segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Grammy 2019 - Os Vencedores

E o Grammy vai para.......o saxofonista Wayne Shorter e a cantora Cécile McLorin Salvant (foto ao lado) , mais uma vez.

Após quatro décadas de seu primeiro Grammy, o veterano músico conquista seu 11° prêmio, desta vez com o disco triplo Emano, na categoria melhor disco de jazz instrumental.

A cerimônia de premiação do 61° Grammy Awards aconteceu no último dia 10 de fevereiro, em Los Angeles (EUA).

O disco triplo lançado pela gravadora Blue Note traz Shorter acompanhado pelo trio formado por Danilo Perez, John Patitucci e Brian Blade e pela Orpheus Chamber Orchestra. Das dez músicas, seis foram gravadas ao vivo com formação de quarteto, em 2015, e o restante acompanhado pela orquestra, gravado em 2013. Wayne, de 85 anos, é um dos maiores músicos de jazz em atividade.

Em seis décadas de carreira, ele tocou ao lado de gigantes do jazz como Art Blakey, Herbie Hancock e Miles Davis e foi um dos membros fundadores do grupo Weather Report, na década de 1970. Além dos Grammys, o músico também ganhou o prêmio de Música Polar da Suécia, conhecido como o “Nobel” da música, em 2017.


Wayne Shorter ao lado de seu atual quarteto (Blade, Perez e Patitucci)

Na categoria melhor disco de jazz vocal, mais uma vez, a cantora Cécile McLorin Salvant ficou o prêmio pelo disco The Window. Este é o terceiro Grammy da cantora que surgiu em 2010, após vencer a competição Thelonious Monk International Jazz Competition.

Os números de Cécile impressionam. Aos 29 anos, ela tem quatro discos lançados, sendo que três deles levaram o cobiçado gramofone dourado. Em The Window, a cantora é acompanhada apenas pelo pianista Sullivan Fortner (foto que abre a matéria).

Outros dois veteranos também levaram o Grammy. O cantor country Willie Nelson e o baterista Steve Gadd. Nelson venceu na categoria melhor disco vocal pop tradicional, com o disco My Way, interpretando clássicos da música norte-americana, entre eles "Night and Day", "Young At heart", "Fly Me To The Moon" e a faixa-título. Nelson superou nomes como Gregory Porter, Tony Bennett e Barbra Streisand.

O baterista Steve Gadd venceu na categoria melhor disco instrumental contemporâneo, com o álbum Steve Gadd Band, superando o baixista Marcus Miller e o guitarrista Julian Lage.

O baterista cubano Dafnis Prieto ficou com o prêmio de melhor disco de jazz latino pelo álbum Back to the Sunset, sua primeira incursão com uma big band.

Nas outras duas categorias do jazz, o trompetista John Daversa (foto ao lado) e sua big band estrelada por jovens músicos de diferentes partes do mundo ficaram com os prêmios na categoria melhor improviso de jazz e melhor disco de big band, pelo álbum American Dreamers: Voice of Hote, Music Of Freedom Featuring DACA Artists. Daversa ainda venceu na categoria melhor arranjo instrumental ao a capella.

Outro destaque foi a premiação do documentário Quincy, produzido pela Netflix, sobre a vida do compositor, arranjador e produtor musical Quincy Jones.

O filme ficou com o Grammy de melhor filme de música. O documentário conta a história do octogenário músico, com depoimentos do próprio Quincy e cenas inéditas de sua carreira de seis décadas, que destaca sua parceria com Michael Jackson, Frank Sinatra e outras estrelas do jazz, além passagem importantes de sua vida pessoal.

Veja a lista dos vencedores:

Melhor Improvisação Solo

Don't Fence Me In
John Daversa Big Band Featuring DACA Artists

Melhor Álbum Vocal

The Window
Cécile McLorin Salvant

Melhor Álbum Instrumental

Emanon
The Wayne Shorter Quartet

Melhor Álbum de Orquestra

American Dreamers: Voice of Hote, Music Of Freedom
John Daversa Big Band Featuring DACA Artists

Melhor Álbum de Jazz Latino

Back To The Sunset
Dafnis Prieto Big Band

Melhor Álbum Vocal Tradicional Pop

My Way
Willie Nelson

Melhor Álbum Instrumental Contemporâneo

Steve Gadd Band
Steve Gadd

Melhor Filme de Música

Quincy
Quincy Jones, Alan Hicks & Rashida Jones













segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

A arte do jazz nas lentes de Jean Pierre Leloir

A arte de fotografar músicos de jazz tem três representantes indiscutíveis: William Gottlieb. Herman Leonard e Francis Wolff.

Eles personificaram toda a mística que existe em torno de um músico de jazz. Durante as décadas de 1940 e 1960, suas fotos "tocavam" a alma dos fãs dos maiores nomes da história do jazz.

Do outro lado do Atlântico, mais especificamente em Paris, na França, um outro mestre das lentes imortalizou nomes como Miles Davis, Quincy Jones, Sarah Vaughan, Billie Holiday, John Coltrane, Duke Ellington, Chet Baker, Thelonious Monk, Nina Simone, Louis Armstrong e Dexter Gordon.

Jean Pierre Leloir aproveitou o constante intercâmbio de músicos americanos na Europa durante as décadas de 1950 e 1970 para registrar no palco e na intimidade esses e outros ícones do jazz.

Parte deste acervo foi selecionado e lançado no livro Jazz Images (foto acima), lançado apenas no mercado europeu, em 2017. As fotos foram selecionadas pelo espanhol Gerardo Cañellas e pelo fotógrafo argentino Jordi Soley, que tiveram acesso aos arquivos de Leloir em Paris.

Segundo os curadores do livro, a escolha das fotos foi um grande desafio diante do número incontável de fotos e registros históricos. Para conseguir selecionar as fotos para o livro, cerca de 150, eles deram preferência para registros mais íntimos e menos de shows ou gravações.

Com isso, é possível ver Quincy Jones e Sarah Vaughan (foto ao lado), em 1958, no apartamento de Jones, em Paris, ouvindo música em um rádio da época, ou ver Miles Davis descansando na piscina de um hotel, sem camisa e completamente relaxado, ou encontrar Count Basie desembarcando no aeroporto de Nice para participar do festival de jazz de Antibes, em 1961.

Após ver o livro, Quincy Jones explicou como Leloir conquistou o respeito, a admiração e a amizade de vários músicos de jazz. "Leloir tinha um talento único para preservar toda a atmosfera e emoções do momento. Ele nunca se comportava como um paparazzi, mas como um amigo".

Outro destaque do livro é uma fotografia do saxofonista John Coltrane sorrindo. Segundo, Soley é raro encontrar uma foto de Coltrane descontraído desta maneira.


Da esq. para a dir, e de cima para baixo: Louis Armstrong, Don Cherry, Billie Holiday, Dexter Gordon, Ray Charles, Chet Baker e Dick Twardzik, Herbie Hancock, John Coltrane, Nina Simone e sua filha Lisa, Sarah Vaughan, Roland Kirk e Ornett Coleman.

As fotos de Jean Pierre Leloir também foram usadas na Europa para estampar reedições de discos clássicos de jazz, entre eles Kind OF Blue, de Miles Davis, Moanin, de Art Blakey, Lady In Satin, de Billie Holiday, Giant Steps, de John Coltrane, Portrait In Jazz, de Bill Evans, e Affinity, de Oscar Peterson. Veja o vídeo abaixo com as capas desta coleção assinada por Leloir. Para saber mais detalhes dos discos e do livro entre no site oficial



terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Leny Andrade é a tradução da musicalidade

No tributo a Leny Andrade no Blue Note Rio, em janeiro de 2019, o pianista Gilson Peranzzetta contou uma história que sintetiza bem a importância da cantora.

Peranzzetta disse que um jornalista foi até a sua casa para fazer uma entrevista e perguntou o que a cantora representava na sua música, na sua vida.

O músico no mesmo instante respondeu que "Leny era a nota que faltava no meu acorde". Logo em seguida, o repórter perguntou a Peranzzetta se ele tinha café. O músico, então, quis saber sobre a entrevista. Mas a resposta de Peranzzetta foi o suficiente para o jornalista.

Apesar do caso contado por Peranzzetta (foto abaixo), com quem Leny tem várias parcerias no decorrer de meio século de carreira, o legado da cantora nunca foi ovacionado como acontece com as carreiras de Angela Maria, Elizeth Cardoso, Elis Regina, Dolores Duran, Maria Bethânia, entre outras.

E olha que o repertório de Leny é extremamente acessível, uma mistura deliciosa de samba, jazz e bossa nova.

Ela tem discos em tributo a Tom Jobim, Nelson Cavaquinho, Cartola, Ivan Lins & Vitor Martins, isso sem falar nas canções que gravou de compositores como Luiz Bonfá, Vinicius de Moraes, Durval Ferreira, Roberto Menescal, Marcos Valle, Paulo Sergio Valle, Carlos Lyra, Ary Barroso e Dorival Caymmi.

Talvez o perfil mais jazzístico tenha "afastado" o público desta que é, sem dúvida, uma das mais completas cantoras do país. Seu domínio do scat (vocalização das notas) e sua precisão ao cantar são atributos que poucas cantoras no mundo têm.

O próprio Tony Bennett chama Leny de a "Ella Fitzgerald Brasileira". Além da apurada técnica vocal, Leny tem formação clássica de piano, o que deixa sua percepção musical ainda mais latente.

Durante sua rica carreira, Leny cantou ao lado de feras como Pery Ribeiro, Dick Farney, Johnny Alf, João Donato, Eumir Deodato, César Camargo Mariano (foto abaixo), Tamba Trio, Romero Lubambo, Sergio Mendes, Cristóvão Bastos e Gilson Peranzzetta. Em 1994, lançou o disco Maiden Voyage, ao lado do pianista de jazz Fred Hersch, com standards da música norte-americana.

Também lançado apenas no mercado internacional, o disco Alegria De Viver traz Leny acompanhada do violonista israelense Roni Ben-Hur. No repertório, temas de Tito Madi, Pixinguinha, Baden Powell, Tom Jobim e Luiz Eça.

Outro disco que merece destaque é Alma Mía (Fina Flor), de 2010, com Leny cantando em espanhol boleros clássicos como "El Dia Que Me Quiera", "Llévatela" e "Te Me Olvidas". A incursão pelo bolero acontece novamente no disco As Canções Do Rei, com músicas de Roberto e Erasmo Carlos, mas cantadas em espanhol.

Em 2018, Leny completou 75 anos. Apesar de estar com a saúde em dia, mesmo depois de sofrer algumas quedas em sua casa, no Rio de Janeiro, a cantora continua na ativa.

Desde a inauguração do Blue Note Rio, no fim de 2017, Leny já fez várias apresentações na casa. Em 2019, com a chegada do Blue Note em São Paulo, será a vez dos paulistanos terem a oportunidade de vê-la com mais frequência nos palcos.

No início de 2019, a cantora se mudou para o Retiro dos Artistas, instituição centenária localizada em Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro. O local é conhecido por abrigar artistas em dificuldade financeira.

Mas Leny garante que não é o seu caso. Apesar disso, o dinheiro arrecadado com o tributo realizado no Blue Note foi revertido para a cantora.