segunda-feira, 24 de junho de 2019

Chris Potter volta elétrico e irrequieto

Quem acompanha a carreira do saxofonista Chris Potter sabe que seu som não é exatamente simples de se ouvir. Mas é claro que isso não é um problema.

Pelo contrário, o som encorpado de Potter é fruto da sua inquietação musical. Isso fica cristalino ao olharmos sua discografia solo ou sua participação em quase 100 discos de outros músicos.

Hoje, aos 48 anos, Potter é um veterano dentro do jazz, com três décadas de história tocando ao lado de nomes do quilate de Dave Douglas,, Herbie Hancock, Jim Hall, John Scofield, Pat Metheny, Paul Motion e Ray Brown. Sua discografia está espalhada pelos selos Cris Cross, Concord, Verve e ECM.

Agora, mais uma vez, sua conhecida inquietação o leva para um novo desafio e uma nova gravadora, a britânica Edition Records, após vários anos na gravadora alemã ECM. A nova empreitada de Potter chama-se Circuits, com o apoio do jovem tecladista James Francies e do velho parceiro Eric Harland, na bateria. O disco conta ainda com a participação do baixista africano Linley Marthe.

Desta vez, Potter preferiu uma sonoridade mais "moderna" ao escolher o piano elétrico e o baixo elétrico como pano de fundo para os seus solos sempre criativos. Isso fica muito claro logo de saída com "Hold It", na qual a sonoridade do sax está robusta e em perfeita sintonia com o teclado de Francies. Em "The Nerve", o baixo de Marthe conversa com o sax mais livre de Potter.


Eric Harland, Chris Potter e James Francies protagonizam o disco

O clima muda completamente em "Koutomé", uma composição do músico africano Amenoudji Joseph Vicky. Aqui, a bateria de Harland dá o tom para que Potter e Marthe, nascido nas Ilhas Maurício, na África Oriental, consigam traduzir suas ideias em seus instrumentos.

A faixa título é sem dúvida o tema que mais deixa evidente a unidade do quarteto. Todos os instrumentos estão conversando entre si, de forma coerente e com criatividade. O formato de trio volta com força em "Green Pastures" e "Queens of Brooklyn", esta última uma breve balada com Potter lançando mão do sax soprano e da flauta.

Os temas "Exclamation" e "Pressed For Time" terão efeito direto nos ouvidos dos fãs do grupo Weather Reporter. A unidade e a energia do grupo nos remete diretamente ao trio Jaco Pastorius, Wayne Shorter e Joe Zawinul. Ambas são uma viagem musical vertiginosa e naturalmente contagiante. A primeira com a formação do quarteto e a última em trio, composta pelo irrequieto Francies.

O final do disco não poderia ter sido mais pujante. Potter dispara toda a sua munição de frases musicais de uma maneira extremamente pessoal e articulada. As frases que muitas vezes parecem desconectadas para o ouvinte menos iniciado acabam se unindo e criando uma música vigorosa e desafiadora para quem ouve. Ponto para Potter, que não poupa esforços para encontrar novos caminhos para mente musical sem limites.





quarta-feira, 19 de junho de 2019

Zuza Homem de Jazz: documentário destaca vida do musicólogo

A trajetória do jornalista, musicólogo e produtor musical Zuza Homem de Mello se confunde com a música popular brasileira.

Sua participação ativa no programa O Fino da Bossa, entre 1965 e 1967, e como engenheiro de som nos festivais da TV Record, são marcos em sua longínqua carreira, além da curadoria de grandes festivais de música, entre eles o Free Jazz e o Tim Festival.

Mas a história de Zuza começou muito antes, no fim da década de 1950, época em que foi estudar na School of Jazz, em Massachussets e depois na Juilliard School, em Nova York. Foi lá que o jovem estudante de baixo teve a oportunidade de ver shows das maiores estrelas do jazz, entre eles, Billie Holiday, Coleman Hawkins, John Coltrane, Dizzy Gillespie, Duke Ellington e Thelonious Monk.

Foi neste momento que a relação de Zuza com o jazz nasceu e nunca mais o abandonou. Hoje, aos 85 anos, ele continua sua missão de "ensinar" seus seguidores a aprender a ouvir música e a sempre tirar o que há de melhor na obra de cada músico.

O documentário Zuza Homem de Jazz, dirigido por Janaina Dalri, conta um pouco sua trajetória por meio de depoimentos de pessoas que conviveram com o jornalista no Brasil e no exterior e, é claro, com deliciosos papos com o próprio Zuza.

A diretora Janaina acompanha Zuza na cidade de Nova York e registra encontros do jornalista com diversas personalidades deste universo, entre eles o arranjador e pianista Bob Dorough, o cantor e pianista Steve Ross, o trompetista Wynton Marsalis, a arranjadora Maria Schneider e os jornalistas Gary Giddins e James Gavin.

No Brasil, os depoimentos ficaram a cargo do jornalista Roberto Muylaert, da produtora Monique Gardenberg e dos músicos André Mehmari, Zé Nogueira, Egberto Gismonti, Letieres Leite, Nelson Ayres e Mario Adnet.


Zuza em Nova York em uma cena do documentário Zuza Homem de Jazz


Segundo o próprio Zuza, o objetivo do documentário não era apenas falar sobre sua vida. O principal ponto foi mostrar como a música brasileira influenciou o jazz e vice-versa, em especial na época da bossa nova, durante a década de 1960.

Atualmente, o documentário pode ser visto na programação do canal Curta, disponível nas principais empresas de TV por assinatura. Veja aqui uma reportagem sobre o documentário exibida no Jornal da Band, em novembro de 2018.

No decorrer de sua carreira, Zuza publicou vários livros, entre eles Copacabana – A Trajetória do Samba-Canção (1929-1958), A Era dos Festivais, Música com Z, Eis Aqui os Bossa Nova, Música nas Veias e João Gilberto.

Entrevista no Roda Viva (2019)



Entrevista no Estadão





Entrevista na livraria Cultura

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Peter Frampton mergulha com sua guitarra no blues

Ele foi uma das figuras centrais do rock na década de 1970. Seu disco ao vivo, Comes Alive, foi por décadas o disco ao vivo mais vendido da história.

Sua figura sexy permeou o imaginário das mulheres no auge de sua carreira e sexy appeal. Ele era conhecido por sua bela voz e sua inconfundível guitarra.

Peter Frampton continua uma referência, independentemente de ter sua carreira prejudicada pelos excessos que a vida de um rockstar muitas vezes ocasionam.

Hoje, aos 69 anos, Frampton está volta à ativa, com o disco All Blues, no qual recria grandes temas da história do blues. Além de ser o primeiro disco do guitarrista dedicado totalmente ao blues, o álbum chega em um momento particularmente decisivo em sua carreira.

Em fevereiro, ele revelou ter sido diagnosticado com uma doença muscular degenerativa rara. Diante disso, ele anunciou que a turnê deste disco será despedida dos palcos.

A notícia de sua doença causa comoção, é claro, mas ao mesmo tempo a volta de Frampton ao disco é uma ótima maneira de encarar o momento delicado ao qual ele está passando. O novo álbum foi gravado ao vivo em estúdio com a banda afiada de Frampton: Adam Lester (guitarra), Rob Arthur (teclados) e Dan Wojciechowski (bateria).


Aos 69 anos, Frampton lança seu primeiro disco inteiramente dedicado ao blues

O disco traz clássicos como “The Thrill Is Gone” (composta originalmente em 1951 e imortalizada por B.B. King), com a participação do guitarrista Sonny Landreth, e “I Just Want to Make Love to You”, de Muddy Waters, com o cantor Kim Wilson, da banda Fabulous Thunderbirds, nos vocais.

Outros dois convidados de peso também participam do disco. O veterano guitarrista Larry Carlton dá seu toque pessoal no clássico do jazz “All Blues”, e o virtuoso Steve Morse, do Deep Purple, mostra o seu lado bluseiro em “Going Down Slow”, música originalmente gravada pelo cantor de Chicago St. Louis Jimmy Oden, em 1941.

A guitarra de Frampton brilha ainda na balada “Same Old Blues”, gravada pelo mestre Freddy King, em “Me And My Guitar” e “Yoy Can’t Judge A Book By The Cover”, com Frampton abusando da guitarra slide. Para completar, o guitarrista ainda faz uma versão instrumental da clássica “Georgia On My Mind”.

A turnê norte-americana do cantor começa no dia 18 em Tulsa, em Oklahoma, e termina no dia 12 de outubro em Concord, na Califórnia. Para quem tem grana sobrando, fica aqui um conselho, ver o mestre Frampton tocando blues em casa, ou seja, nos Estados Unidos, é um investimento que vale cada centavo que você economizou até hoje. O músico não informou se a turnê será estendida para outros países.

Georgia on My Mind



All Blues (Larry Carlton)



The Thrill Is Gone (Sonny Landreth)



Going Down Slow (Steve Morse)



Same Old Blues



You Can't Judge A Book By The Cover