segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

E lá se vai 2018

Outro ano acaba e com ele ficam boas e más lembranças, bons e maus momentos. Essa é a graça de viver, não é mesmo?

Um dos bons momentos no jazz em 2018, sem dúvida nenhuma, foi a descoberta do disco "perdido" do saxofonista John Coltrane.

Em julho, Both Directions at Once: The Lost Album chegou às lojas e arrebatou os fãs sempre sedentos por novos e raros registro deste que é considerado um dos mais importantes músicos de jazz de todos os tempo.

O disco traz uma gravação feita em 6 de março de 1963, nos estúdios de Rudy Van Gelder, em Nova Jersey. Ao lado do saxofonista está Jimmy Garrison (baixo), Elvin Jones (bateria) e McCoy Tyner (piano).

As gravações perdidas foram descobertas com a primeira mulher de Coltrane, Juanita Naima Coltrane. Das sete faixas encontradas, duas composições originais são inéditas, "Untitled Original 11383" e "Untitled Original 11386", ambas tocadas com saxofone soprano. Outra composição descoberta, "One Up, One Down", nunca tinha tinha sido gravada em estúdio, apenas em apresentações ao vivo.

O ano também trouxe outros lançamento de pesos pesados, entre eles Bill Frisell, Tony Bennett, Charles Lloyd, Wayne Shorter, Joe Lovano, John Scofield, Dr. Lonnie Smith (foto ao lado), Dave Holland e Bob James, todos veteranos que já passaram dos 65 anos.

Veja no final deste texto uma relação com os "principais" discos de 2018, que inclui Brad Mehdaul, Joshua Redman, Kurt Elling e Cécile McLorin Salvant.

O ano de 2018 teve uma boa safra de shows no país. A novidade foi o "novo" festival de jazz patrocinado pelo Sesc. O antigo Jazz na Fábrica virou Sesc Jazz. Mas a essência do festival continuou a mesma, ou seja, uma visão ampla do universo do jazz.

Entre as atrações que tocaram no evento estavam a saxofonista Melissa Aldana, o pianista Stefano Bollani, o duo Isfar Sarabski e Shahriyar Imanov, o guitarrista Fred Frith, o saxofonista Henry Threadgill, o pianista Vijay Iye, o saxofonista Archie Shepp e o veterano pianista brasileiro Dom Salvador.

Outros festivais, entre eles, Jazz & Blues (CE), Ilha Bela (SP), BB Seguros de Jazz e Blues (SP), POA Festival (RS) e Sampa Jazz (SP), também ofereceram grandes atrações. Nomes internacionais como Richard Bona, Paolo Fresu & Chano Dominguez, Ambrose Akinmusire e Al Di Meola dividiram as atenções com os brasileiros Hermeto Pascoal, Airto Moreira, Pepeu Gomes, Leo Ganderman, Dori Caymmi, Juarez Moreira, Maurício Einhorn e Nelson Farias.

Além dos festivais, é importante registrar as turnês da cantora Diana Krall (foto ao lado), do pianista Herbie Hancock e do guitarrista John Pizzarelli, que trouxe o show em comemoração aos 50 anos do disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim.

Nos shows, ao lado de Pizzarelli, estava Daniel Jobim, neto de Tom Jobim.

Outro destaque positivo foi a casa Blue Note Rio. Inaugurada em agosto de 2017, a casa se consolidou este ano como o mais importante local de shows da capital Fluminense.

Em 2018, os cariocas tiveram a oportunidade de assistir no Blue Note nomes como Antonio Adolfo, Wagner Tiso, Zé Paulo Becker, Richard Bona, Os Bossa Nova (Roberto Menescal, Carlos Lyra, Marcos Valle e João Donato), Ambrose Akinmusire, Isfar Sarabski Trio e Shahriyar Imanov, Fernanda Takai, Eliane Elias, Danilo Caymmi, Incognito, João Donato e Joyce Moreno.


Donato, Menescal, Lyra e Valle lotam o Blue Note com o show Os Bossa Nova

Por falar em Blue Note, a casa anunciou a abertura de uma filial paulista em fevereiro de 2019. O endereço escolhido não poderia ser mais emblemático, o Conjunto Nacional, que fica na avenida Paulista, esquina com rua Augusta. Nomes como Leny Andrade, João Bosco, Amilton Godoy, Toquinho, César Camargo Mariano e Azymuth já têm shows agendados para SP.

Outro destaque foi o documentário Quincy, exibido pela NetFlix. O programa conta a história do produtor Quincy Jones, considerado um dos mais importantes nomes da música mundial do século XX. O documentário acompanha o dia a dia do produtor de 85 anos e mostra como ele se tornou a lenda que trabalhou com Count Basie, Michael Jackson, George Benson e Frank Sinatra.

Em 2018, a cantora norte-americana Nina Simone entrou para Hall da Fama do Rock. É um feito e tanto para uma instituição que dá preferência a músicos de rock. Junto com Nina, Bon Jovi, The Cars, Dire Straits e Moody Blues também foram incluídos neste seleto grupo. Nina morreu em 2013, aos 70 anos de idade.

Infelizmente o jazz perdeu figuras importantes em 2018. A última delas, o trompetista Roy Hargrove (49) (foto ao lado), de ataque do coração, em novembro.

Quem também fará falta é o saxofonista Randy Weston (92), o pianista Cecil Taylor (89), o trompetista Hugh Masekela (78), o saxofonista Sonny Fortune (79), o percussionista Jerry González (69), o trompetista Tomasz Stańko (76), a cantora Aretha Franklin (76) e empresária Lorraine Gordon (95), proprietária da casa Village Vanguard, na cidade de Nova York.

Em 2019 cinco importantes figuras do jazz terão seu centenário comemorado. São eles: o cantor Nat King Cole (17/3), o pianista Lennie Tristano (19/3), o pianista George Shearing (13/8), o baterista Art Blakey (11/10) e a cantora Anita O'Day (18/10).

Outras efemérides que valem o registro é o aniversário de 90 anos do baterista Jimmy Cobb (20/1) e do saxofonista Benny Golson (25/1). Cobb é o único remanescente do grupo que acompanhou o trompetista Miles Davis no disco Kind Of Blue, de 1959, que contava ainda com John Coltrane, Bill Evans, Paul Chambers e Cannonball Adderley.

Golson (foto ao lado) é um dos mais prolixos compositores do jazz. De seu sax saíram temas como "Killer Joe", "I Remember Clifford", "Along Came Betty", "Stablemates", "Whisper Not" e "Are You Real".

Ao lado do saxofonista Sonny Rollins, Golson é um dos dois sobreviventes da antológica foto feita por Art Kane, em 1958, no bairro do Harlem, em Nov York, conhecida como A Great The In Harlem.

Outras três datas merecem destaque, os 60 anos da morte da cantora Billie Holiday e os 50 anos das mortes do saxofonistas Coleman Hawkins e do clarinetista Pee Wee Russel.

Holiday morreu aos 44 anos, no dia 17 de julho de 1959. Hawkins, que era o saxofonista predileto de Billie, morreu no dia 19 de maio de 1969, aos 64 anos, e Russel morreu em 15 de fevereiro de 1969, aos 62 anos.

2019 marca ainda o aniversário de 60 anos de quatro álbuns fundamentais na história do jazz. São eles: Kind of Blue (Miles Davis), Time Out (Dave Brubeck), Mingus Ah Um (Charles Mingus) e The Shape of Jazz to Come (Ornette Coleman). A importância destes discos foi destaque no documentário 1959: The Year that Changed Jazz. Veja o documentário nos players abaixo.

Outro fato que marcou 2018 foi a crise vivida pelas duas maiores redes de livrarias do país: Cultura e Saraiva. Ambas entraram com pedido de recuperação judicial. A Saraiva fechou 20 lojas em todo país e a Cultura fechou sua loja no centro do Rio de Janeiro. Vale lembrar que a Livraria Cultura tinha adquirido as 12 lojas da francesa FNAC no Brasil, mas fechou todas em menos de dois anos.

O que vai acontecer com as duas redes de livrarias ainda não foi decidido. O fato é que o mercado editorial precisa ser repensado para continuar vivo. Em contrapartida, a livraria carioca Travessa e a mineira Leitura anunciaram que devem expandir suas lojas físicas nos próximos anos. Diante de realidades tão diferentes, é difícil fazer uma previsão do que acontecerá nos próximos anos.

Veja abaixo alguns álbuns lançados em 2018:

Tony Bennett e Diana Krall (Love is Here to Stay,)
Cécile McLorin Salvant (The Window)
Joshua Redman (Still Dreaming)
Luciana Souza (The Book of Longing)
Eliane Elias (Music from Man of La Mancha)
Medeski Martin & Wood (Omnisphere)
Bob James (Espresso)
Dave Holland (Uncharted Territories)
Kurt Elling ( The Questions)
Dr. Lonnie Smith (All In My Mind)
John Scofield (Combo 66)
Bill Frisell (Music IS)
Wayne Shorter (Emanon)
Andrew Cyrille (Lebroba)
Charles Lloyd & The Marvels (Vanished Gardens)
Madeleine Peyroux (Anthem)
Joe Lovano & Dave Douglas Sound Prints (Scandal)
The Bad Plus (Never Stop II)
Kamasi Washington (Heaven and Earth)
Brad Mehldau (Seymour Reads The Constitution)









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