No topo da lista, com a cotação de cinco estrelas, apenas seis discos conquistaram plenamente os críticos da revista.
São eles: Terri Lyne Carrington and Social Science (Waiting Game), Dave Douglas (Brazen Heart Live at Jazz Standard), Delia Fischer (Tempo Mínimo), Eliane Elias (Love Stories), Ted Nash Trio (Somewhere Else: West Side Story Songs) e Santana (Africa Speaks).
Pela primeira vez, o Brasil tem dois discos neste seleto time e, além disso, duas cantoras: Eliane Elias e Delia Fischer. Eliane é uma veterana em premiações e sempre muito bem cotada no mercado internacional. Seu novo disco traz belos arranjos de orquestra e temas românticos como "Bonita", de Tom Jobim, "Angel Eyes", "Come Fly with Me", do repertório de Frank Sinatra, e "Silence" e "The View", ambas compostas por Eliane.
A surpresa foi o disco da pianista e arranjadora carioca Delia Fischer, que é mais conhecida por seu trabalho como compositora e arranjadora. Neste disco (Tempo Mínimo), Delia também canta e oferece ao ouvinte belos arranjos e sua voz delicada, mas especialmente virtuosa para os temas gravados aqui. Destaque para "Garra", composição de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, com participação de Marcos nos vocais, e "Canção de Autoajuda", parceria de Delia com o compositor Carlos Careqa.
A revista também deu cinco estrelas para o disco The Complete Cuban Jam Sessions, uma coletânea de cinco discos, gravados entre 1956 e 1964, com um grupo de músicos cubanos formado por Julio Guitiérrez, Niño Rivera, José Fajardo e israel "Cachao" López. Esse disco foi incluído na categoria histórico, ou seja, é recém-lançamento, mas não é "novo".
A edição traz outras dezenas de títulos divididos em duas cotações: quatro estrelas e meia e quatro estrelas. O Brasil aparece novamente, desta vez com o pianista Antônio Adolfo (Samba Jazz Alley), a Banda Black Rio (O Som das Américas) e o violinista Guilherme Pimenta (Catopé).
A relação também destaca, entre outros, discos de Angelique Kidjo, Abdullah Ibrahim, Ahmad Jamal, Marco Pignataro, Jon Batiste, Matt Brewer, Larry Grenadier Tom Harrell, Camila Meza, Sara Gazarek e Bill Frisell.
O disco da veterana baterista Terri Lyne Carrington com o Social Science traz dois trabalhos distintos em um mesmo disco. O primeiro oferece um jazz encorpado, difícil e meticulosamente pensado, com participações da baixista Esperanza Spalding do pianista Aaron Parks. Em outro momento, a guitarra de Matthew Stevens deixa o som menos pesado e abre uma nova perspectiva para o ouvinte. O álbum também tem faixas cantadas ao estilo soul e hip hop. Terri participou em 2019 do Sesc Jazz e deu uma prévia deste disco.
A caixa com 8 CDs do trompetista Dave Douglas é uma preciosidade. Gravado por quatro noites na casa de jazz nova-iorquina Jazz Standard, em 2015, as apresentações mostram Dave acompanhado pelo quarteto formado por Jon Irabgon (sax), Linda Oh (baixo), Rudy Royston (bateria) e Matt Mitchell (piano). Além da qualidade do quinteto, é interessante ouvir um mesmo tema mais de uma vez, mas cada um deles registrados no calor do momento. Uma belíssima experiência para ouvintes tarimbados ou não.
O trio liderado pelo saxofonista e clarinetista Ted Nash faz uma bela releitura do musical West Side Story, obra-prima composta por Leonard Bernstein e Stephen Sondheim.
Ao lado do guitarrista Steve Cardenas e do baixista Ben Allison, o veterano Nash traz versões muito pessoais de temas como "“America,” “Jet Song,” e “Something’s Coming", tudo isso com a inusitada formação de sax, guitarra e baixo.
O veterano guitarrista Carlos Santana não precisa de apresentações. Aos 72 anos, o músico mexicano continua brilhante e ainda mais interessado em misturar diferentes ritmos e nações. No disco Africa Speaks, Santana coloca o peso de sua guitarra latina ao lado da cantora espanhola Buika, que trás toda a força da música africana em sua voz. Além disso, o disco teve a produção do lendário Rick Rubin, que já trabalhou com Johnny Cash, Black Sabbath, Beastie Boys e Eminem.
Por fim, fica aqui um pequena provocação. Como entender os critérios para apontar que esse ou aquele disco é brilhante ou não? A dúvida acontece ao percebemos que nenhum dos seis discos que receberam cinco estrelas da revista Downbeat foi indicado para o Grammy, que divulgou a lista completa dos indicados em novembro de 2019. Será que foi por falta de espaço, já que o Grammy aponta apenas cinco indicados em cada categoria? O disco de Delia Fischer concorreu na categoria de melhor disco de MPB no Grammy Latino de 2019. Mas o vencedor foi o disco OK OK OK, do cantor Gilberto Gil.