terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Casino Lights 99

CASINO LIGHTS
Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados. Com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia e muito mais - você encontrará neste blog algumas dicas de CDs publicadas no extinto Guia de Jazz.

Ao final de cada resenha você encontrará vídeos do YouTube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui


Casino Lights 99 (2000)


Apesar dos puristas de jazz odiá--lo, o smooth jazz ou o jazz contemporâneo conquistou o seu espaço nos anos 90. Artistas deste gênero invadiram gravadoras como Warner e Sony e são maioria em selos como a GRP. Entre os representantes mais respeitados do smooth jazz estão nomes como Dave Grusin, George Benson, David Benoit, Fourplay e Spyro Gyro.

Em 1999, no famoso Festival de Montreux, na Suíça, a Warner reuniu seus artistas de jazz contemporâneo para uma apresentação especial. O resultado foi o CD duplo Casino Lights 99, que teve como atração o guitarrista Larry Carlton, os pianistas Bob James e George Duke, o trompetista Rick Braun, os saxofonistas Kirk Whalum, Boney James, Kenny Garrett e Mark Turner, a cantora Gabriela Anders, o cantor Kevin Mahogany e o grupo Fourplay.

O disco tem encontros inspirados como em “Soweto” e “Cold Duck Time”, com Whalum e Carlton, e “Old Folks”, com Turner e James. Nas apresentações individuais, o destaque fica para a suingada “Wayne’s Thang”, com o quarteto de Kenny Garrett, e “Mind Games”, com o trio de Bob James. O supergrupo Fourplay, composto por Bob James, Larry Carlton, Nathan East e Harvey Mason, traz uma reedição de música “Four”, de Miles Davis.

O show ainda tem três faixas reunindo todos os músicos. Entre as músicas estão “Westchester Lady”, composta por Bob James, e a clássica “Watermelon Man”, do mestre Herbie Hancock. A cantora argentina Gabriela Anders e o arranjador George Duke se inspiraram no Brasil para interpretar a canção “Brazilian Love Affair”.

O smooth jazz tem como grande mérito aproximar os ouvintes menos atentos para o jazz. Gostem ou não este serviço tem sido bem feito por dezenas de artistas competentes e de renome mundial. Sendo assim, como dirigia o velho lobo Zagallo: “Vocês vão ter que me engolir”, neste caso o smooth jazz. Desculpe, purista, mas este é um caminho sem volta.

Abaixo você vê na íntegra o show, que foi lançado em DVD e ainda é possível encontrar usado perdido em alguma loja virtual. O repertório do DVD é o mesmo do CD duplo. Boa diversão.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Jazz, uma jornada sem fim

Não é de hoje que recebo e-mails de internautas perguntando como nasceu o meu interesse pelo jazz, a ponto de lançar um livro de 700 páginas sobre o assunto. É claro que isso não aconteceu da noite para o dia, mas nada foi pensado ou programado para acontecer.

No início da década de 1990, fui trabalhar em uma loja de CDs na capital paulista chamada Mr. Music, que ficava no bairro dos Jardins. Foi ali que a primeira "semente" foi plantada. No decorrer de toda a década de 1990, convivi com os discos em diferentes lojas, além da Mr. Music. Também passei pela Planet Music, Trax Musical Mind, Hi-Fi e Musical Box.
Guia de Jazz SobreSites virou o livro Jazz ao seu alcance

Por todas essas lojas, tive a oportunidade e a sorte de encontrar um rico acervo de discos importados, entre eles, o jazz. Mas com 20 e poucos anos de idade, o jazz não era algo que realmente me atraia. Mesmo assim, fui me familiarizando com os principais nomes e fazendo uma seleção natural a cada audição, sem qualquer ajuda "didática".

Os anos foram passando e o meu interesse por jazz não cresceu muito. Mas a vida dá voltas, não é mesmo? Com a chegada do novo milênio, as lojas de CDs já não tinham a mesma relevância entre os consumidores de música. A pirataria e a febre do mp3 deixaram claro que os dias de glória das vendas de discos ficariam para trás. E assim aconteceu. Uma a uma, as lojas foram quebrando e o meu ganha pão, também.
Na década de 1990, a loja Planet Music foi uma das mais importantes de SP

Então, fui obrigado a procurar outro tipo de trabalho. Para minha sorte, ou não, sou formado em jornalismo, mas até aquela época não tinha trabalhado na área. E assim continuou. Por um longo período, fiquei sem emprego e ocioso. E foi nesta entressafra que "caiu na minha mão", uma pequena nota do caderno de informática do jornal Folha de S. Paulo. Ela falava sobre um portal chamado SobreSites, que basicamente trazia guias dos mais diversos assuntos, apontando sites para os internautas visitarem.

Todos os guias eram geridos por editores volutários e qualquer pessoa poderia participar, desde que o assunto escolhido fosse aprovado pelos criadores do site. E assim aconteceu. Não sei exatamente o motivo, mas eu me animei e resolvi desenvolver um guia sobre jazz, apontando sites de músicos, rádios, revistas, gravadoras, lojas de discos, entre outras.
Loja Mr. Music e seus vendedores: Júnior, Emerson e Paulo

Pronto, dai em diante, nunca mais parei. A foto que abre esse post é a capa deste guia de jazz que mantive entre 2001 e 2015. Ele foi descontinuado pelos administradores do site. Mas, até aí, o "estrago" já estava feito. O grande conteúdo do guia virou o livro Jazz ao Seu Alcance, lançado em dezembro de 2009 pela editora Multifoco.

Com o fim do guia de jazz, criei o blog que você está visitando, sempre com o objetivo de aproximar o jazz cada vez mais das pessoas. E é isso que continuo fazendo. Divido um pouco do que sei e apresento este universo tão amplo e ainda desconhecido para muitos, ainda mais no Brasil. Apesar de todos os desafios que acontecem há duas décadas, a dedicação e a alegria de poder dividir e aprender continuam as mesmas. Que continue assim.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Trio de Bill Charlap volta ainda mais preciso e afinado


A tradição do trio em sua composição mais clássica (piano, baixo e bateria) é uma das principais portas de entrada para ouvir o jazz. Como não ficar seduzido pelo piano de Bill Evans, Oscar Peterson, Gene Harris, Chick Corea, Mulgrew Miller, Esbjörn Svensson, Keith Jarret e Brad Mehldau?

Infelizmente, com as mortes de Corea e Svensson e a aposentadoria forçada de Jarrett, a magia desta formação perdeu um pouco do seu brilho e da sua influência. Hoje em dia, Mehldau é um dos poucos "sobreviventes" à frente de um trio com uma história de mais de duas décadas para contar.

Vale mencionar também o pianista cubano Gonzalo Rubalcaba. Apesar de não manter um trio sempre com os mesmos músicos, ele tem costume de gravar com essa formação. Em 2021, ele lançou o disco Skyline, indicado ao Grammy na categoria melhor disco de jazz, ao lado dos veteranos Ron Carter (baixo) e Jack DeJohnette (bateria).

Mas Meldau não está sozinho. Outro representante desta escola de jazz, também com um trio em atividade há muitos anos, é o pianista Bill Charlap, que em 2016 conquistou o Grammy em parceria com o cantor Tony Bennett. Agora, depois de uma década longe da gravadora Blue Note, ele retorna com o belíssimo álbum Streets of Dreams, novamente acompanhado pelo baterista Kenny Washington e baixista Peter Washington.

No repertório, Charlap não fez escolhas óbvias e, com isso, deixou o disco mais ousado e livre para a química existente entre os três músicos. De saída, "The Duke", composição de Dave Brubeck em homenagem a Duke Ellington. Em seguida, a sempre inspirada parceria de Billy Strayhorn e Ellington, aparece aqui na bela "Day Dream", com Kenny abusando da vassourinha. Com a mesma pegada aparece "Your Host", com o piano cadenciado de Charlap em pura sintonia com baixo e bateria.
Kenny Washington, Bill Charlap e Peter Washington tocam juntos há duas décadas


O trio pega fogo em "You're All the World to Me", tema que ficou famoso na voz de Fred Astaire, e em "Out of Nowhere", da década de 1930 e gravada, entre outros, pelo cantor Bing Crosby. Outro tema que merece destaque é a composição de Michel Legrand "What Are You Doing the Rest of Your Life", uma balada para machucar o coração, assim como "I'll Know", de Frank Loesser.

Com o novo álbum, Charlap volta a ser protagonista e mostrar que é possível fazer jazz de gente grande sem precisar suar na frente do piano ou escalar naipes de metal para soar "mais jazz". Seu piano preciso e a sinergia com Kenny e Peter são frutos da linguagem universal que apenas a música, em especial o jazz, podem prover.