sexta-feira, 11 de março de 2022

Empoderadas, Cécile, Melissa e Mary trazem criatividade e atitude ao jazz


Não é de hoje que as mulheres ocupam cada vez mais espaço na sociedade. Como elas mesmo dizem, lugar de mulher "é onde ela quiser". Por mais que o mundo continua a ser um lugar hostil para o sexo feminino, é evidente que no novo século elas conquistaram o direito de ser quem ela quiser e lutar para ter uma vida plena, livre e completa.

No jazz, há inúmeros exemplos de mulheres que mudaram seus destinos, com perseverança e muito talento, e se tornaram referências para que novas mulheres surgissem e conquistassem seu espaço. Nomes como Mary Lou Williams, Billie Holiday, Nina Simone, Anita O'Day, Abbey Lincoln, Dinah Washington, Carla Bley, Dee Dee Bridgewater, Geri Allen, Alice Coltrane, Cassandra Wilson, Diana Krall, Terri Lyne Carrington, Esperanza Spalding, Norah Jones, Maria Schneider, Ingrid Jensen e Terri Lyne Carrington.


A lista é enorme, mas há três "novos nomes" que fatalmente serão lembrados nas próximas décadas: Melissa Aldana, Cécile McLorin Salvant e Mary Halvorson. Das três, sem dúvida, a cantora Cécile McLorin Salvant é a "mais bem sucedida", com três Grammy no currículo e uma ascensão impressionante, que começou em 2010, quando venceu o Thelonious Monk International Jazz Competition, um dos mais importantes descobridores de talentos do jazz nos Estados Unidos.

Em seis anos, Cécile recebeu quatro indicações ao Grammy e levou três para casa. Nada mal para uma cantora de 32 anos e que acaba de lançar um novo álbum Ghost Song, o primeiro pela gravadora Nonesuch Records. O grande destaque do álbum são as faixas “Wuthering Heights", uma das músicas mais emblemáticas da carreira de Kate Bush, e "Moon Song", uma daquelas baladas de cortar o coração.

Em entrevista recente, a cantora explicou a temática do disco. "Todas as músicas do álbum meio que se espelham. Tentei criar essa estranha simetria. Então, à medida que você entra dos dois lados, as músicas são meio que combinadas."

Segundo Cécile, a textura é uma grande parte do seu modo de cantar, tendo várias texturas em uma música. "É quase uma compulsão. Não posso me permitir ficar em uma única textura. A instrumentação cria isso, mas o processo de gravação também. É algo que eu gosto, mesmo quando estou comendo. Você quer o cremoso e mastigável e crocante ao mesmo tempo. Quente e frio.”

Quem também entrega um belíssimo trabalho é a saxofonista chilena Melissa Aldana, que faz sua estreia na tradicional gravadora Blue Note, com o disco 12 Stars.

Assim como Cécile, Melissa também ganhou Thelonious Monk International Saxophone Competition, em 2013, e abriu as portas do mercado mundial do jazz para a sua música.

Em 12 Stars, a produção do guitarrista Lage Lund e a formação de quinteto deixam a música de Melissa ainda mais marcante. O ouvinte ficará hipnotizado pela delicadeza de "The Fool" e extasiado pele intempestiva "Los Ojos de Chile".

Conheça também o projeto Artemis, que traz Melissa e Cécile ao lado de um super grupo formado exclusivamente por mulheres. São elas: Renee Rosnes (piano), Anat Cohen (clarinete), Ingrid Jensen (trompete), Noriko Ueda (baixo) e Allison Miller (bateria). O único disco lançado saiu pela gravadora Blue Note, em 2020.

Para terminar, temos a inquieta guitarrista norte-americana Mary Halvorson. Envolvida em diversos projetos, Mary tem como mentor o saxofonista Anthony Braxton, com quem tocou várias vezes. Para quem não conhece, Braxton tem sido uma voz dissonante dentro do jazz nas últimas cinco décadas. A aproximação da guitarrista com Braxton faz todo sentido quando ouvimos suas composições e o toque preciso durante suas apresentações ao vivo.

Em 2019, a guitarrista foi uma das premiadas no MacArthur Foundation Fellowship, oferecido por uma fundação a artistas que tem "extraordinária originalidade e dedicação em suas atividades criativas e uma notável capacidade de autodireção". Ela vai receber, ao longo de cinco anos, uma quantia de US$ 625 mil, cerca de R$ 3,1 milhões.

O álbum em questão aqui é March, do produtor e baterista Tomas Fujiwara. Ele escalou três trios diferentes para traduzir suas composições.

Entre os escolhidos estão os guitarristas Brandon Seabrook e Mary Halvorson, e os trompetistas Ralph Alessi e Taylor Ho Bynum. As músicas são de difícil degustação, mas a ideia é exatamente essa, causar impacto.



Procure também os discos do trio Thumbscrew, composto por Mary, Fujiwara e o baixista Michael Formanek. Assim como em outros projetos nos quais está envolvida, a guitarra de Mary soa eloquente e cheia de personalidade, muito diferente do que estamos acostumados a ouvir. Mais uma vez, a guitarrista deixa claro que sua percepção musical está anos-luz do nosso sistema solar.