terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Downbeat: melhores de 2019

A revista Downbeat publica anualmente, em janeiro, um apanhado sobre os CDs mais bem cotados de todas as edições do ano anterior. É uma ótima oportunidade para encontrar grandes discos que, por vários motivos, passaram desapercebidos.

No topo da lista, com a cotação de cinco estrelas, apenas seis discos conquistaram plenamente os críticos da revista.

São eles: Terri Lyne Carrington and Social Science (Waiting Game), Dave Douglas (Brazen Heart Live at Jazz Standard), Delia Fischer (Tempo Mínimo), Eliane Elias (Love Stories), Ted Nash Trio (Somewhere Else: West Side Story Songs) e Santana (Africa Speaks).

Pela primeira vez, o Brasil tem dois discos neste seleto time e, além disso, duas cantoras: Eliane Elias e Delia Fischer. Eliane é uma veterana em premiações e sempre muito bem cotada no mercado internacional. Seu novo disco traz belos arranjos de orquestra e temas românticos como "Bonita", de Tom Jobim, "Angel Eyes", "Come Fly with Me", do repertório de Frank Sinatra, e "Silence" e "The View", ambas compostas por Eliane.

A surpresa foi o disco da pianista e arranjadora carioca Delia Fischer, que é mais conhecida por seu trabalho como compositora e arranjadora. Neste disco (Tempo Mínimo), Delia também canta e oferece ao ouvinte belos arranjos e sua voz delicada, mas especialmente virtuosa para os temas gravados aqui. Destaque para "Garra", composição de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, com participação de Marcos nos vocais, e "Canção de Autoajuda", parceria de Delia com o compositor Carlos Careqa.

A revista também deu cinco estrelas para o disco The Complete Cuban Jam Sessions, uma coletânea de cinco discos, gravados entre 1956 e 1964, com um grupo de músicos cubanos formado por Julio Guitiérrez, Niño Rivera, José Fajardo e israel "Cachao" López. Esse disco foi incluído na categoria histórico, ou seja, é recém-lançamento, mas não é "novo".

A edição traz outras dezenas de títulos divididos em duas cotações: quatro estrelas e meia e quatro estrelas. O Brasil aparece novamente, desta vez com o pianista Antônio Adolfo (Samba Jazz Alley), a Banda Black Rio (O Som das Américas) e o violinista Guilherme Pimenta (Catopé).

A relação também destaca, entre outros, discos de Angelique Kidjo, Abdullah Ibrahim, Ahmad Jamal, Marco Pignataro, Jon Batiste, Matt Brewer, Larry Grenadier Tom Harrell, Camila Meza, Sara Gazarek e Bill Frisell.

O disco da veterana baterista Terri Lyne Carrington com o Social Science traz dois trabalhos distintos em um mesmo disco. O primeiro oferece um jazz encorpado, difícil e meticulosamente pensado, com participações da baixista Esperanza Spalding do pianista Aaron Parks. Em outro momento, a guitarra de Matthew Stevens deixa o som menos pesado e abre uma nova perspectiva para o ouvinte. O álbum também tem faixas cantadas ao estilo soul e hip hop. Terri participou em 2019 do Sesc Jazz e deu uma prévia deste disco.

A caixa com 8 CDs do trompetista Dave Douglas é uma preciosidade. Gravado por quatro noites na casa de jazz nova-iorquina Jazz Standard, em 2015, as apresentações mostram Dave acompanhado pelo quarteto formado por Jon Irabgon (sax), Linda Oh (baixo), Rudy Royston (bateria) e Matt Mitchell (piano). Além da qualidade do quinteto, é interessante ouvir um mesmo tema mais de uma vez, mas cada um deles registrados no calor do momento. Uma belíssima experiência para ouvintes tarimbados ou não.

O trio liderado pelo saxofonista e clarinetista Ted Nash faz uma bela releitura do musical West Side Story, obra-prima composta por Leonard Bernstein e Stephen Sondheim.

Ao lado do guitarrista Steve Cardenas e do baixista Ben Allison, o veterano Nash traz versões muito pessoais de temas como "“America,” “Jet Song,” e “Something’s Coming", tudo isso com a inusitada formação de sax, guitarra e baixo.

O veterano guitarrista Carlos Santana não precisa de apresentações. Aos 72 anos, o músico mexicano continua brilhante e ainda mais interessado em misturar diferentes ritmos e nações. No disco Africa Speaks, Santana coloca o peso de sua guitarra latina ao lado da cantora espanhola Buika, que trás toda a força da música africana em sua voz. Além disso, o disco teve a produção do lendário Rick Rubin, que já trabalhou com Johnny Cash, Black Sabbath, Beastie Boys e Eminem.

Por fim, fica aqui um pequena provocação. Como entender os critérios para apontar que esse ou aquele disco é brilhante ou não? A dúvida acontece ao percebemos que nenhum dos seis discos que receberam cinco estrelas da revista Downbeat foi indicado para o Grammy, que divulgou a lista completa dos indicados em novembro de 2019. Será que foi por falta de espaço, já que o Grammy aponta apenas cinco indicados em cada categoria? O disco de Delia Fischer concorreu na categoria de melhor disco de MPB no Grammy Latino de 2019. Mas o vencedor foi o disco OK OK OK, do cantor Gilberto Gil.











quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Adolfo Mendonça comanda The History of Jazz no Blue Note SP

Os mais de 50 anos de produção musical do jazz norte-americano é amplamente explorado em The History of Jazz, show do pianista Adolfo Mendonça e seu quarteto no dia 8 de janeiro, às 20h, no Blue Note, em São Paulo.

Ele está acompanhado de Maurício Fernandes (sax), Elizeu Custódio (baixo) e Alexandre Faccas(bateria), e com a participação especial de Luiz Oliveira (guitarra).


Cronologicamente, Mendonça apresenta os maiores e mais respeitados clássicos do jazz, cobrindo diversos estilos. No repertório, estão temas como "Donna Lee", (Charlie Parker), "A Night in Tunisia" (Dizzy Gillespie), "So What" (Miles Davis), "Spain" (Chick Corea), "Teen Town" (Weather Report) e "Third Wind" (Pat Metheny).

Adolfo Mendonça está concluindo o programa Master of Music in Jazz Studies, da University of South Florida (EUA). Ele se apresentou recentemente no festival Jazz à Vienne (França), Santos Jazz Festival (Brasil) e realizou masterclasses em alguns dos melhores programas de ensino de música do Brasil, entre eles. escola de música da Unesp, Souza Lima, Santa Marcelina, Conservatório Municipal de Guarulhos e Escola de Música do Estado de São Paulo.

SERVIÇO:

The History of Jazz - Adolfo Mendonça Quarteto
Dia: 8 de janeiro
Horário: 20h
Local: Blue Note São Paulo
Endereço: Av. Paulista, 2073 – Consolação – São Paulo – SP
Mais informações: Blue Note SP


segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

E lá se vai 2019

Impossível fazer uma retrospectiva sobre música, sem falar na morte de João Gilberto (foto), aos 88 anos, em 6 de julho. Considerado o pai da bossa nova, Gilberto levava uma vida reclusa no bairro do Leblon, na cidade do Rio de Janeiro.

Nos últimos anos, infelizmente, as notícias que chegavam sobre o cantor era sobre a disputa judicial entre seus filhos (Bebel e Marcelo) e sua ex-companheira (Maria do Céu).


Mas o legado do compositor de clássicos como "Bim Bom" e interpretações definitivas de temas compostos por Tom Jobim, entre eles, "Chega de Saudade", "Desafinado", "Garota de Ipanema" e "Só Danço Samba", está garantido para as novas gerações. Apesar da eterna briga judicial com a gravadora EMI, que impede o relançamento de seus primeiros discos, o mercado está cheio de bons registros do cantor, que nas últimas décadas não lançou novos álbuns. A importância de João foi ainda mais marcante com sua parceira ao lado do saxofonista Stan Getz, no premiado disco Getz/Gilberto, de 1964, que abriu o mercado norte-americano para a bossa nova.

Outra perda importante foi do compositor e pianista francês Michel Legrand, que morreu em janeiro, aos 86 anos. Conhecido por suas trilhas sonoras, entre elas, Summer of ’42 (1971) e The Thomas Crown Affair (1968), Legrand também tocou com grandes nomes do jazz como Miles Davis, John Coltrane, Bill Evans e Ben Webster. O jazz também ficou de luto com as mortes do vibrafonista Dave Samuels e do pianista Harold Mabern.

No cenário do jazz, o ano trouxe bons discos e o retorno de dois gigantes: os pianistas Abdullah Ibrahuim, com The Balance, e Ahmad Jamal, com Ballades. Destaque também para o volume 2 do disco formado pelo trio Chick Corea, Christian McBride e Brian Blade. Outro bom termômetro sobre os discos lançados em 2019 são os indicados ao Grammy 2020, divulgados em dezembro. Entre eles estão Melissa Aldana, Julian Lage, Branford Marsalis, Brad Mehldau, Joshua Redman e Chick Corea. Entre as vozes, destaques para os novos discos de Harry Connick Jr. Carmen Lundy, Catherine Russell, Tierney Sutton e Sara Gazarek.


Corea, McBride e Blade lançam a segunda parte do disco Trilogy


No mercado estrangeiro, dois brasileiros tiveram seus discos reverenciados pelas principais publicações do gênero: Eliane Elias e Antonio Adolfo. A pianista e cantora Eliane Elias está radicada nos Estados Unidos há três décadas e lançou o disco Love Stories pela gravadora Concord. Já o veterano pianista, arranjador e compositor carioca tem no currículo passagens ao lado de Elis Regina, Wilson Simonal, Leny Andrade, Carlos Lyra e Angela Ro Ro. O disco em questão, Samba Jazz Aley, é uma homenagem ao Beco das Garrafas, local icônico em Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, conhecido como o berço da bossa nova. No disco, o músico gravou temas de Tom Jobim, Johnny Alf, Edu Lobo, Baden Powell e João Donato.

2019 também trouxe registros inéditos de duas lendas do jazz: Miles Davis e John Coltrane. Do trompetista, foi lançado o disco Rubberband, que originalmente deveria ter sido o primeiro álbum do músico lançado pela gravadora Warner, no meio da década de 1980. De Coltrane, o tesouro foi chamado de Blue World, com gravações feitas em 1964, originalmente para a trilha sonora do filme Le Chat dans le Sac, de Gilles Groulx. Mas apenas 10 minutos foram usados no longa e agora, meio século depois, os fãs têm a oportunidade de ouvir Coltrane acompanhado por McCoy Tyner (piano), Jimmy Garrison (baixo) e Elvin Jones (bateria).

O ano marcou também os 50 anos da gravadoras alemã ECM, criada pelo produtor Manfred Eicher e lar de grandes nomes do jazz como Pat Metheny, Keith Jarrett, Egberto Gismonti e John Abercrombie. Quem também chegou a meio século em 2019 foi o festival de jazz de Nova Orleans, um dos mais ecléticos e democráticos festivais dos Estados Unidos. O ano também foi especialmente importante para o veterano saxofonista Wayne Shorter, que levou o Grammy de melhor disco instrumental com Emanon. Shorter também conquistou os prêmios de compositor, grupo e artista do ano na premiação anual do Jazz Journalists Association.

Para 2020, já estão confirmados os shows de Pat Metheny, Nnnenna Freelon, Lizz Wright e Take 6, todos beneficentes em prol da TUCCA (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer). Os shows acontecerão na Sala São Paulo, na capital paulista.

Isso sem falar nas novas edições do festivais SESC Jazz, Rio Montreux Jazz, MIMO e Amazonas Jazz. Não podemos esquecer da programação das casas Jazz Nos Fundos, Blue Note e Bourbon Street Club, todas na capital paulista.

No cenário internacional, 2020 será marcado pelo centenário do pianista Dave Brubeck e do saxofonista Charlie Parker. A capa da edição de janeiro de 2020 da revista Downbeat (foto) traz, além de Parker e Brubeck, o baterista Art Blakey, que completou 100 anos em 11 de outubro de 2019.


A importância desses músicos será ovacionada por todo ano por meio de shows, discos e muito mais. O primeiro deles foi lançado ainda em 2019. O disco Bird at 100, da gravadora Smoke Sessions, traz os saxofonistas Vicente Herring, Bobby Watson e Gary Bartz tocando temas da carreira de Charlie Parker. Eles são acompanhados por David Kikoski (piano), Yasushi Nakamura (baixo) e Carl Allen (bateria).

O ano de 2020 também vai celebrar o centenário do trompetista Clark Terry, da pianista Marion McPartland, do percussionista Tito Puente, do multi-instrumentista Yusef Lateef, do saxofonista Paul Gonsalves, do baterista Shelly Manne, do acordeonista Art Van Damme e da cantora Peggy Lee.