terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Leny Andrade é a tradução da musicalidade

No tributo a Leny Andrade no Blue Note Rio, em janeiro de 2019, o pianista Gilson Peranzzetta contou uma história que sintetiza bem a importância da cantora.

Peranzzetta disse que um jornalista foi até a sua casa para fazer uma entrevista e perguntou o que a cantora representava na sua música, na sua vida.

O músico no mesmo instante respondeu que "Leny era a nota que faltava no meu acorde". Logo em seguida, o repórter perguntou a Peranzzetta se ele tinha café. O músico, então, quis saber sobre a entrevista. Mas a resposta de Peranzzetta foi o suficiente para o jornalista.

Apesar do caso contado por Peranzzetta (foto abaixo), com quem Leny tem várias parcerias no decorrer de meio século de carreira, o legado da cantora nunca foi ovacionado como acontece com as carreiras de Angela Maria, Elizeth Cardoso, Elis Regina, Dolores Duran, Maria Bethânia, entre outras.

E olha que o repertório de Leny é extremamente acessível, uma mistura deliciosa de samba, jazz e bossa nova.

Ela tem discos em tributo a Tom Jobim, Nelson Cavaquinho, Cartola, Ivan Lins & Vitor Martins, isso sem falar nas canções que gravou de compositores como Luiz Bonfá, Vinicius de Moraes, Durval Ferreira, Roberto Menescal, Marcos Valle, Paulo Sergio Valle, Carlos Lyra, Ary Barroso e Dorival Caymmi.

Talvez o perfil mais jazzístico tenha "afastado" o público desta que é, sem dúvida, uma das mais completas cantoras do país. Seu domínio do scat (vocalização das notas) e sua precisão ao cantar são atributos que poucas cantoras no mundo têm.

O próprio Tony Bennett chama Leny de a "Ella Fitzgerald Brasileira". Além da apurada técnica vocal, Leny tem formação clássica de piano, o que deixa sua percepção musical ainda mais latente.

Durante sua rica carreira, Leny cantou ao lado de feras como Pery Ribeiro, Dick Farney, Johnny Alf, João Donato, Eumir Deodato, César Camargo Mariano (foto abaixo), Tamba Trio, Romero Lubambo, Sergio Mendes, Cristóvão Bastos e Gilson Peranzzetta. Em 1994, lançou o disco Maiden Voyage, ao lado do pianista de jazz Fred Hersch, com standards da música norte-americana.

Também lançado apenas no mercado internacional, o disco Alegria De Viver traz Leny acompanhada do violonista israelense Roni Ben-Hur. No repertório, temas de Tito Madi, Pixinguinha, Baden Powell, Tom Jobim e Luiz Eça.

Outro disco que merece destaque é Alma Mía (Fina Flor), de 2010, com Leny cantando em espanhol boleros clássicos como "El Dia Que Me Quiera", "Llévatela" e "Te Me Olvidas". A incursão pelo bolero acontece novamente no disco As Canções Do Rei, com músicas de Roberto e Erasmo Carlos, mas cantadas em espanhol.

Em 2018, Leny completou 75 anos. Apesar de estar com a saúde em dia, mesmo depois de sofrer algumas quedas em sua casa, no Rio de Janeiro, a cantora continua na ativa.

Desde a inauguração do Blue Note Rio, no fim de 2017, Leny já fez várias apresentações na casa. Em 2019, com a chegada do Blue Note em São Paulo, será a vez dos paulistanos terem a oportunidade de vê-la com mais frequência nos palcos.

No início de 2019, a cantora se mudou para o Retiro dos Artistas, instituição centenária localizada em Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro. O local é conhecido por abrigar artistas em dificuldade financeira.

Mas Leny garante que não é o seu caso. Apesar disso, o dinheiro arrecadado com o tributo realizado no Blue Note foi revertido para a cantora.









quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Blue Note Rio - Vídeos

Inaugurado em agosto de 2017, o Blue Note Rio tem feito aquilo que prometeu, ou seja, ser um espaço para a música instrumental brasileira e para novos talentos do país.

Grandes nomes já passaram pelo pequeno e aconchegante palco localizado Lagoa, uma das mais belas paisagens da cidade do Rio de Janeiro.

Nomes como Sergio Mendes, Roberto Menescal, João Donato, Ed Motta, Hamilton de Holanda, Eumir Deodato, Marcos Valle, Carlos Lyra, Ivan Lins, Leny Andrade, Joyce Moreno, Wagner Tiso, além dos internacionais Chick Corea, Rudresh Mahanthappa, Chris Botti, Richard Bona e Incognito. Abaixo você assiste na íntegra dezenas de shows que aconteceram no Blue Note Rio. Bom divertimento.


ROMERO LUBAMBO & DIANNE REEVES



JOÃO DONATO


TRIBUTO A MARCIO MONTARROYOS


TRIBUTO A TOM JOBIM E VINICIUS DE MORAES


WAGNER TISO & MÁRCIO MALLARD


RUDRESH MAHANTHAPPA


ADAURY MOTHÉ TRIO - TRIBUTO A DOM SALVADOR


JOÃO DONATO, ROBERTO MENESCAL, MARCOS VALLE & CARLOS LYRA


MELISSA ALDANA


DAVID FELDMAN TRIO - TRIBUTO A LUIS EÇA


CAMA DE GATO & ARTHUR MAIA


GILSON PERANZZETTA


QUARTEO EM CY & DANILO CAYMMI


GUINGA & JEAN CHARNAUX


LÉO GANDELMAN & JÚLIO BITTENCOUR


LENY ANDRADE


NELSON FARIA & MAURICIO EINHORN


KENNY GARRET


BIANCA GISMONTI


GILSON PERANZZETTA & MAURO SENISE


IBRAHIN FERRER JR


AMARO FREITAS


MARCOS SUZANO TRIO


GASTÃO VOLLEROY & TONINHO HORTA

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Downbeat: os melhores discos de 2018

A revista Downbeat publica anualmente, em janeiro, um apanhado sobre os CDs mais bem cotados de todas as edições do ano anterior.

É uma ótima oportunidade para encontrar grandes discos que, por vários motivos, passaram desapercebidos.

No topo da lista, com a cotação de cinco estrelas, apenas cinco discos conquistaram plenamente o exigentes críticos da revista.

No ano passado, ou seja, 2017, os críticos deram cinco estrelas para 23 discos. A pergunta que fica no ar é: Os críticos este ano estão mais exigentes ou os discos do ano passado foram bem melhores que os lançados em 2018?

São eles: Ambrose Akinmusire (Origami Harvest), Kenny Barron Quartet (Concentric Circles), Stacey Kent (I Know I Dream: The Orchestral Sessions). Wojtek Mazolewski (Polka) e Steve Tibbets (Life Of).

Desta relação, apenas o álbum de Stacey Kent é cantado. Stacey tem uma carreira sólida de duas décadas, 15 álbuns lançados e uma conhecida paixão pela música brasileira.

Em seu novo disco (foto acima), esta paixão volta a transbordar com cinco canções, entre elas "Double Rainbow" e "Photograph", ambas compostas por Tom Jobim. Acompanhada de uma orquestra de 60 músicos, a voz de Stacey está ainda mais límpida e precisa nesta bela produção da gravadora OKeh.

O veterano pianista Kenny Barron também figura entre os disco cinco estrelas. Lançado pela gravadora Blue Note, Concentric Circles (foto acima) traz Barron no formato de quinteto, incluindo o saxofonista Dayna Stephens e o trompetista Mike Rodriguez.

No repertório, composições próprias e temas de Caetano Veloso (Aquele Frevo Axe), Lenny White (L’s Bop) e Thelonious Monk (Reflections).

O trompetista Ambrose Akinmusire fez um álbum inquietante. Considerado um dos músicos mais interessantes de sua geração, ao lado do pianista Robert Glasper, Akimusire mesclou com inteligencia e talento jazz, rap e música erudita em seu novo disco (foto acima). Com a participação do Mivos Quartet e do rapper Kool A.D., o som lembra muito o que foi feito pelo duo US3, no começo da década de 1990, e pelo cantor D'Angelo.

O baixista polonês Wojtek Mazolewski é mais uma estrela do jazz que vem dos países frios da Europa, entre eles Finlândia, Suécia e Noruega. A cena jazzista nesta região é crescente e tem sido apresentada com frenquência pelos selo ECM e ACT.

O disco de Mazolewski (foto ao lado) foi originalmente lançado em 2014 por um selo polonês. A versão avaliada pela Downbeat traz novas músicas adicionadas ao disco Polka.

Ao lado do baixista, estão o pianista Joanna Duda, o trompetista Oskar Stenmark e o saxofonista Marek Pospieszalski.

Para fechar este seleto grupo está o disco do guitarrista norte-americano Steve Tibbets (foto abaixo), que grava há anos pela ECM. Neste novo trabalho, ele preferiu um violão de 12 cordas. O resultado é uma música intimista e com uma atmosfera indiana oferecida pelo percussionista Marc Anderson. Um trabalho lúcido e muito bem gerido pelo experiente músico.

A revista também mostra outros seis títulos com cinco estrelas, mas de álbuns que eles chamam de históricos, ou seja, são trabalhos brilhantes, mas não são lançamentos.

Neste lista entraram os seguintes títulos: Bob Dylan (Trouble No More - The Bootleg Series Vol.13: 1979–1981), Fela Kuti (Underground System) Woody Shaw (Tokyo'81). Fred Hersch (Heartsongs), Oscar Peterson (Oscar Peterson Plays) e Muddy Waters (The Best Of Muddy Waters).

A edição traz outras dezenas de títulos divididos em outras duas cotação, quatro estrelas e meia e quatro estrelas. O Brasil aparece com quatro discos. São eles: Luciana Souza (The Book Of Longing), Duduka da Fonseca (Plays Dom Salvador), Eliane Elias (Music From Man Of La Mancha) e o relançamento de um disco de Emilio Santiago (Far Out), de 1975.

Abaixo você encontra uma faixa de cada um dos discos que receberam cinco estrelas. Começando por Stacey Kent e seguido por Ambrose Akinmusire, Kenny Barron, Wojtek Mazolewski e Steve Tibbets.