quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Joshua Redman viaja pelas paisagens da América


Depois de uma temporada tocando ao lado dos velhos camaradas (Brad Mehldau, Christian McBride e Brian Blade) e de uma breve turnê pela América Latina, o saxofonista Joshua Redman lançou em setembro seu mais novo disco: Where Are We, o primeiro lançado pela tradicional gravadora de jazz Blue Note, e o primeiro com músicas cantadas.

Após três décadas de carreira, Redman tem ao seu lado uma cantora, no caso, Gabrielle Cavassa, que não conseguiu ofuscar o sempre preciso sax do músico. A escolha do repertório é toda voltada para temas que tem alguma cidade dos Estados Unidos no título, entre elas, Chicago, Philadelphia, Phoenix, Nova Orleans e Alabama.

Redman escalou Joe Sanders (baixo), Aaron Parks (piano) e Brian Blade (bateria) para este itinerário pelas paisagens norte-americana. As músicas cantadas dominam o álbum, mas as composições instrumentais também têm espaço por aqui, entre elas, “Manhattan”, com a participação do guitarrista Peter Bernstein, “Baltimore” e “Alabama”, composta por saxofonista John Coltrane, em 1963, considerado uma das obras-primas do saxofonista.

A voz de Cavassa ecoa de diferentes maneiras durante as canções. Na bela “By The Time I Get To Phoenix”, gravada por Johnny Rivers, Cavassa aparece na quantidade suficiente (2 minutos) e certeira para a se alinhar ao envolvente background proporcionado pelo quarteto.
Redman ao lado da cantora Gabrielle Cavassa e do seu trio (Parks, Blade e Sanders)

O jeito despretensioso de Cavassa casa com perfeição com a balada “Do You Know What It Means To Miss New Orleans”, que conta ainda com o solo de trompete de Nicolas Payton. O disco também traz as versões de “Streets of Philadelphia”, de Bruce Springsteen, com participação do guitarrista Kurt Rosenwinkel, e “Chicago Blues”, de Count Basie, com o suave toque do vibrafonista Joel Ross, e “After Minneapolis”, composição do próprio saxofonista, que escreveu o tema pouco depois da morte de George Floyd, em 2020, que foi estrangulado por um policial.

Para fechar, a badala acústica “Where Are You” deixa aquele gostinho de quero mais para o ouvinte démodé que ainda tem o saudável hábito de ouvir um álbum do início ao fim. Garanto que não será sacrifício algum separar exatos 60 minutos para ouvir Redman e companhia.



segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Violões de Lubambo e Pinheiro, finalmente, se encontram


A tradição do violão brasileiro vem lá dos tempos do Garoto, Luiz Bonfá, Laurindo Almeida, Baden Powell e Paulinho Nogueira, nas décadas de 1950 e 1960, e continuou no decorrer das décadas seguintes (Sebastião Tapajós, Turíbio Santos, Paulo Bellinati, Egberto Gismonti, Raphael Rabello, Yamandu Costa, Duo Assad e Ulisses Rocha), e manteve o ritmo após a mudança de século (Diego Figueiredo e Marcel Powell).

E aqui estamos nós, mais uma vez, festejando um daqueles encontros musicais necessários, de dois violonistas 100% brasileiros, um carioca (Romero Lubambo) e outro paulistano (Chico Pinheiro).

A admiração mútua foi o estopim para o disco Two Brothers, lançado pela gravadora norte-americana Sunnyside. O duo de violões, sem acompanhamentos, deixou o álbum ainda mais virtuoso, mas sem ser chato ou rebuscado.

Outro ingrediente é o repertório eclético escolhido por eles, que vai de Henry Mancini (“Sally’s Tomato”) a Billie Eilish (“My Future”). Mas um disco com músicos brasileiros, é claro, não deixaria de fora nomes tupiniquins de peso, entre eles, Tom Jobim (“Red Blouse” e “Wave”), Djavan ("Aquele Um") e Chico Buarque (Morro Dois Irmão e “Samba e Amor”).
Lubambo e Pinheiro mesclam repertório eclético e moderno


O dedilhado elegante aparece tanto no violão como na guitarra, e pode ser apreciado com mais detalhes se escutado em fones de ouvido, com o violão de Lubambo do lado esquerdo e a guitarra/violão de Pinheiro à direita.

Além dos compositores citados, o álbum também traz a parceria de Lennon e McCartney (“For No One”), a preciosa composição do pianista Bill Evans (“Waltz for Debby”), o mestre “das trilhas sonoras”, Michel Legrand (“Windmills of Your Mind), do filme Crown, o Magnífico (1968), a negritude de Stevie Wonder ("Send One Your Love”) e o não menos talentoso cantor Sting (“Until”), da trilha sonora do filme Kate & Leopold (2001).

A notícia ruim deixamos para o fim do texto, é claro. Os dois músicos têm carreiras internacionais sempre em alta e muito concorridas, ou seja, estão normalmente ocupados para dar uma escapada para esta parte do globo.

Mas não pense que é por falta de vontade, pelo contrário, Lubambo e Pinheiro sabem muito bem de onde vieram e não renegam suas origens, por ouro lado, também sabem que a música instrumental brasileira continuará a ser pouco reconhecida no país onde foram paridos.





sexta-feira, 14 de julho de 2023

NEA Jazz Masters ganha quatro novos membros em 2024


A National Endowment for the Arts (NEA) divulgou os nomes dos escolhidos para a edição de 2024 do NEA Jazz Masters. São eles: Terence Blanchard (trompetista), Willard Jenkins (escritor e produtor), Amina Claudine Myers (cantora e pianista) e Gary Bartz (saxofonista) A cerimônia acontecerá em 13 de abril de 2024, no John F. Kennedy Center for the Performing Arts, na capital Washington (EUA).

Em 2023, os vencedores foram a violinista Regina Carter, o saxofonista Kenny Garrett, o baterista Louis Hayes, e a ativista Sue Mingus. Na página oficial da entidade, você encontra mais informações sobre os premiados de 2024.

Desde 1982, cerca de 170 personalidades, entre músicos, compositores, arranjadores, jornalistas, radialistas e escritores, receberam a honraria batizada de NEA Jazz Masters. Nomes como Count Basie, Sonny Rollins, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Sarah Vaughan, Chick Corea, Ella Fitzgerald, Pat Metheny e Dan Morgenstern já foram premiados pela NEA.

Dedicação e talento são reconhecidos com o prestigioso prêmio do NEA


O mais veterano a entrar para esse seleto grupo em 2024 é o saxofonista Gary Bartz, que em 2024 completará 84 anos. O músico tem no currículo centenas de gravações, incluíndo discos solos e participações em álbuns de outros músicos. No início de carreira, na década de 1960, o saxofonista norte-americano tocou na banda Art Blakey's Jazz Messengers, comandada pelas baquetas de Blakey. Ele também tocou com o pianista McCoy Tyner, o baixista Charles Mingus e com o trompetista Miles Davis, na década de 1970.

Os dois "novatos" da turma são o trompetista Terence Blanchard, de 61 anos, e o escritor Willard Jenkins, de 74 anos. Nas últimas três décadas, Blanchard tem usado sua criatividade musical em diferentes projetos. No início, fez parceria com o saxofonista Donald Harrison, com quem tocou na banda Art Blakey's Jazz Messengers. Logo depois, começou uma longa parceria como o cineasta Spike Lee, compondo trilhas sonoras para filmes do diretor norte-americano, entre eles, Malcolm X, Do The Right Thing, Jungle Fever, BlacKkKlansman e Da 5 Bloods.

Já Jenkins tem trabalho em diferentes áreas, com destaque para direção artística de shows e festivais, entre eles, o Tri-C JazzFest, BeanTown Jazz Festival, Tribeca Performing Arts Center e DC Jazz Festival. Recentemente, publicou o livro Ain't But a Few of Us: Black Music Writers Tell Their Story.

A compositora, pianista e educadora Amina Claudine Myers, de 81 anos, foi professora de música no ensino fundamental e tem forte influência da música gospel em seu repertório. Após mudar para a cidade de Nova York, na década de 1970, compôs para várias peças de teatro e trabalhou como assistente musical em produções da Broadway.







VEJA ABAIXO TODOS OS VENCEDORES DO NEA JAZZ MASTERS


1982: Roy Eldridge, Dizzy Gillespie e Sun Ra
1983: Count Basie, Kenny Clarke e Sonny Rollins

1984: Ornette Coleman, Miles Davis e Max Roach
1985: Gil Evans, Ella Fitzgerald e Jonathan Jones

1986: Benny Carter, Dexter Gordon e Teddy Wilson
1987: Cleo Patra Brown, Melba Liston e Jay McShann

1988: Art Blakey, Lionel Hampton e Billy Taylor
1989: Barry Harris, Hank Jones e Sarah Vaughan

1990: George Russell, Cecil Taylor e Gerald Wilson<
1991: Danny Barker, Buck Clayton, Andy Kirk e Clark Terry

1994: Louie Bellson, Ahmad Jamal e Carmen McRae
1995: Ray Brown, Roy Haynes e Horace Silver

1996: Tommy Flanagan, Benny Golson e J.J. Johnson
1997: Billy Higgins, Milt Jackson e Anita O'Day

1998: Ron Carter, James Moody e Wayne Shorter
1999: Dave Brubeck, Art Farmer e Joe Henderson

2000: David Baker, Donald Byrd e Marian McPartland
2001: John Lewis, Jackie McLean e Randy Weston

2002: Frank Foster, Percy Heath e McCoy Tyner
2003: Jimmy Heath, Elvin Jones e Abbey Lincoln

2004: Jim Hall, Chico Hamilton, Herbie Hancock, Luther Henderson, Nat Hentoff e Nancy Wilson
2005: Kenny Burrell, Paquito D'Rivera, Slide Hampton, Shirley Horn, Artie Shaw, Jimmy Smith e George Wein

2006: Ray Barretto, Tony Bennett, Bob Brookmeyer, Chick Corea, Buddy DeFranco, Freddie Hubbard e John Levy
2007: Toshiko Akiyoshi, Curtis Fuller, Ramsey Lewis, Dan Morgenstern, Jimmy Scott, Frank Wess e Phil Woods

2008: Candido Camero, Andrew Hill, Quincy Jones, Tom McIntosh, Gunther Schuller, Joe Wilder
2009: George Benson, Jimmy Cobb, Lee Konitz, Toots Thielemans, Rudy Van Gelder e Snooky Young

2010: Muhal Richard Abrams, George Avakian, Kenny Barron, Bill Holman, Bobby Hutcherson, Yusef Lateef, Annie Ross e Cedar Walton
2011: Hubert Laws, David Liebman, Johnny Mandel, Orrin Keepnews e Marsalis Family (Ellis Marsalis, Jr., Branford Marsalis, Wynton Marsalis, Delfeayo Marsalis e Jason Marsalis

2012: Jack DeJohnette, Von Freeman, Charlie Haden, Sheila Jordan e Jimmy Owens
2013: Mose Allison, Lou Donaldson, Lorraine Gordon e Eddie Palmieri

2014: Jamey Aebersold, Anthony Braxton, Richard Davis e Keith Jarrett
2015: Carla Bley, George Coleman, Charles Lloyd e Joe Segal

2016: Gary Burton, Wendy Oxenhorn, Pharoah Sanders e Archie Shepp
2017: Dee Dee Bridgewater, Ira Gitler, Dave Holland, Dick Hyman e Lonnie Smith

2018: Pat Metheny, Dianne Reeves, Joanne Brackeen e Todd Barkan
2019: Bob Dorough, Abdullah Ibrahim, Maria Schneider e Stanley Crouch

2020: Bobby McFerrin, Roscoe Mitchell, Reggie Workman e Dorthaan Kirk
2021: Terri Lyne Carrington, Albert “Tootie” Heath, Henry Threadgill e Phil Schaap

2022: Stanley Clarke, Billy Hart, Cassandra Wilson e Donald Harrison, Jr
2023: Regina Carter, Kenny Garrett, Louis Hayes e Sue Mingus

2024: Gary Bartz, Terence Blanchard, Amina Claudine Myers e Willard Jenkins
2025: