quarta-feira, 19 de junho de 2019

Zuza Homem de Jazz: documentário destaca vida do musicólogo

A trajetória do jornalista, musicólogo e produtor musical Zuza Homem de Mello se confunde com a música popular brasileira.

Sua participação ativa no programa O Fino da Bossa, entre 1965 e 1967, e como engenheiro de som nos festivais da TV Record, são marcos em sua longínqua carreira, além da curadoria de grandes festivais de música, entre eles o Free Jazz e o Tim Festival.

Mas a história de Zuza começou muito antes, no fim da década de 1950, época em que foi estudar na School of Jazz, em Massachussets e depois na Juilliard School, em Nova York. Foi lá que o jovem estudante de baixo teve a oportunidade de ver shows das maiores estrelas do jazz, entre eles, Billie Holiday, Coleman Hawkins, John Coltrane, Dizzy Gillespie, Duke Ellington e Thelonious Monk.

Foi neste momento que a relação de Zuza com o jazz nasceu e nunca mais o abandonou. Hoje, aos 85 anos, ele continua sua missão de "ensinar" seus seguidores a aprender a ouvir música e a sempre tirar o que há de melhor na obra de cada músico.

O documentário Zuza Homem de Jazz, dirigido por Janaina Dalri, conta um pouco sua trajetória por meio de depoimentos de pessoas que conviveram com o jornalista no Brasil e no exterior e, é claro, com deliciosos papos com o próprio Zuza.

A diretora Janaina acompanha Zuza na cidade de Nova York e registra encontros do jornalista com diversas personalidades deste universo, entre eles o arranjador e pianista Bob Dorough, o cantor e pianista Steve Ross, o trompetista Wynton Marsalis, a arranjadora Maria Schneider e os jornalistas Gary Giddins e James Gavin.

No Brasil, os depoimentos ficaram a cargo do jornalista Roberto Muylaert, da produtora Monique Gardenberg e dos músicos André Mehmari, Zé Nogueira, Egberto Gismonti, Letieres Leite, Nelson Ayres e Mario Adnet.


Zuza em Nova York em uma cena do documentário Zuza Homem de Jazz


Segundo o próprio Zuza, o objetivo do documentário não era apenas falar sobre sua vida. O principal ponto foi mostrar como a música brasileira influenciou o jazz e vice-versa, em especial na época da bossa nova, durante a década de 1960.

Atualmente, o documentário pode ser visto na programação do canal Curta, disponível nas principais empresas de TV por assinatura. Veja aqui uma reportagem sobre o documentário exibida no Jornal da Band, em novembro de 2018.

No decorrer de sua carreira, Zuza publicou vários livros, entre eles Copacabana – A Trajetória do Samba-Canção (1929-1958), A Era dos Festivais, Música com Z, Eis Aqui os Bossa Nova, Música nas Veias e João Gilberto.

Entrevista no Roda Viva (2019)



Entrevista no Estadão





Entrevista na livraria Cultura

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Peter Frampton mergulha com sua guitarra no blues

Ele foi uma das figuras centrais do rock na década de 1970. Seu disco ao vivo, Comes Alive, foi por décadas o disco ao vivo mais vendido da história.

Sua figura sexy permeou o imaginário das mulheres no auge de sua carreira e sexy appeal. Ele era conhecido por sua bela voz e sua inconfundível guitarra.

Peter Frampton continua uma referência, independentemente de ter sua carreira prejudicada pelos excessos que a vida de um rockstar muitas vezes ocasionam.

Hoje, aos 69 anos, Frampton está volta à ativa, com o disco All Blues, no qual recria grandes temas da história do blues. Além de ser o primeiro disco do guitarrista dedicado totalmente ao blues, o álbum chega em um momento particularmente decisivo em sua carreira.

Em fevereiro, ele revelou ter sido diagnosticado com uma doença muscular degenerativa rara. Diante disso, ele anunciou que a turnê deste disco será despedida dos palcos.

A notícia de sua doença causa comoção, é claro, mas ao mesmo tempo a volta de Frampton ao disco é uma ótima maneira de encarar o momento delicado ao qual ele está passando. O novo álbum foi gravado ao vivo em estúdio com a banda afiada de Frampton: Adam Lester (guitarra), Rob Arthur (teclados) e Dan Wojciechowski (bateria).


Aos 69 anos, Frampton lança seu primeiro disco inteiramente dedicado ao blues

O disco traz clássicos como “The Thrill Is Gone” (composta originalmente em 1951 e imortalizada por B.B. King), com a participação do guitarrista Sonny Landreth, e “I Just Want to Make Love to You”, de Muddy Waters, com o cantor Kim Wilson, da banda Fabulous Thunderbirds, nos vocais.

Outros dois convidados de peso também participam do disco. O veterano guitarrista Larry Carlton dá seu toque pessoal no clássico do jazz “All Blues”, e o virtuoso Steve Morse, do Deep Purple, mostra o seu lado bluseiro em “Going Down Slow”, música originalmente gravada pelo cantor de Chicago St. Louis Jimmy Oden, em 1941.

A guitarra de Frampton brilha ainda na balada “Same Old Blues”, gravada pelo mestre Freddy King, em “Me And My Guitar” e “Yoy Can’t Judge A Book By The Cover”, com Frampton abusando da guitarra slide. Para completar, o guitarrista ainda faz uma versão instrumental da clássica “Georgia On My Mind”.

A turnê norte-americana do cantor começa no dia 18 em Tulsa, em Oklahoma, e termina no dia 12 de outubro em Concord, na Califórnia. Para quem tem grana sobrando, fica aqui um conselho, ver o mestre Frampton tocando blues em casa, ou seja, nos Estados Unidos, é um investimento que vale cada centavo que você economizou até hoje. O músico não informou se a turnê será estendida para outros países.

Georgia on My Mind



All Blues (Larry Carlton)



The Thrill Is Gone (Sonny Landreth)



Going Down Slow (Steve Morse)



Same Old Blues



You Can't Judge A Book By The Cover

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Beyond The Notes traz a história da Blue Note

Não é novidade a devoção que qualquer fã de jazz tem pela gravadora Blue Note. Também é óbvio que essa admiração é fruto de uma história de oito décadas dedicadas a mais norte-americana das artes.

Aqui, no lar criado por Alfred Lion e Francis Wolff, em 1939, passaram quase todos os gigantes do jazz, entre eles, John Coltrane, Dexter Gordon, Bud Powell, Joe Henderson, Wayne Shorter, Herbie Hancock, Art Blakey, Horace Silver e Clifford Brown.

Para comemorar o aniversário dessa octogenária, um novo documentário sobre a gravadora foi produzido pela diretora suíça Sophie Huber. Beyond The Notes conta de forma leva o desenvolvimento do selo comandado por décadas por Lion e Wolff.

Durante entrevistas para lançar o documentário, Sophie destacou a forma caseira e amadora como os dois imigrantes de origem alemã judeu administravam a gravadora.


Francis Wolf e Alfred Lion criaram em 1939 a gravadora Blue Note

"De certa forma, o que fez a Blue Note ser diferente é que Alfred Lion e Francis Wolff eram, acima de tudo, fãs de jazz que não tinham ideia de como o negócio da música funcionava. Então, basicamente, eles só gravavam músicas que queriam ouvir. Eles tinham tanto respeito e amor pelos músicos que os deixavam fazer o que quisessem. Foi essa abordagem que fez a gravadora lançar discos realmente revolucionários”.

Parte do documentário registra a gravação do disco Our Point Of View, o primeiro do Blue Note All-Stars, em 2017. O supergrupo é formado por estralas atuais da gravadora. São eles: Ambrose Akinmusire (trompete), Robert Glasper (teclados), Derrick Hodge (baixo), Lionel Loueke (guitarra), Kendrick Scott (bateria) e Marcus Strickland (sax).

Além dos músicos citados, o disco ainda traz a participação especial dos veteranos Wayner Shorter (sax) e Herbie Hancock (piano).

Os dois tocam na faixa "Masquelero", música composta por Shorter em 1967. O encontro desses dois gigantes do jazz com a "meninada" é registrado com muita destreza pela diretora.

No mesmo ambiente, após alguns takes, Hancock e Shorter falam sobre suas experiências na gravadora Blue Note e a presença de Alfred Lion e Francis Wolff durante as gravações nas décadas de 1950 e 1960.

Outra boa sacada do documentário são as entrevistas com os produtores Terrace Martin e Ali Shaheed Muhammed, do grupo A Tribe Called Quest. Ambos falam de como os samplers da gravadora Blue Note usados na cena hip hop ajudaram a mantê-la relevante ainda hoje.

Outro documentário que vale a pena ser procurado é It Must Schwing! The Blue Note Story, uma produção alemã dirigida por Eric Friedler, em parceria com o cineasta Wim Wenders.

O título é uma brincadeira com o sotaque alemão de Alfred Lion. Durante o documentário, os músicos brincam com a pronuncia de Lion ao falar a palavra swing, que acabava saindo Schwing.

Além de depoimentos de músicos como Herbie Hancock, Wayne Shorter, Sheila Jordan, Lou Donaldson e Benny Golson, o documentário reproduz, por meio de animações, as sessões de gravações da Blue Note, com destaque para a presença constante de Lion e de Wolf, que aproveitava o momento para tirar fotos dos músicos.

Abaixo você encontra os trailers dos dois documentários e um vídeo com o registro do grupo Blue Note All-Stars tocando a música "Cycling Through Reality". O último vídeo traz um pequeno documentário sobre a gravadora, produzido em 2014, com entrevistas com o pianista Jason Moran e os produtores Don Was (atual presidente da Blue Note) e Michael Cuscuna.









Veja abaixo um Top 20 com discos da gravadora Blue Note (em ordem alfabética)

Andrew Hill - Black Fire (1964)
Art Blakey & The Jazz Messengers - Free For All (1964)
Bobby Huttecherson - Oblique (1979)
Cannonball Adderley - Somethin' Else (1958)
Dexter Gordon - Go (1962)
Donald Byrd - A New Perspective (1964)
Eric Dolphy - Out to Lunch (1964)
Freddie Hubbard - Open Sesame (1960)
Grant Green - Grantstand (1962)
Herbie Hancock - Speak Like a Child (1968)
Horace Silver - Song For My Father (1965)
J.J. Johnson - Volume 1 (1953)
Joe henderson - Inner Urge (1966)
John Coltrane - Blue Train (1958)
Larry Young - Unity (1966)
Lee Morgan - Search For The New Land (1966)
McCoy Tyner - The Real McCoy (1967)
Norah Jones - Come Away With Me (2002)
US3 - Hand On The Touch (1993)
Wayne Shorter - Adam's Apple (1963)