terça-feira, 27 de junho de 2023

Count Basic - Live


Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim. Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia (dicas de CDs, DVDs, livros, entrevistas e muito mais) - você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.

Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui.

Count Basic - Live (1997)


Na década de 1990, o cenário do jazz ganhou duas novas vertentes, a primeira, o smooth jazz, que trazia um som mais pop, e a segunda, o acid jazz, que tem nos samples e nos metais a base de seu ritmo. Essas duas "novas maneiras" de tocar jazz só ajudaram o gênero a se atualizar e a trazer um novo público. Uma das bandas que mais se destacou neste novo cenário foi o Count Basic, um conjunto liderado pelo guitarrista austríaco Peter Legat e pela cantora norte-americana Keli Sae.

Seu som pode ser comparado a banda inglesa Brand New Heavies. Um bom início para conhecê-la é o disco gravado ao vivo em Viena, Count Basic Live. Neste quarto CD, é possível ouvir toda a energia da banda de Peter Legat, o compositor das músicas e a base de todas as canções com sua guitarra wah-wah no habitat predileto do grupo, o palco.

O disco é uma coletânea com músicas de vários álbuns lançados pelo grupo. O CD abre com a contagiante “Is It Real”. Logo depois, a instrumental “Sweet Luis” traz a sutileza de Legat na guitarra. Seu toque é uma mistura de George Benson com Lee Ritenour. Como todas as bandas, o Count Basic também tem o seu hit, “Joy and Pain”, uma levada com muito suingue e a voz afinada de Keli Sae.

Outra grande canção é “Movin’ In the Right Direction”, nome de um dos discos da banda. Em “Happy”, a cantora Sae aproveita o momento para apresentar a banda ao público, entre eles estão o baterista Dirk Erchinger, o trompetista Bumi Fian e o percussionista brasileiro Laurinho Bandeira. A banda brilha pra valer na faixa instrumental “Animal Print”, com destaque para o trombone de Christian Radovan e o baixo de Willi Langer. Kelli Sae ainda é destaque em “Got To Do” e “Jazz In the House”.

É impossível não salientar a firmeza e o talento de Peter Legat e sua guitarra. Como um maestro, ele dá um show na singela melodia de “M.L. In the Sunshine”. É de arrasar. Count Basic normalmente não agrada aos fãs tradicionais de jazz que têm um certo preconceito com o smooth jazz e o acid jazz. Mas não se deve simplesmente rotular este ou aquele som de bom ou ruim. É preciso, acima de tudo, ouvir a competência musical e a criatividade dos músicos. Neste quesito, e sem uma visão saudosista dos antigos mestres do jazz, Count Basic vai agradar a qualquer pessoa que tem como principal filosofia ouvir boa música.



quarta-feira, 31 de maio de 2023

JJA Jazz Awards 2023: os vencedores


Anualmente, a Jazz Journalists Association (Associação de Jornalistas de Jazz) faz uma votação para premiar os músicos que mais se destacaram no ano. Em 2023, a 27ª edição do JJA Jazz Awards premiou a baterista Terri Lyne Carrington nas categorias melhor jazzista e melhor álbum (New Standards Vol. 1).

O disco da baterista superou os álbuns da cantora Cécile McLorin Salvant (Ghost Song), do saxofonista Miguel Zenón (Música De Las Américas), e do multinstrumentista Tyshawn Sorey (Mesmerism). No ano passado, o prêmio de disco do ano ficou com o saxofonista Kenny Garrett, com o álbum Sounds From The Ancestors. O mesmo disco de Carrington, que traz apenas composições criadas por mulheres, já tinha conquistado o Grammy deste ano na mesma categoria.

Além do quarteto formado por Kris Davis (piano), Linda May Han Oh (baixo), Nicholas Payton (trompete) e Matthew Stevens (guitarra), Carrington convidou vários convidados para acompanhá-la, entre eles, Ambrose Akinmusire, Melanie Charles, Ravi Coltrane, Val Jeanty, Samara Joy, Julian Lage, Michael Mayo, Elena Pinderhughes, Dianne Reeves, Somi e a percussionista brasileira Negah Santos.

Na categoria Conjunto da Obra, que sempre destaca um músico com mais de 40 anos de carreira, o vencedor foi o saxofonista Charles Lloyd, que superou o pianista Keith Jarrett e os saxofonistas George Coleman e Wadada Leo Smith. Em 2022, o vitorioso nesta categoria foi a cantora Sheila Jordan. Lloyd completou 85 anos em março.

O pianista Ahmad Jamal, que morreu no último dia 16 de abril, aos 92 anos, levou o prêmio na categoria melhor disco histórico, que aponta lançamentos de álbuns e gravações "perdidos" de grandes nomes do jazz, nunca antes lançados. O disco Emerald City Nights: Live at the Penthouse traz gravações inéditas do pianista gravadas ao vivo no clube de jazz Penthouse, em Seattle, Washington (EUA), entre 1963 e 1968, com diferentes formações de trios com os baixistas Richard Evans e Jamil Nasser e os bateristas Chuck Lampkin, Vernel Fournier e Frank Gant.
Terri Lyne Carrington ficou com os prêmios de artista do ano e melhor álbum


Diferentemente de outras premiações, além dos músicos, também são premiados jornalistas e publicações relacionadas ao mundo do jazz. Entre os prêmios estão melhor revista, melhor blogue e o melhor livro. Você pode conhecer todos os indicados no no site oficial.

Outro destaque são os Jazz Heroes, que premia pessoas que contribuiram para a divulgação do jazz. Neste ano, 36 pessoas de várias cidades dos Estados Unidos foram premiados. Conheça todos eles na página oficial.

Conheça os 25 vencedores na categoria melhor disco em todas as edições do JJA Jazz Awards awards clicando aqui.

CONJUNTO DA OBRA
Charles Lloyd

MÚSICO
Terri Lyne Carrington

REVELAÇÃO
Samara Joy

COMPOSITOR
Miguel Zenón

ARRANJADOR
Maria Schneider

DISCO
New Standards Vol. 1 — Terri Lyne Carrington (Candid)

DISCO HISTÓRICO
Emerald City Nights: Live at the Penthouse — Ahmad Jamal (Elemental Music)

GRAVADORA
Smoke Sessions

PRODUTOR
Zev Feldman

CANTOR
Kurt Elling

CANTORA
Samara Joy

GRUPO VOCAL
The Manhattan Transfer

ORQUESTRA
Arturo O’Farrill Afro Latin Jazz Orchestra

CONJUNTO
Christian McBride’s New Jawn

DUETO
Fred Hersch and Esperanza Spalding

TROMPETISTA
Jeremy Pelt

TROMBONISTA
Steve Turre

METAIS
Steven Bernstein (slide trompete)

SOPROS
Roscoe Mitchell

SAXOFONISTA ALTO
Immanuel Wilkins

SAXOFONISTA TENOR
Charles Lloyd

SAXOFONISTA BARÍTONO

James Carter

SAXOFONISTA SOPRANO
Dave Liebman

CLARINETISTA
Anat Cohen

FLAUTISTA
Nicole Mitchell

GUITARRISTA
Bill Frisell

BAIXISTA
Linda May Han Oh

BAIXISTA ELÉTRICO

John Patitucci

VIOLINISTA/HARPA/CELLO
Tomeka Reid

PIANISTA
Emmet Cohen

TECLADISTA
Robert Glasper

PERCUSSIONISTA
Zakir Hussain

VIBRAFONISTA
Joel Ross

BATERISTA
Brian Blade





sexta-feira, 26 de maio de 2023

Após seis décadas, sax de George Coleman ainda emociona


A ficha corrida deste senhor de 87 anos inclui parcerias com Ray Charles, B.B. King, Max Roach, Charles Mingus, Herbie Hancock e Miles Davis.

Após seis décadas de carreira, o saxofonista George Coleman continua na ativa, mostrando aos mais jovens que a arte do jazz não tem tempo nem espaço pré-estabelecidos. Ela apenas flui entre os dedos, bocas e mentes e mantém vivo veteranos músicos.

Para entender um pouco mais a verdadeira essência do jazz, nada melhor do que ouvir um dos craques do time, o senhor Coleman comandando o quarteto composto por Spike Wilner (piano), Peter Washington (baixo) e Joe Farnsworth (bateria), gravado ao vivo (sem plateia) em março do ano passado, dentro do aconchegante clube de jazz nova-iorquino Smalls.

O álbum Live at Smalls Jazz Club traz oito temas, quase todos com mais de 8 minutos de duração cada um, que mostram como o improviso e a conexão entre os músicos são a perfeita tradução do jazz.

Temas como “Four”, de Miles Davis, “My Funny Valentine”, de Rodgers & Hart, e “Nearness of You”, de Hoagy Carmichael, são interpretados com maestria pelo quarteto. O sax tenor de Coleman é encorpado, preciso e naturalmente solto, mesmo não sendo uma apresentação “100% ao vivo”.

O disco ainda guarda outras preciosidades como, “New York, New York”, imortalizada na voz de Frank Sinatra, “Meditation”, composta por Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça, e regravada dezenas de vezes, incluindo Sinatra, e “At Last”, tema mundialmente conhecido com a cantora Etta James.