segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Violões de Lubambo e Pinheiro, finalmente, se encontram


A tradição do violão brasileiro vem lá dos tempos do Garoto, Luiz Bonfá, Laurindo Almeida, Baden Powell e Paulinho Nogueira, nas décadas de 1950 e 1960, e continuou no decorrer das décadas seguintes (Sebastião Tapajós, Turíbio Santos, Paulo Bellinati, Egberto Gismonti, Raphael Rabello, Yamandu Costa, Duo Assad e Ulisses Rocha), e manteve o ritmo após a mudança de século (Diego Figueiredo e Marcel Powell).

E aqui estamos nós, mais uma vez, festejando um daqueles encontros musicais necessários, de dois violonistas 100% brasileiros, um carioca (Romero Lubambo) e outro paulistano (Chico Pinheiro).

A admiração mútua foi o estopim para o disco Two Brothers, lançado pela gravadora norte-americana Sunnyside. O duo de violões, sem acompanhamentos, deixou o álbum ainda mais virtuoso, mas sem ser chato ou rebuscado.

Outro ingrediente é o repertório eclético escolhido por eles, que vai de Henry Mancini (“Sally’s Tomato”) a Billie Eilish (“My Future”). Mas um disco com músicos brasileiros, é claro, não deixaria de fora nomes tupiniquins de peso, entre eles, Tom Jobim (“Red Blouse” e “Wave”), Djavan ("Aquele Um") e Chico Buarque (Morro Dois Irmão e “Samba e Amor”).
Lubambo e Pinheiro mesclam repertório eclético e moderno


O dedilhado elegante aparece tanto no violão como na guitarra, e pode ser apreciado com mais detalhes se escutado em fones de ouvido, com o violão de Lubambo do lado esquerdo e a guitarra/violão de Pinheiro à direita.

Além dos compositores citados, o álbum também traz a parceria de Lennon e McCartney (“For No One”), a preciosa composição do pianista Bill Evans (“Waltz for Debby”), o mestre “das trilhas sonoras”, Michel Legrand (“Windmills of Your Mind), do filme Crown, o Magnífico (1968), a negritude de Stevie Wonder ("Send One Your Love”) e o não menos talentoso cantor Sting (“Until”), da trilha sonora do filme Kate & Leopold (2001).

A notícia ruim deixamos para o fim do texto, é claro. Os dois músicos têm carreiras internacionais sempre em alta e muito concorridas, ou seja, estão normalmente ocupados para dar uma escapada para esta parte do globo.

Mas não pense que é por falta de vontade, pelo contrário, Lubambo e Pinheiro sabem muito bem de onde vieram e não renegam suas origens, por ouro lado, também sabem que a música instrumental brasileira continuará a ser pouco reconhecida no país onde foram paridos.





sexta-feira, 14 de julho de 2023

NEA Jazz Masters ganha quatro novos membros em 2024


A National Endowment for the Arts (NEA) divulgou os nomes dos escolhidos para a edição de 2024 do NEA Jazz Masters. São eles: Terence Blanchard (trompetista), Willard Jenkins (escritor e produtor), Amina Claudine Myers (cantora e pianista) e Gary Bartz (saxofonista) A cerimônia acontecerá em 13 de abril de 2024, no John F. Kennedy Center for the Performing Arts, na capital Washington (EUA).

Em 2023, os vencedores foram a violinista Regina Carter, o saxofonista Kenny Garrett, o baterista Louis Hayes, e a ativista Sue Mingus. Na página oficial da entidade, você encontra mais informações sobre os premiados de 2024.

Desde 1982, cerca de 170 personalidades, entre músicos, compositores, arranjadores, jornalistas, radialistas e escritores, receberam a honraria batizada de NEA Jazz Masters. Nomes como Count Basie, Sonny Rollins, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Sarah Vaughan, Chick Corea, Ella Fitzgerald, Pat Metheny e Dan Morgenstern já foram premiados pela NEA.

Dedicação e talento são reconhecidos com o prestigioso prêmio do NEA


O mais veterano a entrar para esse seleto grupo em 2024 é o saxofonista Gary Bartz, que em 2024 completará 84 anos. O músico tem no currículo centenas de gravações, incluíndo discos solos e participações em álbuns de outros músicos. No início de carreira, na década de 1960, o saxofonista norte-americano tocou na banda Art Blakey's Jazz Messengers, comandada pelas baquetas de Blakey. Ele também tocou com o pianista McCoy Tyner, o baixista Charles Mingus e com o trompetista Miles Davis, na década de 1970.

Os dois "novatos" da turma são o trompetista Terence Blanchard, de 61 anos, e o escritor Willard Jenkins, de 74 anos. Nas últimas três décadas, Blanchard tem usado sua criatividade musical em diferentes projetos. No início, fez parceria com o saxofonista Donald Harrison, com quem tocou na banda Art Blakey's Jazz Messengers. Logo depois, começou uma longa parceria como o cineasta Spike Lee, compondo trilhas sonoras para filmes do diretor norte-americano, entre eles, Malcolm X, Do The Right Thing, Jungle Fever, BlacKkKlansman e Da 5 Bloods.

Já Jenkins tem trabalho em diferentes áreas, com destaque para direção artística de shows e festivais, entre eles, o Tri-C JazzFest, BeanTown Jazz Festival, Tribeca Performing Arts Center e DC Jazz Festival. Recentemente, publicou o livro Ain't But a Few of Us: Black Music Writers Tell Their Story.

A compositora, pianista e educadora Amina Claudine Myers, de 81 anos, foi professora de música no ensino fundamental e tem forte influência da música gospel em seu repertório. Após mudar para a cidade de Nova York, na década de 1970, compôs para várias peças de teatro e trabalhou como assistente musical em produções da Broadway.







VEJA ABAIXO TODOS OS VENCEDORES DO NEA JAZZ MASTERS


1982: Roy Eldridge, Dizzy Gillespie e Sun Ra
1983: Count Basie, Kenny Clarke e Sonny Rollins

1984: Ornette Coleman, Miles Davis e Max Roach
1985: Gil Evans, Ella Fitzgerald e Jonathan Jones

1986: Benny Carter, Dexter Gordon e Teddy Wilson
1987: Cleo Patra Brown, Melba Liston e Jay McShann

1988: Art Blakey, Lionel Hampton e Billy Taylor
1989: Barry Harris, Hank Jones e Sarah Vaughan

1990: George Russell, Cecil Taylor e Gerald Wilson<
1991: Danny Barker, Buck Clayton, Andy Kirk e Clark Terry

1994: Louie Bellson, Ahmad Jamal e Carmen McRae
1995: Ray Brown, Roy Haynes e Horace Silver

1996: Tommy Flanagan, Benny Golson e J.J. Johnson
1997: Billy Higgins, Milt Jackson e Anita O'Day

1998: Ron Carter, James Moody e Wayne Shorter
1999: Dave Brubeck, Art Farmer e Joe Henderson

2000: David Baker, Donald Byrd e Marian McPartland
2001: John Lewis, Jackie McLean e Randy Weston

2002: Frank Foster, Percy Heath e McCoy Tyner
2003: Jimmy Heath, Elvin Jones e Abbey Lincoln

2004: Jim Hall, Chico Hamilton, Herbie Hancock, Luther Henderson, Nat Hentoff e Nancy Wilson
2005: Kenny Burrell, Paquito D'Rivera, Slide Hampton, Shirley Horn, Artie Shaw, Jimmy Smith e George Wein

2006: Ray Barretto, Tony Bennett, Bob Brookmeyer, Chick Corea, Buddy DeFranco, Freddie Hubbard e John Levy
2007: Toshiko Akiyoshi, Curtis Fuller, Ramsey Lewis, Dan Morgenstern, Jimmy Scott, Frank Wess e Phil Woods

2008: Candido Camero, Andrew Hill, Quincy Jones, Tom McIntosh, Gunther Schuller, Joe Wilder
2009: George Benson, Jimmy Cobb, Lee Konitz, Toots Thielemans, Rudy Van Gelder e Snooky Young

2010: Muhal Richard Abrams, George Avakian, Kenny Barron, Bill Holman, Bobby Hutcherson, Yusef Lateef, Annie Ross e Cedar Walton
2011: Hubert Laws, David Liebman, Johnny Mandel, Orrin Keepnews e Marsalis Family (Ellis Marsalis, Jr., Branford Marsalis, Wynton Marsalis, Delfeayo Marsalis e Jason Marsalis

2012: Jack DeJohnette, Von Freeman, Charlie Haden, Sheila Jordan e Jimmy Owens
2013: Mose Allison, Lou Donaldson, Lorraine Gordon e Eddie Palmieri

2014: Jamey Aebersold, Anthony Braxton, Richard Davis e Keith Jarrett
2015: Carla Bley, George Coleman, Charles Lloyd e Joe Segal

2016: Gary Burton, Wendy Oxenhorn, Pharoah Sanders e Archie Shepp
2017: Dee Dee Bridgewater, Ira Gitler, Dave Holland, Dick Hyman e Lonnie Smith

2018: Pat Metheny, Dianne Reeves, Joanne Brackeen e Todd Barkan
2019: Bob Dorough, Abdullah Ibrahim, Maria Schneider e Stanley Crouch

2020: Bobby McFerrin, Roscoe Mitchell, Reggie Workman e Dorthaan Kirk
2021: Terri Lyne Carrington, Albert “Tootie” Heath, Henry Threadgill e Phil Schaap

2022: Stanley Clarke, Billy Hart, Cassandra Wilson e Donald Harrison, Jr
2023: Regina Carter, Kenny Garrett, Louis Hayes e Sue Mingus

2024: Gary Bartz, Terence Blanchard, Amina Claudine Myers e Willard Jenkins
2025:

terça-feira, 27 de junho de 2023

Count Basic - Live


Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim. Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia (dicas de CDs, DVDs, livros, entrevistas e muito mais) - você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.

Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui.

Count Basic - Live (1997)


Na década de 1990, o cenário do jazz ganhou duas novas vertentes, a primeira, o smooth jazz, que trazia um som mais pop, e a segunda, o acid jazz, que tem nos samples e nos metais a base de seu ritmo. Essas duas "novas maneiras" de tocar jazz só ajudaram o gênero a se atualizar e a trazer um novo público. Uma das bandas que mais se destacou neste novo cenário foi o Count Basic, um conjunto liderado pelo guitarrista austríaco Peter Legat e pela cantora norte-americana Keli Sae.

Seu som pode ser comparado a banda inglesa Brand New Heavies. Um bom início para conhecê-la é o disco gravado ao vivo em Viena, Count Basic Live. Neste quarto CD, é possível ouvir toda a energia da banda de Peter Legat, o compositor das músicas e a base de todas as canções com sua guitarra wah-wah no habitat predileto do grupo, o palco.

O disco é uma coletânea com músicas de vários álbuns lançados pelo grupo. O CD abre com a contagiante “Is It Real”. Logo depois, a instrumental “Sweet Luis” traz a sutileza de Legat na guitarra. Seu toque é uma mistura de George Benson com Lee Ritenour. Como todas as bandas, o Count Basic também tem o seu hit, “Joy and Pain”, uma levada com muito suingue e a voz afinada de Keli Sae.

Outra grande canção é “Movin’ In the Right Direction”, nome de um dos discos da banda. Em “Happy”, a cantora Sae aproveita o momento para apresentar a banda ao público, entre eles estão o baterista Dirk Erchinger, o trompetista Bumi Fian e o percussionista brasileiro Laurinho Bandeira. A banda brilha pra valer na faixa instrumental “Animal Print”, com destaque para o trombone de Christian Radovan e o baixo de Willi Langer. Kelli Sae ainda é destaque em “Got To Do” e “Jazz In the House”.

É impossível não salientar a firmeza e o talento de Peter Legat e sua guitarra. Como um maestro, ele dá um show na singela melodia de “M.L. In the Sunshine”. É de arrasar. Count Basic normalmente não agrada aos fãs tradicionais de jazz que têm um certo preconceito com o smooth jazz e o acid jazz. Mas não se deve simplesmente rotular este ou aquele som de bom ou ruim. É preciso, acima de tudo, ouvir a competência musical e a criatividade dos músicos. Neste quesito, e sem uma visão saudosista dos antigos mestres do jazz, Count Basic vai agradar a qualquer pessoa que tem como principal filosofia ouvir boa música.