sábado, 30 de julho de 2022

Robert Altman recria magia do jazz de Kansas City


Este texto abre a série intitulada Nas Trilhas do Jazz, que destacará trilhas sonoras de filmes que têm o jazz como protagonista. No universo das trilhas de cinema, o jazz tem demonstrado ser um ótimo coadjuvante e, em alguns momentos, um personagem essencial para o desenrolar da trama.

Impossível não lembrar de Bird (1988), Por Volta da Meia Noite (1986), Whiplash (2014) e A Era do Rádio (1987). Além, é claro, dos inesquecíveis Música e Lágrimas (1954), com Glenn Miller, Ascensor para o Cadafalso (1958), com Miles Davis, Paris Blues (1961), com Duke Ellington e Louis Armstrong, Alfie (1966), com Sonny Rollins, e Tempestade de Ritmo (1943), com Lena Horne e Cab Calloway.

Recentemente, outros dois filmes também trouxeram o jazz para a telona: Chet Baker: A Lenda do Jazz (Born to Be Blue), de 2015, e A Vida de Miles Davis (Miles Ahead), de 2016. Também é importante destacar a dedicação do ator e diretor Clint Eastwood ao jazz. Além de atuar e dirigir, com frequência, Eastwood também faz parte da trilha sonora, compondo e tocando, e assumindo o papel de curador das músicas escolhidas. Filmes como Perversa Paixão (1971), Bird (1988), As Pontes de Madison (1995), Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal (1997) e Gran Torino (2008) trazem em suas trilhas grandes nomes e temas do jazz.

Um dos longas que mais marcaram os fãs de jazz é Kansas City, de 1995, dirigido por Robert Altman. O filme se passa na Kansas City da década de 1930, no Centro-Oeste dos EUA, após a Grande Depressão de 1929, época de gangsters, Lei Seca, prostitutas, blues e swing. Estrelado por Miranda Richardson, Jennifer Jason Leigh e o malvado Harry Belafonte, parte da história acontece no Hey Hey Club, uma boate e casa de jogos de propriedade de negros, onde uma pequena orquestra de jazz faz jam sessions da pesada diuturnamente.
Altman (de branco) com a banda residente do Hey Hey Club


Na banda, cada músico verdadeiro de jazz carrega a alcunha de um grande nome da história do jazz. São eles: Lester Young (interpretado por Joshua Redman), Coleman Hawkins (Craig Handy), Ben Webster (James Carter), Count Basie (Cyrus Chestnut), Mary Lou Williams (Geri Allen), Hershel Evans (David Murray), Freddie Green (Mark Whitfield) , Walter Page (Ron Carter) e Jimmy Rushing (Kevin Mahogany).

Por instrumentos temos Olu Dara (corneta); Nicholas Payton, James Zollar (trompete); Curtis Fowlkes, Clark Gayton (trombone); Don Byron (clarinete); Don Byron, James Carter, Jesse Davis, David ‘Fathead’ Newman, Craig Handy, David Murray, Joshua Redman (saxophone); Russell Malone, Mark Whitfield (guitarra); Geri Allen, Cyrus Chestnut (piano); Ron Carter, Tyrone Clark, Christian McBride (baixo); Victor Lewis (bateria) e Kevin Mahogany (vocal).

Vale lembra que na década de 1930, Kansas City era um local frequentado por feras como Count Basie, Bennie Moten, Andy Kirk e Jay McShann, tudo regado de muito swing. Na trilha sonora, temas como "Blues in the Dark", "Moten Swing" e "Solitude". Em 1998, um "volume 2" da trilha sonora foi lançada como o nome de KC After Dark - More Music from Robert Altman's Kansas City, com os mesmos músicos, mas com temas como "Harvard Blues", "Cherokee", "Froggy Bottom" e "King Porter Stomp".



JAZZ 34

A gravação do longa de Robert Altman também deu origem ao documentário Jazz 34, que traz por um pouco mais de 1h um show com 21 grandes jazzistas interpretando 15 canções de mestres como Duke Ellington, Benny e Buster Moten, Count Basie e Marie Lou Williams. Gravado nas locações do filme, dentro do clube de jazz Hey Hey, e narrado por Harry Bellafonte, o filme traz depoimentos de moradores e músicos de Kansas City sobre a atmosfera da cidade na década de 1930 e a importância dos músicos de jazz na economia local.

Durante as apresentações, o espectador terá a oportunidade de presenciar a parceria de Lester Young e Coleman Hawkins, assistida por Charlie Parker, então com 14 anos. Destaque para os os saxofonistas James Carter, Joshua Redman e Craig Handy, que colocam todos para dançar com sua "batalhas" de improvisos de tirar o fôlego, e a riquíssima reprodução do boêmio dos clubes noturnos de jazz e blues que dominavam a cena boêmia de Kansas City. Veja abaixo a íntegra de Jazz 34.

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Irene Kral - Kral Space

Greg Osby jazz
Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados. Com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia e muito mais - você encontrará neste blog algumas dicas de CDs publicadas no extinto Guia de Jazz.

Ao final de cada resenha você encontrará vídeos do YouTube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui


Irene Kral - Kral Space (1977)


Certa vez li uma frase do cantor Marcelo Nova que me marcou profundamente e ao mesmo tempo me proporcionou um grande alívio, já que penso exatamente como o ex-vocalista do grupo Camisa de Vênus. “A vida é boa, mas não é justa”. Está introdução vem a calhar quando lembramos da cantora norte-americana Irene Kral.

O raciocínio é simples. A vida tem coisas maravilhosas, como por exemplos uma cantora do porte de Irene Kral. Por outro lado, a vida é injusta, já que Irene é completamente desconhecida e porque não dizer injustiçada pelo consumidor de jazz.

Ela começou a cantar no meio da década de 50, em pequenas orquestras, entre elas a do trompetista Maynard Ferguson. Com uma voz suave e forte ao mesmo tempo, a cantora conquistou um pequeno público e o respeito da crítica. Suas principais gravações aconteceram no fim de sua curta carreira, em meados dos anos 70.

Entre os discos mais importantes está Kral Space, de 1977. Aqui, ela é acompanhada de Emil Richards (vibrafone), Fred Atwood (baixo), Nick Ceroli (bateria) e Alan Broabent (piano). O CD traz Irene em seu principal habitat, as baladas. Entre elas, “Star Eyes”, “Some Time Ago” e “Once Upon Another Time”. O ouvinte também encontrará jazz suingado como “The Song Is You“, “Experiment” e “Wheelers and Dealers”.

Para terminar dois grandes momentos. O primeiro é a versão do clássico de Cole Porter, “Everytime We Say Goodbye” e em seguida a deliciosa “Small Day Tomorrow”, que para os ouvintes mais novos lembrará a canadense Diana Krall, ou seria melhor dizer que Diana Krall parece Irene Kral?

O anonimato de Irene Kral, que morreu em 1978, aos 46 anos, vítima de câncer, diminuiu um pouco em 1995, quando o ator e diretor Clint Eastwood colocou na trilha sonora do filme As Pontes de Madison duas músicas com Irene e o trio de Junior Mance. Saudações a Eastwood, que, mais uma vez, prestou um importante serviço ao jazz e a todos nós.









quarta-feira, 29 de junho de 2022

Disco traz registro inédito de Ella Fitzgerald no Hollywood Bowl


Dificilmente haveria uma maneira mais apropriada em festejar os 100 anos do Hollywood Bowl, completados em 2022, do que lançar um registro histórico e inédito da cantora Ella Fitzgerald, gravado há 64 anos no próprio Hollywood Bowl, um dos locais de concertos mais icônicos da história dos Estados Unidos.

A preciosidade gravdada em Los angeles ficou guardada todos esses anos nos arquivos pessoais do produtor Nornan Granz, criador da gravadora Verve e dos famosos concertos Jazz at the Philharmonic, que fizeram história nas décadas de 1950 e 1960.

O álbum intitulado Ella at the Hollywood Bowl: The Irving Berlin Songbook traz a cantora interpretando 15 temas compostos por Berlin. Na apresentação, que aconteceu meses depois da cantora lançar um songbook de canções de Berlin, Ella está acompanhado de uma orquestra regida por Paul Weston, que trabalhou com a cantora no sogbook.

Entre os temas, estão clássicos como "How Deep Is The Ocean”, “Cheek To Cheek,” “Top Hat,” “I’ve Got My Love To Keep Me Warm,” “Heat Wave,” e “Puttin’ On The Ritz.”

Ella Fitzgerald fez várias apresentações no Hollywwod Bowl ao logo de cinco décadas, todas com casa cheia e um público hipnotizado pela majestosa voz da First Lady of Song. A última aconteceu durante o Playboy Jazz Festival, em 1996. Mas nenhuma com uma orquestra deste porte. Diante de tantos predicados, ouvir a gravação realizada em 16 de agosto de 1958, com Ella no auge de seus 40 anos, será uma experiência inesquecível e emocionante.

BBC Vaults

Em 2010, foi lançado um outro registro importante da cantora. O álbum duplo Best of BBC Vaults traz quatro apresentações da cantora em solo britânico em diferentes momentos de sua carreira, incluíndo apresentação no Ronnie Scott's (1974) e no festival de Montreux (1977).

As gravações, muitas nunca lançadas em disco, têm no repertório temas como "One Note Samba", "Come Rain Or Come Shine", "Good Morning Heartache" e "The Man I Love". Ella é acompanhada por Tonmmy Flanagan,Joe Pass, Keter Betts e Ed Thigpen. Além do CD com 18 músicas, a edição também traz um DVD com 35 temas interpretados e registrados em vídeo.