quarta-feira, 7 de junho de 2006

Jazz, uma breve introdução

O Guia de Jazz virou o livro "Jazz ao seu alcance". Abaixo você vai encontrar um pequeno texto que tem como objetivo pontuar alguns momentos importantes da história do jazz, seus expoentes, seus movimentos, sua evolução e o que ainda está por vir. É importante salientar que centenas de nomes e fatos ocorridos na história do jazz não foram citados nesta pequena introdução.

O jazz é, sem dúvida, a música mais livre do planeta. Nela o músico e o ouvinte podem esquecer das regras e dos dogmas criados pelo mundo e se entregarem ao feitiço e pureza do seu ritmo. Essa conotação de liberdade e inquietação não é por acaso. O jazz foi considerado profano quando apareceu no final do século XIX e início do século XX, no sul dos Estados Unidos, principalmente na cidade de Nova Orleans. Os negros norte-americanos, que eram discriminados e tratados pior que escravos, foram os porta-vozes do jazz. Não importava se era cantado ou tocado, o que este ritmo proporcionou a eles foi além do patriotismo ou da religião. Eles fizeram do jazz a sua identidade, que é respeitada e admirada até hoje em todo o mundo.

Pode-se dizer que o ragtime foi o embrião do jazz. A fusão entre a música vinda da África, por meio dos escravos que trabalhavam nas plantações de fumo e algodão, e os ritmos europeus como polca, música erudita e a marcha deu origem ao ragtime, que teve como principais expoentes os pianistas Tom Turpin, James Scott e, principalmente, Scott Joplin, autor do clássico “The Entertainer”.

Oficialmente, a primeira gravação de jazz aconteceu em 1917, com a original Dixieland Jazz Band, um conjunto formado por músicos brancos de Chicago. Mas foi a partir do pianista Jelly Roll Morton e da cantora Bessie Smith que o jazz começou sua verdadeira viagem. Seu primeiro grande expoente foi Louis Armstrong, que era trompetista da banda Creole Jazz Band, liderada por Joe King Oliver.

Entre 1925 e 1928, após deixar Oliver, Armstrong entrou definitivamente para a história do jazz ao gravar com os grupos Hot Five e Hot Seven clássicos como “Yes I’m In The Barrel” e “Potato Head Blues”. Considerado o primeiro grande solista do jazz, Armstrong também foi um cantor carismático e com um estilo muito próprio de interpretar.

Duke Ellington é considerado o Mozart do jazz. Seus arranjos sofisticados e sua orquestra de virtuosos foram as novidades, no meio dos anos 30, que regeram a era do swing. Junto a Ellington, outros band leaders fizeram história como Benny Goodman, Jimmy Dorsey, Artie Shaw, Woody Herman, Count Basie e Glenn Miller.

No meio dos anos 40, uma revolução acontece no jazz. Nasce o bebop. Esse estilo tem como característica principal a vocalização do instrumento. Os solos pareciam frases cantadas. Muitas vezes conseguiam ser desorientadas e magistrais ao mesmo tempo. Seus precursores foram o saxofonista Charlie “Bird” Parker , o trompetista Dizzy Gillespie e o pianista Thelonius Monk. Nessa época, os croones e cantoras ajudaram a reerguer as big-bands, que estavam em franco declínio. Intérpretes como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Frank Sinatra levavam milhares de fãs aos teatros para ouvirem obras de Ellington, Cole Porter e dos irmãos Gershwin.

Quanto tudo parecia calmo, um trompetista discreto aparece, era Miles Davis. Junto a outro gênio, o saxofonista John Coltrane, Davis cria o que ficou rotulado de cool jazz, algo mais tranqüilo e requintado que o bebop. Já no início do anos 60, uma nova revolução acontece, o free jazz aparece capitaneado por Ornette Coleman. O estilo gera amor e ódio. Como o nome diz, o jazz era tocado sem fronteiras e regras. As músicas tinham arranjos e escalas completamente insanos.

Durante o início dos anos 70, Miles Davis volta à cena e começa um casamento com o rock, criando o jazz fusion. Aa seu lado, outros expoentes como o pianista Chick Corea e o guitarrista John Mclaughlin, à frente da Mahavishnu Orchestra, “subvertem” o jazz e conseguem atrair novos ouvintes.

No início dos anos 80, um movimento denominado Young Lions (jovens leões) trouxe uma nova vida ao jazz. Liderado pelo trompetista Wynton Marsalis, jovens músicos recém-saídos das escolas foram responsáveis pela retomada do jazz tradicional. Mesmo com uma qualidade musical indiscutível, Marsalis e sua turma – Terence Blanchard, Branford Marsalis, James Carter, Marcus Roberts e Joshua Redman - foram acusados por vários críticos por serem responsáveis pela pouca inventividade do jazz atual.

Apenas no fim dos anos 80 é que uma nova influência é somada ao jazz. Mais uma vez cabe a Miles Davis ser o precursor. Com o lançamento do disco póstumo Doo-bop, o trompetista criou o que mais tarde foi chamado de acid jazz. A mistura de jazz, rap e dance é um estilo que “ajuda” o jazz a se renovar e ficar mais acessível. Dentro desta vertente destacam-se os grupos ingleses Incognito, Jamiroquai, Brand New Heavies e US3 e os norte-americanos do Count Basic, James Taylor Quartet e Brooklyn Funk Essentials.

Assim como aconteceu ao logo do século XX, o jazz continuou sua mutação no início deste século. Uma nova geração de cabeça aberta para experimentações tem adicionado elementos do rap, rock, erudito e música eletrônica ao jazz. Para os críticos, músicos como Brad Mehldau, Erik Truffaz, Greg Osby, The Bad Plus, Dave Douglas e Jason Moran estão revigorando o jazz e criando uma nova e longa jornada para ser percorrida nos próximos anos.

Ao mesmo tempo em que Mehldau e companhia mostram que ainda há um infinito ilimitado para o jazz, um outro grupo de músicos cria o que foi rotulado de nu jazz ou electro-jazz, que traz a mistura entre o ritmo e música eletrônica. Similar ao acid jazz, o novo gênero se aproveita de toda a tecnologia atual para injetar vida nova ao jazz. Entre seus expoentes estão os franceses Metropolitan Jazz Affair, Rubin Steiner e St. Germain e os ingleses Cinematic Orchestra e Matthew Herbert.

Correndo por fora de todo esse movimento está o smooth jazz, que é um fusion mais acessível. Para os puristas, esse tipo de jazz é um desrespeito à música secular. O jazz suave é realmente menos atraente aos ouvidos, mas conquistou seu espaço por duas razões. A primeira porque é uma música de qualidade e depois porque os músicos que as interpretam são competentes. Quase todos já trabalharam com nomes do chamado alto escalão do jazz. No jazz contemporâneo, ele também é conhecido assim, o destaque fica para os pianistas Dave Grusin, Bob James e David Benoit, os guitarristas Lee Ritenour, Larry Carlton e Russ Freeman, os violonistas Earl Klugh e Peter White e os saxofonistas David Sanborn, Boney James e Kenny G.

Para terminar, é importante salientar a presença dos jazzistas europeus no desenvolvimento deste ritmo nas últimas cinco décadas. Apesar de ter nascido nos Estados Unidos, o jazz está presente no velho continente. Não apenas por causa dos grandes festivais que acontecem anualmente por lá, como o Montreux (Suíça), o North Sea (Holanda) e o Umbria (Itália), mas também por músicos formidáveis que escreveram ou escrevem seus nomes na história do jazz como o arranjador e compositor alemão Claus Ogerman, o baixista dinamarquês Niels-Henning Pederson, o violinista francês Stephanne Grapelli, o guitarrista belga Django Reinhardt, o tecladista austríaco Joe Zawinul, o trompetista polonês Tomasz Stanki e os “novatos” Paulo Fresu (Itália), Erik Truffaz (França), Jamie Cullum (Inglaterra), Jacky Terrasson (Alemanha), Courtney Pine (Inglaterra) e o trio E.S.T (Suécia).