A National Endowment for the Arts (NEA) divulgou os nomes dos escolhidos para a 40ª edição do NEA Jazz Masters. São eles: Stanley Clarke (baixo), Billy Hart (bateria), Donald Harrison, Jr (saxofone). e Cassandra Wilson (cantora). A cerimônia acontecerá em 31 de março de 2022, no SFJAZZ, em São Francisco (EUA).
Desde 1982, cerca de 100 personalidades, entre músicos, compositores, arranjadores, jornalistas, radialistas e escritores, receberam a honraria batizada de NEA Jazz Masters. Nomes como Count Basie, Sonny Rollins, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Sarah Vaughan, Chick Corea, Ella Fitzgerald, Pat Metheny e Dan Morgenstern já foram premiados pela NEA.
O mais veterano ao entrar para esse seleto grupo em 2022 é o baterista Billy Hart, de 80 anos. O músico tem no currículo centenas de gravações em discos de outros jazzistas, além de ser membro do super grupo the Cookers. Outro gigante é o baixista Stanley Clarke, de 70 anos. Em cinco décadas de carreira, Clarke se tornou uma referência no instrumento e tem discos fundamentais com Return to Forever, um dos mais importantes grupos de fusion jazz da história.
Os "novatos" da turma são a cantora Cassandra Wilson, de 65 anos, e o saxofonista Donald Harrison, Jr, de 61 anos. Nas últimas três décadas, Cassandra trouxe sua personalidade musical ao jazz e conquistou centenas de admiradores. A mistura de ritmos e sua interpretação única são características que fazem a cantora ser diferentes de todas as outras. Já Harrison, nascido no berço do jazz (Nova Orleans), desenvolve um trabalho educacional para divulgar e ensinar as raízes da jazz, além de tocar sua carreira, que começou lá no fim da década de 1980 ao lado do trompetista Terence Blanchard.
Em 2021, os vencedores foram a baterista Terri Lyne Carrington, o percussionista Albert “Tootie” Heath, o flautista e saxofonista Henry Threagill e o historiador e radialista Phil Schaap. Na página oficial da entidade, você encontra mais detalhes sobre os indicados deste ano e entrevistas com cada um deles.
O ciclo de debates Música para Ler, exibido pelo YouTube oficial do Sesc, em julho de 2021, conversou com autores que se arriscaram a escrever sobre a história de formação de alguns dos gêneros musicais criados ou assimilados pelos compositores, produtores e músicos brasileiros, dando ênfase à escrita de textos da rica bibliografia musical brasileira.
Os autores escolhidos foram Ruy Castro, Carlos Calado, Luiz Tatit, Carlos Rennó e Lira Neto.
A cada encontro, o bate-papo descontraído comandado pelos jornalistas Patrícia Palumbo, Roberta Martinelli e Júlio Maria trouxe curiosidades e a discussão sobre o ofício do autor em escrever sobre um assunto tão rico em informações e ainda tão pouco explorado pelo mercado editorial brasileiro.
Veja a seguir um pequeno histórico sobre os entrevistados e os entrevistadores, e no final do texto você pode ver na íntegra todos os vídeos dos encontros promovidos pelo Centro de Música Sesc.
Ruy Castro é jornalista, escritor, tradutor e biógrafo. Já participou das redações de Pasquim, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, Veja São Paulo, IstoÉ, Playboy, Status e Manchete, principalmente nas colunas de cultura. Escreveu obras como ¿Chega de Saudade – A História e as Histórias da Bossa Nova’, de 1990, no qual narra as aventuras e desventuras das figuras que marcaram este movimento musical e ¿Carmen: uma biografia’, que enfoca a vida e a carreira da grande cantora e atriz luso-brasileira, livro vencedor do prêmio Jabuti, em 2006.
Carlos Calado é jornalista, editor e crítico musical, escreve sobre festivais, shows e discos. Desde meados dos anos 1980 acompanha profissionalmente a produção fonográfica brasileira e eventos musicais em diversos países. Autor dos livros “Tropicália: a História de Uma Revolução Musical”, “A Divina Comédia dos Mutantes”, “O Jazz como Espetáculo” e “Jazz ao Vivo”, entre outros. Colabora eventualmente para os jornais Folha de S. Paulo e Valor.
Luiz Tatit é músico e professor Titular do Departamento de Linguística da F.F.L.C.H. da U.S.P. e autor dos livros Semiótica da Canção: Melodia e Letra (Escuta, 1994), O Cancionista: Composição de Canções no Brasil (Edusp, 1996), Musicando a Semiótica: Ensaios (AnnaBlume 1997), Análise Semiótica Através das Letras (Ateliê, 2001), O Século da Canção (Ateliê, 2004), Elos de Melodia e Letra (Ateliê, 2008), este em colaboração com Ivã Carlos Lopes, Semiótica à Luz de Guimarães Rosa (Ateliê, 2010), Todos Entoam: Ensaios, Conversas e Lembranças (Ateliê, 2014), Estimar Canções: Estimativas Íntimas na Formação do Sentido (Ateliê, 2016) e Passos da Semiótica Tensiva (Ateliê, 2019)
Carlos Rennó é letrista de música. Seus primeiros parceiros mais importantes foram Tetê Espíndola e Arrigo Barnabé, na fase da vanguarda paulistana, no início dos anos 80. Na voz de Tetê, a sua “Escrito Nas Estrelas”, composta com Arnaldo Black, venceu o Festival dos Festivais, da Rede Globo, em 1985. Desde o fim da década de 90, seu parceiro mais regular tem sido Lenine, com quem criou “Todas Elas Juntas Num Só Ser”, prêmio da Música Brasileira de “Canção do Ano” em 2005. CR também tem músicas com Pedro Luís, Lokua Kanza, Chico César, Paulinho Moska, Zé Miguel Wisnik, João Bosco, Gilberto Gil, Rita Lee, Tom Zé e Moraes Moreira, entre diversos outros compositores. CR também é organizador do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras” (1996; 2003) e autor de “Cole Porter – Canções, Versões” (1991) entre outros.
Lira Neto é escritor e jornalista, recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura em quatro ocasiões (2007, 2010, 2013 e 2014) e uma vez o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA (2014). Graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutorando em História pela Universidade Nova de Lisboa. É autor dos três volumes de `Getúlio`, e `Uma História do Samba: As Origens`.
Patrícia Palumbo foi três vezes premiada por seu trabalho em rádio pela APCA, apresenta desde 1998 o programa Vozes do Brasil no ar em 11 emissoras do país. Apresenta o Instrumental Sesc Brasil há 20 anos. Faz curadoria e consultoria musical para a TV Cultura, a Casa Brasileira e o Itaú Cultural. E agora comanda seu podcast Peixe Voador. Lançou três livros de entrevistas, Vozes do Brasil vol.1 e 2, pela DBA. E o volume 3 foi lançado em 2019 pela Edições Sesc com 33 artistas da música brasileira. Adora as ligações entre a música e a filosofia, o barco no mar e o zen budismo, o hai cai e os mutantes, Mia Couto e Hermínio Bello de Carvalho. Patricia conversa com Carlos Calado e Luiz Tatit.
Julio Maria é repórter e crítico de música do jornal O Estado de S. Paulo há 15 anos. Foi repórter da área musical e editor do Caderno de Variedades do Jornal da Tarde por dez anos, colaborou como colunista e comentarista da Rádio Eldorado, editou o Caderno 2 Mais Música entre 2010 e 2013. É autor do livro Nada será como antes, biografia de Elis Regina que venceu, em 2015, o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), e, em 2021, lançou Ney Matogrosso, a Biografia, pela Companhia das Letras,
Roberta Martinelli é apresentadora, criadora e curadora do programa Cultura Livre, na TV Cultura. É também apresentadora do programa Prelúdio, único concurso de música clássica na TV Cultura ao lado do Maestro Júlio Medaglia.
O Dia Internacional do Jazz é comemorado em 30 de abril. A data foi criada pela UNESCO, agência especializada das Nações Unidas (ONU), em 2011, com o objetivo de mostrar a importância desta música na integração de diferentes culturas e na luta pela liberdade dos negros nos Estados Unidos.
Assim como o jazz, o Rock também tem uma data especial, 13 de julho. Foi neste dia que aconteceu o show Live Aid, em 1985, em dois locais simultaneamente: Londres (estádio de Wembley), na Inglaterra, e Filadélfia (estádio JFK), nos Estados Unidos. O concerto arrecadou dinheiro para ajudar a Etiópia, país africano atingido duramente pela fome e pela miséria. Por mais de 10h de duração, passaram pelos dois palcos nomes como Led Zeppelin, Queen, U2, Phil Collins, Paul McCartney, Madonna e The Who.
Apesar de serem musicalmente diferentes, muitos afirmar que a atitude rock and roll também pode ser encontrada no jazz. Miles Davis, John Coltrane, Herbie Hancock, Charlie Parker, Nina Simone, Chet Baker, Pharoah Sanders, Anita O'Day e Keith Jarrett são alguns desses destemidos jazzistas que marcaram seus nomes com discos e apresentações memoráveis.
No decorrer da história do jazz, mais especificamente no início da década de 1970, jazz e rock se encontram com o aparecimento do fusion jazz. Grupos como Weather Reporter, John McLaughlin & The Mahavishnu Orchestra e Return to Forever foram a personificação deste movimento, que contou também com Miles Davis, Pat Metheny e Herbie Hancock. Nessa mesma época, o rock também ampliava o seu repertório com o protagonismo do rock progressivo, que teve Pink Floyd, Genesis, Yes, King Crimson e Emerson, Lake and Palmer. Uma das características deste novo rock é exatamente a parte instrumental, que tem nos sintetizadores seu grande destaque.
Beatles, Cole Porter e Sting
A fusão rock e jazz pode ser encontrada em diversos discos perdidos por aí. O grupo mais regravado por jazzistas são os Beatles. Além de estarem entre nós desde o início da década de 1960, o quarteto de Liverpool tem clássicos como "Yesterday", "Help", "Something", "Blackbird" e "All We Need is Love". Entre os jazzistas que gravaram disco apenas com canções dos Beatles estão o pianista Count Basie e sua orquestra e a cantora Sarah Vaughan.
Também vale a pena conhecer a coletânea The Blue Note Plays The Beatles, com interpretações de Lee Morgan, Stanley Turrentine, Stanley Jordan e Grant Green. Outro álbum com canções de Lennon e McCartney é (I Got No Kick Against) Modern Jazz, que traz músicos como Chick Corea, George Benson, McCoy Tyner, Spyro Gyra e Chick Corea.
Da mesma série Blue Note Plays, você encontra jazzistas interpretando canções do cantor Sting. O ex-vocalista do The Police sempre flertou com o jazz, em especial em sua carreira solo. Sting chegou a gravar com o arranjador Gil Evans e tem participações frequentes de músicos de jazz como o baixista Christian McBride, o trompetista Chris Botti e o saxofonista Branford Marsalis.
Os grandes compositores das décadas de 30, 40 e 50, entre eles Cole Porter e George Gershwin, são frequentemente gravados por artistas pops.
Apesar de não serem composições de jazz, essas canções, conhecidas como standards, são muito populares entre os cantores de jazz como Frank Sinatra, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Harry Connick Jr. No rock, o projeto mais interessante é o disco Red, Hot + Blue (foto), de 1991.
O álbum traz apenas composições de Cole Porter nas vozes de Neneh Cherry, U2, David Bryne, Fine Young Cannibals, Iggy Pop, Tom Waits e Annie Lennox.
Tudo misturado
Quem também arriscou misturar jazz com rock foi o cantor Paul Anka, em 2005, com o disco Rock Swings. A proposta foi simples. Arranjar grandes temas do rock para serem executadas por uma big band. Entre os temas escolhidos estão músicas de Bon Jovi, Spandau Ballet, Van Halen, The Cure e Nirvana. Na mesma pegada, há o melancólico disco Holding Back the Years, do saudoso Jimmy Scott. Com sua voz única, o pequeno Scott recria temas originalmente gravados por Simply Red, Bryan Ferry, Prince, Elton John e John Lennon.
Para termina, não podemos deixar de citar dois álbuns que sintetizam como poucos essa fusão. O primeiro é o disco These Are The Vistas, do trio The Bad Plus. Neste disco, eles regravam "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana, e "Heart Of Glass", do Blondie. Além dos covers, a pegada do trio (piano, baixo, bateria) é sempre ousada e com uma atitude rock and roll. O segundo é The New Standard, do pianista Herbie Hancock, que escalou nomes como John Scofield, Michael Brecker, Dave Holland e Jack Dehjohnette para acompanhá-lo. No cardápio estão temas como New Yor Minute (Eagles), All Apologies (Nirvana), Mercy Street (Peter Gabriel) e Thieves in the Temple (Prince).
Trash metal x jazz
O guitarrista da banda Testament, Alex Skolnik, tem um trabalho paralelo com o seu trio, no qual recria temas de rock para o formato de jazz fusion. É interessante ver um músico originalmente nascido no rock pesado neste contexto. Entre as canções já registradas por Skolnik estão Dream On (Aerosmith), Goodbye to Romance (Ozzy Osbourne), Pinball Wizard (The Who) e Detroit Rock City (Kiss), Highway Star (Deep Purple) e Tom Sawyer (Rush).