Pelo contrário, o som encorpado de Potter é fruto da sua inquietação musical. Isso fica cristalino ao olharmos sua discografia solo ou sua participação em quase 100 discos de outros músicos.
Hoje, aos 48 anos, Potter é um veterano dentro do jazz, com três décadas de história tocando ao lado de nomes do quilate de Dave Douglas,, Herbie Hancock, Jim Hall, John Scofield, Pat Metheny, Paul Motion e Ray Brown. Sua discografia está espalhada pelos selos Cris Cross, Concord, Verve e ECM.
Agora, mais uma vez, sua conhecida inquietação o leva para um novo desafio e uma nova gravadora, a britânica Edition Records, após vários anos na gravadora alemã ECM. A nova empreitada de Potter chama-se Circuits, com o apoio do jovem tecladista James Francies e do velho parceiro Eric Harland, na bateria. O disco conta ainda com a participação do baixista africano Linley Marthe.
Desta vez, Potter preferiu uma sonoridade mais "moderna" ao escolher o piano elétrico e o baixo elétrico como pano de fundo para os seus solos sempre criativos. Isso fica muito claro logo de saída com "Hold It", na qual a sonoridade do sax está robusta e em perfeita sintonia com o teclado de Francies. Em "The Nerve", o baixo de Marthe conversa com o sax mais livre de Potter.
O clima muda completamente em "Koutomé", uma composição do músico africano Amenoudji Joseph Vicky. Aqui, a bateria de Harland dá o tom para que Potter e Marthe, nascido nas Ilhas Maurício, na África Oriental, consigam traduzir suas ideias em seus instrumentos.
A faixa título é sem dúvida o tema que mais deixa evidente a unidade do quarteto. Todos os instrumentos estão conversando entre si, de forma coerente e com criatividade. O formato de trio volta com força em "Green Pastures" e "Queens of Brooklyn", esta última uma breve balada com Potter lançando mão do sax soprano e da flauta.
Os temas "Exclamation" e "Pressed For Time" terão efeito direto nos ouvidos dos fãs do grupo Weather Reporter. A unidade e a energia do grupo nos remete diretamente ao trio Jaco Pastorius, Wayne Shorter e Joe Zawinul. Ambas são uma viagem musical vertiginosa e naturalmente contagiante. A primeira com a formação do quarteto e a última em trio, composta pelo irrequieto Francies.
O final do disco não poderia ter sido mais pujante. Potter dispara toda a sua munição de frases musicais de uma maneira extremamente pessoal e articulada. As frases que muitas vezes parecem desconectadas para o ouvinte menos iniciado acabam se unindo e criando uma música vigorosa e desafiadora para quem ouve. Ponto para Potter, que não poupa esforços para encontrar novos caminhos para mente musical sem limites.
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