De tempos em tempos somos presenteados com uma nova cantora de jazz. Da "nova safra", temos nomes como Cécile McLorin Salvant, Lizz Wright, Cyrille Aimée, Kandace Springs, Esperanza Spalding, Jazzmeia Horn e Somi.
Também é fato que entre as cantoras citadas, grande parte delas flerta com o r&b e com a soul music, o que não é exatamente um problema, concorda?
No fim de 2017, uma nova voz começou a aparecer após ter vencido o Sarah Vaughan International Jazz Vocal Competition, um dos mais importante concursos vocais dos Estados Unidos e que já teve como campeãs nomes como Cyrille Aimée, Laurin Talese, Jazzmeia Horn e Arianna Neikrug.
Mas em 2017 a vencedora foi Quiana Lynell, uma mãe de família que trabalhava como professora de música e decidiu abrir mão de seu ofício principal para se dedicar totalmente à carreira. O resultado disso é o disco A Little Love, lançado em 2019 pela gravadora Concord. O gravação de um CD foi um dos prêmios que Quiana ganhou ao vencer o concurso.
O disco traz a cantora interpretando temas imortalizados nas vozes de Nina Simone, Ella Fitzgerald, Carmen McRae, Chaka Khan, Donny Hathaway e Dusty Springfield. Tudo muito bem equalizado e com pitadas muito bem temperadas de jazz, blues, r&b, gospel e soul.
O resultado é um misto entre Dianne Reeves, Diane Schuur e Cassandra Wilson. A própria cantora declarou em entrevista que gostaria de "ser Dianne Reeves". Ao ouvir seu disco de estreia, é possível ver que Quina está no caminho certo.
Suas interpretações de "Move Me No Mountain", de Chaka Khan,, "You Hit The Spot", de Ella Fitzgerald, "Just A Little Lovin' (Early In The Mornin')", de Dusty Springfield, e "I Wish I Knew (How It Would Feel to Be Free)", de Nina Simone, trazem uma voz segura, macia e muito bem treinada para seu ofício.
Quiana também flerta com o blues nos temas "Tryin' Times", de Donny Hathaway, e "Hip Shakin' Momma", de Irma Thomas. O jazz mais "tradicional" está na clássica "They All Laughed", composta por George Gershwin e gravada por nomes como Carmen McRae, Frank Sinatra, Fred Astaire, Sarah Vaughan e Chet Baker. No disco, Quina é acompanhada por Cyrus Chestnut (piano), Jamison Ross (bateria), Ed Cherry (guitarra), George DeLancey (baixo) e Monte Croft (vibrafone).
Nas últimas décadas, o jazz foi invadido por um conjunto de músicos que tem no jazz sua raiz, mas que também traz na bagagem a contemporaneidade do rock e do pop. Há diversos exemplos, mas podemos citar aqui nomes como Neil Cowley, The Bad Plus, Jamie Cullum, GoGo Penguin, Mathias Eick, Mammal Hands, Marcin Wasilewski, Tord Gustavsen, Avishai Cohen e o saudoso Esbjörn Svensson.
Quem já teve a oportunidade de vê-los ao vivo sabe da vitalidade de suas apresentações. A sensação é estar em uma montanha russa. O som oscila com frequência e cria uma atmosfera de grande impacto para quem está na plateia.
Entre os músicos citados, o baixista israelense Avishai Cohen tem uma das histórias mais marcantes. No meio da década de 1990, ele foi convidado pelo pianista Chick Corea a fazer parte de sua banda. De lá para cá, foram centenas de apresentações e mais de uma de dezena de discos solos lançados. Em todos eles, o baixo acústico de Cohen traz o som marcante de suas influências orientais (música árabe e israelense) e do fusion jazz (Jaco Pastorius), além de sua formação ouvindo compositores clássicos.
Em seu novo disco, Arvoles, todos os elementos que fizeram Cohen chamar a atenção do público entre centenas de talentosos músicos que circulam por aí estão presentes. O piano marcado, o baixo pulsante e a bateria seca hipnotizam o ouvinte. Ao seu lado, Cohen tem Noam David (bateria) e Elchin Shirinov (piano). Em cinco das dez faixas, o trio ganha o reforço de Bjorn Samuelsson (trombone) e Anders Hagberg (flauta).
O disco abre com o quinteto interpretando "Simonero", com o piano roubando a cena . Depois vem a singela, "Arvoles", na versão trio, na qual a vassourinha da bateria oferece o clima ideal para as belas frases que saem da cordas do baixo de Cohen. O trio volta a atacar em "Face Me", desta vez com Cohen usando o arco em seu baixo e o piano o acompanhando nota a nota.
Cohen toca durante a gravação do disco Arvoles
O tema "Gesture" tem duas partes. A primeira mais tranquila e sensível, e a segunda mais encorpada, com o piano fazendo o papel de protagonista. Nas músicas, "Elchinov" e "Nostalgia", novamente em trio, as marcas registradas de Cohen, citadas acima, como o piano marcante e o baixo pulsante, estão em sua forma mais explícita. A tal sensação de montanha russa faz o ouvinte se segurar na cadeira ao ouvir esses dois temas.
Em "New York 90s", pela primeira e única vez no álbum, o trombone solo, mas sem grande euforia. O disco fecha com a bela "Wings", sem dúvida, a música mais jazzista de todas, no formato de quinteto, com a flauta e o trombone oferecendo uma atmosfera orquestral pontual para as deliciosas picardias de Cohen e Shirinov.
A série de DVD Jazz Icons foi lançada em 2006 e foi recebida com empolgação pelos fãs de jazz. Desde então, cinco lotes de DVDs - a série foi encerrada em 2011 - foram lançados contendo shows gravados na Europa, entre 1957 e 1978, com quase todos os grandes ícones da história do jazz, entre eles, Ella Fitzgerald, John Coltrane, Louis Armstrong, Quincy Jones, Sonny Rollins, Count Basie, Art Blakey e Dizzy Gillespie.
Ao todo, a série lançou 36 DVDs e se tornou o maior acervo da história do jazz oferecido para o grande público. Seu valor é inestimável. A qualidade das gravações, o repertório, os músicos e, talvez o mais importante, o período dessas gravações. A maior parte delas foi filmada entre 1957 e 1966, considerado pelos estudiosos como um dos períodos mais importantes da história do jazz.
Entre 1957 e 1966, discos essências foram lançados, entre eles, Miles Davis (Kind of Blue), Dave Brubeck (Time Out), Charles Mingus (Mingus Ah Um), Ornette Coleman (The Shape of Jazz to Come), Sonny Rollins (Saxophone Colossus), John Coltrane (A Love Supreme), Count Basie (The Atomic Mr. Basie), Horace Silver (Song for My Father), Art Blakey And The Jazz Messengers (Moanin’), Eric Dolphy (Out to Lunch), Wayne Shorter (Speak No Evil) e Lee Morgan (The Sidewinder).
Diante dessa enxurrada de discos, o jazz vivia realmente uma época riquíssima, comparada apenas aos anos dourados das big bands, entre as décadas de 1930 e 1940. Os vídeos da coleção deixam isso bem claro. Assistir a John Coltrane (foto acima) tocando pela primeira vez em público "A Love Supreme" é uma experiência inesquecível. A gravação foi feita no festival Antibes Jazz, na França, em julho de 1965, ao lado de McCoy Tyner (piano), Jimmy Garrison (baixo) e Elvin Jones (bateria).
Lee Morgan (trompete), Jymie Merritt (baixo) e Ar Blakey (bateria)
Outro destaque é a orquestra comandada por Quincy Jones, gravada em 1960, na qual faziam parte nomes como Phil Woods (sax), Clark Terry (trompete) e Sahib Shihab (sax). Como não se arrepiar ao ver Art Blakey (bateria) e seus Jazz Messengers, em 1958, com Lee Morgan (trompete), Benny Golson (sax), Bobby Timmons (piano) e Jymie Merritt (baixo)? Blakey também aparece em um concerto no qual Wayne Shorter (sax) e Walter Davis Jr.(piano) são apresentados como os novos membros dos Jazz Messengers.
Infelizmente, a série tem poucos registros de vozes, sejam elas masculinas ou femininas. Entre os shows com vocal, destaque para a jovem Ella Fitzgerald, em show gravado na Bélgica, em 1957, com Ray Brown (baixo), Oscar Peterson (piano) e Herb Ellis (guitarra), em 1963, na Suécia, ao lado do pianista Tommy Flanagan.
Outro registro importante é de Sarah Vaughan (foto), gravados em 1958 e 1964. A Divina Vaughan traz um repertório com clássicos como "Over the Rainbow", "Lover Man" e "The More I See You". Por último, o registro de Louis Armstrong e seus All-Stars, na Bélgica, em 1959. É um dos poucos shows completos do trompetista que se tem acesso. Um verdadeiro tesouro para os apreciadores do jazz.
As grandes ausências da coleção são Miles Davis, Charlie Parker e Billie Holiday. No caso de Davis, a opção é procurar o vídeo gravado em Milão, na Itália, em 1964. A qualidade das imagens não é tão boa como da série Jazz Icons, mas é interessante ver Davis ao lado dos jovens Wayne Shorter e Herbie Hancock (piano). Sobre Parker, infelizmente, não há nenhum registro conhecido de um concerto do saxofonista, que morreu em maio de 1955, aos 34 anos de idade.
O mesmo acontece com Billie Holiday, que morreu aos 54 anos, em 1959. O melhor registro que você pode encontrar de Billie está no DVD The Sound of Jazz, que traz a íntegra do programa de TV produzido em 1957 pela CBS. Billie canta o tema "Fine and Mellow". A cantora também pode ser assistida no filme New Orleans (1947), no qual divide a cena ao lado de Louis Armstrong.
Primeira caixa lançada da série Jazz Icons. Coleção conta com 36 DVDs
Todos os DVDs, que são vendidos em cinco caixas separadas ou cada um dos 36 títulos separadamente, têm um encarte com muita informação e fotos raras. Abaixo está a relação de todos os títulos da série Jazz icons, separados em caixas. Para saber mais detalhes sobre a coleção, visite o site oficial aqui.
BOX 1
Art Blakey & The Jazz Messengers • Live in '58
Dizzy Gillespie • Live in '58 & '70
Louis Armstrong • Live in '59
Quincy Jones • Live in '60
Thelonious Monk • Live in '66
Buddy Rich • Live in '78
Ella Fitzgerald • Live in '57 & '63
Count Basie • Live in '62
Chet Baker • Live in '64 & '79
BOX 2
John Coltrane • Live in '60, '61 & '65
Dave Brubeck • Live in '64 & '66
Duke Ellington • Live in '58
Sarah Vaughan • Live in '58 & '64
Dexter Gordon • Live in '63 &'64
Wes Montgomery • Live in '65
Charles Mingus • Live in '64
BOX 3
Sonny Rollins • Live in '65 & '68
Cannonball Adderley • Live in '63
Bill Evans • Live '64-'75
Rahsaan Roland Kirk • Live in '63 & '67
Lionel Hampton • Live in '58
Oscar Peterson • Live in '63, '64 & '65
Nina Simone • Live in '65 & '68
BOX 4
Jimmy Smith • Live in '69
Coleman Hawkins • Live in '62 & '64
Art Farmer • Live in '64
Erroll Garner • Live in '63 & '64
Woody Herman • Live in '64
Art Blakey • Live in '65
Anita O'Day • Live in '63 & '70
BOX 5
John Coltrane • Live In France 1965
Art Blakey's Jazz Messengers •Live In France 1959
Thelonious Monk •Live In France 1969
Johnny Griffin •Live In France 1971
Freddie Hubbard •Live In France 1973
Rahsaan Roland Kirk •Live In France 1972