Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido". Mas não totalmente perdido.
Além do livro Jazz ao Seu Alcance, que traz todo o conteúdo do guia, com dicas de CDs, DVDs, livros, entrevistas e muito mais, você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.
Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui
Pat Metheny - Secret Story (1992)
A trajetória do guitarrista Pat Metheny começou há quase meio século, na distante década de 1970, quando chamou a atenção do vibrafonista Gary Burton, que o escalou para ser seu pupilo. Desde então, Metheny se transformou em um dos mais inventivos e festejados músicos do jazz. Seu toque pessoal e sua inquietação musical o levaram a distintos caminhos musicais e fizeram do músico um verdadeiro alquimista sonoro.
Solo, elétrico, acústico, em trio, em quarteto, com orquestra, não importa, a genialidade do guitarrista pode ser provada em todos os formatos e sem qualquer contraindicação. Desde sua estreia na gravadora ECM, em 1976, Metheny tocou com dezenas de músicos e imortalizou sua guitarra sintetizada dentro do jazz fusion.
Com os discos Offramp (1982),The Falcon And The Snowman (1985), Still Life Talking (1987), Zero Tolerance for Silence (1994), Orchestrion (2010) ou ao lado de Charlie Haden, John Scofield, Ornette Coleman, Brad Mehldau e Chris Potter, Metheny não poupou esforços para traduzir em música tudo aquilo que tinha em mente.
Entre os discos mais interessantes está Secret Story (1992), que poderia muito bem ter sido a trilha sonora de um filme. Ao todo, são mais de 80 músicos, incluindo a Orquestra de Londres, conduzida por Jeremy Lubbock, os percussionistas brasileiros Armando Marçal e Naná Vasconcelos, o veterano gaitista Toots Thielemans, além dos velhos camaradas da Pat Metheny Band, Paul Wertico (bateria), Steve Rodhy (baixo) e Lyle Mays (piano). Em 2017, uma versão estendida foi lançada. A novidade são cinco faixas gravadas na mesma época, mas que acabaram ficando fora do disco original.
A sonoridade criada aqui é intensa e envolvente. Logo de saída aparece "Above The Treetops", com Metheny solando no violão entre o coral de voz Cambodian Royal Palace. O som nos leva diretamente às trilhas do grego Vangelis. O chamado "som de Pat Metheny" aparece por inteiro em "Facing West", uma das poucas faixas com a participação de Mays no piano. O clima de trilha sonora volta com tudo na singela "Cathedrak In a Suitcase".
Em "Fiding and Believing", com 10 minutos de duração, o vocal de Mark Ledford dá o tom de um tema cheio de nuances e surpresas. Durante a turnê deste disco, um jogo de luzes muito bem sacado é usado neste música. Confira no vídeo abaixo a apresentação completa do show deste álbum gravado em New Brunswick, em Nova Jersey (EUA).
Os dois temas mais "simples" são "Sunlight", uma balada pop, e a delicada "Always and Forever", com participação de Toots Thielemans. Em "See the World", o velho Metheny está por completo. Suas frases rápidas e precisas, estão em perfeita sintonia com a bateria sempre imprescindível de Wertico.
Outro momento singular acontece na singela "Antonia", com Metheny tocando guitarra e acordeon sintetizados. O mesmo acontece com "Tell Her You Saw Me", que traz um dueto de guitarra e harpa, tudo com a Orquestra de Londres fazendo o pano de fundo, e "River Rain", com sete minutos de duração e a perfeita fusão entre a guitarra de Metheny e a percussão de Marçal.
Diante de um álbum tão forte e delicado ao mesmo tempo, não poderia faltar um tema épico. E é assim mesmo que deve ser rotulado "The Truth Will Always Be", com nove minutos de duração. Mais uma vez, a bateria de Wertico faz toda a diferença dentro de um tema que vai criando vida a cada minuto. O arranjo envolve o ouvinte de uma maneira única.
Quando você percebe, já está completamente entorpecido e hipnotizado pelo tema. No meio da canção, quase como um grito de socorro, a guitarra sintetizada de Metheny corta o silêncio com um solo arrebatador. A catarse é inevitável e a expectativa é completamente superada.
Com Secret Story, Pat Metheny provou mais uma vez que não há limite para sua guitarra e sua mente musical. Hoje, aos 65 anos de idade, o velho guitarrista oferece aos seus fãs, a cada disco, um novo desafio e a garantia de que até o fim de seus dias, ele terá sua guitarra em punho para provocar as mais distintas sensações em seu público.