Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados. Com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".
Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia e muito mais - você encontrará neste blog algumas dicas de CDs publicadas no extinto Guia de Jazz.
Ao final de cada resenha você encontrará vídeos do YouTube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui
Não sou músico e também não tenho mais a pretensão de ser. A vontade de ser um grande guitarrista ficou lá na década de 1980, quando eu tentava tirar alguma melodia da minha surrada guitarra Dolphin. Mas volta e meia me dá uma vontade de conhecer um pouco de teoria musical para tentar entender como os músicos de jazz conseguem certas proezas.
Este sentimento aparece com frequência quando escuto o disco Songbook, do saxofonista norte-americano Kenny Garrett. Sua apurada técnica, muitas vezes, lembra a genialidade de John Coltrane. Em comum, além da inquietude diante dos desafios que o jazz proporciona, Coltrane e Garrett passaram uma temporada ao lado de Miles Davis.
Desde o início de sua carreira, lá na década de 1980, o sax alto de Garrett tem se mostrado inovador e pulsante. O CD Songbook é um registro importante na extensa discografia do músico. O principal motivo, além do trio que o acompanha, é o repertório, todo ele composto pelo saxofonista. Ao seu lado, Garret escalou o genial pianista Kenny Kirkland, o baterista Jeff ‘Tain’ Watts e o baixista Nat Reeves.
Garrett não dá moleza ao ouvinte. Logo de saída, ele destila seu sax no tema “2 Down & 1 Across”. Felizmente, após 5 minutos do primeiro tema, o quarteto nos oferece “November 15”, que faz você voltar ao mundo dos não músicos. Em “Wooden Steps”, quem brilha é o saudoso Kirkland, que mostra toda sua vitalidade ao piano.
O disco fica mais acessível com “Brother Hubbard”, tributo ao trompetista Freddie Hubbard, a quase bossa nova “Ms. Baja”, na delicada “Before It’s Time To Say Goodbye” e em “House That Nat Built”, que poderia ter sido gravada facilmente pelo saxofonista David Sanborn.
Mas o grande tema do álbum é obviamente “Sing A Song Of Song”. A frase principal da melodia fica o tempo todo permeando a música enquanto Garrett e Kirkland vão desbravando o tema com notas inspiradas. Após os 7 minutos de duração o ouvinte terá as mais distintas sensações.
Após quatro décadas de carreira, o sessentão Kenny Garrett passou por vários estágios na vida pessoal e profissional. Tudo isso reflete em sua forma de tocar e o faz a cada disco procurar por uma resposta que talvez nunca seja respondida. Para a nossa sorte, a busca de Garrett tem nos proporcionado discos inspiradores.