Os vencedores da 62ª edição dos prêmios Grammy foram divulgados no dia 26 de janeiro. Ao todo são 84 categorias que englobam ritmos como blues, gospel, jazz, dance, rock, country, metal, folk, r&b, entre outros.
O jazz tem cinco categorias: melhor improvisação solo, melhor disco vocal, melhor disco instrumental, melhor disco de big band e melhor disco de jazz latino.
A categoria melhor improvisação de jazz ficou com o veterano trompetista Randy Brecker, com a música "Sozinho", do disco Rocks.
O grande vencedor de melhor disco de big band é Brian Lynch Big Band, com o álbum The Omni-american Book Club. O melhor disco de jazz instrumental ficou com o pianista Brad Mehldau, pelo disco Finding Gabriel (foto).
O Brasil concorria em duas categorias: melhor disco de jazz latino com o álbum Sorte!: Music by John Firbury, que traz nos vocais a cantora carioca Thalma de Freitas, e na categoria melhor arranjo instrumental e vocal pela música "Marry Me a Little", uma parceria do violonista Diego Figueiredo e da cantora francesa Cyrille Aimée, do disco Move On: A Sondheim Adventure, lançado por Cyrille, no início de 2019.
Mas os dois acabaram superados pelo pianista Chick Corea, que ficou com o Grammy de melhor disco de jazz latino, com o álbum Antidote, e pelo pianista Jacob Collier, que levou o prêmio na categoria melhor arranjo instrumental e vocal pela música "All Night Long", versão do sucesso da década de 1980 composta pelo cantor Lionel Richie. A música de Collier está no álbum Djesse Vol. 1. Esse foi o 23° Grammy da carreira de Chick Corea, que tem 78 anos de idade.
Por fim, Esperanza Spalding conquista o quarto Grammy de sua carreira com o disco 12 Little Spells (foto). Neste ano, Esperanza superou as cantoras Tierney Sutton, Sara Gazarek, Jazzmeia Horn e Catherine Russell. O primeiro prêmio de Esperanza aconteceu em 2010, quando levou na categoria revelação.
Clique aqui para ver todos os vencedores do Grammy na categoria melhor disco de jazz, e clique aqui para ver todos os vencedores na categoria melhor disco vocal de jazz.
É inevitável falar de fado quando fazemos referência à música portuguesa. Obviamente que a arte e a música de Portugal vão muito além do fado, mas a importância desta expressão cultural portuguesa é onipresente. Nomes como Amália Rodrigues, Carlos do Carmo e Carlos Paredes são responsáveis pela fascinação que o fado exerce sobre os ouvintes em diferentes cantos do planeta.
Mas para quem deseja “fugir” do óbvio, basta querer dar o primeiro passo. Muito provavelmente você vai se deparar com Mariza, Carminho, Joana Amendoeira e Ana Moura, algumas das cantoras portuguesas mais populares do país. Mas essa lista não estará completa sem a presença de Maria Mendes, cantora que vive há uma década na Holanda.
Ela lançou no fim de 2019 o disco Close to Me, pela gravadora Justin Time. O álbum tem como grande êxito misturar fado com jazz e orquestra. Para ajudá-la neste projeto, Maria escalou o pianista e arranjador norte-americano John Beasley e a orquestra holandesa Metropole Orkest. Além disso, ela também é acompanhada do seu costumeiro trio, formado por Karel Boehlee (piano), Jasper Somsen (baixo) e Jasper van Hulten (bateria).
Com os músicos em campo, a cantora oferece ao ouvinte uma experiência única, com o jazz permeando todas as canções. A música mais impactante é a versão de “Barco Negro”, de Amália Rodrigues. Aqui, Maria é acompanhada pela orquestra e imprime uma cadência quase lírica ao seu canto. Em “Verdes Anos”, de Paredes, a técnica de scat e o lírico se encontram em uma pulsante versão de tirar o fôlego.
O Brasil está representado com a composição de Hermeto Pascoal na brasileiríssima “Hermetos Fado for Maria”, com a cantora novamente abusando da técnica scat. Maria gravou ainda três composições próprias. Destaque para “Tempo Emotivo”, com Maria acompanhada apenas do vibrafone de Vincent Houdijk, e “Fado da Invejosa”, que oferece uma bela fusão entre o trio de jazz e a orquestra Metropole.
Amália volta com força e jazzística nos temas “Tudo Isto é Fado”, “Foi Deus” e “Asas Fechadas”. Em contraponto, o ouvinte também tem a oportunidade de ouvir compositores contemporâneos nos temas “Há Música do Povo”, de Mariza com letra de Fernando Pessoa, e “E se não for Fado”, de Mafalda Arnauth.
Justin Time
No catálogo da gravadora canadense Justin Time é possível perceber o predomínio de cantoras. Além da portuguesa, encontramos nomes como Emma Frank, Laura Anglade, Barba Lica, Halie Loren, Katherine Penfold e Ariel Pocock. O selo também é a casa da veterano Carmen Lundy e da premiada cantora Cécile McLorin Salvant. Vale a pena uma visita na pagina oficial da gravadora na plataforma Soundcloud, onde é possível ouvir músicas de todas essas cantoras na íntegra. Ouça abaixo o disco de Mara Mendes.
A revista Downbeat publica anualmente, em janeiro, um apanhado sobre os CDs mais bem cotados de todas as edições do ano anterior. É uma ótima oportunidade para encontrar grandes discos que, por vários motivos, passaram desapercebidos.
No topo da lista, com a cotação de cinco estrelas, apenas seis discos conquistaram plenamente os críticos da revista.
São eles: Terri Lyne Carrington and Social Science (Waiting Game), Dave Douglas (Brazen Heart Live at Jazz Standard), Delia Fischer (Tempo Mínimo), Eliane Elias (Love Stories), Ted Nash Trio (Somewhere Else: West Side Story Songs) e Santana (Africa Speaks).
Pela primeira vez, o Brasil tem dois discos neste seleto time e, além disso, duas cantoras: Eliane Elias e Delia Fischer. Eliane é uma veterana em premiações e sempre muito bem cotada no mercado internacional. Seu novo disco traz belos arranjos de orquestra e temas românticos como "Bonita", de Tom Jobim, "Angel Eyes", "Come Fly with Me", do repertório de Frank Sinatra, e "Silence" e "The View", ambas compostas por Eliane.
A surpresa foi o disco da pianista e arranjadora carioca Delia Fischer, que é mais conhecida por seu trabalho como compositora e arranjadora. Neste disco (Tempo Mínimo), Delia também canta e oferece ao ouvinte belos arranjos e sua voz delicada, mas especialmente virtuosa para os temas gravados aqui. Destaque para "Garra", composição de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, com participação de Marcos nos vocais, e "Canção de Autoajuda", parceria de Delia com o compositor Carlos Careqa.
A revista também deu cinco estrelas para o disco The Complete Cuban Jam Sessions, uma coletânea de cinco discos, gravados entre 1956 e 1964, com um grupo de músicos cubanos formado por Julio Guitiérrez, Niño Rivera, José Fajardo e israel "Cachao" López. Esse disco foi incluído na categoria histórico, ou seja, é recém-lançamento, mas não é "novo".
A edição traz outras dezenas de títulos divididos em duas cotações: quatro estrelas e meia e quatro estrelas. O Brasil aparece novamente, desta vez com o pianista Antônio Adolfo (Samba Jazz Alley), a Banda Black Rio (O Som das Américas) e o violinista Guilherme Pimenta (Catopé).
A relação também destaca, entre outros, discos de Angelique Kidjo, Abdullah Ibrahim, Ahmad Jamal, Marco Pignataro, Jon Batiste, Matt Brewer, Larry Grenadier Tom Harrell, Camila Meza, Sara Gazarek e Bill Frisell.
O disco da veterana baterista Terri Lyne Carrington com o Social Science traz dois trabalhos distintos em um mesmo disco. O primeiro oferece um jazz encorpado, difícil e meticulosamente pensado, com participações da baixista Esperanza Spalding do pianista Aaron Parks. Em outro momento, a guitarra de Matthew Stevens deixa o som menos pesado e abre uma nova perspectiva para o ouvinte. O álbum também tem faixas cantadas ao estilo soul e hip hop. Terri participou em 2019 do Sesc Jazz e deu uma prévia deste disco.
A caixa com 8 CDs do trompetista Dave Douglas é uma preciosidade. Gravado por quatro noites na casa de jazz nova-iorquina Jazz Standard, em 2015, as apresentações mostram Dave acompanhado pelo quarteto formado por Jon Irabgon (sax), Linda Oh (baixo), Rudy Royston (bateria) e Matt Mitchell (piano). Além da qualidade do quinteto, é interessante ouvir um mesmo tema mais de uma vez, mas cada um deles registrados no calor do momento. Uma belíssima experiência para ouvintes tarimbados ou não.
O trio liderado pelo saxofonista e clarinetista Ted Nash faz uma bela releitura do musical West Side Story, obra-prima composta por Leonard Bernstein e Stephen Sondheim.
Ao lado do guitarrista Steve Cardenas e do baixista Ben Allison, o veterano Nash traz versões muito pessoais de temas como "“America,” “Jet Song,” e “Something’s Coming", tudo isso com a inusitada formação de sax, guitarra e baixo.
O veterano guitarrista Carlos Santana não precisa de apresentações. Aos 72 anos, o músico mexicano continua brilhante e ainda mais interessado em misturar diferentes ritmos e nações. No disco Africa Speaks, Santana coloca o peso de sua guitarra latina ao lado da cantora espanhola Buika, que trás toda a força da música africana em sua voz. Além disso, o disco teve a produção do lendário Rick Rubin, que já trabalhou com Johnny Cash, Black Sabbath, Beastie Boys e Eminem.
Por fim, fica aqui um pequena provocação. Como entender os critérios para apontar que esse ou aquele disco é brilhante ou não? A dúvida acontece ao percebemos que nenhum dos seis discos que receberam cinco estrelas da revista Downbeat foi indicado para o Grammy, que divulgou a lista completa dos indicados em novembro de 2019. Será que foi por falta de espaço, já que o Grammy aponta apenas cinco indicados em cada categoria? O disco de Delia Fischer concorreu na categoria de melhor disco de MPB no Grammy Latino de 2019. Mas o vencedor foi o disco OK OK OK, do cantor Gilberto Gil.