domingo, 16 de maio de 2021

Douglas e Lovano têm diálogo franco em Other Worlds

A dobradinha sax e trompete já rendeu grandes encontros na história do jazz. Como não lembrar de Stan Getz e Chet Baker, de Lee Morgan e Joe Henderson, de Terence Blanchard e Donald Harrison, de Michael Brecker e Randy Brecker, de Charlie Parker e Dizzy Gillespie, de Miles Davis e John Coltrane, de Miles e Wayne Shorter?

A conversa clara e improvisada entre esses dois instrumentos dá liga e traz ao ouvinte uma experiência marcante e, muitas vezes, libertadora. Não é à toa que sax e trompete são lembrados por grande parte do público como os “sons do jazz”.

Pois bem, agora, temos um novo disco com a configuração sax e trompete, desta vez estrelado por Joe Lovano e Dave Douglas, que repetem a parceria com o álbum Other Worlds, sob o nome de Sound Prints. O quinteto conta ainda com Joey Baron (bateria), Linda May Han Oh (baixo) e Lawrence Fields (piano). Na foto acima estão Lovano, Baron, Oh, Fields e Douglas.

Assim como no primeiro disco (Scandal), a influência de Wayne Shorter é palpável. A formação do Sound Prints oferece ao ouvinte mais experiente a lembrança do quinteto de Miles Davis, com Shorter no sax, e os discos da carreira solo de Wayne, também da década de 1960, com Freddie Hubbard no trompete.

O quinteto reunido: Lovano, Baron, Oh, Fields e Douglas

O tema “The Flight", com quase 9 minutos de duração, é uma boa amostra da força do quinteto. O duelo dos metais de Lovano e Douglas está em temperatura máxima. Para ouvintes menos tarimbados, pode parecer um pouco confuso, é verdade, mas como acontece em uma boa “briga” de improviso, no fim todas as pontas se encontram e o som flui sem que você precise compreender exatamente o que acabou de ouvir.

E assim o disco caminha com outros temas encorpados como “Life on Earth”, “ Pythagoras”, “Space Exploration” e “ Antiquity to Outer Space”, todos temas com mais de 7 minutos de duração.

Destaque também para as belas e intimistas “The Transcendentalists”, com Douglas usando a surdina e soando explicitamente com Miles Davis, e “Sky Miles”, com espaço generoso para os solos de Fields e Oh.

Em tempo de incertezas e negacionismo, é sempre bom ouvir o jazz secular nos dedos de grandes músicos como Lovano e Douglas. Eles nos mostram que improvisar faz parte da essência do jazz, mas que em outras searas, é melhor ouvir o que a ciência tem a nos dizer, pois não devemos arriscar como o jazzista faz com autoridade.





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