sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Emilio Santiago, um ilustre desconhecido

A morte de Emilio Santiago, aos 66 anos, em 2013, deixou um grande hiato no universo dos crooners. O Brasil tem grande tradição de cantoras, mas sempre foi desprovido de bons cantores, exceções foram Dick Farney, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Silvio Cesar, Mario Reis e Cauby Peixoto.

Atualmente, talvez, apenas Ney Matogrosso e Elymar Santos tenham essa característica de intérprete, ou seja, um cantor que tem como principal característica a interpretação e não a composição.

No decorrer de quatro décadas, Emilio Santiago emprestou sua voz para os grandes temas da música popular brasileira. Seu domínio total na arte de cantar foi usado em composições como "Ronda", "Eu Sei que Vou Te Amar", "Retalhos de Cetim", "Pérola Negra", "Universo Do Teu Corpo", "Detalhes", "Carinhoso" e "Chega de Saudade". Todas essas músicas foram lançadas por Emilio na série de sete discos chamada Aquarela Brasileira. Veja no final deste post a íntegra do DVD O Melhor das Aquarelas.

Destaque também para os discos Perdido de Amor, de 1995, um tributo ao cantor Dick Farney, e Só Danço Samba, de 2010, no qual faz homenagem ao "Rei dos Bailes", Ed Lincoln, que brilhou na década de 1960. O show deste disco virou um DVD homônimo, que está disponível na íntegra no final deste post.

Por fim, em 2007, Emilio retorna com o belíssimo De Um Jeito Diferente,, com participação de grandes instrumentistas, entre eles Ricardo Silveira (guitarra), Jorge Helder (baixo) e Paulo Braga (bateria). No repertório, temas de Marcos Valle, Joyce, Carlos Lyra, Tom Jobim e Johnny Alf.

Um DVD, gravado em estúdio, com o mesmo nome, registrou esse mesmo repertório. Emilio canta ao lado de Nana Caymmi "Olhos" Negros", de Johnny Alf e Ronaldo Bastos.

Quem também aparece, desta vez onipresente, é Marcos Valle, que toca "Até o Fim", "Disfarça e Vem", "Água de Coco" e "Valeu", todas compostas por Valle. Outra participação especial é de João Donato, que toca piano no tema Um Dia Desses . Veja alguns trechos deste DVD abaixo. Donato e Emilio já tinham flertado antes. Ambos gravaram o disco Emilio Santiago Encontra João Donato, em 2003. O disco - ouça a íntegra abaixo - foi produzido pelo saudoso Almir Chediak, idealizador da gravadora Lumiar.

Em 2009, após assistir Emilio em Nova York (EUA), o crítico de música do jornal The New York Times, Stephen Holden disse que a voz de Emílio Santiago era mais suave que a de Nat King Cole, um dos maiores cantores da história da música norte-americana. Neste DVD, Emilio mostra no tema "My Foolish Heart" que Holden estava coberto de razão.

Aqui vai uma nota pessoal. Ouvi Emilio Santiago pela primeira vez em 1985, durante o Festival dos Festivais, produzido pela TV Globo. Na ocasião, Tetê Espíndola venceu o festival, mas Emilio ficou com o prêmio de melhor intérprete com a música "Elis", um tributo a cantora Elis Regina. Desde então acompanho sua carreira à distância, mas sempre com curiosidade e admiração. Quem sabe um dia Emilio consiga receber uma justa homenagem. Fica aqui o meu protesto não silencioso.











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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Jazzahead globaliza músicos de jazz

O Jazzahead! é um dos mais importantes eventos dirigido para os profissionais do jazz.

Anualmente, na cidade Brenen, na Alemanha, músicos, gravadoras, agentes, produtores e imprensa especializada se reúnem para conhecer novos nomes da cena jazzística, de diferentes partes do globo. A próxima edição será em 2019, entre os dias 25 e 28 de abril.

Em 2018, durante os quatro dias, o evento reuniu participantes de 60 países e teve um público de cerca de 17 mil pessoas, entre profissionais e o público que tem a oportunidade de assistir músicos da Europa, Estados Unidos, África, América do Sul, entre outros.

De olho da diversidade musical, os curadores do Jazzahead! criaram módulos temáticos para facilitar a "compreensão" do público. Há o espaço “German Jazz Expo”, com foco para o jazz feito na Alemanha, o "European Jazz Meeting”, que destaca músicos da Europa, e o “Overseas Night”, que recebe músicos de países mais distantes, entre eles o Brasil.

Todos os artistas que participam do festival são previamente selecionados pela organização. Em 2015, o cantor Ed Motta representou o Brasil e fez um belíssimo show. Quem também levou a música brasileira ao palco alemão foi o gaitista Gabriel Rossi (foto), em 2018, o violinista Ricardo Herz, em 2013. Veja os shows abaixo.


O cantor Ed Motta participa do Jazzahead, em Bremen, na Alemanha, em 2015

Desde 2011, um país é escolhido pela produção do evento e ganha destaque especial durante a programação. Em 2019, a Noruega será o foco do Jazzahead. Espanha, Israel, Dinamarca, França, Suíça, Finlândia e Polônia já ganharam esse "presente". O país selecionado tem uma noite temática e o público a oportunidade de fazer uma verdadeira imersão no universo jazzístico do país escolhido.

Entre os músicos que participaram do Jazzahead estão o pianista israelense Omer Klein, a pianista canadense Marianne Trudel, o guitarrista norte-americano Julian Lage, o pianista argentino Leo Genovese, a pianista cubana Marialy Pacheco, o pianista suíço Colin Vallon, o trio dinamarquês Phronesis, o baixista norte-americano Charnett Moffett e o pianista polonês Marcin Wasilewski.







quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Luciana Souza dá voz ao Yellowjackets

O tradicional quarteto Yellowjackets volta com mais um disco à sua altura. Raising Our Voice, lançado pela gravadora Mack Avenue, tem tudo aquilo que o fã do fusion jazz espera.

Bons arranjos, som consistente, técnica apurada e a liberdade que só o jazz pode proporcionar.

A presença dos veteranos Russell Ferrante (teclado e piano) e Bob Mintzer (saxofone) já seria o suficiente para uma cuidadosa e criativa seleção musical.

Mas desta vez o ouvinte terá um bônus, a presença da cantora brasileira Luciana Souza. Pela primeira vez, o Yellowjackets escala uma voz para acompanhá-los.

Luciana Souza tem uma longa carreira de sucesso no exterior, mas sempre com uma "postura" outsider. Isso nunca foi problema, pelo contrário, fez sua reputação aumentar ainda mais. A peculiar voz de Luciana aparece em sete das 13 faixas do disco.

Destaques para "Timeline" e "Man Facing North", com a cantora praticando o scat, e a introspectiva "Solitude", música originalmente lançada no disco Like a River, e que aqui ganha letra escrita e interpretada em português.

"Man Facing North" é outra regravação que recebe novo arranjo e a vocalização de Luciana. "Quiet", como o próprio título sugere, é uma delicada composição de Luciana em parceria com Ferrante, que traz belas frases musicais do sax de Mintzer.

O quarteto mostra sua conhecida habilidade nos temas instrumentais "Ecuador", com destaque para o baixista Dane Anderson e o baterista Will Kennedy, "Everyone Else is Taken", música que traz a belíssima sintonia entre Ferrante e Mintzer, e a jazzística "Strange Time".

Com dois Grammys na bagagem, 17 indicações e 30 discos lançados, o Yellowjackets mostra que ainda tem muito a oferecer e caminha a passos largos para conquistar novas plateias e ouvintes. Sorte a nossa.