segunda-feira, 26 de julho de 2021

Sesc promove debate Música para Ler


O ciclo de debates Música para Ler, exibido pelo YouTube oficial do Sesc, em julho de 2021, conversou com autores que se arriscaram a escrever sobre a história de formação de alguns dos gêneros musicais criados ou assimilados pelos compositores, produtores e músicos brasileiros, dando ênfase à escrita de textos da rica bibliografia musical brasileira.

Os autores escolhidos foram Ruy Castro, Carlos Calado, Luiz Tatit, Carlos Rennó e Lira Neto.

A cada encontro, o bate-papo descontraído comandado pelos jornalistas Patrícia Palumbo, Roberta Martinelli e Júlio Maria trouxe curiosidades e a discussão sobre o ofício do autor em escrever sobre um assunto tão rico em informações e ainda tão pouco explorado pelo mercado editorial brasileiro.

Veja a seguir um pequeno histórico sobre os entrevistados e os entrevistadores, e no final do texto você pode ver na íntegra todos os vídeos dos encontros promovidos pelo Centro de Música Sesc.

Ruy Castro é jornalista, escritor, tradutor e biógrafo. Já participou das redações de Pasquim, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, Veja São Paulo, IstoÉ, Playboy, Status e Manchete, principalmente nas colunas de cultura. Escreveu obras como ¿Chega de Saudade – A História e as Histórias da Bossa Nova’, de 1990, no qual narra as aventuras e desventuras das figuras que marcaram este movimento musical e ¿Carmen: uma biografia’, que enfoca a vida e a carreira da grande cantora e atriz luso-brasileira, livro vencedor do prêmio Jabuti, em 2006.

Carlos Calado é jornalista, editor e crítico musical, escreve sobre festivais, shows e discos. Desde meados dos anos 1980 acompanha profissionalmente a produção fonográfica brasileira e eventos musicais em diversos países. Autor dos livros “Tropicália: a História de Uma Revolução Musical”, “A Divina Comédia dos Mutantes”, “O Jazz como Espetáculo” e “Jazz ao Vivo”, entre outros. Colabora eventualmente para os jornais Folha de S. Paulo e Valor.

Luiz Tatit é músico e professor Titular do Departamento de Linguística da F.F.L.C.H. da U.S.P. e autor dos livros Semiótica da Canção: Melodia e Letra (Escuta, 1994), O Cancionista: Composição de Canções no Brasil (Edusp, 1996), Musicando a Semiótica: Ensaios (AnnaBlume 1997), Análise Semiótica Através das Letras (Ateliê, 2001), O Século da Canção (Ateliê, 2004), Elos de Melodia e Letra (Ateliê, 2008), este em colaboração com Ivã Carlos Lopes, Semiótica à Luz de Guimarães Rosa (Ateliê, 2010), Todos Entoam: Ensaios, Conversas e Lembranças (Ateliê, 2014), Estimar Canções: Estimativas Íntimas na Formação do Sentido (Ateliê, 2016) e Passos da Semiótica Tensiva (Ateliê, 2019)

Carlos Rennó é letrista de música. Seus primeiros parceiros mais importantes foram Tetê Espíndola e Arrigo Barnabé, na fase da vanguarda paulistana, no início dos anos 80. Na voz de Tetê, a sua “Escrito Nas Estrelas”, composta com Arnaldo Black, venceu o Festival dos Festivais, da Rede Globo, em 1985. Desde o fim da década de 90, seu parceiro mais regular tem sido Lenine, com quem criou “Todas Elas Juntas Num Só Ser”, prêmio da Música Brasileira de “Canção do Ano” em 2005. CR também tem músicas com Pedro Luís, Lokua Kanza, Chico César, Paulinho Moska, Zé Miguel Wisnik, João Bosco, Gilberto Gil, Rita Lee, Tom Zé e Moraes Moreira, entre diversos outros compositores. CR também é organizador do livro “Gilberto Gil – Todas as Letras” (1996; 2003) e autor de “Cole Porter – Canções, Versões” (1991) entre outros.

Lira Neto é escritor e jornalista, recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura em quatro ocasiões (2007, 2010, 2013 e 2014) e uma vez o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA (2014). Graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutorando em História pela Universidade Nova de Lisboa. É autor dos três volumes de `Getúlio`, e `Uma História do Samba: As Origens`.

Patrícia Palumbo foi três vezes premiada por seu trabalho em rádio pela APCA, apresenta desde 1998 o programa Vozes do Brasil no ar em 11 emissoras do país. Apresenta o Instrumental Sesc Brasil há 20 anos. Faz curadoria e consultoria musical para a TV Cultura, a Casa Brasileira e o Itaú Cultural. E agora comanda seu podcast Peixe Voador. Lançou três livros de entrevistas, Vozes do Brasil vol.1 e 2, pela DBA. E o volume 3 foi lançado em 2019 pela Edições Sesc com 33 artistas da música brasileira. Adora as ligações entre a música e a filosofia, o barco no mar e o zen budismo, o hai cai e os mutantes, Mia Couto e Hermínio Bello de Carvalho. Patricia conversa com Carlos Calado e Luiz Tatit.

Julio Maria é repórter e crítico de música do jornal O Estado de S. Paulo há 15 anos. Foi repórter da área musical e editor do Caderno de Variedades do Jornal da Tarde por dez anos, colaborou como colunista e comentarista da Rádio Eldorado, editou o Caderno 2 Mais Música entre 2010 e 2013. É autor do livro Nada será como antes, biografia de Elis Regina que venceu, em 2015, o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), e, em 2021, lançou Ney Matogrosso, a Biografia, pela Companhia das Letras,

Roberta Martinelli é apresentadora, criadora e curadora do programa Cultura Livre, na TV Cultura. É também apresentadora do programa Prelúdio, único concurso de música clássica na TV Cultura ao lado do Maestro Júlio Medaglia.

Ruy Castro e Julio Maria


Carlos Rennó e Roberta Martinelli


Carlos Calado e Patrícia Palumbo


Luiz Tatit e Patrícia Palumbo


Lira Neto mediado por Roberta Martinelli

terça-feira, 13 de julho de 2021

Hoje é dia de rock, bebê


O Dia Internacional do Jazz é comemorado em 30 de abril. A data foi criada pela UNESCO, agência especializada das Nações Unidas (ONU), em 2011, com o objetivo de mostrar a importância desta música na integração de diferentes culturas e na luta pela liberdade dos negros nos Estados Unidos.

Assim como o jazz, o Rock também tem uma data especial, 13 de julho. Foi neste dia que aconteceu o show Live Aid, em 1985, em dois locais simultaneamente: Londres (estádio de Wembley), na Inglaterra, e Filadélfia (estádio JFK), nos Estados Unidos. O concerto arrecadou dinheiro para ajudar a Etiópia, país africano atingido duramente pela fome e pela miséria. Por mais de 10h de duração, passaram pelos dois palcos nomes como Led Zeppelin, Queen, U2, Phil Collins, Paul McCartney, Madonna e The Who.

Apesar de serem musicalmente diferentes, muitos afirmar que a atitude rock and roll também pode ser encontrada no jazz. Miles Davis, John Coltrane, Herbie Hancock, Charlie Parker, Nina Simone, Chet Baker, Pharoah Sanders, Anita O'Day e Keith Jarrett são alguns desses destemidos jazzistas que marcaram seus nomes com discos e apresentações memoráveis.

No decorrer da história do jazz, mais especificamente no início da década de 1970, jazz e rock se encontram com o aparecimento do fusion jazz. Grupos como Weather Reporter, John McLaughlin & The Mahavishnu Orchestra e Return to Forever foram a personificação deste movimento, que contou também com Miles Davis, Pat Metheny e Herbie Hancock. Nessa mesma época, o rock também ampliava o seu repertório com o protagonismo do rock progressivo, que teve Pink Floyd, Genesis, Yes, King Crimson e Emerson, Lake and Palmer. Uma das características deste novo rock é exatamente a parte instrumental, que tem nos sintetizadores seu grande destaque.

Beatles, Cole Porter e Sting

A fusão rock e jazz pode ser encontrada em diversos discos perdidos por aí. O grupo mais regravado por jazzistas são os Beatles. Além de estarem entre nós desde o início da década de 1960, o quarteto de Liverpool tem clássicos como "Yesterday", "Help", "Something", "Blackbird" e "All We Need is Love". Entre os jazzistas que gravaram disco apenas com canções dos Beatles estão o pianista Count Basie e sua orquestra e a cantora Sarah Vaughan.

Também vale a pena conhecer a coletânea The Blue Note Plays The Beatles, com interpretações de Lee Morgan, Stanley Turrentine, Stanley Jordan e Grant Green. Outro álbum com canções de Lennon e McCartney é (I Got No Kick Against) Modern Jazz, que traz músicos como Chick Corea, George Benson, McCoy Tyner, Spyro Gyra e Chick Corea.

Da mesma série Blue Note Plays, você encontra jazzistas interpretando canções do cantor Sting. O ex-vocalista do The Police sempre flertou com o jazz, em especial em sua carreira solo. Sting chegou a gravar com o arranjador Gil Evans e tem participações frequentes de músicos de jazz como o baixista Christian McBride, o trompetista Chris Botti e o saxofonista Branford Marsalis.

Os grandes compositores das décadas de 30, 40 e 50, entre eles Cole Porter e George Gershwin, são frequentemente gravados por artistas pops.

Apesar de não serem composições de jazz, essas canções, conhecidas como standards, são muito populares entre os cantores de jazz como Frank Sinatra, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Harry Connick Jr. No rock, o projeto mais interessante é o disco Red, Hot + Blue (foto), de 1991.

O álbum traz apenas composições de Cole Porter nas vozes de Neneh Cherry, U2, David Bryne, Fine Young Cannibals, Iggy Pop, Tom Waits e Annie Lennox.


Tudo misturado

Quem também arriscou misturar jazz com rock foi o cantor Paul Anka, em 2005, com o disco Rock Swings. A proposta foi simples. Arranjar grandes temas do rock para serem executadas por uma big band. Entre os temas escolhidos estão músicas de Bon Jovi, Spandau Ballet, Van Halen, The Cure e Nirvana. Na mesma pegada, há o melancólico disco Holding Back the Years, do saudoso Jimmy Scott. Com sua voz única, o pequeno Scott recria temas originalmente gravados por Simply Red, Bryan Ferry, Prince, Elton John e John Lennon.

Para termina, não podemos deixar de citar dois álbuns que sintetizam como poucos essa fusão. O primeiro é o disco These Are The Vistas, do trio The Bad Plus. Neste disco, eles regravam "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana, e "Heart Of Glass", do Blondie. Além dos covers, a pegada do trio (piano, baixo, bateria) é sempre ousada e com uma atitude rock and roll. O segundo é The New Standard, do pianista Herbie Hancock, que escalou nomes como John Scofield, Michael Brecker, Dave Holland e Jack Dehjohnette para acompanhá-lo. No cardápio estão temas como New Yor Minute (Eagles), All Apologies (Nirvana), Mercy Street (Peter Gabriel) e Thieves in the Temple (Prince).

Trash metal x jazz

O guitarrista da banda Testament, Alex Skolnik, tem um trabalho paralelo com o seu trio, no qual recria temas de rock para o formato de jazz fusion. É interessante ver um músico originalmente nascido no rock pesado neste contexto. Entre as canções já registradas por Skolnik estão Dream On (Aerosmith), Goodbye to Romance (Ozzy Osbourne), Pinball Wizard (The Who) e Detroit Rock City (Kiss), Highway Star (Deep Purple) e Tom Sawyer (Rush).











sexta-feira, 9 de julho de 2021

Good Night, and Good Luck

Donald Harrison jazz
Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim. Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia e muito mais - você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.

Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui

Good Night, and Good Luck (2005)

Poucas cantoras que apareceram nos últimos 20 anos podem e devem ser lembradas. Ao contrário dos cantores, que desde a morte de Frank Sinatra continua à procura de uma nova voz, o universo feminino no jazz tem se mostrado ativo e dezenas de novas cantoras apareceram. Mas o ouvinte deve ter cuidado com o que vai consumir e tentar separar o joio do trigo.

Cantoras como Cassandra Wilson, Diana Krall, Dee Dee Brigewater e Diane Schuur são alguns dos nomes que podem ser degustados sem medo ou contra indicação. Neste seleto grupo de vozes femininas também está Dianne Reeves, estrela da gravadora Blue Note e vencedoras de quatro prêmios Grammy.

No início de carreira, Dianne flertou com a música pop e o rhythm and blues, mas não conseguiu espaço e aos poucos foi se aproximando do jazz. Com um timbre de voz semelhante ao da cantora Sarah Vaughan, as comparações foram inevitáveis. Contratada pela Blue Note no início da década de 90, Dianne já gravou uma dezena de álbuns e alcançou o merecido status de grande intérprete do jazz.

Seu grande momento foi a participação no filme Boa noite e boa sorte (Good night, and good luck), de 2005. Dirigido pelo ator George Clooney, o longa conta a história real do jornalista Edward Murrow e sua luta “contra” a cruzada anticomunista do senador republicano Joseph McCarthy, que aconteceu no início dos anos 50. Dianne aparece em várias cenas interpretando uma cantora de jazz. Além de sua valiosa “interpretação” de cantora, ela também brilha na trilha sonora.
Dianne Reeves canta durante as filmagens do longa dirigido por Clooney


Todas as músicas foram escolhidas por Clooney e a gravação que você escuta no CD foi basicamente toda gravada no set de filmagem, no momento em que o diretor filmava as cenas da cantora e dos músicos, entre eles o saxofonista Matt Catingub e o pianista Peter Martin. A composição sax, bateria e piano deu um clima tranqüilo ao disco e o acompanhamento ideal para as interpretações de Dianne.

Logo de saída, o clássico “Straighten Up and Fly Right” já arrebata o ouvinte. Na sequência vêm “I’ve Got My Eyes On You”, “Gotta Be This Or That” e a deliciosa “Too Close for Confort”. As baladas dominam o álbum em temas como “Who’s Minding the Store?”, “Pretend”, “Solitude” e “How High the Moon”. Outros destaques são as releituras de “One for My Baby”, “There’ll Be Another Spring” e “TV Is the Thing This Year”, famosa na voz de Dinah Washington.