quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Grammy 2020: os indicados

A lista dos indicados ao Grammy foi publicada no dia 20 de novembro. A premiação da 62ª edição acontecerá no dia 26 de janeiro de 2020, em Los Angeles. Ao todo são 84 categorias que englobam ritmos como blues, gospel, dance, rock, country, metal, folk, r&b, entre outros.

Abaixo você encontra os indicados na categoria jazz, que inclui melhor improvisação solo, melhor disco vocal, melhor disco instrumental, melhor disco de big band e melhor disco de jazz latino.

Neste ano, o Brasil concorre na categoria melhor disco de jazz latino com o álbum Sorte!: Music by John Firbury. O disco traz nos vocais a cantora carioca Thalma de Freitas (foto abaixo), acompanhada por Vitor Gonçalves (piano), John Patitucci (baixo), Chico Pinheiro (violão), Airto Moreira e Rogerio Boccato (percussão) e Duduka Da Fonseca (bateria). Os concorrentes da brasileira são Chick Corea & The Spanish Heart Band, Jazz At Lincoln Center Orchestra com Wynton Marsalis & Rubén Blades, David Sánchez e Miguel Zenón.

Outro brasileiro que pode conquistar o Grammy é o violonista paulista Diego Figueiredo. Ele concorre na categoria melhor arranjo instrumental e vocal pela música "Marry Me a Little", em parceria com a cantora francesa Cyrille Aimée. Diego participa de duas faixas do disco Move On: A Sondheim Adventure, lançado por Cyrille no início de 2019.

Na categoria melhor disco vocal, o destaque é a cantora Sara Gazarek, que lançou o aclamado disco Thirsty Ghost, e tenta deixar o "segundo escalão" das cantoras de jazz. Vencer o Grammy poderá ser o passo definitivo em sua carreira.

Na disputa com Sara estão as experientes Catherine Russell, com Alone Together e The Tierney Sutton Band, com Screenplay. Completam as indicações Esperanza Spalding, com 12 Little Spells, e Jazzmeia Horn, com Love & Liberation. Jazzmeia esteve recentemente no Brasil e tem sido considerada a grande revelação do jazz, com grandes chances de levar seu primeiro Grammy.

Outra curiosidade desta categoria é a falta de um representante masculino. Em 2019, por exemplo, entre os cinco indicados, três eram do sexo masculino. Nas duas últimas edições, na categoria melhor disco vocal, o prêmio ficou com a cantora Cécile McLorin Salvant. Saiba mais sobre o disco de Sara Gazarek na matéria publicada no blog do Blue Note clicando aqui.

Na categoria melhor disco de jazz, a academia indicou nomes consagrados nas últimas três décadas. São eles: o pianista Brad Mehldau, os saxofonistas Branford Marsalis e Joshua Redman, o baixista Christian McBride e o organista Joey DeFrancesco. Dos indicados, apenas Marsalis já levou um Grammy nesta categoria. Veterano em indicações, 10 ao todo, Joshua Redman lançou um dos mais belos álbum de jazz em 2019 (Come What May) e tem todos os requisitos para sair vencedor. Correndo por fora está o veterano Christian McBride com o ótimo New Jawn, lançado no fim de 2018. É a primeira vez em vários anos que os onipresentes Chick Corea e Wayne Shorter não estão indicados nesta categoria.

A categoria melhor improvisação solo destaca sempre um único tema pinçado de um disco. Desta vez, estão na briga o veterano trompetista Randy Brecker, com a música "Sozinho", do disco Rocks, o guitarrista Julian Lage, com "Tomorrow is the Question", do disco Love Hurts, a saxofonista chilena Melissa Aldana, com "Elsewhere", do disco Visions, e o saxofonista Branford Marsalis, com "The Windup", e o baixista Christian McBride, com "Sightseeing". Marsalis venceu nesta categoria em 2015. Além de Marsalis, outro favorito é Julian Lage, que recebeu sua quinta indicação e com grande chande de conquistar seu primeiro gramofone dourado.

Por fim, a categoria big band ou orquestra sempre oferece a oportunidade de revelar e apresentar orquestra menos conhecidas do grande público e, ao mesmo tempo, deixar claro que essa vertente do jazz continua ativa e ricamente representada por excelentes músicos que se juntam para fazer música de qualidade.

Esse é o exemplo da Terraza Big Band, que concorre pelo disco One Day Wonder. A orquestra toca semanalmente no clube de jazz Terraza 7, que fica na cidade de Nova York, e tem em sua direção Michael Thomas (sax) e Edward Perez (baixo). Sua principal característica é a mistura do jazz com ritmos latinos.

Outro destaque é o disco Triple Helix, comandada pela clarinetista israelense Anat Cohen. Dirigido por Oded Lev-Ari, o álbum oferece uma mescla de música erudita e jazz, com alguns momentos mais introspectivos e outros mais enérgicos. Um disco difícil, mas belíssimo.

Outro forte concorrente é o disco Hiding Out, do pianista Mike Holober acompanhado da The Gotham Jazz Orchestra. Com um belíssimo conjunto de saxes, trompetes e trombones, o disco oferece ao ouvinte um experiência sensorial. Destaque para a regravação de "Caminhos Cruzados", composta por Tom Jobim, com a participação do percussionista brasileiro Rogerio Boccato, que tocou na Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo. Outro forte candidato é o disco da jovem arranjadora e compositora japonesa, radicada nos Estados Unidos, Miho Hazama. o álbum Dancer in Nowhere (foto) oferece um diversidade sonora que agrada em cheio ao ouvinte que deseja ouvir um som de orquestra, mas com uma pegada mais contemporânea.

Melhor Improvisação Solo


ELSEWHERE
Melissa Aldana
Álbum: Visions

SOZINHO
Randy Brecker
Álbum: Rocks

TOMORROW IS THE QUESTION
Julian Lage
Álbum: Love Hurts

THE WINDUP
Branford Marsalis
Álbum: The Secret between the Shadow and the Soul

SIGHTSEEING
Christian McBride
Álbum: New Jawn

Álbum Vocal


THIRSTY GHOST
Sara Gazarek

LOVE & LIBERATION
Jazzmeia Horn

ALONE TOGETHER
Catherine Russell

12 LITTLE SPELLS
Esperanza Spalding

SCREENPLAY
The Tierney Sutton Band

Álbum Instrumental


IN THE KEY OF THE UNIVERSE
Joey DeFrancesco

THE SECRET BETWEEN THE SHADOW AND THE SOUL
Branford Marsalis Quartet

CHRISTIAN MCBRIDE'S NEW JAWN
Christian McBride

FINDING GABRIEL
Brad Mehldau

COME WHAT MAY
Joshua Redman Quartet

Álbum de Big Band


TRIPLE HELIX
Anat Cohen Tentet

DANCER IN NOWHERE
Miho Hazama

HIDING OUT
Mike Holober & The Gotham Jazz Orchestra

THE OMNI-AMERICAN BOOK CLUB
Brian Lynch Big Band

ONE DAY WONDER
Terraza Big Band

Álbum de Jazz Latino


ANTIDOTE
Chick Corea & The Spanish Heart Band

SORTE!: MUSIC BY JOHN FINBURY
Thalma de Freitas & Vitor Gonçalves

UNA NOCHE CON RUBÉN BLADES
Jazz At Lincoln Center Orchestra With Wynton Marsalis & Rubén Blades

CARIB
David Sánchez

SONERO: THE MUSIC OF ISMAEL RIVERA
Miguel Zenón






























terça-feira, 12 de novembro de 2019

Connick Jr. se rende a Cole Porter

Não é preciso datas comemorativas e outras artimanhas de marketing para lançar um disco em tributo a Cole Porter. O compositor norte-americano morreu na década de 1960, mas seu legado será eterno ao lado de outros gênios como Beethoven, Bach, Gershwin, Mozart e Duke Ellington.

Mas a pergunta que fica é: você compraria mais um disco para ouvir as mesmas canções que já escutou centenas de vezes com dezenas de intérpretes?

Antes de responder, dê uma chance ao novo disco do cantor Harry Connick Jr., chamado True Love: A Celebration of Cole Porter. As 13 faixas do álbum já podem ser ouvidas de graça no canal oficial do cantor no Youtube, sem precisar estar logado a nada e lembrar desta ou daquela senha. O ex-futuro Frank Sinatra, pelo menos era isso o que se imaginava quando Connick apareceu no fim da década de 1980, tem hoje 52 anos e uma carreira sólida como arranjador, cantor, pianista, compositor, ator e apresentador.

No decorrer de sua longa carreira, Connick sempre preservou suas raízes de Nova Orleans, cidade onde ele nasceu. Mas isso não o obrigou a ficar restrito a este universo, o que o levou a trilhar o caminho natural de um cantor de jazz, ou seja, gravar os grandes standards da música norte-americana. Mas, diferentemente de outros intérpretes, além de ser um belíssimo músico, Connick não caiu na armadilha de fazer discos temáticos, com exceção de discos natalinos, muito populares na terra do Tio Sam. Connick sempre flertou com a música pop, mas sempre manteve um pé no jazz. A exceção foi sua incursão pela Broadway, mas isso apenas mostrou o quanto sua inquietação musical o mantém ávido por criar e se envolver em distintos projetos.


Após duas décadas, o cantor volta a gravar com uma big band

Depois de 35 anos de carreira, finalmente, o cantor se rendeu ao apelo de gravar um songbook completo com obras de Cole Porter. O resultado, obviamente, foi um tiro certeiro. Além das famosas composições de Porter, o disco traz o cantor em ótima forma, cantando e tocando, e, em especial, os arranjos. Felizmente, Connick escolheu fazer um disco com arranjos criados para big band, o que deixou a música de Porter ainda mais vigorosa e atraente. Ao mesmo tempo, não deixou de fora as cordas e aquela atmosfera que lembra as orquestras de Nelson Riddle e Don Costa, mas sem deixar o meloso.

Para os fãs do cantor, poder ouvi-lo novamente acompanhado de uma big band é um alívio e uma deliciosa surpresa após tantos anos longe dos metais. No repertório, "Just One of Those Things", "In the Still of the Night", "Begin the Beguine", "All of You", "Anything Goes", "I Love Paris", entre outras. Além na onipresença da voz do cantor, que também fez a regência da orquestra durante as gravações, o disco abre espaço para belos solos de clarinete e trompete, em "I Love Paris", e de piano, na versão instrumental de "Begin the Beguine".

Em uma obra tão vasta, obviamente, grandes clássicos de Porter ficaram de fora, entre eles, "Night and Day", "I've Got You Under My Skin", "Every Time We Say Goodbye" e "Love for Sale". Isso, é claro, não compromete o belíssimo trabalho do cantor, por outro lado, em tempos de ouvir música em streaming e todas as plataformas de músicas digitais com milhões de músicas a um toque de distância, fica uma pergunta no ar: Por que continuar a lançar discos e, ainda por cima, com menos de 60 minutos de duração, em um formato que oferece a possibilidade de incluir 79 minutos de música?

O velho Connick Jr. poderia ter sido um pouco mais solidário com seu velho camarada CD, que definha cada vez mais e, em breve, será mais um item de colecionadores compulsivos ávidos pelo disquinho digital que reinou por quase duas décadas, lá no longínquo século XX. Que mancada, Harry.







quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Barron e Miller duelam em The Art of Piano

O encontro de dois gigantes do jazz sempre termina em coisa boa. A história está cheia de exemplos que comprovam isso. Basta lembrar da parceria Charlie Parker & Dizzy Gillespie, John Coltrane & Miles Davis, Ella Fitzgerald & Joe Pass e Herbie Hancock & Wayne Shorter.

Todos esses encontros aconteceram com instrumentos distintos, mas também temos belos discos de parcerias com instrumentos iguais, entre eles, os saxofonistas Coleman Hawkins & Lester Young, Lee Konitz & Warne Marsh, Eric Alexander & Vicent Herring, os guitarristas John Scofield & Pat Metheny e os pianistas Herbie Hancock & Chick Corea.

De olho nessa riquíssima história, a gravadora Sunnyside Records lança o álbum triplo The Art of Piano Duo - Live, com os pianistas Kenny Barron & Mulgrew Miller. Os discos trazem três shows distintos. Um gravado em 2005, em Marciac, na França, e dois registrados na Suíça, ambos em 2011, nas cidade de Genebra e Zurique. Sozinhos no palco, os dois pianistas mostram a fina arte do improviso. Em entrevista para divulgar o disco, Barron comentou como funciona a parceria com Miller.

"Nós nunca conversamos sobre a música. Nós nos sentávamos e determinávamos quem iria começar e pronto. Se eu soubesse [a música], apenas acenaria com a cabeça. Se eu não soubesse, balançaria a cabeça e ele tentaria outra. Nós apenas deixamos isso acontecer. Isso foi divertido, imaginando para onde poderíamos ir. Na maioria das vezes funcionava".

Com um repertório eclético, que passa por Benny Carter ("When Lights Are Low"), Rogers & Hart ("It Never Entered My Mind"), Jimmy Van Heusen ("It Could Happen To You"), Charlie Parker ("Yardbird Suite"), Duke Ellington ("I Got It Bad And That Ain't Good") e Thelonious Monk ("Blue Monk"), os experientes pianistas mostram a fina arte do improviso e muito entrosamento.

Mas para o ouvinte menos "treinado", em alguns momentos, o disco vai parecer um pouco confuso. É claro que os solos e improvisos estão garantidos, por outro lado, o excesso de notas poderá distrair o ouvinte e tornar a audição menos prazerosa. Mas nada que comprometa a essência do disco, com dois mestres do instrumento. O disco também traz, além dos duetos, temas solos, entre eles, "Song For Abdullah", com Barron, e "I Got It Bad And That Ain't Good", com Miller.

Miller faleceu em 2013, aos 57 anos, vítima de um derrame cerebral. Durante sua carreira, tocou com a orquestra de Duke Ellington, comandada por Mercer Ellington, filho de Duke, a cantora Betty Carter), o trompetista Woody Shaw e o baterista Art Blakey. Conheça também os discos Live at Yoshi Volume 1 e 2, com Miller acompanhado por Karriem Riggins (bateria) e Derrick Hodge (baixo), gravado ao vivo no clube californiano em 2003.