segunda-feira, 1 de julho de 2019

2019: Críticos da DownBeat escolhem os melhores do ano

A mais esperada premiação do mundo do jazz tem finalmente seus vencedores divulgados. Como acontece todos os anos, a octogenária revista norte-americana Downbeat, em sua edição de agosto, publica a lista com os premiados no Annual DownBeat International Critics Poll, ou seja, a votação feita pelos críticos. A votação feita pelos leitores é publicada sempre na edição de dezembro.

Em 2019, em sua 67° edição, o prêmio mais cobiçado, o de artista do ano, ficou com a cantora Cécile McLorin Salvant (na capa da edição de agosto ao lado), que também ficou com o prêmio de melhor cantora de jazz.

Em 2018, Cécile também venceu em duas categorias: melhor cantora e melhor álbum (Dreams And Daggers). A cantora também faturou este ano o Grammy de melhor disco de jazz pelo álbum The Window.

Outro destaque é a gravadora alemã, ECM, que em 2019 completou 50 anos de vida. O idealizador do selo, Manfred Eicher, levou o prêmio de produtor do ano, pelo segundo ano consecutivo, e a ECM como gravadora do ano.

O disco do ano ficou para Wayne Shorter, com o álbum Emanon. Neste ano, o disco também faturou o Grammy na mesma categoria.

Na categoria melhor disco histórico, o disco perdido de John Coltrane chamado Both Directions At Once: The Lost Album foi o grande vencedor.

Anualmente, também são premiados nomes que fizeram a história do jazz. Os vencedores deste ano são o baixista Scott LaFaro, que tocou no trio do pianista Bill Evans na década de 1960, a cantora Nina Simone e o cantor Joe Williams, que marcou época como vocalista da orquestra de Count Basie.

A premiação também destaca as revelações no universo do jazz, que é chamado de Risng Star. Assim como nos prêmios principais, há vencedores em diversas categorias.

Entre os destaques deste ano está o pianista Sullivan Fortner, que venceu como artista e como pianista. Fortener é mais conhecido por sua parceria com a cantora Cécile McLorin Salvant no disco The Window.

No fim da matéria estão vídeos com temas dos discos vencedores de John Coltrane, Wayne Shorter e Van Morrison com Joey DeFrancesco, além de uma canção do último disco de cantora Cécile McLorin Salvant.

VEJA ABAIXO OS VENCEDORES

Hall of Fame

Scott LaFaro
Nina Simone
Joe Williams

Artista
Cécile McLorin Salvant

Álbum
Wayne Shorter, Emanon (Blue Note)

Álbum histórico
John Coltrane, Both Directions At Once: The Lost Album (Impulse!)

Grupo
Fred Hersch Trio

Orquestra
Maria Schneider Orchestra

Trompete
Ambrose Akinmusire

Trombone
Steve Turre

Sax soprano
Jane Ira Bloom

Sax alto
Miguel Zenón

Sax tenor
Joe Lovano

Sax baritono
Gary Smulyan

Clarinete
Anat Cohen

Flauta
Nicole Mitchell

Piano
Kenny Barron

Teclado
Robert Glasper

Orgão
Joey DeFrancesco

Guitarra
Mary Halvorson

Baixo
Christian McBride

Baixo Elétrico
Steve Swallow

Violino
Regina Carter

Bateria
Brian Blade

Percussão
Hamid Drake

Vibrafone
Stefon Harris

Outros instrumentos
Tomeka Reid (cello)

Cantora
Cécile McLorin Salvant

Cantor
Kurt Elling

Compositor
Maria Schneider

Arranjador
Maria Schneider

Gravadora
ECM

Produtor
Manfred Eicher

Blues
Buddy Guy

Álbum de blues
Buddy Guy, The Blues Is Alive And Well (RCA)

Artista que não toca jazz
Rhiannon Giddens

Álbum além do jazz
Van Morrison & Joey DeFrancesco, You’re Driving Me Crazy (Legacy)







quarta-feira, 26 de junho de 2019

NEA Jazz Masters

Anualmente, a entidade National Endowment for the Arts (NEA) premia pessoas que de alguma maneira contribuíram para o desenvolvimento do jazz.

Desde 1982, cerca de 100 personalidades, entre músicos, compositores, arranjadores, jornalistas, radialistas e escritores, receberam a honraria batizada de NEA Jazz Masters.

Nomes como Count Basie, Sonny Rollins, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Sarah Vaughan, Chick Corea, Ella Fitzgerald, Pat Metheny e Dan Morgenstern já foram premiados pela NEA.

Em 2019, os vencedores foram o cantor Bob Dorough, a arranjadora Maria Schneider, o pianista Abdullah Ibrahim e crítico Stanley Crouch. Saiba mais sobre a premiação na página oficial do NEA Jazz Masters.

No início de maio, foram divulgados os nomes dos novos membros deste seleto grupo em 2020. São eles: o cantor Bobby McFerrin, o saxofonista Roscoe Mitchell, o baixista Reggie Workman e a radialista Dorthaan Kirk. A festa de premiação acontecerá no dia 2 de abril, em São Francisco (EUA).

Com quase quatro décadas de carreira, McFerrin é um dos mais talentos vocalista de toda a história. Ele apareceu no meio da década de 1980 e estourou com a música "Don't Worry, Be Happy". Desde então, construiu uma carreira impecável dentro do jazz e da música erudita. O saxofonista Roscoe Mitchell, de 78 anos, é um dos fundadores do emblemático grupo Art Ensemble of Chicago e um dos pilares do movimento avant-garde.

Outro veterano é o baixista Reggie Workman, de 82 anos. No currículo, passagens pelos grupos do baterista Roy Haynes e do pianista Red Garland, além de ter tocado no quarteto do saxofonista John Coltrane. A radialista Dorthaan Kirk, única premiada que não é músico, é conhecida como "Fisrt Lady of Jazz". Ela trabalhou por décadas na rádio WBGO, de Nova Jersey (especializada em jazz), e, até hoje, está envolvida em projetos relacionados ao jazz. Dorthaan é viúva do saxofonista Rahsaan Roland Kirk,  


OS PREMIADOS EM 2020



VEJA ABAIXO TODOS OS VENCEDORES DO NEA JAZZ MASTERS


1982: Roy Eldridge, Dizzy Gillespie e Sun Ra
1983: Count Basie, Kenny Clarke e Sonny Rollins

1984: Ornette Coleman, Miles Davis e Max Roach
1985: Gil Evans, Ella Fitzgerald e Jonathan Jones

1986: Benny Carter, Dexter Gordon e Teddy Wilson
1987: Cleo Patra Brown, Melba Liston e Jay McShann

1988: Art Blakey, Lionel Hampton e Billy Taylor
1989: Barry Harris, Hank Jones e Sarah Vaughan

1990: George Russell, Cecil Taylor e Gerald Wilson<
1991: Danny Barker, Buck Clayton, Andy Kirk e Clark Terry

1994: Louie Bellson, Ahmad Jamal e Carmen McRae
1995: Ray Brown, Roy Haynes e Horace Silver

1996: Tommy Flanagan, Benny Golson e J.J. Johnson
1997: Billy Higgins, Milt Jackson e Anita O'Day

1998: Ron Carter, James Moody e Wayne Shorter
1999: Dave Brubeck, Art Farmer e Joe Henderson

2000: David Baker, Donald Byrd e Marian McPartland
2001: John Lewis, Jackie McLean e Randy Weston

2002: Frank Foster, Percy Heath e McCoy Tyner
2003: Jimmy Heath, Elvin Jones e Abbey Lincoln

2004: Jim Hall, Chico Hamilton, Herbie Hancock, Luther Henderson, Nat Hentoff e Nancy Wilson
2005: Kenny Burrell, Paquito D'Rivera, Slide Hampton, Shirley Horn, Artie Shaw, Jimmy Smith e George Wein

2006: Ray Barretto, Tony Bennett, Bob Brookmeyer, Chick Corea, Buddy DeFranco, Freddie Hubbard e John Levy
2007: Toshiko Akiyoshi, Curtis Fuller, Ramsey Lewis, Dan Morgenstern, Jimmy Scott, Frank Wess e Phil Woods

2008: Candido Camero, Andrew Hill, Quincy Jones, Tom McIntosh, Gunther Schuller, Joe Wilder
2009: George Benson, Jimmy Cobb, Lee Konitz, Toots Thielemans, Rudy Van Gelder e Snooky Young

2010: Muhal Richard Abrams, George Avakian, Kenny Barron, Bill Holman, Bobby Hutcherson, Yusef Lateef, Annie Ross e Cedar Walton
2011: Hubert Laws, David Liebman, Johnny Mandel, Orrin Keepnews e Marsalis Family (Ellis Marsalis, Jr., Branford Marsalis, Wynton Marsalis, Delfeayo Marsalis e Jason Marsalis

2012: Jack DeJohnette, Von Freeman, Charlie Haden, Sheila Jordan e Jimmy Owens
2013: Mose Allison, Lou Donaldson, Lorraine Gordon e Eddie Palmieri

2014: Jamey Aebersold, Anthony Braxton, Richard Davis e Keith Jarrett
2015: Carla Bley, George Coleman, Charles Lloyd e Joe Segal

2016: Gary Burton, Wendy Oxenhorn, Pharoah Sanders e Archie Shepp
2017: Dee Dee Bridgewater, Ira Gitler, Dave Holland, Dick Hyman e Lonnie Smith

2018: Pat Metheny, Dianne Reeves, Joanne Brackeen e Todd Barkan
2019: Bob Dorough, Abdullah Ibrahim, Maria Schneider e Stanley Crouch

2020: Bobby McFerrin, Roscoe Mitchell, Reggie Workman e Dorthaan Kirk
2021: Terri Lyne Carrington, Albert “Tootie” Heath, Henry Threadgill e Phil Schaap

2022: Stanley Clarke, Billy Hart, Cassandra Wilson e Donald Harrison, Jr
2023: Regina Carter, Kenny Garrett, Louis Hayes e Sue Mingus

2024: Gary Bartz, Terence Blanchard, Amina Claudine Myers e Willard Jenkins
2025:

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Chris Potter volta elétrico e irrequieto

Quem acompanha a carreira do saxofonista Chris Potter sabe que seu som não é exatamente simples de se ouvir. Mas é claro que isso não é um problema.

Pelo contrário, o som encorpado de Potter é fruto da sua inquietação musical. Isso fica cristalino ao olharmos sua discografia solo ou sua participação em quase 100 discos de outros músicos.

Hoje, aos 48 anos, Potter é um veterano dentro do jazz, com três décadas de história tocando ao lado de nomes do quilate de Dave Douglas,, Herbie Hancock, Jim Hall, John Scofield, Pat Metheny, Paul Motion e Ray Brown. Sua discografia está espalhada pelos selos Cris Cross, Concord, Verve e ECM.

Agora, mais uma vez, sua conhecida inquietação o leva para um novo desafio e uma nova gravadora, a britânica Edition Records, após vários anos na gravadora alemã ECM. A nova empreitada de Potter chama-se Circuits, com o apoio do jovem tecladista James Francies e do velho parceiro Eric Harland, na bateria. O disco conta ainda com a participação do baixista africano Linley Marthe.

Desta vez, Potter preferiu uma sonoridade mais "moderna" ao escolher o piano elétrico e o baixo elétrico como pano de fundo para os seus solos sempre criativos. Isso fica muito claro logo de saída com "Hold It", na qual a sonoridade do sax está robusta e em perfeita sintonia com o teclado de Francies. Em "The Nerve", o baixo de Marthe conversa com o sax mais livre de Potter.


Eric Harland, Chris Potter e James Francies protagonizam o disco

O clima muda completamente em "Koutomé", uma composição do músico africano Amenoudji Joseph Vicky. Aqui, a bateria de Harland dá o tom para que Potter e Marthe, nascido nas Ilhas Maurício, na África Oriental, consigam traduzir suas ideias em seus instrumentos.

A faixa título é sem dúvida o tema que mais deixa evidente a unidade do quarteto. Todos os instrumentos estão conversando entre si, de forma coerente e com criatividade. O formato de trio volta com força em "Green Pastures" e "Queens of Brooklyn", esta última uma breve balada com Potter lançando mão do sax soprano e da flauta.

Os temas "Exclamation" e "Pressed For Time" terão efeito direto nos ouvidos dos fãs do grupo Weather Reporter. A unidade e a energia do grupo nos remete diretamente ao trio Jaco Pastorius, Wayne Shorter e Joe Zawinul. Ambas são uma viagem musical vertiginosa e naturalmente contagiante. A primeira com a formação do quarteto e a última em trio, composta pelo irrequieto Francies.

O final do disco não poderia ter sido mais pujante. Potter dispara toda a sua munição de frases musicais de uma maneira extremamente pessoal e articulada. As frases que muitas vezes parecem desconectadas para o ouvinte menos iniciado acabam se unindo e criando uma música vigorosa e desafiadora para quem ouve. Ponto para Potter, que não poupa esforços para encontrar novos caminhos para mente musical sem limites.