sexta-feira, 2 de setembro de 2022

80 primaveras de Flora Purim


A cantora brasileira Flora Purim foi uma das responsáveis por levar a nossa música para fora do país. Suas participações em álbuns de Gil Evans, Stan Getz, George Duke, Chick Corea, Miles Davis, Duke Pearson, Dizzy Gillespie, entre outros, fizeram de Flora uma embaixatriz brasileira em solo norte-americano.

Com cinco décadas de carreira, quase toda fora do Brasil, Flora tem seu nome diretamente ligado ao percussionista Airto Morreira, com quem foi casado e dividiu o palco centenas de vezes, além de participações marcantes em trabalhos de Carlos Santana e Hermeto Pascoal.

Hoje, aos 80 anos de idade, a cantora resolveu deixar a aposentadoria de lado para lançar o disco If You Will, o primeiro em 15 anos, com participações de de Airto Moreira, o guitarrista José Neto, sua filha Diana Purim nos vocais e o percussionista Celso Alberti.

O disco, gravado em São Paulo e Curitiba, durante a pandemia, traz canções inéditas e algumas regravações de músicas já lançadas pela cantora ou por Moreira, entre elas, a faixa-título, gravada em parceria com o músico George Duke, e "500 Miles High", gravada originalmente pelo grupo Return to Forever, no disco Light As A Feather (1976).

Para coroar o retorno da cantora, a revista norte-americana Jazz Times estampou na capa de sua edição de setembro a veterano brasileira, com o título Contos de uma vocalista icônica. Parabéns à Jazz Times e a Flora Purim, um patrimônio da música brasileira esquecida em seu próprio país.

Além do disco If You Will, Flora também produziu durante a pandemia o álbum da cantora Cristina El Tarran, que regravou temas da carreira de Flora. Recentemente, Cristina se apresentou ao lado do músico e compositor João Donato, em Curitiba (PR).

A última vez que Flora e Airto se apresentaram no Brasil foi em janeiro de 2022. Na época, a saúde do percussionista já era frágil, mas se agravou em maio depois que pegou uma peneumonia. O músico agora se recupera, mas ainda inspira cuidados. Diante da idade avançada de Flora, que completou 80 anos este ano, ainda não há previsão para o retorno da cantora em palcos brasileiros.







quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Lendário produtor Creed Taylor morre aos 93 anos

O produtor de jazz norte-americano Creed Taylor morreu no dia 23 de agosto, aos 93 anos. Seu legado mais marcante foi a criação das gravdaoras CTI e Impulse, na década de 1960, e sua atuação decisiva na invasão da bossa nova nos Estados Unidos.

Ao longo de 50 anos, Taylor produziu mais de 300 discos e ganhou vários Grammys. No início da década de 1960, fundou Impulse, na qual lançou grandes discos de John Coltrane, Ray Charles, Gil Evans, McCoy Tyner, Keith Jarrett e Oliver Nelson. Depois partiu para a gravadora Verve, casa de estrelas como Ella Fitzgerald, Oscar Peterson, Kenny Burrell, Jimmy Smith, Bill Evans e Wes Montgomery.
Creed Taylor dedicou grande parte da sua vida ao jazz e à bossa nova

Mas foi com o saxofonista Stan Getz, em 1964, que o produtor fez história com o disco Getz/Gilberto, apresentando a bossa nova para o mundo e conquistando o mercado norte-americano. Além do baiano João Gilberto, Taylor levou para a Verve os brasileiros Antonio Carlos Jobim, Eumir Deodato, Astrud Gilberto e Airto Moreira. O icônico disco levou quatro Grammys em 1965, entre eles, o disco do ano.

A bossa nova foi ovacionada e gravada por grandes nomes do jazz, entre eles, Miles Davis, Coleman Hawkins, Quincy Jones, Oscar Peterson, Dizzy Gillespie, Ella Fitzgerald, Cannonball Aderley, Frank Sinatra e tantos outros. E, até hoje, continua a ser regravada e interpretada em shows nos quatro cantos do planeta.

Em 1967, Taylor concretizou seu grande desejo, criar sua própria gravado, a CTI Records, um dos selos de jazz de mais importantes durante a década de 1970. Em seu catálogo, nomes como Bob James, Chet Baker, Freddie Hubbard, Herbie Hancock, Milt Jackson, Stanley Turrentine, George Benson, Gerry Mulligan, Grover Washington Jr, Art Farmer e Ron Carter.

Foi pelo CTI Records que o pianista e arranjador brasileiro Eumir Deodato lançou o disco Prelude, que trazia a faixa "Also Sprach Zarathustra", tema de Richard Strauss, imortalizado no filme 2001: Uma Odisseia no Espaço.

No início da década de 1970, Taylor lançou o disco Stone Power, de Tom Jobim. O álbum trazia temas como “Tereza My Love”,”Amparo” e “Andorinha”, e a participação de Joe Farrell (sax), Hubert Laws (flauta), Ron Carter (baixo), Airto Moreira (percussão) e Eumir Deodato (arranjos). Ele também produziu os álbuns Wave (1967) e Tide (1970).

A Snapshots Foundation está produzindo um documentário sobre o produtor, mas ainda não há data para o lançamento.













sábado, 30 de julho de 2022

Robert Altman recria magia do jazz de Kansas City


Este texto abre a série intitulada Nas Trilhas do Jazz, que destacará trilhas sonoras de filmes que têm o jazz como protagonista. No universo das trilhas de cinema, o jazz tem demonstrado ser um ótimo coadjuvante e, em alguns momentos, um personagem essencial para o desenrolar da trama.

Impossível não lembrar de Bird (1988), Por Volta da Meia Noite (1986), Whiplash (2014) e A Era do Rádio (1987). Além, é claro, dos inesquecíveis Música e Lágrimas (1954), com Glenn Miller, Ascensor para o Cadafalso (1958), com Miles Davis, Paris Blues (1961), com Duke Ellington e Louis Armstrong, Alfie (1966), com Sonny Rollins, e Tempestade de Ritmo (1943), com Lena Horne e Cab Calloway.

Recentemente, outros dois filmes também trouxeram o jazz para a telona: Chet Baker: A Lenda do Jazz (Born to Be Blue), de 2015, e A Vida de Miles Davis (Miles Ahead), de 2016. Também é importante destacar a dedicação do ator e diretor Clint Eastwood ao jazz. Além de atuar e dirigir, com frequência, Eastwood também faz parte da trilha sonora, compondo e tocando, e assumindo o papel de curador das músicas escolhidas. Filmes como Perversa Paixão (1971), Bird (1988), As Pontes de Madison (1995), Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal (1997) e Gran Torino (2008) trazem em suas trilhas grandes nomes e temas do jazz.

Um dos longas que mais marcaram os fãs de jazz é Kansas City, de 1995, dirigido por Robert Altman. O filme se passa na Kansas City da década de 1930, no Centro-Oeste dos EUA, após a Grande Depressão de 1929, época de gangsters, Lei Seca, prostitutas, blues e swing. Estrelado por Miranda Richardson, Jennifer Jason Leigh e o malvado Harry Belafonte, parte da história acontece no Hey Hey Club, uma boate e casa de jogos de propriedade de negros, onde uma pequena orquestra de jazz faz jam sessions da pesada diuturnamente.
Altman (de branco) com a banda residente do Hey Hey Club


Na banda, cada músico verdadeiro de jazz carrega a alcunha de um grande nome da história do jazz. São eles: Lester Young (interpretado por Joshua Redman), Coleman Hawkins (Craig Handy), Ben Webster (James Carter), Count Basie (Cyrus Chestnut), Mary Lou Williams (Geri Allen), Hershel Evans (David Murray), Freddie Green (Mark Whitfield) , Walter Page (Ron Carter) e Jimmy Rushing (Kevin Mahogany).

Por instrumentos temos Olu Dara (corneta); Nicholas Payton, James Zollar (trompete); Curtis Fowlkes, Clark Gayton (trombone); Don Byron (clarinete); Don Byron, James Carter, Jesse Davis, David ‘Fathead’ Newman, Craig Handy, David Murray, Joshua Redman (saxophone); Russell Malone, Mark Whitfield (guitarra); Geri Allen, Cyrus Chestnut (piano); Ron Carter, Tyrone Clark, Christian McBride (baixo); Victor Lewis (bateria) e Kevin Mahogany (vocal).

Vale lembra que na década de 1930, Kansas City era um local frequentado por feras como Count Basie, Bennie Moten, Andy Kirk e Jay McShann, tudo regado de muito swing. Na trilha sonora, temas como "Blues in the Dark", "Moten Swing" e "Solitude". Em 1998, um "volume 2" da trilha sonora foi lançada como o nome de KC After Dark - More Music from Robert Altman's Kansas City, com os mesmos músicos, mas com temas como "Harvard Blues", "Cherokee", "Froggy Bottom" e "King Porter Stomp".



JAZZ 34

A gravação do longa de Robert Altman também deu origem ao documentário Jazz 34, que traz por um pouco mais de 1h um show com 21 grandes jazzistas interpretando 15 canções de mestres como Duke Ellington, Benny e Buster Moten, Count Basie e Marie Lou Williams. Gravado nas locações do filme, dentro do clube de jazz Hey Hey, e narrado por Harry Bellafonte, o filme traz depoimentos de moradores e músicos de Kansas City sobre a atmosfera da cidade na década de 1930 e a importância dos músicos de jazz na economia local.

Durante as apresentações, o espectador terá a oportunidade de presenciar a parceria de Lester Young e Coleman Hawkins, assistida por Charlie Parker, então com 14 anos. Destaque para os os saxofonistas James Carter, Joshua Redman e Craig Handy, que colocam todos para dançar com sua "batalhas" de improvisos de tirar o fôlego, e a riquíssima reprodução do boêmio dos clubes noturnos de jazz e blues que dominavam a cena boêmia de Kansas City. Veja abaixo a íntegra de Jazz 34.