Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim. Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".
Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia (dicas de CDs, DVDs, livros, entrevistas e muito mais) - você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.
Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui
Essa resenha está sendo republicada para homenagear Hargrove, que faleceu no dia 2 de novembro de 2018, aos 49 anos de idade. Que descanse em paz.
Roy Hargrove - With The Tenors Of Our Time (1994)
Apadrinhado por Wynton Marsalis, Roy Hargrove se tornou, em menos de cinco anos, um dos maiores talentos do trompete da nova geração. Influenciado por Lee Morgan e Freddie Hubbard, ele começou a carreira gravando pela gravadora Novus. Após cinco discos, a toda poderosa Verve não teve dúvida e o contratou, na época com 23 anos.
Aliado à Verve, Hargrove entrou em contato com grandes nomes do jazz e estreou com o pé direito sua parceria com o lançamento do disco With The Tenors Of Out Time, de 1994.
Neste trabalho, o quinteto do trompetista, com destaque para o pianista Cyrus Chestnut e o baixista Rodney Whitaker, convidou cinco grandes saxofonistas tenores: Joe Henderson, Johnny Griffin, Stanley Turrentine, Joshua Redman e Branford Marsalis. Com um time deste o disco não poderia ter outro resultado, uma obra-prima.
Logo de saída, uma parceria entre Hargrove e Turrentine em “Stoppin'The Biscuit”, escrita pelo trompetista. Os dois voltam a se encontrar em “Wild Is Love”, composição dos anos 50, que aqui tem clima de bossa nova.
Além do trompete tradicional, Hargrove também ataca no flugelhorn ao lado do sax de Griffin, na romântica “When We Were One”, em “Once Forgotten”, com Chestnut roubando a cena, e em “Never Let Me Go”, com destaque para o solo de Whitaker.
Mas o grande momento do disco acontece ao lado de outro peso pesado do sax, Joe Henderson. Escute a suingada “Shade Of Jade” e a tranqüila ‘Serenity” e perceba o forte elo criado pelo sax de Henderson e o trompete de Hargrove. Para terminar, dois “novos” saxofonistas acompanham o trompetista. Branford Marsalis aparece em “Valse Hot” e Redman mostra sua técnica em “Acrosss The Pond”.
Na época deste lançamento, Hargrove era “apenas” um músico promissor. Hoje, uma década mais tarde, o trompetista é uma das principais figuras do jazz e apontado como um dos mais instigantes e completos jazzistas de sua geração.
terça-feira, 6 de novembro de 2018
quarta-feira, 31 de outubro de 2018
Legado de Raphael Rabello ao violão é incontestável
Falar sobre a genialidade de Raphael Rabello é cair no lugar comum, mas invariavelmente inevitável.
Morto em 1995, aos 32 anos, o violonista fluminense foi um músico prodígio, influenciado pelo avô e pelos irmãos, Rafael mostrou muito precocemente sua habilidade no instrumento. Seu maior ídolo foi Dino 7 Cordas, com quem gravaria um disco em 1991.
Outro momento importante na carreira de Rafael foi o encontro com o maestro Radamés Gnattali, em 1977, quando Rafael tocava violão de 7 cordas no grupo Carioquinhas ao lado da irmã, Luciana (cavaquinho), e os músicos Paulo Magalhães Alves (bandolim), Mário Florêncio (pandeiro) e Téo Oliveira (violão de 6).
No livro Raphael Rabello: O Violão Em Erupção, biografia lançada em 2018, pela Editora 34, o jornalista Lucas Nobile conta o primeiro encontro de Rafael e Radamés. Segundo Nobile, Rafael estava em estúdio gravando com os Carioquinhas quando Radamés, por acaso, estava no mesmo local. O maestro foi chamado para ver Rafael em ação e chamou o jovem músico, na época com 15 anos, para uma conversa.
O jovem Raphael Rabello toca com o maestro Radamés Gnattali (Divulgação)
Radamés quis saber se o violonista sabia ler partitura e fazer harmonias. Rafael não respondeu, então Radamés pediu para que Rafael fosse estudar harmonia e depois o procurasse. E foi isso que Rafael fez. Dois anos após este encontro, os dois se reuniram e criaram o conjunto Camerata Carioca, que gravou o disco Tributo A Jacob Do Bandolim, em 1979.
Durante sua breve carreira, Raphael gravou 22 discos, dos quais 16 instrumentais, muitos deles acompanhando cantores do quilate de Elizeth Carsoso, Ney Matogrosso e Nelson Gonçalves, além dos discos em parceria com o saxofonista Paulo Moura, Romero Lubambo, Dino 7 Cordas e Radamés.
Um dos seus discos mais conhecidos é Todos os Tons, de 1992, um tributo ao maestro Tom Jobim, com participações do violonista espanhol Paco De Lucia, do baterista Wilson das Neves e do violoncelista Jaques Morelenbaum.
Em 2002, o disco póstumo Mestre Capiba é lançado. Raphael trabalhava na obra do compositor pernambucano quando faleceu. O disco traz grandes nomes da mpb, entre eles Chico Buarque, Maria Bethania, Caetano Veloso e Ney Matogrosso, todos acompanhados pelo violão de Rabello.
O legado de Raphael fica ainda mais claro com o lançamento do disco Um abraço no Raphael Rabello, da gravadora Acari. A iniciativa do tributo, lançado em 2012, ano em que o violonista completaria 50 anos, parte do violonista Rogério Caetano, que convidou vários músicos para gravarem composições inspiradas em Raphael.
Entre os instrumentistas que participam do álbum estão Yamandu Costa, Alessandro Penezzi, Hamilton de Holanda, Mauricio Carrilho e Marco Pereira.
Morto em 1995, aos 32 anos, o violonista fluminense foi um músico prodígio, influenciado pelo avô e pelos irmãos, Rafael mostrou muito precocemente sua habilidade no instrumento. Seu maior ídolo foi Dino 7 Cordas, com quem gravaria um disco em 1991.
Outro momento importante na carreira de Rafael foi o encontro com o maestro Radamés Gnattali, em 1977, quando Rafael tocava violão de 7 cordas no grupo Carioquinhas ao lado da irmã, Luciana (cavaquinho), e os músicos Paulo Magalhães Alves (bandolim), Mário Florêncio (pandeiro) e Téo Oliveira (violão de 6).
No livro Raphael Rabello: O Violão Em Erupção, biografia lançada em 2018, pela Editora 34, o jornalista Lucas Nobile conta o primeiro encontro de Rafael e Radamés. Segundo Nobile, Rafael estava em estúdio gravando com os Carioquinhas quando Radamés, por acaso, estava no mesmo local. O maestro foi chamado para ver Rafael em ação e chamou o jovem músico, na época com 15 anos, para uma conversa.
O jovem Raphael Rabello toca com o maestro Radamés Gnattali (Divulgação)
Radamés quis saber se o violonista sabia ler partitura e fazer harmonias. Rafael não respondeu, então Radamés pediu para que Rafael fosse estudar harmonia e depois o procurasse. E foi isso que Rafael fez. Dois anos após este encontro, os dois se reuniram e criaram o conjunto Camerata Carioca, que gravou o disco Tributo A Jacob Do Bandolim, em 1979.
Durante sua breve carreira, Raphael gravou 22 discos, dos quais 16 instrumentais, muitos deles acompanhando cantores do quilate de Elizeth Carsoso, Ney Matogrosso e Nelson Gonçalves, além dos discos em parceria com o saxofonista Paulo Moura, Romero Lubambo, Dino 7 Cordas e Radamés.
Um dos seus discos mais conhecidos é Todos os Tons, de 1992, um tributo ao maestro Tom Jobim, com participações do violonista espanhol Paco De Lucia, do baterista Wilson das Neves e do violoncelista Jaques Morelenbaum.
Em 2002, o disco póstumo Mestre Capiba é lançado. Raphael trabalhava na obra do compositor pernambucano quando faleceu. O disco traz grandes nomes da mpb, entre eles Chico Buarque, Maria Bethania, Caetano Veloso e Ney Matogrosso, todos acompanhados pelo violão de Rabello.
O legado de Raphael fica ainda mais claro com o lançamento do disco Um abraço no Raphael Rabello, da gravadora Acari. A iniciativa do tributo, lançado em 2012, ano em que o violonista completaria 50 anos, parte do violonista Rogério Caetano, que convidou vários músicos para gravarem composições inspiradas em Raphael.
Entre os instrumentistas que participam do álbum estão Yamandu Costa, Alessandro Penezzi, Hamilton de Holanda, Mauricio Carrilho e Marco Pereira.
segunda-feira, 22 de outubro de 2018
Jazz on a Summer’s Day
Para muitos, o Newport Jazz Festival é o pai de todos os festivais de jazz que existem no planeta hoje em dia. Criado em 1954, por George Wein (pianista e proprietário do clube Storyville, em Boston), o festival norte-americano teve em seu palco a nata do jazz.
Por lá passaram nomes como Miles Davis, Louis Armstrong, Billie Holiday, Dizzy Gillespie e Duke Ellington.
Em 1958, o fotógrafo Bert Stern foi convidado a registra os quatro dias de festival, que aconteceu entre os dias 3 e 6 de julho, durante o feriado da Independência dos Estados Unidos. O resultado é o documentário Jazz on a Summer’s Day, que em 2018 completa 60 anos.
Para comemorar a emblemática data, uma caixa (foto acima) com 2 LPs, o DVD com o documentário (com extras), um CD remasterizado com as músicas que estão no vídeo e um encarte de 40 páginas com dezenas de fotos foi lançado no exterior pela gravadora Charly Records.
A visão de Stern é muito particular. Além dos concertos de músicos do quilate de Thelonious Monk, George Shearing, Gerry Mulligan, Chuck Berry e Louis Armstrong, o fotógrafo dá especial atenção ao público e à atmosfera que envolve o festival.
O palco - localizado no Fort Adams State Park, na cidade de Rhode Island - oferece ao público e aos músicos uma experiência que transcende a música. E é aí que entra o olhar aguçado e talentoso de Stern.
Foto tirada da perspectiva do artista que se apresenta no tradicional palco do Festival
Com uma câmera focada em rostos - dos músicos e da platéia -, Stern consegue colocar o telespectador "dentro" do festival. É um mergulho profundo e íntimo no palco e nas fileiras que formam a eclética audiência, confortavelmente sentada e literalmente participando da história.
A única rateada de Stern foi não registrar outros músicos que participaram desta quinta edição do festival. Ao ver o programação, é possível encontrar nada mais nada menos que Miles Davis, Dave Brubeck, Duke Ellington, Benny Goodman, Ray Charles, Sonny Rollins e Horace Silver. Mas é claro que isso não tira o mérito e o valor histórico das imagens registradas pelo fotógrafo.
Abaixo estão as músicas do CD e do DVD:
The Jimmy Giuffre Trio - The Train And The River
Thelonious Monk - Blue Monk
Sonny Stitt & Sal Salvador - Loose Walk
Anita O`Day - Sweet Georgia Brown
Anita O`Day - Tea For Two
George Shearing - Rondo
Dinah Washington - All Of Me
Gerry Mulligan & the Concert Jazz Band - As Catch Can
Big Maybelle - I Ain`t Mad At You
Chuck Berry - Sweet Little Sixteen
The Chico Hamilton Quintet - Blue Sands
Louis Armstrong - Up A Lazy River
Louis Armstrong - Tiger Rag
Louis Armstrong - Rockin` Chair
Louis Armstrong - When The Saints Go Marchin` In
Mahalia Jackson - Walk All Over God`s Heaven
Mahalia Jackson - Didn`t It Rain?
Mahalia Jackson - The Lord`s Prayer
Veja a seguir o trailer sobre o documentário Jazz on a Summer’s Day
Veja abaixo, na íntegra, alguns shows gravados no palco do Newport Jazz Festival
Por lá passaram nomes como Miles Davis, Louis Armstrong, Billie Holiday, Dizzy Gillespie e Duke Ellington.
Em 1958, o fotógrafo Bert Stern foi convidado a registra os quatro dias de festival, que aconteceu entre os dias 3 e 6 de julho, durante o feriado da Independência dos Estados Unidos. O resultado é o documentário Jazz on a Summer’s Day, que em 2018 completa 60 anos.
Para comemorar a emblemática data, uma caixa (foto acima) com 2 LPs, o DVD com o documentário (com extras), um CD remasterizado com as músicas que estão no vídeo e um encarte de 40 páginas com dezenas de fotos foi lançado no exterior pela gravadora Charly Records.
A visão de Stern é muito particular. Além dos concertos de músicos do quilate de Thelonious Monk, George Shearing, Gerry Mulligan, Chuck Berry e Louis Armstrong, o fotógrafo dá especial atenção ao público e à atmosfera que envolve o festival.
O palco - localizado no Fort Adams State Park, na cidade de Rhode Island - oferece ao público e aos músicos uma experiência que transcende a música. E é aí que entra o olhar aguçado e talentoso de Stern.
Foto tirada da perspectiva do artista que se apresenta no tradicional palco do Festival
Com uma câmera focada em rostos - dos músicos e da platéia -, Stern consegue colocar o telespectador "dentro" do festival. É um mergulho profundo e íntimo no palco e nas fileiras que formam a eclética audiência, confortavelmente sentada e literalmente participando da história.
A única rateada de Stern foi não registrar outros músicos que participaram desta quinta edição do festival. Ao ver o programação, é possível encontrar nada mais nada menos que Miles Davis, Dave Brubeck, Duke Ellington, Benny Goodman, Ray Charles, Sonny Rollins e Horace Silver. Mas é claro que isso não tira o mérito e o valor histórico das imagens registradas pelo fotógrafo.
Abaixo estão as músicas do CD e do DVD:
Thelonious Monk - Blue Monk
Sonny Stitt & Sal Salvador - Loose Walk
Anita O`Day - Sweet Georgia Brown
Anita O`Day - Tea For Two
George Shearing - Rondo
Dinah Washington - All Of Me
Gerry Mulligan & the Concert Jazz Band - As Catch Can
Big Maybelle - I Ain`t Mad At You
Chuck Berry - Sweet Little Sixteen
The Chico Hamilton Quintet - Blue Sands
Louis Armstrong - Up A Lazy River
Louis Armstrong - Tiger Rag
Louis Armstrong - Rockin` Chair
Louis Armstrong - When The Saints Go Marchin` In
Mahalia Jackson - Walk All Over God`s Heaven
Mahalia Jackson - Didn`t It Rain?
Mahalia Jackson - The Lord`s Prayer
Veja a seguir o trailer sobre o documentário Jazz on a Summer’s Day
Veja abaixo, na íntegra, alguns shows gravados no palco do Newport Jazz Festival
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