sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

E lá se vai 2017

E lá se vai mais um ano. E que ano difícil foi esse. O jazz perdeu figuras importantes em 2017. Como não sentir a falta do cantor Al Jarreau, que faleceu em fevereiro, aos 76 anos?

Outro mestre da voz que morreu foi Jon Hendricks, que na década de 1950 fez parte do trio Lambert, Hendricks & Ross. Hendricks faleceu aos 96 anos, em novembro.

Outra perda foi o guitarrista John Abercrombie, em agosto, aos 72 anos, Abercrombie foi um dos mais inventivos músicos do século XX. Sua trajetória mostra o quanto ele pregava a liberdade artística e a ousadia na hora de compor e de mostrar sua arte.

Mas a grande surpresa foi a morte prematura da pianista Geri Allen (foto ao lado), aos 60 anos, vítima de câncer, em junho.

Pianista, compositora e educadora, Geri era uma artista discreta, é verdade, mas muito respeitada entre jazzistas, críticos e na área acadêmica. Um dos últimos discos da pianista foi ao lado do saxofonista David Murray e da batersta Terri Lyne Carrington.

Outras duas perdas também deixaram os fãs de jazz surpresos. O cantor Kevin Mahogany e o guitarrista Chuck Loeb. Mohagany morreu aos 59 anos, em dezembro. Na década de 1990, Mahogany lançou ótimos álbuns pela gravadora Warner, entre eles Another Time, Another Place e My Romance.

Loeb morreu aos 61 anos, em agosto, de câncer. Por três décadas, o músico gravou vários discos solos e participações em álbuns de Stan Getz e Step Ahead.

Atualmente, além da carreira solo, ele era integrante do grupo Fourplay. Ele entrou no lugar do guitarrista Larry Carlton.

2017 também foi o ano em que comemoramos o centenário de três ícones do jazz: Thelonious Monk, Dizzy Gillespie e Ella Fitzgerald.

Um dos presentes mais festejado pelos fãs de Ella foi o lançamento do disco Ella At Zardi's, gravado ao vivo em 2 de fevereiro de 1956.

Essa preciosidade ficou guardada por mais de 60 anos, e traz Ella acompanhada do trio formado pelo pianista Don Abney, o baixista Vernon Alley e o baterista Frank Capp.

No repertório estão clássicos como "In A Mellow Tone", "My Heart Belongs To Daddy", "S'Wonderful", "I've Got a Crush On You" e "A Fine Romance". É imperdível poder ouvir esse registro histórico.

Quem também ganhou um lançamento do mesmo porte foi Monk, com o CD duplo Thelonious Monk: Les Liaisons Dangereuses 1960. A gravação perdida, feita em 1959, é a trilha sonora do filme dirigido por Roger Vadim.

E foi em 2017 que também foi comemorado o centenário do jazz. Segundo os historiadores, a primeira gravação de jazz aconteceu em 26 de fevereiro de 1917. O responsável foi o Original Dixieland Jazz Band, grupo formado por músicos brancos de Chicago.

Em 2018, vamos comemorar outros quatro centenários. O produtor Norman Granz (foto ao lado com Ella) foi um dos principais responsáveis por alavancar a carreira de Ella Fitzgerald.

Criador da gravadora Verve, Granz foi o criador do projeto Jazz at the Philharmonic, uma caravana que contava com grandes nomes do jazz.

O cantor Joe Williams, que fez história nas orquestra de Count Basie Orchestra e Lionel Hampton; o pianista Hank Jones, que tocou na década de 1940 com Ella; e por último o pianista Bebo Valdés, que foi um dos mais influentes músicos cubanos do século XX, e pai do também pianista Chucho Valdés.

Para terminar, em 2017, foi comemorado os 90 anos do nascimento de Tom Jobim, talvez o músico mais importante de toda história da música popular Brasileira. Entre os projetos dedicados ao maestro, estão o disco Paulo Jobim e Mario Adnet – Jobim, Orquestra e Convidados, da Biscoito Fino, e o disco Sinatra & Jobim @ 50, do guitarrista John Pizzarelli, que comemora os 50 anos do encontro histórico entre Tom Jobim e Frank Sinatra.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Nina Simone entra no Rock and Roll Hall of Fame

A cantora Nina Simone foi indicada para o Rock and Roll Hall of Fame. Além dela, Dire Straits, Moody Blues, The Cars e Bon Jovi também farão parte deste seleto grupo no dia 14 de abril de 2018, quando acontecerá a tradicional cerimônia do Rock and Roll Hall of Fame, em Cleveland, Ohio, nos Estados Unidos.

Pianista, cantora e compositora, Nina Simone foi também uma ativista dos direitos civis dos negros e das mulheres. A cantora morreu aos 70 anos, em 2003, de câncer.

Apesar de ser uma das vozes lendárias do jazz e dos blues e da sua importância na música do século XX, a artista nascida em 1933, em Tyron, na Carolina do Norte, com o nome Eunice Waymon, nunca tinha sido indicada ao Rock and Roll of Fame. Seu nome artístico foi uma homenagem à atriz francesa Simone Signoret.



Entre os grandes temas imortalizados na sua voz estão "Mississipi Goddam", "Feeling Good", "I Put a Spell On You", "Ain’t Got No, I Got Life", "Ne Me Quitte Pas", "My Baby Just Cares For Me" e "Don't Let Me Be Misunderstood".

Para conhecer mais sobre a trajetória da cantora, assista ao documentário What Happened, Miss Simone?, de 2015, dirigido por Liz Garbus. Outra opção é o filme 'Nina, de 2016, estrelado por Zoe Saldana. Na época do lançamento do filme, Zoe foi criticada por ter sido escolhida para viver Nina Simone nas telas por ter a pele clara demais. Abaixo você encontra os trailers.





Veja abaixo, na íntegra, o DVD Live At Ronnie Scott Club, gravado no lendário clube de jazz londrino, em 1984.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Sarah Vaughan - Crazy and Mixed Up

Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim. Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia (dicas de CDs, DVDs, livros, entrevistas e muito mais) - você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.

Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui

Sarah Vaughan - Crazy and Mixed Up (1982)

Mais de duas décadas já se passaram desde a morte da divina Sarah Vaughan, em 1990. Ao lado de Billie Holiday e Ella Fitzgerald, Sassy completava a trinca das grandes cantoras de jazz. Em tempos de Diana Krall e Jane Monheit, ouvir qualquer disco de Sarah é fundamental para entender de onde vem a inspiração para as novas cantoras e perceber que a nova geração ainda tem um longo caminho pela frente.

O início de carreira de Sarah Vaughan é muito parecido com a de Ella Fitzgerald. Em 1934, Ella venceu o concurso de amadores do Apollo Teatre, no Harlem (EUA) e foi contratada pela orquestra de Chick Webb. Oito anos mais tarde, foi a vez de Sarah vencer o mesmo concurso e ser convidada para tocar com Earl Hines. Outros marcos em sua carreira são os trabalhos ao lado de Dizzy Gillespie e Charlie Parker e sua parceria com o trompetista Clifford Brown.

Escolher um único álbum dentro de uma obra tão extensa e rica como a de Sarah Vaughan é uma tarefa difícil, mas como acontece na discografia de todos os jazzistas, sempre há dois ou três títulos fundamentais.

No início dos anos 80, após anos gravando com orquestras, Sassy lançou o disco Crazy and Mixed Up, pela gravadora Pablo. Neste trabalho, acompanhada por um quarteto, a cantora foi responsável pela produção e teve total liberdade para escalar os músicos e escolher o repertório. O resultado foi um dos discos mais vibrantes e inspirados de toda sua carreira.


Sassy convidou nada menos que o guitarrista Joe Pass, que nos anos 70 fez discos antológicos com Fitzgerald, o veterano pianista Roland Hanna, o baixista Andy Simpkins e o baterista Harold Jones. O CD abre com o clássico “I Didn’t Know What Time It Was”, de Rodgers & Hart. Em seguida vem “That’s All”, com destaque para o solo de Hanna, que também comanda a singela “Seasons”. Em “In Love In Vain”, o trio formado por piano, baixo e bateria promove o clima ideal para Sassy mostrar sua técnica vocal única. O show continua com o casamento perfeito entre a guitarra de Pass e o scatt de Sassy em “Autumn Leaves”.

Assim como outros jazzistas, Sarah também se rendeu à música de Ivan Lins e regravou o tema ”Começar de Novo”, que em inglês ganhou o nome de “The Island”. O disco termina com outra composição inesquecível de Rodgers & Hart, “You Are Too Beautiful”, apenas com a cantora acompanhada pelo piano.

Este texto foi originalmente escrito dias depois da morte da cantora Anita O’ Day, no fim de 2006. A perda de Anita cria um vazio igual ao deixado por cantoras como Sarah, Ella, Billie, Carmen McRae e Betty Carter. É claro que ninguém é imortal e muito menos insubstituível, mas não podemos deixar de lembrar que essas cantoras foram a personificação da palavra diva.