quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Count Basic - Live

Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim.

Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido". Mas não totalmente perdido.

Além do livro Jazz ao Seu Alcance, que traz todo o conteúdo do guia, com dicas de CDs, DVDs, livros, entrevistas e muito mais, você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.

Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui

Count Basic - Live (1997)


Nos anos 90, o cenário do jazz ganhou duas novas vertentes, a primeira, o smooth jazz, que traz um som mais pop, e a segunda, o acid jazz, que tem nos samples e nos metais a base de seu ritmo. Essas duas novas maneiras de tocar jazz só ajudaram o gênero a se atualizar e a trazer um novo público. Uma das bandas que mais se destacou neste novo cenário foi o Count Basic, um conjunto liderado pelo guitarrista austríaco Peter Legat e pela cantora norte-americana Keli Sae. Seu som pode ser comparado aos grupos ingleses Brand New Heavies e Incognito. Um bom início para conhecê-la é o disco gravado ao vivo em Viena, Count Basic Live.

Neste quarto CD, é possível ouvir toda a energia da banda de Peter Legat, o compositor das músicas e a base de todas as canções com sua guitarra wah-wah no habitat predileto do grupo, o palco. O disco é uma coletânea com músicas de vários álbuns lançados pelo grupo. O CD abre com a contagiante “Is It Real”. Logo depois, a instrumental “Sweet Luis” traz a sutileza de Legat na guitarra. Seu toque é uma mistura de George Benson com Lee Ritenour. Como todas as bandas, o Count Basic também tem o seu hit, “Joy and Pain”, uma levada com muito suingue e a voz afinada de Keli Sae. Outra grande canção é “Movin’ In the Right Direction”, nome de um dos discos da banda.

Em “Happy”, a cantora Sae aproveita o momento para apresentar a banda ao público, entre eles estão o baterista Dirk Erchinger, o trompetista Bumi Fian e o percussionista brasileiro Laurinho Bandeira. A banda brilha pra valer na faixa instrumental “Animal Print”, com destaque para o trombone de Christian Radovan e o baixo de Willi Langer. Kelli Sae ainda é destaque em “Got To Do” e “Jazz In the House”. É impossível não salientar a firmeza e o talento de Peter Legat e sua guitarra. Como um maestro, ele dá um show na singela melodia de “M.L. In the Sunshine”. É de arrasar.

Count Basic normalmente não agrada aos fãs tradicionais de jazz que têm um certo preconceito com o smooth jazz e o acid jazz. Mas não se deve simplesmente rotular este ou aquele som de bom ou ruim. É preciso, acima de tudo, ouvir a competência musical e a criatividade dos músicos. Neste quesito, e sem uma visão saudosista dos antigos mestres do jazz, Count Basic vai agradar a qualquer pessoa que tem como principal filosofia ouvir boa música.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Concursos descobrem novos talentos do jazz

Que os Estados Unidos é uma fonte inesgotável de músicos de jazz, isso ninguém duvida. A arte do jazz está espalhada em várias partes do mundo, mas é inegável que a terra do Tio Sam reúne a maior quantidade de jazzistas por metro quadrado do planeta.

Não é à toa que o país concentra grandes festivais de jazz, as mais importantes gravadoras, publicações especializadas, escolas de música renomadas (Juilliard e Berkleee) e clubes de jazz icônicos (Birdland e Village Vanguard).

Para manter seu celeiro de talentos sempre renovado, os Estados Unidos contam com dois concursos que se tornaram referência no país: Sarah Vaughan International Jazz Vocal Competition e Thelonious Monk Institute of Jazz International. A partir de 2018, a competição com o nome de Monk ganhou o nome de Hancock Competition, produzido pelo Herbie Hancock Institute of Jazz.

O concurso que traz o nome da cantora Sarah Vaughan foi criado em 2012 e é exclusivamente voltado para novas cantoras. Em suas oito edições, a competição teve entre suas vencedoras nomes como Cyrille Aimée, Jazzmeia Horn e Quiana Lynell. Em 2019, a vencedora foi Samara McLendon (foto acima), que nasceu no Bronx, em Nova York. Nesta última edição, entre os jurados estavam as cantoras Dee Dee Bridgewater e Jane Monheit e o baixista Christian McBride.

Na competição que agora leva o nome do pianista Herbie Hancock, a cada ano, um instrumento é destacado. Em 2018, por exemplo, o concurso foi exclusivamente entre pianistas. O vencedor foi o israelense Tom Oren.

A última edição que trouxe cantoras na disputa aconteceu em 2015, vencida por Jazzmeia Horn (foto) venceu. Em 2019, o instrumento escolhido foi a guitarra. O vencedor foi o russo Evgeny Pobozhiy.

Criado em 1987, o concurso já revelou nomes como Marcus Roberts (piano), Joshua Redman (sax), Chris Potter (sax), Jacky Terrasson (piano), Jane Monheit (cantora), Gretchen Parlato (cantora), Ambrose Akinmusire (trompete), Cécile McLorin Salvant (cantora) e Melissa Aldana (sax). No júri, feras como Herbie Hancock, Jason Moran, Patti Austin, Quincy Jones, Wayne Shorter e Ron Carter.

Veja todas as ganhadoras do Sarah Vaughan International Jazz Vocal Competition:


Cyrille Aimée
Jazzmeia Horn
Ashleigh Smith
Arianna Neikrug
Deelee Dubé
Quiana Lynell
Laurin Talese
Samara McLendon


Abaixo você vê uma entrevista com a cantora Samara McLendon, um dia após vencer o concurso, em novembro de 2019. Veja ainda o quarteto do saxofonista Eli Degibri, com a participação do pianista israelense Tom Oren, vencedor em 2018 do Hancock Competition, o guitarrista russo Evgeny Pobozhiy, vencedor em 2019 do Hancock Competition, e vídeos das cantoras Laurin Talese, Quiana Lynell, Deelee Dubé e Jazzmeia Horn.












quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Grammy 2020: os indicados

A lista dos indicados ao Grammy foi publicada no dia 20 de novembro. A premiação da 62ª edição acontecerá no dia 26 de janeiro de 2020, em Los Angeles. Ao todo são 84 categorias que englobam ritmos como blues, gospel, dance, rock, country, metal, folk, r&b, entre outros.

Abaixo você encontra os indicados na categoria jazz, que inclui melhor improvisação solo, melhor disco vocal, melhor disco instrumental, melhor disco de big band e melhor disco de jazz latino.

Neste ano, o Brasil concorre na categoria melhor disco de jazz latino com o álbum Sorte!: Music by John Firbury. O disco traz nos vocais a cantora carioca Thalma de Freitas (foto abaixo), acompanhada por Vitor Gonçalves (piano), John Patitucci (baixo), Chico Pinheiro (violão), Airto Moreira e Rogerio Boccato (percussão) e Duduka Da Fonseca (bateria). Os concorrentes da brasileira são Chick Corea & The Spanish Heart Band, Jazz At Lincoln Center Orchestra com Wynton Marsalis & Rubén Blades, David Sánchez e Miguel Zenón.

Outro brasileiro que pode conquistar o Grammy é o violonista paulista Diego Figueiredo. Ele concorre na categoria melhor arranjo instrumental e vocal pela música "Marry Me a Little", em parceria com a cantora francesa Cyrille Aimée. Diego participa de duas faixas do disco Move On: A Sondheim Adventure, lançado por Cyrille no início de 2019.

Na categoria melhor disco vocal, o destaque é a cantora Sara Gazarek, que lançou o aclamado disco Thirsty Ghost, e tenta deixar o "segundo escalão" das cantoras de jazz. Vencer o Grammy poderá ser o passo definitivo em sua carreira.

Na disputa com Sara estão as experientes Catherine Russell, com Alone Together e The Tierney Sutton Band, com Screenplay. Completam as indicações Esperanza Spalding, com 12 Little Spells, e Jazzmeia Horn, com Love & Liberation. Jazzmeia esteve recentemente no Brasil e tem sido considerada a grande revelação do jazz, com grandes chances de levar seu primeiro Grammy.

Outra curiosidade desta categoria é a falta de um representante masculino. Em 2019, por exemplo, entre os cinco indicados, três eram do sexo masculino. Nas duas últimas edições, na categoria melhor disco vocal, o prêmio ficou com a cantora Cécile McLorin Salvant. Saiba mais sobre o disco de Sara Gazarek na matéria publicada no blog do Blue Note clicando aqui.

Na categoria melhor disco de jazz, a academia indicou nomes consagrados nas últimas três décadas. São eles: o pianista Brad Mehldau, os saxofonistas Branford Marsalis e Joshua Redman, o baixista Christian McBride e o organista Joey DeFrancesco. Dos indicados, apenas Marsalis já levou um Grammy nesta categoria. Veterano em indicações, 10 ao todo, Joshua Redman lançou um dos mais belos álbum de jazz em 2019 (Come What May) e tem todos os requisitos para sair vencedor. Correndo por fora está o veterano Christian McBride com o ótimo New Jawn, lançado no fim de 2018. É a primeira vez em vários anos que os onipresentes Chick Corea e Wayne Shorter não estão indicados nesta categoria.

A categoria melhor improvisação solo destaca sempre um único tema pinçado de um disco. Desta vez, estão na briga o veterano trompetista Randy Brecker, com a música "Sozinho", do disco Rocks, o guitarrista Julian Lage, com "Tomorrow is the Question", do disco Love Hurts, a saxofonista chilena Melissa Aldana, com "Elsewhere", do disco Visions, e o saxofonista Branford Marsalis, com "The Windup", e o baixista Christian McBride, com "Sightseeing". Marsalis venceu nesta categoria em 2015. Além de Marsalis, outro favorito é Julian Lage, que recebeu sua quinta indicação e com grande chande de conquistar seu primeiro gramofone dourado.

Por fim, a categoria big band ou orquestra sempre oferece a oportunidade de revelar e apresentar orquestra menos conhecidas do grande público e, ao mesmo tempo, deixar claro que essa vertente do jazz continua ativa e ricamente representada por excelentes músicos que se juntam para fazer música de qualidade.

Esse é o exemplo da Terraza Big Band, que concorre pelo disco One Day Wonder. A orquestra toca semanalmente no clube de jazz Terraza 7, que fica na cidade de Nova York, e tem em sua direção Michael Thomas (sax) e Edward Perez (baixo). Sua principal característica é a mistura do jazz com ritmos latinos.

Outro destaque é o disco Triple Helix, comandada pela clarinetista israelense Anat Cohen. Dirigido por Oded Lev-Ari, o álbum oferece uma mescla de música erudita e jazz, com alguns momentos mais introspectivos e outros mais enérgicos. Um disco difícil, mas belíssimo.

Outro forte concorrente é o disco Hiding Out, do pianista Mike Holober acompanhado da The Gotham Jazz Orchestra. Com um belíssimo conjunto de saxes, trompetes e trombones, o disco oferece ao ouvinte um experiência sensorial. Destaque para a regravação de "Caminhos Cruzados", composta por Tom Jobim, com a participação do percussionista brasileiro Rogerio Boccato, que tocou na Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo. Outro forte candidato é o disco da jovem arranjadora e compositora japonesa, radicada nos Estados Unidos, Miho Hazama. o álbum Dancer in Nowhere (foto) oferece um diversidade sonora que agrada em cheio ao ouvinte que deseja ouvir um som de orquestra, mas com uma pegada mais contemporânea.

Melhor Improvisação Solo


ELSEWHERE
Melissa Aldana
Álbum: Visions

SOZINHO
Randy Brecker
Álbum: Rocks

TOMORROW IS THE QUESTION
Julian Lage
Álbum: Love Hurts

THE WINDUP
Branford Marsalis
Álbum: The Secret between the Shadow and the Soul

SIGHTSEEING
Christian McBride
Álbum: New Jawn

Álbum Vocal


THIRSTY GHOST
Sara Gazarek

LOVE & LIBERATION
Jazzmeia Horn

ALONE TOGETHER
Catherine Russell

12 LITTLE SPELLS
Esperanza Spalding

SCREENPLAY
The Tierney Sutton Band

Álbum Instrumental


IN THE KEY OF THE UNIVERSE
Joey DeFrancesco

THE SECRET BETWEEN THE SHADOW AND THE SOUL
Branford Marsalis Quartet

CHRISTIAN MCBRIDE'S NEW JAWN
Christian McBride

FINDING GABRIEL
Brad Mehldau

COME WHAT MAY
Joshua Redman Quartet

Álbum de Big Band


TRIPLE HELIX
Anat Cohen Tentet

DANCER IN NOWHERE
Miho Hazama

HIDING OUT
Mike Holober & The Gotham Jazz Orchestra

THE OMNI-AMERICAN BOOK CLUB
Brian Lynch Big Band

ONE DAY WONDER
Terraza Big Band

Álbum de Jazz Latino


ANTIDOTE
Chick Corea & The Spanish Heart Band

SORTE!: MUSIC BY JOHN FINBURY
Thalma de Freitas & Vitor Gonçalves

UNA NOCHE CON RUBÉN BLADES
Jazz At Lincoln Center Orchestra With Wynton Marsalis & Rubén Blades

CARIB
David Sánchez

SONERO: THE MUSIC OF ISMAEL RIVERA
Miguel Zenón