Essa pequena linha tênue sempre haverá em uma crítica. Mas o que pode fazer o leitor decidir para qual lado ele seguirá é a idoneidade de quem a escreve.
Esse capital chamado confiança é algo cada vez mais difícil de encontrar na era das redes sociais. O leitor/consumidor é bombardeado por pseudos críticos e gurus dos mais distintos assuntos, todos eles com suas verdades absolutas. Mas no meio deste tiroteio, sempre haverá um benfeitor por quem o leitor poderá confiar sua atenção e encontrar uma crítica contundente e, acima de tudo, coerente com as convicções adquiridas pelo crítico ao longo de sua vida.
É neste pequeno rol de notáveis que está o crítico alemão, radicado nos Estados Unidos, Dan Morgenstern, diretor do Instituto dos Estudos de Jazz da Universidade de Rutgers, em Nova Jersey (EUA) e membro do National Endowment for the Arts Jazz Master. Em outubro deste ano, ele completa 90 anos.
Morgenstern (na foto com Quincy Jones e Lena Horne) se auto-intitula um "advogado do jazz", ou seja, alguém que procura esclarecer os caminhos do jazz e de seus protagonistas para um leitor ávido por informação e carente de embasamento. Em resumo, Morgenstern é um apaixonado por aquilo que faz e compartilha seu conhecimento sem pedir nada em retribuição.
Durante seis décadas, o crítico escreveu diversos livros, entre eles Living With Jazz, e ganhou sete prêmios Grammy na categoria liner notes, ou seja, aquele texto que você encontra no encarte do CD. Além disso, foi editor da revista Down Beat entre 1967 e 1973, escreveu para diversos jornais e lecionou sobre a história do jazz em diversas universidades dos Estados Unidos
Em uma entrevista ao jornalista Marc Myers, do The Wall Street Journal, o crítico resumiu com clareza o seu ofício. "Um dos meus grandes prazeres como escritor é alguém me dizer que algo que eu escrevi (um livro, um artigo, anotações) o expôs a um determinado jazzista. Recentemente, alguém me procurou e falou que leu um artigo sobre um disco de Dexter Gordon que eu escrevi para a revista Down Beat, e que isso foi importante para ele criar um vínculo com jazz desde então".
Para a sorte dos leitores mais atentos, Morgenstern não é um caso isolado. Nomes como Gary Giddins, Ashley Kahn e Nat Hentoff são reconhecidos como críticos preocupados com a crítica construtiva e com a disseminação do conhecimento em seu mais nobre objetivo: abrir a mente das pessoas e deixá-las decidir por conta própria o que desejam ouvir, comer, beber, comprar ou, simplesmente, não consumir nada que um "estranho" que se auto-denomina crítico tenta dizer se é bom ou ruim.
Abaixo você encontra uma entrevista (dividida em dois vídeos) concedida por Dan Morgenstern ao programa Tony Guida’s NY, em 2017. Na ocasião, o crítico falou sobre o centenário da primeira gravação de jazz, que aconteceu oficialmente em 1917, com a Original Dixieland Jazz Band, e outras particularidades sobre os músicos de jazz, com destaque para Ella Fitzgerald e Louis Armstrong. O último vídeo é um passeio guiado por Morgenstern no Instituto dos Estudos de Jazz da Universidade de Rutgers, em Nova Jersey (EUA). Os vídeos publicados no Youtube estão em inglês, mas é possível ativar a legenda em inglês.
Charlie Parker's Savoy and Dial
Count Basie: Complete Original American Decca Recordings
Duke Ellington: Never No Lament: The Blanton-Webster Band
The Complete Ella Fitzgerald and Louis Armstrong
Art Tatum: The Complete Pablo Group Masterpieces
Billie Holiday and Lester Young: A Musical Romance
Abaixo estão os títulos dos discos que Morgenstern ganhou o Grammy na categoria liner notes:
2008: The Complete Louis Armstrong Decca Sessions (1935-1946) (Louis Armstrong)
2005: If You Got to Ask, You Ain't Got It! (Fats Waller)
1993: Portrait of the Artist As a Young Man 1923-1934 (Louis Armstrong)
1989: Brownie: The Complete EmArcy Recording (Clifford Brown)
1980: Master of the Keyboard (Erroll Garner)
1975: The Changing Face of Harlem: The Savoy Sessions (various artists)
1973: The Hawk Flies (Coleman Hawkins)
1972: God Is In the House (Art Tatum)