sábado, 12 de dezembro de 2020

JazzTimes aponta os 100 melhores discos das últimas cinco décadas


A revista norte-american JazzTimes completa 50 anos em 2020. Ao lado da octogenária DownBeat, a JazzTimes é uma das mais importantes e influentes publicações de jazz.

A publicação nasceu da cabeça de Ira Sabin, um baterista que tinha uma loja de disco na capital Washington (EUA). Inicialmente era um folheto distribuído ao clientes com lançamentos de discos e cupons de desconto. Com o tempo, a publicação virou um tablóide e seu nome mudou para Radio Free Jazz e, finalmente, JazzTimes.

Desde então, todos os grandes nomes do jazz já estiveram na capa da revista. De Miles Davis a Esperanza Spalding, de Charles Lloyd a Joshua Redman. Com uma bela diagramação e grandes matérias, a revista se consolidou entre os fãs de jazz e ganhou a admiração dos músicos e da indpustria fonográfica, que na década de 1990 investia pesado na publicidade de seus artistas.

Para comemorar o seu jubileu de ouro, a edição de dezembro de 2020 (foto) da revista traz dois top 50 com discos escolhidos entre seus leitores e outro por críticos de jazz. A diferença destas listas para tantas outras espalhadas por aí, é que a revista pediu a seus eleitores (críticos e leitores), que escolhecem o disco que mais gostavam em cada uma das últimas cinco décadas, a partir de 1970, ano de nascimento da JazzTimes. Com isso, o top 50 tem exatamente dez discos de cada uma das cinco últimas décadas. Outra informação importante, é que, pelo menos para os leitores que votaram pelo site da revista, havia uma lista prévia com cerca de 100 discos, a maioria deles tinha aparecido nas páginas da revista na seção de críticas de CDs.

Ao vermos a escolha dos leitores, fica evidente a onipresença do guitarrista Pat Metheny (foto abaixo), que aparece com discos nas cinco décadas. É o único artista que conseguiu esse feito. Na década de 1980, entre os dez discos escolhidos pelos leitores, três são do guitarrista. Por outro lado, também salta aos olhos a não inclusão da cantora canadense Diana Krall, uma das mais populares artistas de jazz entre as décadas de 1990 e 2000. Outro destaque é o pianista Brad Mehldau, que aparece com discos nas últimas três décadas, ou seja, desde o seu aparecimento no mercado fonográfico.

Na lista dos críticos, como de costume, aparecem músicos menos populares entre os leitores, como Charles Lloyd, Andrew Hill, John Zorn e Vijay Iyer. Causa estranheza não encontrar discos da arranjadora Maria Schneider e sua orquesta na lista dos críticos, mas ela aparece top 10 de discos da década de 2010 dos leitores.

Em linhas gerais, todos os grandes nomes das últimas cinco décadas estão representados aqui, entre eles, Miles Davis, Wayne Shorter, Herbie Hancock, Michael Brecker, Keith Jarrett, Dave Holland, Wynton Marsalis, Jaco Pastorius, Charlie Haden, Cassandra Wilson, Weather Report, Chick Corea, Joe Henderson, Joe Lovano, Sonny Rollins e Esperanza Spalding.

Abaixo você encontra os dois ranking completos eleitos pelos leitores da revista, que tiveram a oportunidade de votar pelo site da revista, e pelos críticos e especialistas, que tiveram liberdade de apontar discos de diferentes movimentos do jazz.


2010: LEITORES

Kamasi Washington: The Epic
Wayne Shorter Quartet: Without a Net
Esperanza Spalding: Radio Music Society
Brian Blade & the Fellowship Band: Landmarks (empate)
Keith Jarrett & Charlie Haden: Jasmine (empate)
Maria Schneider Orchestra: The Thompson Fields
Pat Metheny: Unity Band
Ambrose Akinmusire: When the Heart Emerges Glistening
Wayne Shorter: Emanon
Kurt Rosenwinkel: Star of Jupiter
Brad Mehldau Trio: Ode

2000: LEITORES

Kurt Rosenwinkel: The Next Step
Wayne Shorter: Footprints Live!
Brian Blade Fellowship: Perceptual
Herbie Hancock, Michael Brecker, Roy Hargrove: Directions in Music: Live at Massey Hall
Pat Metheny Group: The Way Up
Dave Holland Quintet: Prime Directive
Kurt Rosenwinkel: Heartcore
Brad Mehldau: Largo
Norah Jones: Come Away With Me
Herbie Hancock: River: The Joni Letters

1990: LEITOR

Joe Henderson: Lush Life: The Music of Billy Strayhorn
Pat Metheny, Dave Holland, Roy Haynes: Question and Answer
Stan Getz, Kenny Barron: People Time
Charlie Haden & Pat Metheny: Beyond the Missouri Sky (Short Stories)
Joe Henderson: So Near, So Far (Musings for Miles)
Cassandra Wilson: Blue Light 'Til Dawn
Herbie Hancock, Wayne Shorter, Ron Car
ter, Wallace Roney, Tony Williams: A Tribute to Miles
Brad Mehldau: Songs: The Art of the Trio V
olume Three
Shirley Horn: Here's to Life
Michael Brecker: Tales from the Hudson

1980: LEITORES

Pat Metheny: 80/81
Keith Jarrett: Standards, Vol. 1
Miles Davis: Tutu
Pat Metheny Group: Still Life (Talking)
Jaco Pastorius: Word of Mouth
Grover Washington, Jr..: Winelight
Michael Brecker: Michael Brecker
Pat Metheny Group: First Circle
Al Di Meola, John McLaughlin, Paco de Lucía: Friday Night in San Francisco
Bob James, David Sanborn: Double Vision

1970: LEITORES

Miles Davis: Bitches Brew
Herbie Hancock: Head Hunters
Chick Corea: Return to Forever
Keith Jarrett: The Köln Concert
Weather Report: Heavy Weather
Pat Metheny: Bright Size Life
Freddie Hubbard: Red Clay
Jaco Pastorius: Jaco Pastorius
Miles Davis: A Tribute to Jack Johnson
Weather Report: Weather Report

2010: CRÍTICOS

Terri Lyne Carrington: The Mosaic Project (Concord Jazz, 2011)
Esperanza Spalding: Radio Music Society (Heads Up/Concord, 2002)
Wayne Shorter Quartet: Without a Net (Blue Note, 2013)
Chick Corea Trio: Trilogy (Stretch/Concord Jazz, 2014)
Kamasi Washington: The Epic (Brainfeeder, 2015)
Aziza: Aziza (Dare2, 2016)
Gregory Porter: Take Me to the Alley (Blue Note, 2016)
Vijay Iyer Sextet: Far from Over (ECM, 2017)
Cécile McLorin Salvant: The Window (Mack Avenue, 2018)
Branford Marsalis Quartet: The Secret Between the Shadow and the Soul (Marsalis/OKeh, 2019)

2000: CRÍTICOS

Andrew Hill: Dusk (Palmetto, 2000)
Jason Moran: Black Stars (Blue Note, 2001)
Wayne Shorter: Footprints Live! (Verve, 2002)
Don Byron: Ivey-Divey (Blue Note, 2004)
Sonny Rollins: Without a Song: The 9/11 Concert (Milestone, 2005)
Michael Brecker: Pilgrimage (Heads Up/Concord, 2007)
Roy Hargrove: Earfood (EmArcy/Decca, 2008)
Charles Lloyd Quartet: Rabo de Nube (ECM, 2008)
Joe Lovano Us Five: Folk Art (Blue Note, 2009)
Miguel Zenón: Esta Plena (Marsalis, 2009)

1990: CRÍTICOS

John Zorn: Naked City (Elektra/Nonesuch, 1990)
Stan Getz, Kenny Barron: People Time (Verve, 1992)
Don Byron: Tuskegee Experiments (Nonesuch, 1992
Shirley Horn: Here's to Life (Verve, 1992)
Henry Threadgill: Too Much Sugar for a Dime (Axiom, 1993)
Cassandra Wilson: Blue Light 'Til Dawn (Blue Note, 1993)
Joshua Redman: MoodSwing (Warner Bros., 1994)
Charlie Haden, Hank Jones: Steal Away (Verve, 1995)
Diana Krall: Love Scenes (GRP/Impulse!, 1997)
Brad Mehldau: Songs: The Art of the Trio Volume Three (Warner Bros., 1998)

1980: CRÍTICOS

Pat Metheny: 80/81 (ECM, 1980)
Joe Henderson: Mirror Mirror (MPS, 1980)
Jaco Pastorius: Word of Mouth (Warner Bros., 1981)
Herbie Hancock: Future Shock (Columbia, 1983)
Jack DeJohnette's Special Edition: Album Album (ECM, 1984)
Wynton Marsalis: Black Codes (From the Underground) (Columbia, 1985)
Miles Davis: Tutu (Warner Bros., 1986)
Michael Brecker: Michael Brecker (MCA/Impulse!, 1987)
Betty Carter: Look What I Got! (Bet-Car/Verve, 1988)
World Saxophone Quartet: Rhythm and Blues (Elektra, 1989)

1970: CRÍTICOS

Miles Davis: Bitches Brew (Columbia, 1970)
Freddie Hubbard: Red Clay (CTI, 1970)
The Mahavishnu Orchestra: The Inner Mounting Flame (Columbia, 1971)
Chick Corea: Return to Forever (ECM, 1972)
David Holland Quartet: Conference of the Birds (ECM, 1973)
Keith Jarrett: The Köln Concert (ECM, 1975)
Wayne Shorter: Native Dancer (Columbia, 1975)
Pat Metheny: Bright Size Life (ECM, 1976)
Weather Report: Heavy Weather (Columbia, 1977)



Capas da revista JazzTimes


sua imagem aqui
sua imagem aqui
sua imagem aqui
sua imagem aqui
sua imagem aqui
sua imagem aqui

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

100 vezes Dave Brubeck


Em 2020, o mundo do jazz reverencia o pianista norte-americano Dave Brubeck por seu centenário. Ele nasceu em 6 de dezembro de 1920 e morreu em 5 de dezembro de 2012. A primeira imagem que vem a nossa cabeça ao ouvir o nome do pianista é a música "Take Five" e o disco Time Out (1959).

A força da composição do saxofonista Paul Desmond, membro do quarteto de Brubeck entre as décadas de 1950 e 1970, e a ruptura musical proporcionado por Time Out são um legado histórico, não apenas para o jazz, mas para a produção musical no século XX.

Na contra-capa original de Time Out, o texto escrito por Steve Race tenta "explicar" o que o ouvinte vai encontrar ao colocar em sua vitrola o disco de Bruceck. De forma didática, Steve diz que "Brubeck mescla três culturas em seu novo disco: o formalismo da música clássica ocidental, a liberdade de improvisação jazzística e a pulsação, frequetemente complexa, da música folclórica africana".

A explicação deixará a ouvinte um tanto curioso, mas também fazer com que o consumidor prefira comprar um outro disco. Independentemente das "orientações" que vêm junto com o álbum, tudo fica muito claro ao ouvir "Take Five", que utiliza o compasso 5/4 ao invés do tradicional 4/4. Isso sem falar em "Blue Rondo a la Turk", que é interpretada no compasso 9/8. Mas o que faz esse disco um marco na história do jazz, além de tudo o que você acabou de ler, é a perfeita sintonia do quarteto comandado por Brubeck. Além de Desmond no sax, o grupo é formado por Joe Morello (bateria) e Eugene Wright (baixo).

É claro que resumir uma carreira de seis décadas a um único disco é muito pouco. Brubeck gravou com os grandes do jazz, entre eles, Gerry Mulligan, Louis Armstrong e Carmen McRae, foi um ativista dos direitos humanos e um dos primeiros músicos a se rebelar contra o racismo. Apesar da importância de seu legado, Brubeck foi visto como um improvisador "pouco talentoso" por alguns estudiosos. Mas isso nunca foi um problema para ele e, muito menos, para o seu público.

A longevidade de sua carreira o premitiu vivenciar diferentes momentos e movimentos do jazz. Mesmo assim, o toque de Brubeck se manteve fiel ao seu estilo e ao seu executor.


Além das homenagens por seu centenario, o fã do pianista também terá a oportunidade de colocar suas mãos no disco Time Outtakes, que traz versões não usadas durante as gravações do álbum Time Out, além das inéditas "I‘m in a Dancing Mood" e "Watusi Jam". Os temas "Pick Up Sticks" e "Everybody’s Jumpin", que estão em Time Out, não aparecem nesta nova versão por terem sido gravadas de primeira, ou seja, não há uma segunda versão executada durante as gravações do álbum.

Outro lançamento é Lullabies, gravado originalmente pelo pianista em 1990, com canções de ninar tocadas por Brubeck especialmente para os seus netos. O disco inédito foI um presente do músico aos netos. Por último, o livro do jornalsta britânico Philip Clark chamado Dave Brubeck: A Life In Time, uma biografia do pianista lançada em fevereiro de 2020. Clark manteve contato com Brubeck na última década de sua vida e teve acesso a arquivos pessoais do músico. Com isso, o livro traz deliciosas histórias sobre sua carreira e os bastidores de gravações e turnês.

Nos vídeos abaixo você tem uma pequena amostra do que foi e é a obra de Dave Brubeck. O último vídeo traz na íntegra o disco Park Avenue South, gravado ao vivo em 2003, em Nova York. Esse é o meu disco preferido do pianista. Confira.