Que os Estados Unidos é uma fonte inesgotável de músicos de jazz, isso ninguém duvida. A arte do jazz está espalhada em várias partes do mundo, mas é inegável que a terra do Tio Sam reúne a maior quantidade de jazzistas por metro quadrado do planeta.
Não é à toa que o país concentra grandes festivais de jazz, as mais importantes gravadoras, publicações especializadas, escolas de música renomadas (Juilliard e Berkleee) e clubes de jazz icônicos (Birdland e Village Vanguard).
Para manter seu celeiro de talentos sempre renovado, os Estados Unidos contam com dois concursos que se tornaram referência no país: Sarah Vaughan International Jazz Vocal Competition e Thelonious Monk Institute of Jazz International. A partir de 2018, a competição com o nome de Monk ganhou o nome de Hancock Competition, produzido pelo Herbie Hancock Institute of Jazz.
O concurso que traz o nome da cantora Sarah Vaughan foi criado em 2012 e é exclusivamente voltado para novas cantoras. Em suas oito edições, a competição teve entre suas vencedoras nomes como Cyrille Aimée, Jazzmeia Horn e Quiana Lynell. Em 2019, a vencedora foi Samara McLendon (foto acima), que nasceu no Bronx, em Nova York. Nesta última edição, entre os jurados estavam as cantoras Dee Dee Bridgewater e Jane Monheit e o baixista Christian McBride.
Na competição que agora leva o nome do pianista Herbie Hancock, a cada ano, um instrumento é destacado. Em 2018, por exemplo, o concurso foi exclusivamente entre pianistas. O vencedor foi o israelense Tom Oren.
A última edição que trouxe cantoras na disputa aconteceu em 2015, vencida por Jazzmeia Horn (foto) venceu. Em 2019, o instrumento escolhido foi a guitarra. O vencedor foi o russo Evgeny Pobozhiy.
Criado em 1987, o concurso já revelou nomes como Marcus Roberts (piano), Joshua Redman (sax), Chris Potter (sax), Jacky Terrasson (piano), Jane Monheit (cantora), Gretchen Parlato (cantora), Ambrose Akinmusire (trompete), Cécile McLorin Salvant (cantora) e Melissa Aldana (sax). No júri, feras como Herbie Hancock, Jason Moran, Patti Austin, Quincy Jones, Wayne Shorter e Ron Carter.
Veja todas as ganhadoras do Sarah Vaughan International Jazz Vocal Competition:
Abaixo você vê uma entrevista com a cantora Samara McLendon, um dia após vencer o concurso, em novembro de 2019. Veja ainda o quarteto do saxofonista Eli Degibri, com a participação do pianista israelense Tom Oren, vencedor em 2018 do Hancock Competition, o guitarrista russo Evgeny Pobozhiy, vencedor em 2019 do Hancock Competition, e vídeos das cantoras Laurin Talese, Quiana Lynell, Deelee Dubé e Jazzmeia Horn.
A lista dos indicados ao Grammy foi publicada no dia 20 de novembro. A premiação da 62ª edição acontecerá no dia 26 de janeiro de 2020, em Los Angeles. Ao todo são 84 categorias que englobam ritmos como blues, gospel, dance, rock, country, metal, folk, r&b, entre outros.
Abaixo você encontra os indicados na categoria jazz, que inclui melhor improvisação solo, melhor disco vocal, melhor disco instrumental, melhor disco de big band e melhor disco de jazz latino.
Neste ano, o Brasil concorre na categoria melhor disco de jazz latino com o álbum Sorte!: Music by John Firbury. O disco traz nos vocais a cantora carioca Thalma de Freitas (foto abaixo), acompanhada por Vitor Gonçalves (piano), John Patitucci (baixo), Chico Pinheiro (violão), Airto Moreira e Rogerio Boccato (percussão) e Duduka Da Fonseca (bateria). Os concorrentes da brasileira são Chick Corea & The Spanish Heart Band, Jazz At Lincoln Center Orchestra com Wynton Marsalis & Rubén Blades, David Sánchez e Miguel Zenón.
Outro brasileiro que pode conquistar o Grammy é o violonista paulista Diego Figueiredo. Ele concorre na categoria melhor arranjo instrumental e vocal pela música "Marry Me a Little", em parceria com a cantora francesa Cyrille Aimée. Diego participa de duas faixas do disco Move On: A Sondheim Adventure, lançado por Cyrille no início de 2019.
Na categoria melhor disco vocal, o destaque é a cantora Sara Gazarek, que lançou o aclamado disco Thirsty Ghost, e tenta deixar o "segundo escalão" das cantoras de jazz. Vencer o Grammy poderá ser o passo definitivo em sua carreira.
Na disputa com Sara estão as experientes Catherine Russell, com Alone Together e The Tierney Sutton Band, com Screenplay. Completam as indicações Esperanza Spalding, com 12 Little Spells, e Jazzmeia Horn, com Love & Liberation. Jazzmeia esteve recentemente no Brasil e tem sido considerada a grande revelação do jazz, com grandes chances de levar seu primeiro Grammy.
Outra curiosidade desta categoria é a falta de um representante masculino. Em 2019, por exemplo, entre os cinco indicados, três eram do sexo masculino. Nas duas últimas edições, na categoria melhor disco vocal, o prêmio ficou com a cantora Cécile McLorin Salvant. Saiba mais sobre o disco de Sara Gazarek na matéria publicada no blog do Blue Note clicando aqui.
Na categoria melhor disco de jazz, a academia indicou nomes consagrados nas últimas três décadas. São eles: o pianista Brad Mehldau, os saxofonistas Branford Marsalis e Joshua Redman, o baixista Christian McBride e o organista Joey DeFrancesco. Dos indicados, apenas Marsalis já levou um Grammy nesta categoria. Veterano em indicações, 10 ao todo, Joshua Redman lançou um dos mais belos álbum de jazz em 2019 (Come What May) e tem todos os requisitos para sair vencedor. Correndo por fora está o veterano Christian McBride com o ótimo New Jawn, lançado no fim de 2018. É a primeira vez em vários anos que os onipresentes Chick Corea e Wayne Shorter não estão indicados nesta categoria.
A categoria melhor improvisação solo destaca sempre um único tema pinçado de um disco. Desta vez, estão na briga o veterano trompetista Randy Brecker, com a música "Sozinho", do disco Rocks, o guitarrista Julian Lage, com "Tomorrow is the Question", do disco Love Hurts, a saxofonista chilena Melissa Aldana, com "Elsewhere", do disco Visions, e o saxofonista Branford Marsalis, com "The Windup", e o baixista Christian McBride, com "Sightseeing". Marsalis venceu nesta categoria em 2015. Além de Marsalis, outro favorito é Julian Lage, que recebeu sua quinta indicação e com grande chande de conquistar seu primeiro gramofone dourado.
Por fim, a categoria big band ou orquestra sempre oferece a oportunidade de revelar e apresentar orquestra menos conhecidas do grande público e, ao mesmo tempo, deixar claro que essa vertente do jazz continua ativa e ricamente representada por excelentes músicos que se juntam para fazer música de qualidade.
Esse é o exemplo da Terraza Big Band, que concorre pelo disco One Day Wonder. A orquestra toca semanalmente no clube de jazz Terraza 7, que fica na cidade de Nova York, e tem em sua direção Michael Thomas (sax) e Edward Perez (baixo). Sua principal característica é a mistura do jazz com ritmos latinos.
Outro destaque é o disco Triple Helix, comandada pela clarinetista israelense Anat Cohen. Dirigido por Oded Lev-Ari, o álbum oferece uma mescla de música erudita e jazz, com alguns momentos mais introspectivos e outros mais enérgicos. Um disco difícil, mas belíssimo.
Outro forte concorrente é o disco Hiding Out, do pianista Mike Holober acompanhado da The Gotham Jazz Orchestra. Com um belíssimo conjunto de saxes, trompetes e trombones, o disco oferece ao ouvinte um experiência sensorial. Destaque para a regravação de "Caminhos Cruzados", composta por Tom Jobim, com a participação do percussionista brasileiro Rogerio Boccato, que tocou na Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo. Outro forte candidato é o disco da jovem arranjadora e compositora japonesa, radicada nos Estados Unidos, Miho Hazama. o álbum Dancer in Nowhere (foto) oferece um diversidade sonora que agrada em cheio ao ouvinte que deseja ouvir um som de orquestra, mas com uma pegada mais contemporânea.
Melhor Improvisação Solo
ELSEWHERE
Melissa Aldana
Álbum: Visions
SOZINHO
Randy Brecker
Álbum: Rocks
TOMORROW IS THE QUESTION
Julian Lage
Álbum: Love Hurts
THE WINDUP
Branford Marsalis
Álbum: The Secret between the Shadow and the Soul
SIGHTSEEING
Christian McBride
Álbum: New Jawn
Álbum Vocal
THIRSTY GHOST
Sara Gazarek
LOVE & LIBERATION
Jazzmeia Horn
ALONE TOGETHER
Catherine Russell
12 LITTLE SPELLS
Esperanza Spalding
SCREENPLAY
The Tierney Sutton Band
Álbum Instrumental
IN THE KEY OF THE UNIVERSE
Joey DeFrancesco
THE SECRET BETWEEN THE SHADOW AND THE SOUL
Branford Marsalis Quartet
CHRISTIAN MCBRIDE'S NEW JAWN
Christian McBride
FINDING GABRIEL
Brad Mehldau
COME WHAT MAY
Joshua Redman Quartet
Álbum de Big Band
TRIPLE HELIX
Anat Cohen Tentet
DANCER IN NOWHERE
Miho Hazama
HIDING OUT
Mike Holober & The Gotham Jazz Orchestra
THE OMNI-AMERICAN BOOK CLUB
Brian Lynch Big Band
ONE DAY WONDER
Terraza Big Band
Álbum de Jazz Latino
ANTIDOTE
Chick Corea & The Spanish Heart Band
SORTE!: MUSIC BY JOHN FINBURY
Thalma de Freitas & Vitor Gonçalves
UNA NOCHE CON RUBÉN BLADES
Jazz At Lincoln Center Orchestra With Wynton Marsalis & Rubén Blades
Não é preciso datas comemorativas e outras artimanhas de marketing para lançar um disco em tributo a Cole Porter. O compositor norte-americano morreu na década de 1960, mas seu legado será eterno ao lado de outros gênios como Beethoven, Bach, Gershwin, Mozart e Duke Ellington.
Mas a pergunta que fica é: você compraria mais um disco para ouvir as mesmas canções que já escutou centenas de vezes com dezenas de intérpretes?
Antes de responder, dê uma chance ao novo disco do cantor Harry Connick Jr., chamado True Love: A Celebration of Cole Porter. As 13 faixas do álbum já podem ser ouvidas de graça no canal oficial do cantor no Youtube, sem precisar estar logado a nada e lembrar desta ou daquela senha. O ex-futuro Frank Sinatra, pelo menos era isso o que se imaginava quando Connick apareceu no fim da década de 1980, tem hoje 52 anos e uma carreira sólida como arranjador, cantor, pianista, compositor, ator e apresentador.
No decorrer de sua longa carreira, Connick sempre preservou suas raízes de Nova Orleans, cidade onde ele nasceu. Mas isso não o obrigou a ficar restrito a este universo, o que o levou a trilhar o caminho natural de um cantor de jazz, ou seja, gravar os grandes standards da música norte-americana. Mas, diferentemente de outros intérpretes, além de ser um belíssimo músico, Connick não caiu na armadilha de fazer discos temáticos, com exceção de discos natalinos, muito populares na terra do Tio Sam. Connick sempre flertou com a música pop, mas sempre manteve um pé no jazz. A exceção foi sua incursão pela Broadway, mas isso apenas mostrou o quanto sua inquietação musical o mantém ávido por criar e se envolver em distintos projetos.
Após duas décadas, o cantor volta a gravar com uma big band
Depois de 35 anos de carreira, finalmente, o cantor se rendeu ao apelo de gravar um songbook completo com obras de Cole Porter. O resultado, obviamente, foi um tiro certeiro. Além das famosas composições de Porter, o disco traz o cantor em ótima forma, cantando e tocando, e, em especial, os arranjos. Felizmente, Connick escolheu fazer um disco com arranjos criados para big band, o que deixou a música de Porter ainda mais vigorosa e atraente. Ao mesmo tempo, não deixou de fora as cordas e aquela atmosfera que lembra as orquestras de Nelson Riddle e Don Costa, mas sem deixar o meloso.
Para os fãs do cantor, poder ouvi-lo novamente acompanhado de uma big band é um alívio e uma deliciosa surpresa após tantos anos longe dos metais. No repertório, "Just One of Those Things", "In the Still of the Night", "Begin the Beguine", "All of You", "Anything Goes", "I Love Paris", entre outras. Além na onipresença da voz do cantor, que também fez a regência da orquestra durante as gravações, o disco abre espaço para belos solos de clarinete e trompete, em "I Love Paris", e de piano, na versão instrumental de "Begin the Beguine".
Em uma obra tão vasta, obviamente, grandes clássicos de Porter ficaram de fora, entre eles, "Night and Day", "I've Got You Under My Skin", "Every Time We Say Goodbye" e "Love for Sale". Isso, é claro, não compromete o belíssimo trabalho do cantor, por outro lado, em tempos de ouvir música em streaming e todas as plataformas de músicas digitais com milhões de músicas a um toque de distância, fica uma pergunta no ar: Por que continuar a lançar discos e, ainda por cima, com menos de 60 minutos de duração, em um formato que oferece a possibilidade de incluir 79 minutos de música?
O velho Connick Jr. poderia ter sido um pouco mais solidário com seu velho camarada CD, que definha cada vez mais e, em breve, será mais um item de colecionadores compulsivos ávidos pelo disquinho digital que reinou por quase duas décadas, lá no longínquo século XX. Que mancada, Harry.