quarta-feira, 19 de junho de 2024

80 anos de Chico Buarque


Impossível deixar passar em branco o aniversário de 80 anos do mestre Chico Buarque de Holanda, um dos mais importantes e influentes compositores e letristas da música popular brasileira.

Em 58 anos de carreira, compôs centenas de canções, aqui apresentadas por título, data, compostas em parcerias, versões e adaptações, compostas para teatro, cinema e aquelas que só aparecem em discos de outros intérpretes.

Suas músicas foram gravadas em cerca de 40 álbuns, organizados por data, projetos, discos solo, gravações ao vivo, coletâneas e discos de outros intérpretes dedicados a ele. A obra completa do artista é uma das maiores riquezas que a cultura brasileira produziu até hoje.

Nascido na cidade do Rio de Janeiro (RJ), no dia 19 de junho de 1944, o músico é o quarto de sete irmãos. Quando o artista tinha dois anos, sua família mudou-se para São Paulo. O pai dele, que também era historiador, foi nomeado diretor do Museu do Ipiranga – na época o espaço público mais antigo da cidade.

Aos cinco anos, Buarque começou a demonstrar interesse pela música. Nessa idade, ele passou a fazer recortes com fotos de cantores de rádio. Em 1953, a família de Chico mudou-se para a Itália, pois o pai foi convidado para dar aulas de História na Universidade de Roma. A casa da família era ponto de encontro de artistas e intelectuais, como o poeta Vinícius de Moraes.

Na pré-adolescência, o músico compôs algumas canções no estilo opereta, que eram encenadas por suas irmãs Maria do Carmo, Ana Maria, Cristina e Miúcha. Na adolescência, Chico gostava de ler clássicos da literatura francesa, alemã e russa. Ainda nesse período, participou de um movimento religioso chamado “Ultramontanos”. Depois, fez parte de mais um grupo chamado “Organização Auxílio Fraterno”.

O músico cursou três anos de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo (USP). Ele abandonou o curso em 1964, quando o clima de repressão invadiu as universidades, após o Golpe Militar, que ocorreu no mesmo ano. Em entrevistas, Chico disse que ter cursado Arquitetura foi fundamental para aguçar sua sensibilidade e ver a cidade com outro olhar. Tudo isso contribuiu com suas composições.

Chico Buarque é um dos artistas que foram perseguidos durante a Ditadura Militar. Ele chegou a ser retirado da sua casa e levado para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Em 1969, Chico Buarque participou da “Passeata dos cem mil”, no Rio de Janeiro. O evento contou com milhares de estudantes, artistas e intelectuais que eram contra aquele regime, tais como Caetano Veloso e Gilberto Gil, precursores do Tropicalismo.

Ele se autoexilou em Roma, na Itália, onde se manteve até março de 1970, quando resolveu voltar ao Brasil a convite de uma gravadora para produzir um novo disco.

Para conseguir compor suas canções e não ser censurado, em 1974, Chico Buarque criou o pseudônimo Julinho da Adelaide, com o qual compôs as músicas “Milagre brasileiro”, "Acorda amor" e "Jorge maravilha". Por essas e outras situações, o artista acabou causando revolução por meio das suas canções.

OBRA

Quando jovem, Chico Buarque gostava de música internacional. Tudo mudou quando ele ouviu o disco "Chega de Saudade" (1959), de João Gilberto. De acordo com o que ele contou em uma entrevista, “aí deu o estalo de que queria fazer MPB.

Na época de universitário, Chico reunia-se com os colegas para fazer marchinhas e tocar violão. A sua primeira composição foi “Canção dos olhos”, em 1959, quando tinha 15 anos. “Marcha para o sol”, de 1964, foi a primeira música de Buarque a ser gravada.

Ela foi interpretada por Maricenne Costa, mas o artista disse que a canção “Tem mais samba”, do mesmo ano, foi o seu marco inicial como compositor e cantor. O primeiro compacto em vinil de Chico foi em 1965 e chama-se “Pedro Pedreiro e o sonho de carnaval”.
Chico, Miucha e Tom Jobim, que gravou em 1977 um disco com Miúcha


Chico Buarque participou de diversos festivais. Em 1966, sua canção “A banda”, interpretada por Nara Leão, ficou em primeiro lugar, junto com a música “Disparada”, no II Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record.

"Em 1968, Chico Buarque e Tom Jobim venceram o 3º Festival Internacional da Canção com a música “Sabiá”. Contudo, eles foram vaiados pela plateira, que queria que a canção “Para não dizer que falei de flores”, de Geraldo Vandré, ganhasse.

COMPOSIÇÕES

De acordo com suas próprias palavras, Chico Buarque não dá um conteúdo político às suas canções de forma proposital. Ele comentou, em entrevista, que abusa mais da criatividade nas suas composições. Uma das características mais marcantes das composições de Chico Buarque são as críticas e denúncias sociais, econômicas e culturais brasileiras.

Chico domina a Língua Portuguesa com primazia. Ele tem preferência por usar a metáfora. Isso fica claro em canções como “Apesar de você” e “Cálice”, que contêm críticas veladas à ditadura militar no Brasil e que chegaram a ser censuradas.

LITERATURA

Desde adolescente, Chico Buarque enveredou-se como escritor. Ele publicou suas primeiras crônicas no "Verbâmidas", jornal do Colégio Santa Cruz. Depois, colaborou com alguns jornais, como o "Estado de São Paulo" e o jornal satírico "O Pasquim", um dos pioneiros do jornalismo brasileiro.

Em 1967, Chico também chegou a atuar como ator no filme “Garota de Ipanema”. No ano seguinte, ele deu seu pontapé inicial na dramaturgia, escrevendo a peça Roda Viva. Sua então esposa, Marieta Severo, teve um dos papéis principais."

LEILÃO

Em maio de 2021, o manuscrito original da canção "Piano na Mangueira", última parceria entre Tom Jobim e Chico Buarque, foi leiloado e arrematado por R$ 30 mil. A história para criar esta canção começa em função do desfile da verde e rosa que homenageou Tom, em 1992.

O maestro, para retribuir a gentileza, compôs “Piano na Mangueira”, uma exaltação à escola, e pediu que Chico escrevesse a letra. A música apareceu pela primeira vez no disco promocional No Tom da Mangueira, produzido por Hermínio Bello de Carvalho, e foi incluída também em Paratodos (1993), de Chico Buarque, e em Antonio Brasileiro (1994), o último disco da carreira de Jobim.

A parceria com Tom Jobim começou em 1968, com a música "Retrato em Branco e Preto". No mesmo ano, os dois venceram o Terceiro Festival Internacional da Canção, no Maracanãzinho (RJ), com a musica "Sabiá". Em 1970, a parceria rendeu a belíssima "Pois É". Ouça aqui um programa especial da Cultura FM sobre a parceria entre Chico e Tom.

CONSTRUÇÃO

O disco Construção (1971) é descrito por estudiosos e parceiros musicais de Chico como uma das obras mais importantes de sua carreira. Entram nessa análise o contexto político no qual o álbum foi concebido e as composições apresentadas pelo artista. A verve criadora do jovem que ainda não havia sequer completado 27 anos anuncia novos caminhos, menos lírica e mais preocupada com a realidade do país.

Além de Duprat, os arranjos também foram feitos sob a direção musical de Magro (1943-2012), um dos fundadores do MPB4, cuja formação original (Miltinho, Magro, Aquiles e Ruy Faria) acompanhou Chico em gravações de discos e shows no Brasil entre 1966-1974. Nesse período, alguns chamavam o grupo de MPB5, tamanha a simbiose entre eles. Participam também de Construção o maestro Tom Jobim e Vinícius de Moraes, em um momento de afirmação nas parcerias musicais entre o jovem compositor e os expoentes da Bossa Nova.



Fonte: Brasil Escola, BBC e site oficial do cantor.

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