sexta-feira, 25 de setembro de 2020

The Bad Plus - Give

Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim.

Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido". Mas não totalmente perdido.

Além do livro Jazz ao Seu Alcance, que traz todo o conteúdo do guia, você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.

Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui

The Bad Plus - Give (2004)


Parece uma tarefa fácil, mas às vezes escrever sobre alguns CDs pode se tornar tão espinhoso como prestar vestibular. Isso se encaixa bem para o disco do trio norte-americano The Bad Plus, Give.

Desde seu primeiro trabalho, que trazia uma versão de “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, o trio formado pelo pianista Ethan Iverson, o baixista Reid Anderson e o baterista David King vem conquistando elogios de toda a crítica especializada e do público que tem a oportunidade de vê-los em ação. Não é possível rotular o som do grupo, mas é certo afirmar que depois dele o jazz nunca mais foi o mesmo.

Para comprovar isto é só escutar a versão impensável da clássica “Iron Man”, do Black Sabbath ainda nos tempos de Ozzy Osbourne. A bateria forte de King e o piano desconcertante de Iverson deixam claro que os rapazes não estão para brincadeira. Em outros dois covers “Velouria”, dos Pixies, e “Street Woman”, de Ornette Coleman, o ouvinte terá a prova definitiva da diversidade musical do trio.

Produzido por Tchad Blake, que trabalhou com Pearl Jam e Peter Gabriel, o CD também traz composições bens distintas dos três músicos. Iverson pariu “Cheney Piñata” e “Do Your Sums Die”; King, responsável pelo som sujo do disco, contribuiu com três músicas, com destaque para “Layin a Strip for the Higher-Self State”, que parece trazer uma pitada do jazz de Nova Orleans.

Já Anderson, que parece ter um papel secundário, mas é essencial no som do grupo, vem com as faixas mais simples para ouvir, entre elas a singela “Nepture” e a quase pop “Dirty Blonde”.

O Bad Plus teve a coragem de remar contra a maré e acabou conquistando alguns milhares de tripulantes para acompanhá-los. Mas cuidado ao ouvir Give, pois marinheiro de primeira viagem pode se afogar neste mosaico musical.









Músicas


1979 Semi-Finalist
Cheney Piñata
Street Woman
And Here We Test Our Powers Of Observation
Frog And Toad
Velouria
Layin' A Strip For The Higher-Self State Line
Do Your Sums - Die Like A Dog - Play For Home
Dirty Blonde
Neptune (The Planet)
Iron Man

terça-feira, 8 de setembro de 2020

90 primaveras de Sonny Rollins

Sonny Rollins é um dos últimos de sua geração ainda vivo. É claro que agora muito menos produtivo, mas é compreensível após uma carreira de seis décadas. Curioso é notar que o saxofonista sempre é lembrado por sua trajetória, mas nenhum dos seus discos é festejado como acontece com álbuns de Miles Davis, Dave Brubeck, Charles Mingus, Herbie Hancock ou Louis Armstrong. No último dia 7 de setembro, Rollins completou 90 anos de idade.

A exceção é o disco Saxophone Colossus (1956), que traz a música "St. Thomas", com uma pegada calipso, e o trio composto por Tommy Flanagan (piano), Doug Watkins (baixo) e Max Roach (bateria). Apesar da ser ovacionado como um álbum importante de sua discografia, nenhum disco de Rollins é mais impactante que A Night At The Village Vanguard (1957).


Rollins é homenageado pelo presidente Barack Obama, em 2011


Foi a primeira vez de Rollins no Village, uma das mais importantes casa de jazz do mundo e que até hoje funciona na cidade de Nova York. Na ocasião, o jovem Rollins, com 26 anos de idade, ficou uma semana tocando no clube. Os registros do disco trazem duas formações: a principal com Wilbur Ware (bass) e Elvin Jones (bateria) e a "alternativa", com Donald Bailey (baixo) e Pete La Roca (bateria).

A formação de um trio sem o piano, que invitavelmente rouba a cena em um trio ou quarteto de jazz, faz toda a diferença nessa apresntação. O sax de Rollins está inteiro e brilhante. As frases tocadas em clássicos como "A Night In Tunisia" e "I Can’t Get Started" estão todas lá, sempre com a genialidade e o improviso do músico.


Rollins tem 7 décadas de vida dedicada ao jazz

Outro disco que é fundamental em sua carreira é The Bridge (62), em parceria com o guitarrista Jim Hall. Mais uma vez, o piano não foi escalado, e não fez falta com a presença sempre lúcida de Hall. O disco tem um ritmo mais agitado, com uma fusão muito oportuna entre sax e guitarra. O disco também marca o retorno de Rollins ao mercado fonográfico. Ele ficou três anos "apenas praticando" seu sax e procurando novos caminhos para a sua arte. Saiba mais sobre este período sabático do músico clicando Aqui

Ouça o podcast sobre o saxofonista Sonny Rollins:



Por fim, o álbum Without a Song: The 9/11 Concert (2005), gravado ao vivo em Boston. O disco tem um forte componente emocional, pois foi gravado quatro dias após os atentados de 11 de setembro de 2001, quando aviões se chocaram com as Torres Gêmeas, na cidade de Nova York. Rollins morava próximo ao local do atentado quando tudo aconteceu e chegou a pensar em adiar a apresentação. Mas felizmente o concerto aconteceu e trouxe Rollins em ótima forma, acompanhado dos músicos que gravaram um ano antes o disco This Is What I Do, premiado com o Grammy de melhor disco de jazz.

Em 2011, o músico foi homenageado pelo governo dos Estados Unidos com o prêmio Kennedy Center Honors, oferecido aos mais distintos campos das artes (cinema, música, literatura, dança e artes plásticas). Na ocasião, coube ao presidente Barack Obama fazer os discurso sobre a importância de Rollins para a cultura dos Estados Unidos e o jazz. Quatro anos antes, o saxofonista já tinha ganhado o prêmio Polar Music Prize, oferecido pelo governo da Suécia.

Where or When (do disco Without a Song: The 9/11 Concert)



A Night At The Village Vanguard (lado B)



A Night At The Village Vanguard (lado A)



The Bridge



Way Out West



Munique 1992



Viena 2011



65 & 68



Homenagem no Kennedy Center Honors



Prêmio Polar Music

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Dívida do Brasil com Laurindo Almeida ainda não foi paga



E lá se vão 25 anos sem a presença física do violonista brasileiro Laurindo Almeida, que morreu em 26 de julho de 1995, aos 77 anos. Radicado nos Estados Unidos desde o fim da década de 1940, o músico nascido em Miracatu (SP) é até hoje o artista brasileiro mais bem sucedido no exterior, superando até mesmo Tom Jobim.
Laurindo é um dos mais respeitados violonistas de todos os tempos

No currículo, o violonista tem cinco prêmios Grammy e um Oscar pela trilha sonora do curta de animação The Magic Pear Tree (1968). Sim, quando falarem que o Brasil nunca ganhou um Oscar, encha os pulmões e grite: "É mentira". Laurindo esteve envolvido em centenas de trilhas sonoras de filme nos Estados Unidos, entre 1947 e 1992, com destaque para os filmes Viva Zapata (1952), Os Dez Mandamentos (1956), O Velho e o Mar (1958), Spartacus (1960), O Poderoso Chefão (1972) e os Imperdoáveis (1992).

Antes de partir para o exterior, deixou sua marca no Brasil trabalhando na rádio Mayrink Veiga e no casino da Urca, na cidade do Rio de Janeiro. Também gravou com os compositores Radamés Gnattali e Heitor Villa-Lobos, o violonista Garot e a cantora Carmen Miranda.
Disco gravado ao lado de Ray Brown, Bud Shank e Shelly Manne


Para muitos, Laurindo foi o "pai" da bossa nova, pois ele já misturava a música brasileira e o jazz antes da invasão da música brasileira nos Estados Unidos, no início da década de 1960. O disco Guitar From Ipanema (1964) ficou com o Grammy de melhor execução de jazz.

Mas a história do músico com o jazz começou assim que chegou aos Estados Unidos, com o emprego na orquestra de Stan Kenton. Dai por diante, o músico nunca mais parou. Foram quatro décadas de uma produção sem pausa. Além de centenas de trilhas sonoras, ele gravou uma outra centena de discos solos.

Em 1958, ele foi capa da revista de jazz Downbeat e ganhou na votação da revista o prêmio de melhor guitarrista do ano. Aé hoje, ele é o único músico brasileiro a estampar a capa desta publicação, que tem 85 anos de história.

Laurindo na capa da revista Downbeat, em 1958


Destaque também para o disco ao lado do Modern Jazz Quartet, a parceria com o violonista Charlie Byrd e os trabalhos com o quarteto The L. A. Four, que era composto pelo violonista brasileiro, Ray Brown (baixo), Shelly Manne (bateria) e Bud Shank (sax e flauta). O grupo gravou dez discos entre 1974 e 1982, todos pela gravadora de jazz Concord. Manne e Shank foram companheiros do brasileiro na orquestra de Kenton.

Abaixo você encontra vários vídeos que mostram momentos distintos da carreira do violonista. Destaque para o primeiro vídeo, o dcoumentário Laurindo Almeida - Muito Prazer, que mostra com detalhes a rica trajetória do músico no Brasil e no exterior. Para saber mais detalhes sobre a vida de Laurindo, clique aqui e lei o dissertação do pesquisador Alexandre Francischini, publicado em 2009, pela editora UNESP.

Documentário: Laurindo Almeida - Muito Prazer



Laurindo e Irene Krall



Carinhoso




Modern Jazz Quartet



Alemanha 1992



Laurindo e Modern Jazz Quartet



Laurindo & Tania Maria



The L.A. Four



Curta-metragem The Magic Pear Tree