segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

DownBeat aponta os melhores álbuns de 2021


A revista DownBeat publica anualmente, em janeiro, um apanhado sobre os CDs mais bem cotados de todas as edições do ano anterior. É uma ótima oportunidade para encontrar grandes discos que, por vários motivos, passaram desapercebidos.

No topo da lista, com a cotação de cinco estrelas, apenas sete discos conquistaram plenamente os críticos da revista, entre centenas de discos resenhas nas 12 edições de 2021.

São eles: Django Bates (Tenacity), Veronica Swift (This Bitter Earth), Jim Snidero (Live At The Deer Head Inn), Isaiah Collier & The Chosen Few (Cosmic Transitions), Wollny/Parisien/Lefebre/Lillinger (XXX), Kenny Garrett (Sounds From The Ancestors) e Theo Croker (Blk2life//A Future Past).

A revista também deu cinco estrelas para o disco Live at the Berlin - Philharmonic 1977, do pianista Hal Galper ao lado do seu quinteto, formado por Randy Brecker (trompete), Michael Brecker (sax), Wayne Dockert (baixo) e Bob Moses (bateria). Também estão na lista na categoria histórico, ou seja, é recém-lançamento, mas não é "novo", Louis Armstrong (The Complete Louis Armstrong Columbia And RCA Victor Sessions 1946-1966) e Keith Jarrett (Sun Bear Concerts)

A edição traz outras dezenas de títulos divididos em duas cotações: quatro estrelas e meia e quatro estrelas. O Brasil aparece com os pianistas Eliane Elias (Mirror Mirror), Amaro Freitas (Sankofa) e o saxofonista Ivo Perelman (The Garden Of Jewels). Destaque também para o projeto Jazz is Dead, dos músicos Adrian Younge e Ali Shaheed. Desta vez, o músico convidado é o veterano pianista João Donato. Em 2020, a dupla gravou com Marcos Valle.

A relação também destaca, entre outros, discos de Jazzmeia Horn, Nubya Garcia, Makaya McCraven, Patricia Barber, Charles Lloyd, Somi, Joe Lovano, Jason Moran, Keith Jarrett, Arturo O'Farrill, Helen Sung e Nicholas Payton

É interessante notar que entre os sete que receberam nota máxima, estão quatro álbuns com um forte viés contemporâneo. Destaque para o supergrupo formado pelo pianista alemão Michael Wollny, o baixista Tim Lefebrve, o saxofonista Émile Parisien e o baterista Christian Lillinger. O som minimalista está muito bem acomodado na inquieta gravadora alemã ACT.

Quem também "usa" o jazz para expressar sua inquietute musical é o trompetista Theo Crocker, com o belíssimo BLK2LIFE//A FUTURE PAST, no qual mistura com propriedade soul, rap, jazz, reggae, dub e R&B. Uma viagem sonora que atinge em cheio as novas gerações.

Os outros dois representantes deste seleto grupo são o pianista britânico Django Bates e o saxofonista norte-americano Isaiah Collier. Bates aproveitou o centenário do saxofonista Charlie Parker, em 2020, para "reinventar" temas do repertório de Parker, tudo isso acompanhado da Swedish Norrbotten Big Band. O resultado é "perturbador".
Theo Crocker traz um disco cheio de influências do R&B, rap e soul


Já o jovem Collier faz uma homenagem ao disco A Love Supreme, de John Coltrane. Não, você não ouvirá temas de Coltrane, mas Collier traz a influência do mitológico disco em seu poderoso álbum, uma viagem sonora sem fronteiras. Os fãs do saxofonitsa Kamasi Washington vão flutuar com o som Collier.

Ainda sobre os Top 7, estão os veteranos saxofonistas Jim Snidero e Kenny Garrett e a cantora revelação Veronica Swift, que em novembro de 2020 estampou a capa da Downbeat em uma reportagem sobre as apostas da revista de quem tinha potencial para se destacar entre dezenas de músicos que aparecem anualmente no cenário do jazz.

Por fim, fica aqui um pequena provocação. Como entender os critérios para apontar que esse ou aquele disco é brilhante ou não? A dúvida acontece ao percebemos que nenhum dos sete discos que receberam cinco estrelas da revista Downbeat foi indicado para o Grammy, que divulgou a lista completa dos indicados em novembro de 2021. Será que foi por falta de espaço, já que o Grammy aponta apenas cinco indicados em cada categoria?













quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Paixão e faro privilegiado moveram carreira de Bruce Lundvall


Idealistas, perseverantes, visionários ou apenas trabalhadores dedicados e apaixonados pelo ofício?

Talvez um pouco de cada pode definir homens como Manfred Eicher, Alfred Lion, Francis Wolff, Creed Taylor, Norman Granz, Dave Grusin, Clive Davis, John Hammond e Bruce Lundvall

Todos eles são responsáveis por grande parte da produção jazzistica do século XX. Não é possível mensurar ou comparar um com o outro, pois cada um, em seu território, ajudou a impulsionar a carreira de um artista que apenas precisava de uma chance.

Bruce Lundvall não poderia imaginar que um dia teria em suas mãos uma das mais importantes gravadoras de jazz, a Blue Note.



Antes de chegar ao selo criado por Alfred Lion e Francis Wolff, em 1939, ele passou pela Columbia Records e a Elektra, nas quais abriu espaço para o jazz, e depois, finalmente, foi convidado pela gravadora EMI para reativar a Blue Note, que no meio da década de 1985 estava adormecida há muitos anos.

Para comemorar a ressureição da Blue Note, um concerto aconteceu em 22 de fevereiro de 1985, no Town Hall, a cidade de Nova York. 30 grandes nomes da gravadora se reuniram e mostraram a saudosos e novatos toda a força do jazz. Entre os presentes estavam Herbie Hancock, Freddie Hubbard, Kenny Burell, McCoy Tyner, Charles Lloyd, Johnny Griffin e Joe Henderson. Esse concerto foi gravado e virou o DVD One Night with Blue Note
Lundvall é fotografado com a cantora Norah Jones, uma de suas descobertas


Sob a tutela de Lundvall, a Blue Note lançou Norah Jones, Dianne Reeves, Cassandra Wilson, Bobby McFerrin e Us3. A retomada do prestígio da gravadora tem haver com a paixão que o produtor empenhou na missão que lhe foi conferida. Além dos novatos da década de 1980 e 1990, outros nomes como Joe Lovano, Greg Osby, Jason Moran, Robert Glasper, Gonzalo Rubalcaba e Terence Blanchard também se consolidaram durante esses anos como nomes importantes do jazz.

Seu legado está imortalizada em dois prêmios criados com o seu nome: Bruce Lundvall Award (criado pelo festival de jazz de Montreal) e Bruce Lundvall Visionary Award (patrocinado pela revista JazzTimes). Ambos com a missão de premiar músicos e pessoas ligadas ao jazz.

Em 2011, ele foi premiado com o Trustees Award, criado pelo Grammy, por sua imensurável contribuição à música. O vídeo com o seu discurso de agradecimento está no fim deste post. Três anos depois, uma nova horaria foi concedida ao produtor, desta vez pela Jazz Foundation of America, que o homenageou com Lifetime Achievement Award.

O trompetista Wynton Marsalis, que foi lançado por Lundvall na época em que trabalhava na Columbia Records, entregou o prêmio e fez um discurso emocionado. O músico postou o vídeo em seu site oficial.

Após 25 anos à frente da Blue Note, Lundvall se afastou para tratar do Parkinson. Em seu lugar entrou o músico Don Was, que até hoje preside a gravadora. Lundvall morreu em 2015, aos 79 anos, por complicações causadas pelo Parkinson. Em 2014, a gravadora ArtistShare publicou a biografia Playing By Ear, escrita por Ouellette, contando os principais momentos da vida do produtor.



terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Casino Lights 99

CASINO LIGHTS
Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados. Com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia e muito mais - você encontrará neste blog algumas dicas de CDs publicadas no extinto Guia de Jazz.

Ao final de cada resenha você encontrará vídeos do YouTube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui


Casino Lights 99 (2000)


Apesar dos puristas de jazz odiá--lo, o smooth jazz ou o jazz contemporâneo conquistou o seu espaço nos anos 90. Artistas deste gênero invadiram gravadoras como Warner e Sony e são maioria em selos como a GRP. Entre os representantes mais respeitados do smooth jazz estão nomes como Dave Grusin, George Benson, David Benoit, Fourplay e Spyro Gyro.

Em 1999, no famoso Festival de Montreux, na Suíça, a Warner reuniu seus artistas de jazz contemporâneo para uma apresentação especial. O resultado foi o CD duplo Casino Lights 99, que teve como atração o guitarrista Larry Carlton, os pianistas Bob James e George Duke, o trompetista Rick Braun, os saxofonistas Kirk Whalum, Boney James, Kenny Garrett e Mark Turner, a cantora Gabriela Anders, o cantor Kevin Mahogany e o grupo Fourplay.

O disco tem encontros inspirados como em “Soweto” e “Cold Duck Time”, com Whalum e Carlton, e “Old Folks”, com Turner e James. Nas apresentações individuais, o destaque fica para a suingada “Wayne’s Thang”, com o quarteto de Kenny Garrett, e “Mind Games”, com o trio de Bob James. O supergrupo Fourplay, composto por Bob James, Larry Carlton, Nathan East e Harvey Mason, traz uma reedição de música “Four”, de Miles Davis.

O show ainda tem três faixas reunindo todos os músicos. Entre as músicas estão “Westchester Lady”, composta por Bob James, e a clássica “Watermelon Man”, do mestre Herbie Hancock. A cantora argentina Gabriela Anders e o arranjador George Duke se inspiraram no Brasil para interpretar a canção “Brazilian Love Affair”.

O smooth jazz tem como grande mérito aproximar os ouvintes menos atentos para o jazz. Gostem ou não este serviço tem sido bem feito por dezenas de artistas competentes e de renome mundial. Sendo assim, como dirigia o velho lobo Zagallo: “Vocês vão ter que me engolir”, neste caso o smooth jazz. Desculpe, purista, mas este é um caminho sem volta.

Abaixo você vê na íntegra o show, que foi lançado em DVD e ainda é possível encontrar usado perdido em alguma loja virtual. O repertório do DVD é o mesmo do CD duplo. Boa diversão.