Impossível não falar sobre Nat King Cole no ano de seu centenário. Sim, é lugar comum dizer que Cole foi um dos mais bem sucedidos cantores de sua geração e que sua influência é sentida até hoje.
Apesar da morte precoce, aos 45 anos, vítima de câncer de pulmão, Cole conseguiu como poucos conquistar consumidores de jazz e de música popular. Seu piano e sua voz aveludada tinham a mesmo feitiço que encantaram brancos e negros em uma época na qual o racismo imperava.
Se não bastasse tudo isso, Cole ainda criou uma nova formação de jazz, pelo menos para a época: piano, baixo e guitarra. Ao lado do guitarrista Oscar Moore e do baixista Wesley Prince (depois substituído por Johnny Miller), o cantor deixou a bateria de lado e acabou criando uma sonoridade mais suave e acessível.
Ao cantar standards da música norte-americana como "What Is This Thing Called Love?", "Mona Lisa", "Sweet Lorraine", "The Very Thought of You" e "Route 66", "Natural Boy" e "The Man I Love", Cole parecia um anjo negro dedilhando seu piano, sempre com maestria e sua inconfundível voz aveludada, tudo muito bem "embalado" em um sorriso maroto e ternos impecáveis.
O sucesso leva Nat King Cole para a TV, em 1956. Apesar de ter ficado apenas um ano no ar, o efeito televiso aumenta ainda mais sua popularidade.
Dois anos depois, ele lança o disco Cole Español (foto ao lado), que trazia Cole cantando em espanhol canções como "Cachito" e "Quizas, Quizas, Quizas".
O sucesso foi, novamente, arrasador. Desta vez, Cole atingiu em cheio países latinos, entre eles o Brasil.
Em 1959, ele desembarcou no Brasil para uma turnê de sete dias no Rio e em São Paulo. Tocou no Maracanãzinho, no Rio, e no antigo Cine Teatro Paramount, em São Paulo.
Nat King Cole Trio: Nat com Oscar Moore (guitarra) e Johnny Miller (baixo)
Hoje, 54 anos após sua morte, o legado de Cole está espalhado por toda parte, em especial em discos tributos do guitarrista John Pizzareli, que toca com frequência no formato piano-baixo-guitarra, e da pianista canadense Diana Krall, com o disco All for You: A Dedication to the Nat King Cole Trio (foto abaixo).
Quem também dedicou disco inteiramente a Nat foi o irmão do cantor, o pianista Freddy Cole, que lançou em 2016 o disco He Was The King, o veterano guitarrista George Benson, com o disco Inspiration: A Tribute to Nat King Cole, de 2013, e, mais recentemente, o cantor Gregory Porter, com o álbum Nat King Cole & Me.
No Brasil, Nat tinha dois fãs assumidos: os cantores Dick Farney e Cauby Peixoto. Farney chegou a se apresentar nos Estados Unidos ao lado de Cole, na década de 1940.
Já Cauby gravou o disco Cauby Sings Nat King Cole, lançado em 2015, um ano antes de sua morte. No ano seguinte, o disco venceu na categoria melhor álbum de língua estrangeira o Prêmio da Música Brasileira.
Infelizmente, o centenário do cantor fica mais pobre com a ausência da filha Natalie Cole (foto ao lado), morta aos 65 anos, em 31 de dezembro de 2015.
Em 1991, ela lançou o platinado disco Unforgettable, no qual cantava clássicos da carreira do pai.
O disco também trazia um dueto entre ela e o pai na faixa-título, uma inovação tecnológica inédita na época. Com o disco, Natalie garantiu a continuação do legado de onipresente Nat King Cole.
Ela repetiu a dose no disco Still Unforgettable, de 2008, no qual faz dueto com o pai na canção "Walkin' My Baby Back Home".
Clique aqui para ver a reportagem sobre os 100 anos do cantor exibida na GloboNews.
quarta-feira, 20 de março de 2019
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019
Betty Carter - Feed the Fire
Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim.
Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido". Mas não totalmente perdido.
Além do livro Jazz ao Seu Alcance, que traz todo o conteúdo do guia, com dicas de CDs, DVDs, livros, entrevistas e muito mais, você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.
Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui
Betty Carter - Feed the Fire (1993)
Quando Louis Armstrong criou o scat (vocalização das notas musicais), o jazz vocal mudou para sempre o seu rumo. Além de Armstrong, Ella Fitzgerald também era outra especialista nessa técnica. Mais recentemente, Dee Dee Bridgewater e Al Jarreau são alguns dos cantores que utilizam o scat para improvisar dentro de um determinado tema.
Já que o assunto em pauta é o scat, é de fundamental importância citar Betty Carter. Com sua apurada técnica e a voz grave, a cantora foi descoberta em Detroit e logo em seguida contratada para cantar na orquestra do vibrafonista Lionel Hampton. Durante sua carreira, cantou com mitos do jazz, entre eles Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Ray Charles e Wes Montgomery.
Para sentir toda a vitalidade de Betty Carter, procure o disco Feed the Fire, gravado ao vivo no Royal Festival Hall, em Londres, em outubro de 1993. Para acompanhá-la, nada menos que Dave Holland (baixo), Jack DeJohnette (bateria) e Geri Allen (piano). O disco começa com o melhor cartão de visita que Betty poderia oferecer.
A faixa-título é uma porrada de 11 minutos com a cantora abusando do scat e o trio em seu estado mais puro. Para conter o ânimo do ouvinte, a balada “Love Notes” vem na sequência, com Betty acompanhada apenas do piano de Allen. A mesma dobradinha também acontece na inesquecível “If I Should Lose You”.
O trio volta na retaguarda nos temas “I’m All Smiles”, “Sometimes I’m Happy” e na melancólica “Day Dream”, composta por Billy Strayhorn. O disco ainda reserva outros dois momentos sublimes. Na clássica “All or Nothing at All”, Betty recruta “apenas” o baixo de Holland para fazer a base de sua interpretação. Já em “What Is This Tune”, o instrumento escolhido é a bateria. Em seu estado mais puro, a cantora cria uma pequena obra-prima ao improvisar por sete minutos ao som das experientes baquetas de DeJohnette. Clique aqui para assistir o vídeo na pintegra da apresentação realizado no festival de Hamburgo (Alemanha), em 1993.
Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido". Mas não totalmente perdido.
Além do livro Jazz ao Seu Alcance, que traz todo o conteúdo do guia, com dicas de CDs, DVDs, livros, entrevistas e muito mais, você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.
Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui
Betty Carter - Feed the Fire (1993)
Quando Louis Armstrong criou o scat (vocalização das notas musicais), o jazz vocal mudou para sempre o seu rumo. Além de Armstrong, Ella Fitzgerald também era outra especialista nessa técnica. Mais recentemente, Dee Dee Bridgewater e Al Jarreau são alguns dos cantores que utilizam o scat para improvisar dentro de um determinado tema.
Já que o assunto em pauta é o scat, é de fundamental importância citar Betty Carter. Com sua apurada técnica e a voz grave, a cantora foi descoberta em Detroit e logo em seguida contratada para cantar na orquestra do vibrafonista Lionel Hampton. Durante sua carreira, cantou com mitos do jazz, entre eles Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Ray Charles e Wes Montgomery.
Para sentir toda a vitalidade de Betty Carter, procure o disco Feed the Fire, gravado ao vivo no Royal Festival Hall, em Londres, em outubro de 1993. Para acompanhá-la, nada menos que Dave Holland (baixo), Jack DeJohnette (bateria) e Geri Allen (piano). O disco começa com o melhor cartão de visita que Betty poderia oferecer.
A faixa-título é uma porrada de 11 minutos com a cantora abusando do scat e o trio em seu estado mais puro. Para conter o ânimo do ouvinte, a balada “Love Notes” vem na sequência, com Betty acompanhada apenas do piano de Allen. A mesma dobradinha também acontece na inesquecível “If I Should Lose You”.
O trio volta na retaguarda nos temas “I’m All Smiles”, “Sometimes I’m Happy” e na melancólica “Day Dream”, composta por Billy Strayhorn. O disco ainda reserva outros dois momentos sublimes. Na clássica “All or Nothing at All”, Betty recruta “apenas” o baixo de Holland para fazer a base de sua interpretação. Já em “What Is This Tune”, o instrumento escolhido é a bateria. Em seu estado mais puro, a cantora cria uma pequena obra-prima ao improvisar por sete minutos ao som das experientes baquetas de DeJohnette. Clique aqui para assistir o vídeo na pintegra da apresentação realizado no festival de Hamburgo (Alemanha), em 1993.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019
Grammy 2019 - Os Vencedores
E o Grammy vai para.......o saxofonista Wayne Shorter e a cantora Cécile McLorin Salvant (foto ao lado) , mais uma vez.
Após quatro décadas de seu primeiro Grammy, o veterano músico conquista seu 11° prêmio, desta vez com o disco triplo Emano, na categoria melhor disco de jazz instrumental.
A cerimônia de premiação do 61° Grammy Awards aconteceu no último dia 10 de fevereiro, em Los Angeles (EUA).
O disco triplo lançado pela gravadora Blue Note traz Shorter acompanhado pelo trio formado por Danilo Perez, John Patitucci e Brian Blade e pela Orpheus Chamber Orchestra. Das dez músicas, seis foram gravadas ao vivo com formação de quarteto, em 2015, e o restante acompanhado pela orquestra, gravado em 2013. Wayne, de 85 anos, é um dos maiores músicos de jazz em atividade.
Em seis décadas de carreira, ele tocou ao lado de gigantes do jazz como Art Blakey, Herbie Hancock e Miles Davis e foi um dos membros fundadores do grupo Weather Report, na década de 1970. Além dos Grammys, o músico também ganhou o prêmio de Música Polar da Suécia, conhecido como o “Nobel” da música, em 2017.
Wayne Shorter ao lado de seu atual quarteto (Blade, Perez e Patitucci)
Na categoria melhor disco de jazz vocal, mais uma vez, a cantora Cécile McLorin Salvant ficou o prêmio pelo disco The Window. Este é o terceiro Grammy da cantora que surgiu em 2010, após vencer a competição Thelonious Monk International Jazz Competition.
Os números de Cécile impressionam. Aos 29 anos, ela tem quatro discos lançados, sendo que três deles levaram o cobiçado gramofone dourado. Em The Window, a cantora é acompanhada apenas pelo pianista Sullivan Fortner (foto que abre a matéria).
Outros dois veteranos também levaram o Grammy. O cantor country Willie Nelson e o baterista Steve Gadd. Nelson venceu na categoria melhor disco vocal pop tradicional, com o disco My Way, interpretando clássicos da música norte-americana, entre eles "Night and Day", "Young At heart", "Fly Me To The Moon" e a faixa-título. Nelson superou nomes como Gregory Porter, Tony Bennett e Barbra Streisand.
O baterista Steve Gadd venceu na categoria melhor disco instrumental contemporâneo, com o álbum Steve Gadd Band, superando o baixista Marcus Miller e o guitarrista Julian Lage.
O baterista cubano Dafnis Prieto ficou com o prêmio de melhor disco de jazz latino pelo álbum Back to the Sunset, sua primeira incursão com uma big band.
Nas outras duas categorias do jazz, o trompetista John Daversa (foto ao lado) e sua big band estrelada por jovens músicos de diferentes partes do mundo ficaram com os prêmios na categoria melhor improviso de jazz e melhor disco de big band, pelo álbum American Dreamers: Voice of Hote, Music Of Freedom Featuring DACA Artists. Daversa ainda venceu na categoria melhor arranjo instrumental ao a capella.
Outro destaque foi a premiação do documentário Quincy, produzido pela Netflix, sobre a vida do compositor, arranjador e produtor musical Quincy Jones.
O filme ficou com o Grammy de melhor filme de música. O documentário conta a história do octogenário músico, com depoimentos do próprio Quincy e cenas inéditas de sua carreira de seis décadas, que destaca sua parceria com Michael Jackson, Frank Sinatra e outras estrelas do jazz, além passagem importantes de sua vida pessoal.
Veja a lista dos vencedores:
Melhor Improvisação Solo
Don't Fence Me In
John Daversa Big Band Featuring DACA Artists
Melhor Álbum Vocal
The Window
Cécile McLorin Salvant
Melhor Álbum Instrumental
Emanon
The Wayne Shorter Quartet
Melhor Álbum de Orquestra
American Dreamers: Voice of Hote, Music Of Freedom
John Daversa Big Band Featuring DACA Artists
Melhor Álbum de Jazz Latino
Back To The Sunset
Dafnis Prieto Big Band
Melhor Álbum Vocal Tradicional Pop
My Way
Willie Nelson
Melhor Álbum Instrumental Contemporâneo
Steve Gadd Band
Steve Gadd
Melhor Filme de Música
Quincy
Quincy Jones, Alan Hicks & Rashida Jones
Após quatro décadas de seu primeiro Grammy, o veterano músico conquista seu 11° prêmio, desta vez com o disco triplo Emano, na categoria melhor disco de jazz instrumental.
A cerimônia de premiação do 61° Grammy Awards aconteceu no último dia 10 de fevereiro, em Los Angeles (EUA).
O disco triplo lançado pela gravadora Blue Note traz Shorter acompanhado pelo trio formado por Danilo Perez, John Patitucci e Brian Blade e pela Orpheus Chamber Orchestra. Das dez músicas, seis foram gravadas ao vivo com formação de quarteto, em 2015, e o restante acompanhado pela orquestra, gravado em 2013. Wayne, de 85 anos, é um dos maiores músicos de jazz em atividade.
Em seis décadas de carreira, ele tocou ao lado de gigantes do jazz como Art Blakey, Herbie Hancock e Miles Davis e foi um dos membros fundadores do grupo Weather Report, na década de 1970. Além dos Grammys, o músico também ganhou o prêmio de Música Polar da Suécia, conhecido como o “Nobel” da música, em 2017.
Wayne Shorter ao lado de seu atual quarteto (Blade, Perez e Patitucci)
Na categoria melhor disco de jazz vocal, mais uma vez, a cantora Cécile McLorin Salvant ficou o prêmio pelo disco The Window. Este é o terceiro Grammy da cantora que surgiu em 2010, após vencer a competição Thelonious Monk International Jazz Competition.
Os números de Cécile impressionam. Aos 29 anos, ela tem quatro discos lançados, sendo que três deles levaram o cobiçado gramofone dourado. Em The Window, a cantora é acompanhada apenas pelo pianista Sullivan Fortner (foto que abre a matéria).
Outros dois veteranos também levaram o Grammy. O cantor country Willie Nelson e o baterista Steve Gadd. Nelson venceu na categoria melhor disco vocal pop tradicional, com o disco My Way, interpretando clássicos da música norte-americana, entre eles "Night and Day", "Young At heart", "Fly Me To The Moon" e a faixa-título. Nelson superou nomes como Gregory Porter, Tony Bennett e Barbra Streisand.
O baterista Steve Gadd venceu na categoria melhor disco instrumental contemporâneo, com o álbum Steve Gadd Band, superando o baixista Marcus Miller e o guitarrista Julian Lage.
O baterista cubano Dafnis Prieto ficou com o prêmio de melhor disco de jazz latino pelo álbum Back to the Sunset, sua primeira incursão com uma big band.
Nas outras duas categorias do jazz, o trompetista John Daversa (foto ao lado) e sua big band estrelada por jovens músicos de diferentes partes do mundo ficaram com os prêmios na categoria melhor improviso de jazz e melhor disco de big band, pelo álbum American Dreamers: Voice of Hote, Music Of Freedom Featuring DACA Artists. Daversa ainda venceu na categoria melhor arranjo instrumental ao a capella.
Outro destaque foi a premiação do documentário Quincy, produzido pela Netflix, sobre a vida do compositor, arranjador e produtor musical Quincy Jones.
O filme ficou com o Grammy de melhor filme de música. O documentário conta a história do octogenário músico, com depoimentos do próprio Quincy e cenas inéditas de sua carreira de seis décadas, que destaca sua parceria com Michael Jackson, Frank Sinatra e outras estrelas do jazz, além passagem importantes de sua vida pessoal.
Veja a lista dos vencedores:
Melhor Improvisação Solo
Don't Fence Me In
John Daversa Big Band Featuring DACA Artists
Melhor Álbum Vocal
The Window
Cécile McLorin Salvant
Melhor Álbum Instrumental
Emanon
The Wayne Shorter Quartet
Melhor Álbum de Orquestra
American Dreamers: Voice of Hote, Music Of Freedom
John Daversa Big Band Featuring DACA Artists
Melhor Álbum de Jazz Latino
Back To The Sunset
Dafnis Prieto Big Band
Melhor Álbum Vocal Tradicional Pop
My Way
Willie Nelson
Melhor Álbum Instrumental Contemporâneo
Steve Gadd Band
Steve Gadd
Melhor Filme de Música
Quincy
Quincy Jones, Alan Hicks & Rashida Jones
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