares entre os internautas que usam a plataforma para catalogar seus discos. A lista está dividida por década, que começa em 1950, um título por ano.

Os artistas que mais aparecem entre os 70 discos são os Beatles, que dominam a década de 1960, o Nirvana, que tem quatro discos, incluindo Nevermind, entre os dez discos da década de 1990, e os ingleses do Pink Floyd, com três discos na década de 1970 (The Wall, The Dark Side of the Moon e Wish You Were Here).

O jazz é protagonista apenas na década de 1950, com discos de Duke Ellington, Chet Baker, Miles Davis, Thelonious Monk, Benny Goodman, John Coltrane (foto) e Cannonball Adderley. Dos dez discos incluidos nesta década, apenas um não é de jazz. O intruso é simplesmente Elvis Presley, que ficou com o disco mais popular de 1956, segundo os usuários do Discogs.

Além de Kind of Blue, que ficou com o pódio no ano de 1959, Miles Davis aparece novamente com o álbum Sketches of Spain, gravado em 1959, mas lançado em 1960. A parceria entre Davis e Gil Evans rendeu belos discos na década de 1960 entre esses dois gênios. Sketches é um dos mais interessantes, com a fusão do jazz e o famoso Concierto de Aranjuez. Veja abaixo a ranking da década de 1950. Voce pode ver a relação completa no site do Discogs.


1950 - BENNY GOODMAN – THE FAMOUS 1938 CARNEGIE HALL JAZZ CONCERT
1951 - THELONIOUS MONK – GENIUS OF MODERN MUSIC
1952 - NAT “KING” COLE – UNFORGETTABLE
1953 - DUKE ELLINGTON AND HIS ORCHESTRA – ELLINGTON UPTOWN
1954 - CHET BAKER – CHET BAKER SINGS
1955 - BING CROSBY – MERRY CHRISTMAS
1956 - ELVIS PRESLEY – ELVIS PRESLEY
1957 - JOHN COLTRANE - BLUE TRAIN
1958 - CANNONBALL ADDERLEY – SOMETHIN’ ELSE
1959 - MILES DAVIS - KIND OF BLUE





terça-feira, 28 de setembro de 2021

Jazz não morre, mas fica órfão sem eles


O jazz morreu. Esta frase é falada desde o fim da década de 1960, quando o jazz perdeu sua força e "apelou" para o rock para continuar a ter visibilidade. Mas quem acompanha o jazz mais de perto sabe que ele está longe de acabar, diante de tantos jovens músicos talentosos que pipocam dos quatro cantos do planeta por meio da internet e das redes sociais.

Mas a metáfora "o jazz morreu" quase se torna verossímil quando perdemos grandes apreciadores e estudiosos do jazz. Nos últimos doze meses, entre setembro de 2020 e setembro de 2021, quatro personalidades que dedicaram suas vidas ao jazz partiram e deixaram, além de seus registros, um enorme silêncio na comunidade do jazz. São eles: Phil Schaap, Stanley Crouch, Zuza Homem de Mello e, mais recentemente, George Wein.

Wein (foto) é considerado o pai de todos os festivais. Ele comandou o Newport Jazz Festival (EUA) por cinco décadas e estabeleceu uma nova maneira de apresentar música ao vivo e ao ar livre. A primeira edição aconteceu em 1954 e todos....eu disse...todos os grandes nomes do jazz subiram ao palco do famoso Fort Adams State Park.

Ele também é responsável pela criação do New Orleans Jazz & Heritage Festival, um dos mais importantes e influentes festivais do mundo. Como empresário, pianista e, acima de tudo, apaixonado por jazz, Wein tem seu nome imortalizado na história dos Estados Unidos. Ele morreu em 13 de setembro, aos 95 anos.

Os outros três senhores se notabilizaram por suas posições e seus conhecimentos na arte do jazz adquiridos em meio século de estudos, audições e, é claro, como espectadores atentos e apaixonados pela arte do improviso, tão característico s fundamental no jazz.

Stanley Crouch é um escritor e ensaista, além de um baterista de jazz mediano, segundo o próprio Crouch. Suas posições fortes sempre o colocaram como um critico influente e, às vezes, maldito. Como negro, ele rompeu publicamente com a ideologia negra nacionalista em 1979 e se tornou uma voz dissonante dentro da comunidade intelectual negra.

Paralelamente a isso, sua paixão pelo jazz expandiu seu repertório e o levou a escrever sobre o tema para publicações como o Village Voice. Em 1987, vira consultor artístico do programa Jazz at Lincoln Center, acompanhado por Marsalis, que mais tarde se tornou diretor artístico, em 1991. Crouch morreu em 16 de setembro de 2020, aos 74 anos.

Com Marsalis, foi consultor no documentário Jazz, de Ken Burns. Apesar da riqueza de detalhes e da importante contribuição ao jazz, o documentário de Burns não se preocupou em falar do jazz após década de 1960, uma falta que não foi corrigida. Assim como Marsalis, o jazz tradicional, na figuras de Louis Armstrong, Charlie Parker e Duke Ellington, sempre foi o foco dos estudos e admiração de Stanley Crouch. Ele recebeu a honraria NEA Jazz Masters, em 2019.

O paulistano Zuza Homem de Mello (foto ao lado) era e sempre será um patrimônio do Brasil. Sua dedicação e amor à música estão marcados na história da música popular brasileira. Como escritor, curador, palestrante, produtor, músico, musicólogo, apresentador....ufa....Zuza está presente em todos os lugares onde era possível ouvir qualquer uma das sete notas musicais.
Zuza tinha duas paixões: o jazz e a música popular brasileira

Como curador, foi responsável pela escalação dos músicos de todas as edições do extinto Free Jazz Festival, que aconteceu anualmente nas capitais paulista e cariocas, durante as décadas de 1980 e 1990. No fim da vida, ele foi retratado no belo documentário Zuza Homem de Jazz (2018), uma emocionante viagem aos Estados Unidos, onde Zuza estudou música na década de 1950. Zuza morreu aos 87 anos, em 4 de outubro de 2020.

Assim como Zuza, o norte-americano Phil Schaap também era um homem multimídia, desde o tempo em que essa palavra sequer existia. Mas sua grande paixão sempre foi o rádio, mais especificamente na WKCR-FM, estação de rádio administrada por estudantes da Universidade de Columbia. Por décadas, Schaap dividiu sua paixão e seu conhecimento com os ouvintes.
Schaap no habitat que mais gostava: o rádio


Seu grande "tutor" foi o saxofonista Charlie Parker, cuja discografia foi minuciosamente estudada e dividida por Schaap. Essa devoção pelo saxofonista rendeu o primeiro dos seis Grammy que ganhou. Suas considerações na caixa Bird - The Complete Charlie Parker On Verve ficou com o Grammy de melhor notas em 1989. Em 2021, Schaap foi premiado com o NEA Jazz Masters. Anualmente, a entidade National Endowment for the Arts (NEA) premia pessoas que de alguma maneira contribuíram para o desenvolvimento do jazz.







sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Greg Osby - Inner Circle

Greg Osby jazz
Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados. Com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia e muito mais - você encontrará neste blog algumas dicas de CDs publicadas no extinto Guia de Jazz.

Ao final de cada resenha você encontrará vídeos do YouTube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui


Greg Osby - Inner Circle (2002)


A chamada nova geração do jazz conseguiu, em um pequeno espaço de tempo, se consolidar entre os consumidores que se preocupam com uma única coisa, a música. Não importa que este ou aquele músico esteja reescrevendo um grande clássico de jazz sem se preocupar com o arranjo original. Não interessa se, muitas vezes, tudo parece estranho e sem nexo no início, mas que no final tudo se encaixará da maneira como você previa e não acreditava que poderia acontecer.

Senão, vejamos. Nos últimos anos, o jazz vem passando por várias modificações e expandindo seu horizonte e seus ouvintes. É esta estrada que músicos como o saxofonista Greg Osby, o pianista Jason Moran e o vibrafonista Stefon Harris têm trilhado.

Os três instrumentistas são o que o antigo dicionário de jazz chamaria de avant-garde. Mas isso não interessa muito, o que vale mesmo é a música. A melhor maneira para entender o que parece ser complexo é ouvi-los em ação e de preferência juntos. Vale lembrar que todos os três têm suas carreiras e discos solos.

É isso que o disco Inner Circle, lançado por Osby em 2002, proporciona. Ao lado do quinteto formado por Harris, Moran, Eric Harland (bateria) e Tarus Mateen (baixo), Osby mostra mais uma vez que é possível arriscar sem medo no universo musical do jazz. Logo na primeira música, “Entruption”, fica claro até onde eles podem ir.

O dedilhado de Moran brilha no início e abre caminho para o sax alto de Osby bater um papo com o piano. O mesmo acontece em “Stride Long”. Para recuperar o fôlego do ouvinte, o quinteto embala “All Neon Like”, composta pela cantora Bjork, e “Diary Of the Same Dream”, na qual Harris começa a aparecer.

O vibrafone brilha de verdade na estonteante “Fragmatic Deconding”, que traz uma conversa franca e sem limite entre Harris e Osby. Outra composição que vai mexer com o ouvinte é “Equalatogram”, com solos marcantes de sax, vibrafone e piano. Essa é uma daquelas faixas que é melhor ver ao vivo para ter certeza que eles realmente estão tocando o que você está ouvindo. Neste tipo de tema é possível entender porque o jazz nunca vai morrer.

Para fechar, uma composição do mestre Charles Mingus, “Self-Portrait In Three Colors”, do famoso álbum Mingus Ah Um, de 1959. Com este álbum, Osby, ao lado de Stefon Harris e Jason Moran, reafirma toda a vitalidade que o jazz e seus novos músicos têm a oferecer.

Não esqueça que craques como Miles Davis, Ornette Coleman, Dizzy Gillespie, Charlie Parker e Dave Brubeck fizeram isto há cinco décadas. Já é hora de esquecer as picuinhas e preconceitos e abrir a cabeça para entender e apreciar essa nova maneira de tocar e pensar o jazz.

O trio Osby, Moran, Harris já tinha se reunido dois anos antes sob o nome de New Directions. O disco homônimo, que conta ainda com o sax tenor de Mark Shim e o baixo de Taurus Mateen, traz o grupo reinterpretando clássicos de Herbie Hancock, Wayne Shorter, Hank Mobley e Sam Rivers.





sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Historiador Phil Schaap morre aos 70 anos


Phil Schaap, que explorou a complexidade e a história do jazz nos programas de rádio que apresentava, nas notas do encarte ganhador do Grammy que escreveu, nas séries musicais que programou e nas aulas que ministrou, morreu em 7 de setembro de 2021, aos 70 anos, vítima de câncer, após quatro anos lutando contra a doença.

Schaap foi o apresentador de uma variedade de programas de rádio de jazz ao longo dos anos, mas ele era talvez mais conhecido como uma presença constante na WKCR-FM, a estação de rádio administrada por estudantes da Universidade de Columbia, onde seu encantador (alguns diriam irritantemente) obsessivo O programa diário sobre o saxofonista Charlie Parker, “Bird Flight”, foi uma âncora da programação matinal durante décadas.

Nesse programa, ele analisava as gravações e as minúcias de Parker indefinidamente. No um artigo de 2008 sobre Schaap. na The New Yorker, David Remnick descreveu um desses discursos em detalhes, relatando o lado de Schaap sobre a faixa de Parker “Okiedoke”, que desviou para uma tangente sobre a pronúncia e o significado do título e sua possível relação com Hopalong Filmes Cassidy.

“Talvez tenha sido nesse ponto”, escreveu Remnick, “que os ouvintes de toda a área metropolitana, os poucos que restaram, desligaram seus rádios, ficaram estranhamente fascinados ou chamaram uma ambulância em nome de Schaap”.

Mas se o jazz era uma obsessão para Schaap, era baseado no conhecimento. Desde a infância, ele absorveu tudo o que havia para saber sobre Parker e inúmeros outros músicos de jazz, cantores, discos e subgêneros. Ele ganhou três Grammys por encarte do álbum – por uma caixa de Charlie Parker, não surpreendentemente (“Bird: The Complete Charlie Parker on Verve”, 1989), mas também por “The Complete Billie Holiday on Verve, 1945-1959” (1993 ) e “Miles Davis & Gil Evans: The Complete Columbia Studio Recordings” (1996).



Ele fez mais do que escrever e falar sobre jazz; ele também conhecia bem um estúdio e era especialmente adepto de desenterrar e remasterizar as obras de grandes nomes do jazz do passado. Ele compartilhou o melhor álbum histórico Grammy como produtor nas gravações de Holiday e Davis-Evans, bem como em “Louis Armstrong: The Complete Hot Five & Hot Seven Recordings” (2000).

Com o passar dos anos, ele transmitiu seu vasto conhecimento de jazz a incontáveis alunos, ministrando cursos em Columbia, Princeton, Manhattan School of Music, Juilliard School, Rutgers University, Jazz no Lincoln Center e em outros lugares.

“Dizem que sou professor de história”, disse ele em uma entrevista em vídeo para o National Endowment for the Arts, que este ano o nomeou Mestre do Jazz, a maior homenagem oficial do país para uma figura viva do jazz, mas ele viu seu papel de forma diferente.“Eu ensino a ouvir”, disse ele.

Ele tinha o que um artigo de jornal chamado de “memória voadora” para a história do jazz, tanto que os músicos às vezes confiavam nele para preencher suas próprias memórias irregulares sobre datas de apresentações e coisas do gênero. “Ele sabe mais sobre nós do que nós sabemos sobre nós mesmos”, disse o grande baterista Max Roach ao The New York Times, em 2001.

INFÂNCIA

Philip Van Noorden Schaap nasceu em 8 de abril de 1951, no Queens. Sua mãe, Marjorie Wood Schaap, era bibliotecária e pianista com formação clássica, e seu pai, Walter, era um estudioso de jazz e vice-presidente de uma empresa que fazia filmes educacionais.

Phil cresceu na região de Hollis, no Queens, que se tornou um ímã para músicos de jazz. O trompetista Roy Eldridge morava nas proximidades. Ele veria o saxofonista Budd Johnson todos os dias no ponto de ônibus. “Para onde quer que você olhasse, parecia, havia um gigante andando na rua”, disse Schaap ao Newsday, em 1995.

Por volta das 6h, ele estava coletando registros. Jo Jones, que foi o baterista da big band de Count Basie por muitos anos, às vezes, cuidava dele. Eles tocavam discos e o Jones explicava o que estavam ouvindo.

Assistir ao filme “The Gene Krupa Story”, de 1959, sobre o famoso baterista de jazz, alimentou seu interesse ainda mais, e na época em que estava na Jamaica High School, no Queens, falava jazz constantemente com colegas de classe. “Por mais que me tenham dificultado e me isolado como um estranho”, disse ele ao Newsday, “eles sabiam do que eu estava falando. Meus colegas podem ter rido de mim, mas eles sabiam quem eram Duke Ellington e Louis Armstrong. ”

CARREIRA

Schaap tornou-se DJ no WKCR em 1970 como calouro na Columbia, onde se formou em história. Ele partiu em uma missão ao longo da vida para manter vivo o passado do jazz. “Uma coisa que eu queria transmitir”, disse ele ao programa de rádio Jazz Night in America, “foi que a música não tinha começado com John Coltrane”.

Ele se formou na Columbia em 1974, mas ainda transmitia pela WKCR meio século depois. Ele começou “Bird Flight” em 1981 e – como o apresentador de “Jazz Night in America”, o baixista Christian McBride, observou durante o recente episódio dedicado a Schaap – ele manteve o show por cerca de 40 anos, mais do que Parker, que morreu aos 34, estava vivo. Ele também apresentou uma variedade de outros programas de jazz no WKCR e outras estações ao longo dos anos, incluindo WNYC em Nova York e WBGO em Newark, NJ

Em 1973, ele começou a programar jazz no West End, um bar perto de Columbia, e continuou a fazê-lo na década de 1990. Ele gostava particularmente de trazer músicos mais velhos da era do swing, proporcionando-lhes – como ele disse em uma entrevista de 2017 ao The West Side Spirit – “um belo último capítulo de suas vidas”.

Para o programa Jazz Night in America, ele disse que a série West End estava entre suas realizações de maior orgulho. “Muitos deles nem estavam se apresentando mais”, disse ele sobre o saxofonista Earle Warren, o trombonista Dicky Wells e os muitos outros músicos que ele colocou no palco lá. “Eles eram meus amigos”, acrescentou. “Eles eram meus professores. Eles eram gênios. ” Schaap, que morava no Queens e em Manhattan, também administrou um pouco – incluindo do The Countsmen, um grupo cujos membros incluíam Wells e Warren – e foi curador do Jazz no Lincoln Center por um tempo.

Como educador, locutor e arquivista, ele poderia se concentrar em detalhes que escapariam a um ouvinte casual. Ele comparou as gravações de Armstrong e Holiday para mostrar como Armstrong influenciou o estilo vocal de Holiday. Ele exigia que os alunos pudessem ouvir a diferença entre um solo de Armstrong e um do cornetista Bix Beiderbecke.

Em 1984, para o jornal The Times, Schaap falou de sua motivação para seus programas de rádio e outros esforços para espalhar o evangelho do jazz. “Fui um estudante de música de escola pública por 12 anos e nunca ouvi o nome Duke Ellington”, disse ele. “Agora posso corrigir esses erros. Posso ser um Johnny Appleseed pelo transmissor. ”

NEA JAZZ MASTERS

Em 2021, Schaap foi premiado com o NEA Jazz Masters. Anualmente, a entidade National Endowment for the Arts (NEA) premia pessoas que de alguma maneira contribuíram para o desenvolvimento do jazz.

Desde 1982, cerca de 100 personalidades, entre músicos, compositores, arranjadores, jornalistas, radialistas e escritores, receberam a honraria batizada de NEA Jazz Masters. Nomes como Count Basie, Sonny Rollins, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Sarah Vaughan, Chick Corea, Ella Fitzgerald, Pat Metheny e Dan Morgenstern já foram premiados pela NEA.



Fonte: Celebrity Land

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Gravações inéditas trazem dueto entre Roy Hargrove e Mulgrew Miller


A arte é imortal. Tal afirmação vale para qualquer tipo de arte (música, cinema, teatro, literatura, artes plásticas). Quando um artista desaparece fisicamente, sua obra fica para sempre entre nós. A vida continua e o legado de quem produz arte passa de geração para geração. Quando essa arte reaparece sem pedir licença e inédita, sentimos seu poder ainda mais forte e toda a grandeza do seu legado.

De olho neste filão, a gravadora norte-americana Resonance Records tem oferecido na última década gravações inéditas e históricas de jazzistas. Em seu catálogo, é possível encontrar Bill Evans, Wes Montgomery, Sarah Vaughan, Sonny Rollins, Stan Getz, João Gilberto, entre outros. Seu mais novo tesouro é In Harmony, encontro entre o pianista Mulgrew Miller e o trompetista Roy Hargrove.

A morte prematura de ambos, Hargrove aos 49 e Miller aos 57, torna esse registro ainda mais especial. O ineditismo da formação também é outro ponto alto. Sem baixo e sem bateria, os dois solistas têm espaço de sobra para improvisar e conversarem entre si em 13 temas, com média de 8 minutos cada um.

No cardápio, temas imortais como "What is this thing called love", de Cole Porter, "Con Alma", do trompetista Dizzy Gillespie, "Triste", de Tom Jobim, "Monk's Dream", de Thelonious Monk, e "I Remember Clifford", obra prima do saxofonista Benny Golson. Além da balada de Golson, outros temas que deixam qualquer ouvinte pisando em nuvens são "Never let me go", "Ruby, My Dear" e "This is Always".

As gravações foram registradas em dois momentos: no Merkin Hall, na cidade de Nova York, em 2006, e no Lafayette College, na Pensilvânia, em 2007. O disco duplo ainda tem um livreto com depoimentos de diversos músicos falando sobre seus encontros com Muller e Hargrove. Sonny Rollins, Christian McBride, Ron Carter, Jon Batiste, Chris Botti, Robert Glasper, entre outros, proporcionam ao ouvinte uma visão mais pessoal da personalidade de ambos, enriquecendo ainda mais esse belo registro.






sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Jerry Bergonzi - Tenorist

Jerry Bergonzi jazz
Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim. Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia e muito mais - você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.

Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui

Jerry Bergonzi - Tenorist (2007)

Um bom começo para falar do trabalho do saxofonista norte-americano Jerry Bergonzi é citar uma resposta dada pelo saudoso Michael Brecker. Perguntado sobre como se sentia sendo o rei dos saxofonistas tenores, Brecker não hesitou e soltou a seguinte resposta:

“Eu não sei. Você tem que perguntar isto a Jerry Bergonzi”. Diante de um fato desses, você deve estar pensando que o tal Bergonzi deve saber, pelo menos, tirar algumas notas do sax.

Mais do que isto, o saxofonista tenor radicado em Boston, além de ser um músico excepcional, escolheu priorizar sua carreira de professor a conquistar uma legião de fãs. Apesar da escolha, nos últimos anos, Bergonzi tem conseguido chamar a atenção de um público maior.

No disco Tenorist, seu segundo trabalho pela gravadora Savant, o saxofonista tem ao seu lado um convidado mais que especial, o guitarrista John Abercrombie, além do baixista Dave Santoro e do baterista Adam Nussbaum.

A eloquência do sax de Bergonzi pode ser ouvida em temas como “Table Steaks”, “Simultaneous Looks” e “Czarology”, esta com uma pitada de música latina. Para quem ainda não se convenceu do que o músico é capaz, basta prestar atenção nos arranjos criados pelo saxofonista para as baladas “Mesha”, de Kenny Dorham e “Pannonica”, de Thelonious Monk, com destaque para a guitarra de Abercrombie.

O guitarrista norte-americano também divide as atenções do ouvinte em “Creature Feature”. Outro destaque é “With Reference”, na qual Bergonzi utiliza o overdubbed, duplicando assim o som de seu sax e remetendo os iniciados no jazz à inesquecível parceria entre os saxofonistas Lee Konitz e Warne Marsh, nos anos 50.

Para terminar, mais uma saborosa história com Michael Brecker. Perguntado se o saxofonista praticava diariamente o seu sax, Brecker soltou a seguinte frase: “Enquanto Jerry Bergonzi estiver por aí, nenhum saxofonista tenor pode deixar de treinar”. Alguém quer mais algum bom motivo para conhecer a música do senhor Bergonzi?







sexta-feira, 6 de agosto de 2021

NEA Jazz Masters ganha quatro novos membros em 2022


A National Endowment for the Arts (NEA) divulgou os nomes dos escolhidos para a 40ª edição do NEA Jazz Masters. São eles: Stanley Clarke (baixo), Billy Hart (bateria), Donald Harrison, Jr (saxofone). e Cassandra Wilson (cantora). A cerimônia acontecerá em 31 de março de 2022, no SFJAZZ, em São Francisco (EUA).

Desde 1982, cerca de 100 personalidades, entre músicos, compositores, arranjadores, jornalistas, radialistas e escritores, receberam a honraria batizada de NEA Jazz Masters. Nomes como Count Basie, Sonny Rollins, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Sarah Vaughan, Chick Corea, Ella Fitzgerald, Pat Metheny e Dan Morgenstern já foram premiados pela NEA.

O mais veterano ao entrar para esse seleto grupo em 2022 é o baterista Billy Hart, de 80 anos. O músico tem no currículo centenas de gravações em discos de outros jazzistas, além de ser membro do super grupo the Cookers. Outro gigante é o baixista Stanley Clarke, de 70 anos. Em cinco décadas de carreira, Clarke se tornou uma referência no instrumento e tem discos fundamentais com Return to Forever, um dos mais importantes grupos de fusion jazz da história.

Os "novatos" da turma são a cantora Cassandra Wilson, de 65 anos, e o saxofonista Donald Harrison, Jr, de 61 anos. Nas últimas três décadas, Cassandra trouxe sua personalidade musical ao jazz e conquistou centenas de admiradores. A mistura de ritmos e sua interpretação única são características que fazem a cantora ser diferentes de todas as outras. Já Harrison, nascido no berço do jazz (Nova Orleans), desenvolve um trabalho educacional para divulgar e ensinar as raízes da jazz, além de tocar sua carreira, que começou lá no fim da década de 1980 ao lado do trompetista Terence Blanchard.

Em 2021, os vencedores foram a baterista Terri Lyne Carrington, o percussionista Albert “Tootie” Heath, o flautista e saxofonista Henry Threagill e o historiador e radialista Phil Schaap. Na página oficial da entidade, você encontra mais detalhes sobre os indicados deste ano e entrevistas com cada um deles.









segunda-feira, 26 de julho de 2021

Sesc promove debate Música para Ler


O ciclo de debates Música para Ler, exibido pelo YouTube oficial do Sesc, em julho de 2021, conversou com autores que se arriscaram a escrever sobre a história de formação de alguns dos gêneros musicais criados ou assimilados pelos compositores, produtores e músicos brasileiros, dando ênfase à escrita de textos da rica bibliografia musical brasileira.

Os autores escolhidos foram Ruy Castro, Carlos Calado, Luiz Tatit, Carlos Rennó e Lira Neto.

A cada encontro, o bate-papo descontraído comandado pelos jornalistas Patrícia Palumbo, Roberta Martinelli e Júlio Maria trouxe curiosidades e a discussão sobre o ofício do autor em escrever sobre um assunto tão rico em informações e ainda tão pouco explorado pelo mercado editorial brasileiro.

Veja a seguir um pequeno histórico sobre os entrevistados e os entrevistadores, e no final do texto você pode ver na íntegra todos os vídeos dos encontros promovidos pelo Centro de Música Sesc.

Ruy Castro é jornalista, escritor, tradutor e biógrafo. Já participou das redações de Pasquim, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, Veja São Paulo, IstoÉ, Playboy, Status e Manchete, principalmente nas colunas de cultura. Escreveu obras como ¿Chega de Saudade – A História e as Histórias da Bossa Nova’, de 1990, no qual narra as aventuras e desventuras das figuras que marcaram este movimento musical e ¿Carmen: uma biografia’, que enfoca a vida e a carreira da grande cantora e atriz luso-brasileira, livro vencedor do prêmio Jabuti, em 2006.

Carlos Calado é jornalista, editor e crítico musical, escreve sobre festivais, shows e discos. Desde meados dos anos 1980 acompanha profissionalmente a produção fonográfica brasileira e eventos musicais em diversos países. Autor dos livros “Tropicália: a História de Uma Revolução Musical”, “A Divina Comédia dos Mutantes”, “O Jazz como Espetáculo” e “Jazz ao Vivo”, entre outros. Colabora eventualmente para os jornais Folha de S. Paulo e Valor.

Luiz Tatit é músico e professor Titular do Departamento de Linguística da F.F.L.C.H. da U.S.P. e autor dos livros Semiótica da Canção: Melodia e Letra (Escuta, 1994), O Cancionista: Composição de Canções no Brasil (Edusp, 1996), Musicando a Semiótica: Ensaios (AnnaBlume 1997), Análise Semiótica Através das Letras (Ateliê, 2001), O Século da Canção (Ateliê, 2004), Elos de Melodia e Letra (Ateliê, 2008), este em colaboração com Ivã Carlos Lopes, Semiótica à Luz de Guimarães Rosa (Ateliê, 2010), Todos Entoam: Ensaios, Conversas e Lembranças (Ateliê, 2014), Estimar Canções: Estimativas Íntimas na Formação do Sentido (Ateliê, 2016) e Passos da Semiótica Tensiva (Ateliê, 2019)

Carlos Rennó é letrista de música. Seus primeiros parceiros mais importantes foram Tetê Espíndola e Arrigo Barnabé, na fase da vanguarda paulistana, no início dos anos 80. Na voz de Tetê, a sua “Escrito Nas Estrelas”, composta com Arnaldo Black, venceu o Festival dos Festivais, da Rede Globo, em 1985. Desde o fim da década de 90, seu parceiro mais regular tem sido Lenine, com quem criou “Todas Elas Juntas Num Só Ser”, prêmio da Música Brasileira de “Canção do Ano” em 2005. CR também tem músicas com Pedro Luís, Lokua Kanza, Chico César, Paulinho Moska, Zé Miguel Wisnik, João Bosco, Gilberto Gil, Rita Lee, Tom Zé e Moraes Moreira, entre diversos outros compositores. CR também é organizador do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras” (1996; 2003) e autor de “Cole Porter – Canções, Versões” (1991) entre outros.

Lira Neto é escritor e jornalista, recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura em quatro ocasiões (2007, 2010, 2013 e 2014) e uma vez o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA (2014). Graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutorando em História pela Universidade Nova de Lisboa. É autor dos três volumes de `Getúlio`, e `Uma História do Samba: As Origens`.

Patrícia Palumbo foi três vezes premiada por seu trabalho em rádio pela APCA, apresenta desde 1998 o programa Vozes do Brasil no ar em 11 emissoras do país. Apresenta o Instrumental Sesc Brasil há 20 anos. Faz curadoria e consultoria musical para a TV Cultura, a Casa Brasileira e o Itaú Cultural. E agora comanda seu podcast Peixe Voador. Lançou três livros de entrevistas, Vozes do Brasil vol.1 e 2, pela DBA. E o volume 3 foi lançado em 2019 pela Edições Sesc com 33 artistas da música brasileira. Adora as ligações entre a música e a filosofia, o barco no mar e o zen budismo, o hai cai e os mutantes, Mia Couto e Hermínio Bello de Carvalho. Patricia conversa com Carlos Calado e Luiz Tatit.

Julio Maria é repórter e crítico de música do jornal O Estado de S. Paulo há 15 anos. Foi repórter da área musical e editor do Caderno de Variedades do Jornal da Tarde por dez anos, colaborou como colunista e comentarista da Rádio Eldorado, editou o Caderno 2 Mais Música entre 2010 e 2013. É autor do livro Nada será como antes, biografia de Elis Regina que venceu, em 2015, o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), e, em 2021, lançou Ney Matogrosso, a Biografia, pela Companhia das Letras,

Roberta Martinelli é apresentadora, criadora e curadora do programa Cultura Livre, na TV Cultura. É também apresentadora do programa Prelúdio, único concurso de música clássica na TV Cultura ao lado do Maestro Júlio Medaglia.

Ruy Castro e Julio Maria


Carlos Rennó e Roberta Martinelli


Carlos Calado e Patrícia Palumbo


Luiz Tatit e Patrícia Palumbo


Lira Neto mediado por Roberta Martinelli

terça-feira, 13 de julho de 2021

Hoje é dia de rock, bebê


O Dia Internacional do Jazz é comemorado em 30 de abril. A data foi criada pela UNESCO, agência especializada das Nações Unidas (ONU), em 2011, com o objetivo de mostrar a importância desta música na integração de diferentes culturas e na luta pela liberdade dos negros nos Estados Unidos.

Assim como o jazz, o Rock também tem uma data especial, 13 de julho. Foi neste dia que aconteceu o show Live Aid, em 1985, em dois locais simultaneamente: Londres (estádio de Wembley), na Inglaterra, e Filadélfia (estádio JFK), nos Estados Unidos. O concerto arrecadou dinheiro para ajudar a Etiópia, país africano atingido duramente pela fome e pela miséria. Por mais de 10h de duração, passaram pelos dois palcos nomes como Led Zeppelin, Queen, U2, Phil Collins, Paul McCartney, Madonna e The Who.

Apesar de serem musicalmente diferentes, muitos afirmar que a atitude rock and roll também pode ser encontrada no jazz. Miles Davis, John Coltrane, Herbie Hancock, Charlie Parker, Nina Simone, Chet Baker, Pharoah Sanders, Anita O'Day e Keith Jarrett são alguns desses destemidos jazzistas que marcaram seus nomes com discos e apresentações memoráveis.

No decorrer da história do jazz, mais especificamente no início da década de 1970, jazz e rock se encontram com o aparecimento do fusion jazz. Grupos como Weather Reporter, John McLaughlin & The Mahavishnu Orchestra e Return to Forever foram a personificação deste movimento, que contou também com Miles Davis, Pat Metheny e Herbie Hancock. Nessa mesma época, o rock também ampliava o seu repertório com o protagonismo do rock progressivo, que teve Pink Floyd, Genesis, Yes, King Crimson e Emerson, Lake and Palmer. Uma das características deste novo rock é exatamente a parte instrumental, que tem nos sintetizadores seu grande destaque.

Beatles, Cole Porter e Sting

A fusão rock e jazz pode ser encontrada em diversos discos perdidos por aí. O grupo mais regravado por jazzistas são os Beatles. Além de estarem entre nós desde o início da década de 1960, o quarteto de Liverpool tem clássicos como "Yesterday", "Help", "Something", "Blackbird" e "All We Need is Love". Entre os jazzistas que gravaram disco apenas com canções dos Beatles estão o pianista Count Basie e sua orquestra e a cantora Sarah Vaughan.

Também vale a pena conhecer a coletânea The Blue Note Plays The Beatles, com interpretações de Lee Morgan, Stanley Turrentine, Stanley Jordan e Grant Green. Outro álbum com canções de Lennon e McCartney é (I Got No Kick Against) Modern Jazz, que traz músicos como Chick Corea, George Benson, McCoy Tyner, Spyro Gyra e Chick Corea.

Da mesma série Blue Note Plays, você encontra jazzistas interpretando canções do cantor Sting. O ex-vocalista do The Police sempre flertou com o jazz, em especial em sua carreira solo. Sting chegou a gravar com o arranjador Gil Evans e tem participações frequentes de músicos de jazz como o baixista Christian McBride, o trompetista Chris Botti e o saxofonista Branford Marsalis.

Os grandes compositores das décadas de 30, 40 e 50, entre eles Cole Porter e George Gershwin, são frequentemente gravados por artistas pops.

Apesar de não serem composições de jazz, essas canções, conhecidas como standards, são muito populares entre os cantores de jazz como Frank Sinatra, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Harry Connick Jr. No rock, o projeto mais interessante é o disco Red, Hot + Blue (foto), de 1991.

O álbum traz apenas composições de Cole Porter nas vozes de Neneh Cherry, U2, David Bryne, Fine Young Cannibals, Iggy Pop, Tom Waits e Annie Lennox.


Tudo misturado

Quem também arriscou misturar jazz com rock foi o cantor Paul Anka, em 2005, com o disco Rock Swings. A proposta foi simples. Arranjar grandes temas do rock para serem executadas por uma big band. Entre os temas escolhidos estão músicas de Bon Jovi, Spandau Ballet, Van Halen, The Cure e Nirvana. Na mesma pegada, há o melancólico disco Holding Back the Years, do saudoso Jimmy Scott. Com sua voz única, o pequeno Scott recria temas originalmente gravados por Simply Red, Bryan Ferry, Prince, Elton John e John Lennon.

Para termina, não podemos deixar de citar dois álbuns que sintetizam como poucos essa fusão. O primeiro é o disco These Are The Vistas, do trio The Bad Plus. Neste disco, eles regravam "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana, e "Heart Of Glass", do Blondie. Além dos covers, a pegada do trio (piano, baixo, bateria) é sempre ousada e com uma atitude rock and roll. O segundo é The New Standard, do pianista Herbie Hancock, que escalou nomes como John Scofield, Michael Brecker, Dave Holland e Jack Dehjohnette para acompanhá-lo. No cardápio estão temas como New Yor Minute (Eagles), All Apologies (Nirvana), Mercy Street (Peter Gabriel) e Thieves in the Temple (Prince).

Trash metal x jazz

O guitarrista da banda Testament, Alex Skolnik, tem um trabalho paralelo com o seu trio, no qual recria temas de rock para o formato de jazz fusion. É interessante ver um músico originalmente nascido no rock pesado neste contexto. Entre as canções já registradas por Skolnik estão Dream On (Aerosmith), Goodbye to Romance (Ozzy Osbourne), Pinball Wizard (The Who) e Detroit Rock City (Kiss), Highway Star (Deep Purple) e Tom Sawyer (Rush).











sexta-feira, 9 de julho de 2021

Good Night, and Good Luck

Donald Harrison jazz
Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim. Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia e muito mais - você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.

Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui

Good Night, and Good Luck (2005)

Poucas cantoras que apareceram nos últimos 20 anos podem e devem ser lembradas. Ao contrário dos cantores, que desde a morte de Frank Sinatra continua à procura de uma nova voz, o universo feminino no jazz tem se mostrado ativo e dezenas de novas cantoras apareceram. Mas o ouvinte deve ter cuidado com o que vai consumir e tentar separar o joio do trigo.

Cantoras como Cassandra Wilson, Diana Krall, Dee Dee Brigewater e Diane Schuur são alguns dos nomes que podem ser degustados sem medo ou contra indicação. Neste seleto grupo de vozes femininas também está Dianne Reeves, estrela da gravadora Blue Note e vencedoras de quatro prêmios Grammy.

No início de carreira, Dianne flertou com a música pop e o rhythm and blues, mas não conseguiu espaço e aos poucos foi se aproximando do jazz. Com um timbre de voz semelhante ao da cantora Sarah Vaughan, as comparações foram inevitáveis. Contratada pela Blue Note no início da década de 90, Dianne já gravou uma dezena de álbuns e alcançou o merecido status de grande intérprete do jazz.

Seu grande momento foi a participação no filme Boa noite e boa sorte (Good night, and good luck), de 2005. Dirigido pelo ator George Clooney, o longa conta a história real do jornalista Edward Murrow e sua luta “contra” a cruzada anticomunista do senador republicano Joseph McCarthy, que aconteceu no início dos anos 50. Dianne aparece em várias cenas interpretando uma cantora de jazz. Além de sua valiosa “interpretação” de cantora, ela também brilha na trilha sonora.
Dianne Reeves canta durante as filmagens do longa dirigido por Clooney


Todas as músicas foram escolhidas por Clooney e a gravação que você escuta no CD foi basicamente toda gravada no set de filmagem, no momento em que o diretor filmava as cenas da cantora e dos músicos, entre eles o saxofonista Matt Catingub e o pianista Peter Martin. A composição sax, bateria e piano deu um clima tranqüilo ao disco e o acompanhamento ideal para as interpretações de Dianne.

Logo de saída, o clássico “Straighten Up and Fly Right” já arrebata o ouvinte. Na sequência vêm “I’ve Got My Eyes On You”, “Gotta Be This Or That” e a deliciosa “Too Close for Confort”. As baladas dominam o álbum em temas como “Who’s Minding the Store?”, “Pretend”, “Solitude” e “How High the Moon”. Outros destaques são as releituras de “One for My Baby”, “There’ll Be Another Spring” e “TV Is the Thing This Year”, famosa na voz de Dinah Washington.