segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Fingerpainting: The Music of Herbie Hancock

Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim. Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia (dicas de CDs, DVDs, livros, entrevistas e muito mais) - você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.

Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui

Fingerpainting: The Music of Herbie Hancock (1997)

Para muitos especialistas, a concepção de trio é a melhor tradução da essência do jazz. Essa afirmação tem fundamento, ainda mais quando pensamos em trios com a formação clássica (piano, baixo e bateria). Mas outros instrumentos também têm sido utilizados para compor os mais distintos trios de jazz. Este é o caso do trio composto pelo guitarrista Mark Whitfield, pelo baixista Christian McBride e pelo trompetista Nicholas Payton.

Este inusitado encontro foi registrado no disco Fingerpainting: The Music of Herbie Hancock, no qual fazem um tributo à música do compositor, arranjador e pianista norte-americano Herbie Hancock. Lançado em 1997, o disco traz os três jovens músicos em perfeita sintonia e interessados em desconstruir as composições do mestre Hancock.

Para quem ainda não sabe, Payton, McBride e Whitfield são crias do movimento young lions, que invadiu o jazz no início dos anos 80. Hoje, passado três décadas do aparecimento desta geração, músicos como Payton, McBride, Wynton Marsalis e Joshua Redman são algumas das estrelas do jazz na atualidade.

Payton tem no jazz de Nova Orleans sua grande influência e Louis Armstrong como uma espécie de mentor espiritual. Já McBride transformou-se em um dos mais influentes e requisitados baixistas do jazz. Nos últimos anos, gravou com dezenas de músicos, entre eles, Pat Metheny, Ron Carter, Freddie Hubbard e Sting. Dos três, apenas Whitfield deixou de ser figura onipresente. Depois de acompanhar cantoras como Betty Carter e Carmen McRae, o guitarrista gravou bons discos solos, mas tem produzido cada vez menos nos últimos anos.

Sobre o disco em questão, é possível afirmar que esta formação de trio é, no mínimo, inusitada, mas conseguiu criar uma sinergia difícil de encontrar por aí. Para começar, a faixa título traz o tema gravado originalmente pelo quinteto V.S.O.P. Em seguida, “Driftin” mostra a destreza de McBride com seu baixo acústico. A fase fusion de Hancock também aparece por aqui em temas como “Chamelon” e “Sly”, esta última com Payton solando com a surdina.

A guitarra de Whitfield tem seu grande momento em “Tell Me A Bedtime Story”, acompanhada apenas pelo baixo de McBride, que rouba a cena em “The Kiss”, composta originalmente por Hancock para o filme Blow-Up, de Michelangelo Antonioni.


Para muitos, a grande fase de Hancock aconteceu durante sua parceira com Miles Davis, entre 65 e 68. É desta época álbuns como Maiden Voyage, Empyrean Isles e Speak Like A Child. Obviamente que o trio não esqueceu destes discos e regravou temas como “Speak Like A Child”, “Dolphin Dance”, “Oliloqui Valley”, “The Sorcerer” e “Eye Of The Hurricane”, com destaque para o solo de Payton.

Ao terminar de ouvir este CD, você ficará com a impressão de que instrumentos como o piano e a bateria não são tão “imprescindíveis” a um disco de jazz como você sempre imaginou. Mérito de Mark Whitfield, Christian McBride e Nicholas Payton, músicos que carregam a principal virtude do jazz, o desafio de improvisar.

O trio Whitfield, McBride e Payton também pode ser encontrado na trilha sonora do filme Kansas City, do diretor Robert Altman, lançado em 1996. Além deles, o filme ainda traz James Carter, Geri Allen, Joshua Redman, Don Byron e David "Fathead" "Newman. Situado na década de 1930, o filme é estrelado por Jennifer Jason Leigh, Miranda Richardson e Harry Belafonte.