Eles foram considerados prodígios quando apareceram no fim da década de 1980 e no início da década de 1990. O instrumento escolhido por ambos, coincidentemente, foi o saxofone.
Seus sobrenomes não foram decisivos para suas carreiras, mas ainda hoje carregam em seus DNAs este legado, algo que sempre se orgulharam, mas nunca ofuscaram o talento que exibem há mais de duas décadas.
Branford Marsalis e Joshua Redman têm trajetórias bem distintas quando se trata da estrada que cada um resolveu trilhar, mas a herança musical é inegável em suas carreiras. Redman é filho do saxofonista Dewey Redman (1931-2006) e Marsalis é o filho mais velho do pianista Ellis Marsalis (1934) e irmão do trompetista Wynton Marsalis.
No decorrer das décadas, os dois se mostraram inquietos e muito criativos. E agora, que ambos passaram dos 50 (Redman completou em fevereiro e Marsalis tem 58), isso se mantém e pode ser comprovado em seus novos discos, ambos no formato de quarteto (sax-piano-baixo-bateria): The Secret Between the Shadow and the Soul (Marsalis) e Come What May (Redman).
Após 20 anos sem gravarem juntos - os discos anteriores são Beyond (2000) Passage of Time (2001) -, Redman reuniu seu quarteto, formado por Aaron Goldberg (piano), Reuben Rogers (baixo) e Gregory Hutchinson (bateria), e fez mais um belo disco autoral, com temas que são facilmente assimilados pelo ouvinte.
As delicadas "Vast" e a faíxa-título são melodias que parecem se moldar ao ambiente onde são executadas. Em "I'll Go Mine", a bateria sincopada dá o ritmo para os solos rápidos e elegantes de Redman.
A conversa franca entre Redman e Goldberg aparece com força em "Sagger Bear" e "Circle Of Life". Mesmo sem gravarem com frequência, Goldberg é sempre escalado por Redman para acompanhá-lo em suas turnês, criando assim uma afinidade musical que só as convivência pode proporcionar.
A relação de Marsalis com seu quarteto é muito similar a de Redman. O pianista Joey Calderazzo e o baixista Eric Revis acompanham o saxofonista há duas décadas. O novato, o baterista Justin Faulkner, desde 2009. O quarteto tem um som conciso e muito bem executado. As viagens musicais de Marsalis são bem menos palatáveis aos ouvidos de ouvinte não iniciado em comparação a Redman.
Gregory Hutchinson, Aaron Goldberg, Joshua Redman e Ruben Rogers
Logo de saída, "Dance of the Evil Toys", composta por Revis, é uma porrada de quase nove minutos que deixa claro a inquietação do quarteto. Depois aparece a delicada melodia "Conversation Among the Ruins", de Calderazzo, com Marsalis fazendo papel de coadjuvante.
O pianista também é responsável pelo tema "Cianna", com Calderazzo e Marsalis em perfeita sintonia. Em "Snake Hip Waltz", composta pelo pianista Andrew Hill, o quarteto mostra como deve ser a "conversa" entre quatro músicos de jazz. Seus instrumentos se completam, criando um belo arranjo para a obra do inquieto Hill.
Branford Marsalis, Justin Faulkner, Eric Revis e Joey Calderazzo
O disco fecha com "The Windup", de keith Jarrett. Mais uma vez, o jazz pesado toma conta do ambiente e espalha por todos os cantos as frases nervosas que saem do saxofone de Marsalis. Destaque também para a bateria de Faulkner, que parece um trem desgovernado, mas conduzido com maestria pelo maquinista Faulkner.
Outro disco de quarteto, também com saxofone, que merece ser escutado é Everybody Gets the Blues, do pianista Eric Reed, lançado pelo selo Smoke Sessions. Ao lado de Tim Green (sax), McClenty Hunter (bateria) e Mike Gurrola (baixo), Reed traz versões de temas compostos por Cedar Walton, Stevie Wonder, The Beatles, John Coltrane e Freddie Hubbard, tudo com uma pitada de gospel e blues.
Ouça:
"Snake Hip Waltz" e "Cianna", de Marsalis
"How We Do" e "Circle of Life", de Redman:
terça-feira, 2 de abril de 2019
sexta-feira, 29 de março de 2019
Toca Raul de Souza
Seis décadas de carreira, 84 anos de idade, criador do instrumento Souzabone (trombone em dó com quatro pistões), parceiro dos principais instrumentistas do Brasil, reconhecido mundialmente e aclamado como o maior trombonista do planeta.
A ficha corrida de João José Pereira de Souza, mais conhecido como Raul de Souza, ainda inclui parcerias com Freddie Hubbard, George Duke, Sarah Vaughan, Sonny Rollins, Cal Tjader, Freddie Hubbard e Kenny Clarke.
Raul tem uma sonoridade muito particular, que mistura samba, gafieira, funk e jazz. O som de seu instrumento, um trombone meio baixo, mais usado em orquestras, é referência em diversas partes do mundo. A prova disso é a inclusão do disco Colours, de 1975, como material didático na conceituada escola de música Berklee College, de Boston, nos Estados Unidos.
Na cronologia de sua carreira também constam trabalhos com Pixinguinha e Agostinho dos Santos, além de participar do que ficou conhecido como o primeiro disco de música instrumental brasileira, em 1955, ao lado do acordeonista Sivuca, do violonista Baden Powell e do flautista Altamiro Carrilho.
A carreira internacional do trombonista começou em 1964, época em que tocava na banda de Sergio Mendes. Raul participou do antológico disco de Mendes chamado Sergio Mendes & Bossa Rio - Você Ainda Não Ouviu Nada. Na ocasião, Mendes era o músico brasileiro com mais visibilidade nos Estados Unidos.
O talento de Souza não passou desapercebido. Logo em seguida, foi convidado para excursionar no exterior com a cantora Flora Purim e o percussionista Airto Moreira. Depois, mergulhou no universo do jazz funk - época na qual reinou a gravadora CTI - ao lado do produtor e pianista norte-americano George Duke. O resultado foi o disco Sweet Lucy (foto acima) , de 1977.
Diante da repercussão de seus discos e apresentações no exterior, Raul passou os últimos 40 anos morando longe do Brasil, mais especificamente nos Estados Unidos (Los Angeles) e depois na França (Paris).
Felizmente, Raul continuou se apresentado no Brasil e gravando com músicos de várias gerações, como o gaitista Gabriel Grossi, João Donato (foto ao lado) e Robertinho Silva.
Com Grossi, lançou o disco Brazilian Samba Jazz, de 2015, e com Donato e Silva o álbum Bossa Eterna, de 2008, quando foi festejado os 50 anos do nascimento da Bossa Nova.
O último álbum, Blue Voyage, foi gravado na França. Ao lado de Raul estão Glauco Solter (baixo), Mauro Martins (bateria), Leo Montana (piano), Alex Correa (piano).
Outro registro que merece ser procurado é a caixa O Universo Musical de Raul de Souza , de 2012, que inclui o CD Voilà e um DVD com um show gravado no Sesc Vila Mariana, em 2001, com Raul acompanhado por Fabio Torres (piano), Mário Conde (guitarra e cavaquinho), Glauco Solter (baixo) e Serginho Machado (bateria), além das participações especiais de Hector Costita, João Donato e Altamiro Carrilho.
A ficha corrida de João José Pereira de Souza, mais conhecido como Raul de Souza, ainda inclui parcerias com Freddie Hubbard, George Duke, Sarah Vaughan, Sonny Rollins, Cal Tjader, Freddie Hubbard e Kenny Clarke.
Raul tem uma sonoridade muito particular, que mistura samba, gafieira, funk e jazz. O som de seu instrumento, um trombone meio baixo, mais usado em orquestras, é referência em diversas partes do mundo. A prova disso é a inclusão do disco Colours, de 1975, como material didático na conceituada escola de música Berklee College, de Boston, nos Estados Unidos.
Na cronologia de sua carreira também constam trabalhos com Pixinguinha e Agostinho dos Santos, além de participar do que ficou conhecido como o primeiro disco de música instrumental brasileira, em 1955, ao lado do acordeonista Sivuca, do violonista Baden Powell e do flautista Altamiro Carrilho.
A carreira internacional do trombonista começou em 1964, época em que tocava na banda de Sergio Mendes. Raul participou do antológico disco de Mendes chamado Sergio Mendes & Bossa Rio - Você Ainda Não Ouviu Nada. Na ocasião, Mendes era o músico brasileiro com mais visibilidade nos Estados Unidos.
O talento de Souza não passou desapercebido. Logo em seguida, foi convidado para excursionar no exterior com a cantora Flora Purim e o percussionista Airto Moreira. Depois, mergulhou no universo do jazz funk - época na qual reinou a gravadora CTI - ao lado do produtor e pianista norte-americano George Duke. O resultado foi o disco Sweet Lucy (foto acima) , de 1977.
Diante da repercussão de seus discos e apresentações no exterior, Raul passou os últimos 40 anos morando longe do Brasil, mais especificamente nos Estados Unidos (Los Angeles) e depois na França (Paris).
Felizmente, Raul continuou se apresentado no Brasil e gravando com músicos de várias gerações, como o gaitista Gabriel Grossi, João Donato (foto ao lado) e Robertinho Silva.
Com Grossi, lançou o disco Brazilian Samba Jazz, de 2015, e com Donato e Silva o álbum Bossa Eterna, de 2008, quando foi festejado os 50 anos do nascimento da Bossa Nova.
O último álbum, Blue Voyage, foi gravado na França. Ao lado de Raul estão Glauco Solter (baixo), Mauro Martins (bateria), Leo Montana (piano), Alex Correa (piano).
Outro registro que merece ser procurado é a caixa O Universo Musical de Raul de Souza , de 2012, que inclui o CD Voilà e um DVD com um show gravado no Sesc Vila Mariana, em 2001, com Raul acompanhado por Fabio Torres (piano), Mário Conde (guitarra e cavaquinho), Glauco Solter (baixo) e Serginho Machado (bateria), além das participações especiais de Hector Costita, João Donato e Altamiro Carrilho.
quarta-feira, 20 de março de 2019
O rei centenário
Impossível não falar sobre Nat King Cole no ano de seu centenário. Sim, é lugar comum dizer que Cole foi um dos mais bem sucedidos cantores de sua geração e que sua influência é sentida até hoje.
Apesar da morte precoce, aos 45 anos, vítima de câncer de pulmão, Cole conseguiu como poucos conquistar consumidores de jazz e de música popular. Seu piano e sua voz aveludada tinham a mesmo feitiço que encantaram brancos e negros em uma época na qual o racismo imperava.
Se não bastasse tudo isso, Cole ainda criou uma nova formação de jazz, pelo menos para a época: piano, baixo e guitarra. Ao lado do guitarrista Oscar Moore e do baixista Wesley Prince (depois substituído por Johnny Miller), o cantor deixou a bateria de lado e acabou criando uma sonoridade mais suave e acessível.
Ao cantar standards da música norte-americana como "What Is This Thing Called Love?", "Mona Lisa", "Sweet Lorraine", "The Very Thought of You" e "Route 66", "Natural Boy" e "The Man I Love", Cole parecia um anjo negro dedilhando seu piano, sempre com maestria e sua inconfundível voz aveludada, tudo muito bem "embalado" em um sorriso maroto e ternos impecáveis.
O sucesso leva Nat King Cole para a TV, em 1956. Apesar de ter ficado apenas um ano no ar, o efeito televiso aumenta ainda mais sua popularidade.
Dois anos depois, ele lança o disco Cole Español (foto ao lado), que trazia Cole cantando em espanhol canções como "Cachito" e "Quizas, Quizas, Quizas".
O sucesso foi, novamente, arrasador. Desta vez, Cole atingiu em cheio países latinos, entre eles o Brasil.
Em 1959, ele desembarcou no Brasil para uma turnê de sete dias no Rio e em São Paulo. Tocou no Maracanãzinho, no Rio, e no antigo Cine Teatro Paramount, em São Paulo.
Nat King Cole Trio: Nat com Oscar Moore (guitarra) e Johnny Miller (baixo)
Hoje, 54 anos após sua morte, o legado de Cole está espalhado por toda parte, em especial em discos tributos do guitarrista John Pizzareli, que toca com frequência no formato piano-baixo-guitarra, e da pianista canadense Diana Krall, com o disco All for You: A Dedication to the Nat King Cole Trio (foto abaixo).
Quem também dedicou disco inteiramente a Nat foi o irmão do cantor, o pianista Freddy Cole, que lançou em 2016 o disco He Was The King, o veterano guitarrista George Benson, com o disco Inspiration: A Tribute to Nat King Cole, de 2013, e, mais recentemente, o cantor Gregory Porter, com o álbum Nat King Cole & Me.
No Brasil, Nat tinha dois fãs assumidos: os cantores Dick Farney e Cauby Peixoto. Farney chegou a se apresentar nos Estados Unidos ao lado de Cole, na década de 1940.
Já Cauby gravou o disco Cauby Sings Nat King Cole, lançado em 2015, um ano antes de sua morte. No ano seguinte, o disco venceu na categoria melhor álbum de língua estrangeira o Prêmio da Música Brasileira.
Infelizmente, o centenário do cantor fica mais pobre com a ausência da filha Natalie Cole (foto ao lado), morta aos 65 anos, em 31 de dezembro de 2015.
Em 1991, ela lançou o platinado disco Unforgettable, no qual cantava clássicos da carreira do pai.
O disco também trazia um dueto entre ela e o pai na faixa-título, uma inovação tecnológica inédita na época. Com o disco, Natalie garantiu a continuação do legado de onipresente Nat King Cole.
Ela repetiu a dose no disco Still Unforgettable, de 2008, no qual faz dueto com o pai na canção "Walkin' My Baby Back Home".
Clique aqui para ver a reportagem sobre os 100 anos do cantor exibida na GloboNews.
Apesar da morte precoce, aos 45 anos, vítima de câncer de pulmão, Cole conseguiu como poucos conquistar consumidores de jazz e de música popular. Seu piano e sua voz aveludada tinham a mesmo feitiço que encantaram brancos e negros em uma época na qual o racismo imperava.
Se não bastasse tudo isso, Cole ainda criou uma nova formação de jazz, pelo menos para a época: piano, baixo e guitarra. Ao lado do guitarrista Oscar Moore e do baixista Wesley Prince (depois substituído por Johnny Miller), o cantor deixou a bateria de lado e acabou criando uma sonoridade mais suave e acessível.
Ao cantar standards da música norte-americana como "What Is This Thing Called Love?", "Mona Lisa", "Sweet Lorraine", "The Very Thought of You" e "Route 66", "Natural Boy" e "The Man I Love", Cole parecia um anjo negro dedilhando seu piano, sempre com maestria e sua inconfundível voz aveludada, tudo muito bem "embalado" em um sorriso maroto e ternos impecáveis.
O sucesso leva Nat King Cole para a TV, em 1956. Apesar de ter ficado apenas um ano no ar, o efeito televiso aumenta ainda mais sua popularidade.
Dois anos depois, ele lança o disco Cole Español (foto ao lado), que trazia Cole cantando em espanhol canções como "Cachito" e "Quizas, Quizas, Quizas".
O sucesso foi, novamente, arrasador. Desta vez, Cole atingiu em cheio países latinos, entre eles o Brasil.
Em 1959, ele desembarcou no Brasil para uma turnê de sete dias no Rio e em São Paulo. Tocou no Maracanãzinho, no Rio, e no antigo Cine Teatro Paramount, em São Paulo.
Nat King Cole Trio: Nat com Oscar Moore (guitarra) e Johnny Miller (baixo)
Hoje, 54 anos após sua morte, o legado de Cole está espalhado por toda parte, em especial em discos tributos do guitarrista John Pizzareli, que toca com frequência no formato piano-baixo-guitarra, e da pianista canadense Diana Krall, com o disco All for You: A Dedication to the Nat King Cole Trio (foto abaixo).
Quem também dedicou disco inteiramente a Nat foi o irmão do cantor, o pianista Freddy Cole, que lançou em 2016 o disco He Was The King, o veterano guitarrista George Benson, com o disco Inspiration: A Tribute to Nat King Cole, de 2013, e, mais recentemente, o cantor Gregory Porter, com o álbum Nat King Cole & Me.
No Brasil, Nat tinha dois fãs assumidos: os cantores Dick Farney e Cauby Peixoto. Farney chegou a se apresentar nos Estados Unidos ao lado de Cole, na década de 1940.
Já Cauby gravou o disco Cauby Sings Nat King Cole, lançado em 2015, um ano antes de sua morte. No ano seguinte, o disco venceu na categoria melhor álbum de língua estrangeira o Prêmio da Música Brasileira.
Infelizmente, o centenário do cantor fica mais pobre com a ausência da filha Natalie Cole (foto ao lado), morta aos 65 anos, em 31 de dezembro de 2015.
Em 1991, ela lançou o platinado disco Unforgettable, no qual cantava clássicos da carreira do pai.
O disco também trazia um dueto entre ela e o pai na faixa-título, uma inovação tecnológica inédita na época. Com o disco, Natalie garantiu a continuação do legado de onipresente Nat King Cole.
Ela repetiu a dose no disco Still Unforgettable, de 2008, no qual faz dueto com o pai na canção "Walkin' My Baby Back Home".
Clique aqui para ver a reportagem sobre os 100 anos do cantor exibida na GloboNews.
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