quinta-feira, 7 de outubro de 2021

70 discos mais populares das últimas sete décadas


O site Discogs fez um pente fino em seus arquivos e compilou 70 discos mais populares entre os internautas que usam a plataforma para catalogar seus discos. A lista está dividida por década, que começa em 1950, um título por ano.

Os artistas que mais aparecem entre os 70 discos são os Beatles, que dominam a década de 1960, o Nirvana, que tem quatro discos, incluindo Nevermind, entre os dez discos da década de 1990, e os ingleses do Pink Floyd, com três discos na década de 1970 (The Wall, The Dark Side of the Moon e Wish You Were Here).

O jazz é protagonista apenas na década de 1950, com discos de Duke Ellington, Chet Baker, Miles Davis, Thelonious Monk, Benny Goodman, John Coltrane (foto) e Cannonball Adderley. Dos dez discos incluidos nesta década, apenas um não é de jazz. O intruso é simplesmente Elvis Presley, que ficou com o disco mais popular de 1956, segundo os usuários do Discogs.

Além de Kind of Blue, que ficou com o pódio no ano de 1959, Miles Davis aparece novamente com o álbum Sketches of Spain, gravado em 1959, mas lançado em 1960. A parceria entre Davis e Gil Evans rendeu belos discos na década de 1960 entre esses dois gênios. Sketches é um dos mais interessantes, com a fusão do jazz e o famoso Concierto de Aranjuez. Veja abaixo a ranking da década de 1950. Voce pode ver a relação completa no site do Discogs.


1950 - BENNY GOODMAN – THE FAMOUS 1938 CARNEGIE HALL JAZZ CONCERT
1951 - THELONIOUS MONK – GENIUS OF MODERN MUSIC
1952 - NAT “KING” COLE – UNFORGETTABLE
1953 - DUKE ELLINGTON AND HIS ORCHESTRA – ELLINGTON UPTOWN
1954 - CHET BAKER – CHET BAKER SINGS
1955 - BING CROSBY – MERRY CHRISTMAS
1956 - ELVIS PRESLEY – ELVIS PRESLEY
1957 - JOHN COLTRANE - BLUE TRAIN
1958 - CANNONBALL ADDERLEY – SOMETHIN’ ELSE
1959 - MILES DAVIS - KIND OF BLUE





terça-feira, 28 de setembro de 2021

Jazz não morre, mas fica órfão sem eles


O jazz morreu. Esta frase é falada desde o fim da década de 1960, quando o jazz perdeu sua força e "apelou" para o rock para continuar a ter visibilidade. Mas quem acompanha o jazz mais de perto sabe que ele está longe de acabar, diante de tantos jovens músicos talentosos que pipocam dos quatro cantos do planeta por meio da internet e das redes sociais.

Mas a metáfora "o jazz morreu" quase se torna verossímil quando perdemos grandes apreciadores e estudiosos do jazz. Nos últimos doze meses, entre setembro de 2020 e setembro de 2021, quatro personalidades que dedicaram suas vidas ao jazz partiram e deixaram, além de seus registros, um enorme silêncio na comunidade do jazz. São eles: Phil Schaap, Stanley Crouch, Zuza Homem de Mello e, mais recentemente, George Wein.

Wein (foto) é considerado o pai de todos os festivais. Ele comandou o Newport Jazz Festival (EUA) por cinco décadas e estabeleceu uma nova maneira de apresentar música ao vivo e ao ar livre. A primeira edição aconteceu em 1954 e todos....eu disse...todos os grandes nomes do jazz subiram ao palco do famoso Fort Adams State Park.

Ele também é responsável pela criação do New Orleans Jazz & Heritage Festival, um dos mais importantes e influentes festivais do mundo. Como empresário, pianista e, acima de tudo, apaixonado por jazz, Wein tem seu nome imortalizado na história dos Estados Unidos. Ele morreu em 13 de setembro, aos 95 anos.

Os outros três senhores se notabilizaram por suas posições e seus conhecimentos na arte do jazz adquiridos em meio século de estudos, audições e, é claro, como espectadores atentos e apaixonados pela arte do improviso, tão característico s fundamental no jazz.

Stanley Crouch é um escritor e ensaista, além de um baterista de jazz mediano, segundo o próprio Crouch. Suas posições fortes sempre o colocaram como um critico influente e, às vezes, maldito. Como negro, ele rompeu publicamente com a ideologia negra nacionalista em 1979 e se tornou uma voz dissonante dentro da comunidade intelectual negra.

Paralelamente a isso, sua paixão pelo jazz expandiu seu repertório e o levou a escrever sobre o tema para publicações como o Village Voice. Em 1987, vira consultor artístico do programa Jazz at Lincoln Center, acompanhado por Marsalis, que mais tarde se tornou diretor artístico, em 1991. Crouch morreu em 16 de setembro de 2020, aos 74 anos.

Com Marsalis, foi consultor no documentário Jazz, de Ken Burns. Apesar da riqueza de detalhes e da importante contribuição ao jazz, o documentário de Burns não se preocupou em falar do jazz após década de 1960, uma falta que não foi corrigida. Assim como Marsalis, o jazz tradicional, na figuras de Louis Armstrong, Charlie Parker e Duke Ellington, sempre foi o foco dos estudos e admiração de Stanley Crouch. Ele recebeu a honraria NEA Jazz Masters, em 2019.

O paulistano Zuza Homem de Mello (foto ao lado) era e sempre será um patrimônio do Brasil. Sua dedicação e amor à música estão marcados na história da música popular brasileira. Como escritor, curador, palestrante, produtor, músico, musicólogo, apresentador....ufa....Zuza está presente em todos os lugares onde era possível ouvir qualquer uma das sete notas musicais.
Zuza tinha duas paixões: o jazz e a música popular brasileira

Como curador, foi responsável pela escalação dos músicos de todas as edições do extinto Free Jazz Festival, que aconteceu anualmente nas capitais paulista e cariocas, durante as décadas de 1980 e 1990. No fim da vida, ele foi retratado no belo documentário Zuza Homem de Jazz (2018), uma emocionante viagem aos Estados Unidos, onde Zuza estudou música na década de 1950. Zuza morreu aos 87 anos, em 4 de outubro de 2020.

Assim como Zuza, o norte-americano Phil Schaap também era um homem multimídia, desde o tempo em que essa palavra sequer existia. Mas sua grande paixão sempre foi o rádio, mais especificamente na WKCR-FM, estação de rádio administrada por estudantes da Universidade de Columbia. Por décadas, Schaap dividiu sua paixão e seu conhecimento com os ouvintes.
Schaap no habitat que mais gostava: o rádio


Seu grande "tutor" foi o saxofonista Charlie Parker, cuja discografia foi minuciosamente estudada e dividida por Schaap. Essa devoção pelo saxofonista rendeu o primeiro dos seis Grammy que ganhou. Suas considerações na caixa Bird - The Complete Charlie Parker On Verve ficou com o Grammy de melhor notas em 1989. Em 2021, Schaap foi premiado com o NEA Jazz Masters. Anualmente, a entidade National Endowment for the Arts (NEA) premia pessoas que de alguma maneira contribuíram para o desenvolvimento do jazz.







sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Greg Osby - Inner Circle

Greg Osby jazz
Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados. Com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia e muito mais - você encontrará neste blog algumas dicas de CDs publicadas no extinto Guia de Jazz.

Ao final de cada resenha você encontrará vídeos do YouTube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui


Greg Osby - Inner Circle (2002)


A chamada nova geração do jazz conseguiu, em um pequeno espaço de tempo, se consolidar entre os consumidores que se preocupam com uma única coisa, a música. Não importa que este ou aquele músico esteja reescrevendo um grande clássico de jazz sem se preocupar com o arranjo original. Não interessa se, muitas vezes, tudo parece estranho e sem nexo no início, mas que no final tudo se encaixará da maneira como você previa e não acreditava que poderia acontecer.

Senão, vejamos. Nos últimos anos, o jazz vem passando por várias modificações e expandindo seu horizonte e seus ouvintes. É esta estrada que músicos como o saxofonista Greg Osby, o pianista Jason Moran e o vibrafonista Stefon Harris têm trilhado.

Os três instrumentistas são o que o antigo dicionário de jazz chamaria de avant-garde. Mas isso não interessa muito, o que vale mesmo é a música. A melhor maneira para entender o que parece ser complexo é ouvi-los em ação e de preferência juntos. Vale lembrar que todos os três têm suas carreiras e discos solos.

É isso que o disco Inner Circle, lançado por Osby em 2002, proporciona. Ao lado do quinteto formado por Harris, Moran, Eric Harland (bateria) e Tarus Mateen (baixo), Osby mostra mais uma vez que é possível arriscar sem medo no universo musical do jazz. Logo na primeira música, “Entruption”, fica claro até onde eles podem ir.

O dedilhado de Moran brilha no início e abre caminho para o sax alto de Osby bater um papo com o piano. O mesmo acontece em “Stride Long”. Para recuperar o fôlego do ouvinte, o quinteto embala “All Neon Like”, composta pela cantora Bjork, e “Diary Of the Same Dream”, na qual Harris começa a aparecer.

O vibrafone brilha de verdade na estonteante “Fragmatic Deconding”, que traz uma conversa franca e sem limite entre Harris e Osby. Outra composição que vai mexer com o ouvinte é “Equalatogram”, com solos marcantes de sax, vibrafone e piano. Essa é uma daquelas faixas que é melhor ver ao vivo para ter certeza que eles realmente estão tocando o que você está ouvindo. Neste tipo de tema é possível entender porque o jazz nunca vai morrer.

Para fechar, uma composição do mestre Charles Mingus, “Self-Portrait In Three Colors”, do famoso álbum Mingus Ah Um, de 1959. Com este álbum, Osby, ao lado de Stefon Harris e Jason Moran, reafirma toda a vitalidade que o jazz e seus novos músicos têm a oferecer.

Não esqueça que craques como Miles Davis, Ornette Coleman, Dizzy Gillespie, Charlie Parker e Dave Brubeck fizeram isto há cinco décadas. Já é hora de esquecer as picuinhas e preconceitos e abrir a cabeça para entender e apreciar essa nova maneira de tocar e pensar o jazz.

O trio Osby, Moran, Harris já tinha se reunido dois anos antes sob o nome de New Directions. O disco homônimo, que conta ainda com o sax tenor de Mark Shim e o baixo de Taurus Mateen, traz o grupo reinterpretando clássicos de Herbie Hancock, Wayne Shorter, Hank Mobley e Sam Rivers.